A propósitodesta notícia, e de quem a publica, recorde-se que aBBC, tida como órgão de referência, deu como provado a existência do golpe. A notícia espalhou-se por todo o planeta, contribuindo para a neutralização do protesto de amplos sectores da opinião pública mundial. Um milhão de mortos depois a BBC veio reconhecer que tinha sido manipulada. Apresentou desculpas. Mas os homens, mulheres e crianças, vítimas mortais da repressão, já não podiam receber esse acto de contrição.
«Há meio século consumou-se uma das grandes chacinas da História.
A partir de Outubro de 1965, os militares indonésios, com o apoio activo e directo do imperialismo norte-americano, massacraram cerca de um milhão de comunistas, sindicalistas e membros dos poderosos movimentos de massas indonésios.
O genocídio indonésio é um dos mais sangrentos episódios da grande guerra de classes mundial com que o imperialismo procurou conter e derrotar o ascenso do poderoso movimento de libertação nacional e social da segunda metade do Século XX, sob o impacto da derrota do nazi-fascismo e do prestígio imenso da União Soviética e do movimento comunista internacional.»
«Um realizador de cinema pede a um assassino que recrie, em filme, as torturas e crimes que cometeu na vida real. Este, encantado com a oferta, dispõe-se a isso com entusiamo e diligência. O resultado da experiência é uma alucinação cinematográfica que adquire proporções épicas quando se descobre que o criminoso é um dos líderes mais sanguinários dos esquadrões da morte na Indonésia, bandos de carniceiros que, em 1965, acabaram com a vida de um milhão de pessoas em menos de um ano. «The Act of Killing», deJoshua Oppenheimer, é a consequência desse assustador delírio de fama dos genocidas indonésios que, no entanto, hoje vivem como heróis no seu país.»
O Golpe Militar de 1965
Em 1965, o Governo Indonésio foi derrubado pelos militares. Sukarno, o primeiro presidente da Indonésia, fundador do movimento não alinhado e líder da revolução nacional contra o colonialismo holandês, foi destituído e substituído pelo General Suharto. O Partido Comunista Indonésio (PKI), que havia apoiado firmemente o Presidente o Presidente Sukarno, que não era comunista, foi proibido de imediato. Na véspera do golpe, o PKI era o maior partido comunista do mundo fora de um país comunista.
Depois do golpe militar de 1965, qualquer pessoa poderia ser acusada de ser comunista: sindicalistas, agricultores sem terras, intelectuais, chineses Em menos de um ano e com a ajuda directa de certos governos ocidentais, mais de um milhão destes comunistas foram assassinados, assegura a equipa de The Act of Killing.
Os EUA aplaudiram o massacre, que consideraram uma grandiosa vitória sobre o comunismo. A revista Time informava que era uma das melhores notícias para o Ocidente em anos, na Ásia, enquanto o The New York Times escrevia: Um raio de luz na Ásia.
Para além da necessária e firme condenação, a criminosa carnificina de Paris obriga a extrair conclusões políticas. É intolerável que as mesmas forças políticas, económicas e mediáticas que multiplicam palavras de indignação contra o terrorismo fundamentalista em Paris, prossigam no seu criminoso apoio, promoção, financiamento e armamento desse mesmo terrorismo fundamentalista, quando ele se dirige contra países soberanos que não estão sob o controlo do imperialismo, como tem sido o caso na Síria ou Líbia. O caos, destruição e morte em Paris são filhos do caos, destruição e morte que – numa escala incomparavelmente maior, e como resultado das agressões directas ou indirectas do imperialismo – têm destruído países e regiões inteiras e gerado a vaga de refugiados que agora chega à Europa.
