Crónica sobre um administrador de grupo do Facebook com vocação de censor
Públio Terêncio Afro, Retrato retirado do Codex Vaticanus Latinus 3868
«Sou um Homem, nada do que é humano me é estranho»
(Homo sum ; humani nihil a me alienum puto)
Esta frase de Terêncio, escravo liberto no império romano que se tornou dramaturgo, exprime como poucas o processo de formação da consciência social e política. Processo individual, de cada ser humano, e colectivo, de toda a sociedade.
Processo não linear, antes feito de avanços e recuos. Processo permanente, que termina com a nossa morte. Mas que passa de geração em geração, numa mutação sem fim. A consciência social e política de hoje, não é igual à de ontem, nem será igual à de amanhã.
Processo cujo objectivo final é a construção de uma sociedade de liberdade e de abundância, em que o Estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem e da felicidade do ser humano.
«Pelo meu lado, não resisto a referir 4 aspectos que, sobre a gravidade da situação económica e social, quis levar ao debate [reunião CC do PCP], com a intenção de reforçar argumentos que ajudem a transformar descontentamento e sofrimento e desespero em tomada de consciência e disposição de luta: 1. os salários não são só um custo para as empresas e o funcionamento da economia, a partir de critérios de competitividade, os salários são, sobretudo, o rendimento dos trabalhadores por venderem a sua força de trabalho; 2. o desemprego é, cada vez mais, o stock da mercadoria força de trabalho, variável estratégica do capitalismo; 3. a demencial escalada do crédito, para compensar os baixos salários face à promoção de tantas novas e algumas artificiais necessidades e de chamados produtos financeiros, está na origem de gravíssimas situações pessoais e familiares, algumas em vésperas de explosão; 4. o ataque à centenária conquista dos limites e regras dos horários de trabalho provoca inaceitável retrocesso civilizacional, humanitário, pois, como dizia Marx, sem o constrangimento das horas de trabalho se recua da exploração a partir dos mecanismos da compra da mercadoria força de trabalho e apropriação da mais-valia para o uso do homem e de todo o seu tempo de vida como força produtiva mercantil, isto é, escravo!»