Não é admissível que haja silêncio ou conivência com os actos de terrorismo em Beirute, Bagdade ou Damasco – cometidos pelas mesmas forças que agora massacraram em Paris. E não é admissível que se finja que o terrorismo não tem padrinhos ao mais alto nível do poder político das grandes potências imperialistas e seus mais fiéis aliados. Padrinhos que usam o terrorismo como arma contra países e governos que não cumprem ordens. Quem pode negar tal facto, quando são os próprios padrinhos que o confessam? Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA reivindicou numa famosa entrevista à revista Nouvel Observateur (15.1.98) o patrocínio norte-americano aos fundamentalistas afegãos em 1979. Orgulhosamente, esclareceu que ao contrário da «versão oficial da história» esse apoio ao terrorismo fundamentalista não foi feito para combater a entrada de tropas soviéticas no Afeganistão (que apenas se deu mais tarde), mas para as «atrair para a ratoeira afegã». Não foi essa a primeira nem a última vez que o imperialismo recorreu ao terrorismo. Longe disso. Existe um fio condutor que liga os atentados terroristas das «redes Gládio» na Europa ocidental (nomeadamente em Itália), os «contras» nicaraguenses, as UNITAs e Renamos em África, a rede bombista no Portugal de 1975, e as Al-Qaedas, os «rebeldes sírios» e o ISIS, sem esquecer os massacres dos fascistas ucranianos. Esse fio condutor está nos apoios, abertos ou encapotados, do imperialismo, dos seus serviços secretos e militares, dos seus agentes e aliados no plano nacional ou regional. Em Outubro de 2014, o vice-presidente dos EUA afirmou em público que «os nossos aliados» Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos «despejaram centenas de milhões de dólares e dezenas de toneladas de armas nas mãos de quem quer que lutasse contra [o presidente sírio] Assad – só que quem os recebia eram a [Frente] al-Nusra e a Al-Qaeda e os elementos do jihadismo que vinham de todas as partes do mundo. […] Onde foi isto tudo parar? […n]esta organização chamada ISIL, que era a Al-Qaeda no Iraque […] E nós não conseguimos convencer os nossos aliados a parar de os abastecer» (Washington Post, 6.10.14). Mas os aliados não deixaram de o ser e o ISIS continuou a crescer. Biden é um falso ingénuo. Também o General Wesley Clark, comandante das tropas da NATO na guerra contra a Jugoslávia, confessou à CNN (18.2.15) que «o ISIS foi criado através do financiamento dos nossos amigos e aliados, porque como as pessoas da região lhe dirão 'se queremos alguém que combata até à morte contra o Hezbolá […] procuram-se os fanáticos e arregimentam-se os fundamentalistas religiosos – é assim que se combate o Hezbolá'». E é também assim que, no espaço de 24 horas, se deram os massacres terroristas no Sul de Beirute (43 mortos, 239 feridos) – alvejando os civis nos bastiões do Hezbolá – e os massacres de Paris.
Só nos faltava que as potências imperialistas que alimentaram o monstro venham agora usar os massacres de Paris para, invocando o combate ao ISIS, justificar uma escalada de guerra. Foi precisamente o que aconteceu após o 11 de Setembro, com as consequências dramáticas que estão hoje à vista.
Um realizador norte-americano empreendeu a tarefa de documentar a chacina anti-comunista levada a cabo na Indonésia em 1965. O monstruoso massacre de um milhão de homens e mulheres, encorajado e saudado pelo imperialismo, surge reencenado por um dos seus principais perpetradores, pessoalmente responsável por mais de mil mortes. O filme foi estreado em Espanha a 30 de Agosto. Esperemos que venha a ser visto em Portugal.
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Um realizador de cinema pede a um assassino que recrie, em filme, as torturas e crimes que cometeu na vida real. Este, encantado com a oferta, dispõe-se a isso com entusiamo e diligência. O resultado da experiência é uma alucinação cinematográfica que adquire proporções épicas quando se descobre que o criminoso é um dos líderes mais sanguinários dos esquadrões da morte na Indonésia, bandos de carniceiros que, em 1965, acabaram com a vida de um milhão de pessoas em menos de um ano. «The Act of Killing», de Joshua Oppenheimer, é a consequência desse assustador delírio de fama dos genocidas indonésios que, no entanto, hoje vivem como heróis no seu país. O filme estreou em 30 de Agosto em Espanha.
Werner Herzog, um dos realizadores mais talentosos do cinema documental, revelou publicamente o seu assombro perante The Act of Killing. «Não vi um filme tão poderoso, surreal e aterrador em pelo menos uma década», disse, acertando em cheio nos cinco adjectivos e na ordem com que os empregou. Tão impressionante, tão demente é a história deste filme, que a primeira reacção perante o mesmo é de surpresa. Uma espécie de estupefacção que se transforma em perturbação e confusão, antes de se transformar em espanto e, finalmente, em algo muito parecido com a angústia física.
Uma «quinta» 76 (setenta e seis) vezes maior que a Bélgica. Um exemplo de outros crimes.
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No passado 17 de Outubro, o presidente Hollande fez um tímido reconhecimento oficial (42 palavras) do massacre policial de centenas de argelinos em Paris, em 1961. O massacre não foi coisa menor: cerca de 30 mil argelinos exigiam nas ruas a independência da então colónia francesa. A polícia de Paris, sob a chefia de Maurice Papon respondeu com ferocidade: «entre 300 e 400 mortos por balas, à coronhada ou por afogamento no rio Sena, 2400 feridos, e 400 desaparecidos» (Algérie Patriotique, 17.10.12). Foi preciso mais de meio século para que a França oficial admitisse sequer que o massacre existiu. Mas nem 51 anos chegaram para que reconhecesse o número de vítimas, abrisse os ficheiros policiais ou apontasse responsáveis. Fosse na Síria e outro Hollande cantaria.
Papon foi colaboracionista dos nazis durante a II Guerra Mundial e viria a ser condenado em 1998 por «cumplicidade em crimes contra a humanidade, tendo colaborado na deportação de judeus sob o regime de Vichy» (FranceInter, 17.10.12). Mas como em muitos outros países, a restauração burguesa e imperialista na França após 1947 foi feita com a pior escória fascista. Durante décadas Papon teve numerosos cargos oficiais. Em 8 de Fevereiro de 1962 participou noutro massacre de Estado em Paris: durante uma manifestação sindical contra o terrorismo fascista da OAS, nove membros da CGT e do PCF foram assassinados pela polícia na estação de metro de Charonne. Papon foi ministro sob os presidentes gaullistas Barre e Giscard d'Estaing (1978-81). E o massacre de 1961 passou em silêncio durante a presidência do socialista Mitterrand, ele próprio implicado na brutal repressão colonial na Argélia. Mitterrand era ministro da Justiça de França no início de 1957, quando o General Massu e os seus paraquedistas (imortalizados no filme de Gillo Pontecorvo, A Batalha de Argel) receberam plenos poderes policiais na capital argelina, desencadeando uma feroz repressão, com tortura e assassinatos, que esmagou temporariamente o movimento de libertação nacional argelino. O sangue de centenas de milhares de argelinos manchou as mãos de toda a classe dirigente francesa, antes que – fez este ano meio século – a Argélia conquistasse a sua independência.
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Também neste último mês, do outro lado do Canal da Mancha, se confessou bárbaros crimes. Um tribunal de Londres reconheceu a três quenianos vítimas da ferocidade colonial, ao fim de seis décadas, o direito a apresentar (!) pedidos de indemnização. Um deles foi castrado pelas autoridades coloniais (BBC, 5.10.12). Como informa a notícia, «milhares de pessoas foram mortas durante a revolta Mau Mau contra a dominação britânica do Quénia nos anos 50 e 60». O governo inglês recorreu da sentença e com um cinismo inexcedível «alegou que a responsabilidade de compensações por torturas infligidas pelas autoridades coloniais foi transferida para a República do Quénia após a independência em 1963». Escreve o Guardian (18.4.12): «milhares de documentos relatando alguns dos mais vergonhosos actos e crimes cometidos nos anos finais do Império britânico foram sistematicamente destruídos para impedir que caíssem nas mãos de governos pós-independência» e «os documentos que escaparam à destruição foram discretamente transferidos para a Grã Bretanha, onde ficaram escondidos durante 50 anos, num ficheiro secreto do Foreign Office». Alguns documentos «pormenorizam a forma como suspeitos insurrectos foram espancados até à morte, queimados vivos, castrados […] e agrilhoados durante anos», enquanto «ministros e altos funcionários públicos tinham total conhecimento dos abusos e do assassinato horrendo e sistemático de detidos […] mas declaravam repetidamente ao público britânico que tal não estava a acontecer».
Há quem esteja surpreendido com o comportamento dos dirigentes troikeiros da UE. Mas esta sempre foi a natureza das potências imperialistas que estão por detrás do «projecto europeu». Podem pintar a cara de azul com estrelinhas amarelas e trautear Beethoven. Mas a UE reflecte a natureza de classe do sistema imperialista que a gerou: criminoso, explorador, agressivo. E que hoje procura novas colónias.
In jornal «Avante!» - Edição de 16 de Novembro de 2012
1.Os leitores que me desculpem, mas sinto-me obrigado a repetir o que aqui escrevi há um mês. O PS sofreu uma acentuada quebra eleitoral nas últimas eleições legislativas. Passou de maioria absoluta a maioria relativa. Perdeu mais de meio milhão de votos e 24 deputados. Obteve uma percentagem eleitoral inferior à que atingiu em 2002 quando ficou na oposição. Foi o único partido com assento na Assembleia da República penalizado pelos eleitores.
Apesar das afirmações públicas em contrário, os dirigentes do Partido Socialista perceberam perfeitamente esta «mensagem» do eleitorado. E trataram de definir uma táctica que rapidamente invertesse esta situação. Qual Calimeros da política portuguesa, fazem-se de vítimas. Assim procuram, com a ameaça de uma eventual interrupção da legislatura, transferir para outros as suas próprias responsabilidades. Confinados a uma atitude de arrogância de uma maioria absoluta que já perderam, mostram-se incapazes de se adaptar à condição de um Governo de maioria relativa.
Às segundas, quartas e sextas, temos a bravata das eleições antecipadas. Às terças, quintas e sábados, o discurso da estabilidade. Ao domingo, o nim. O objectivo é um só: impor o programa do PS, procurando obter por esta via a maioria absoluta que lhe foi negada nas urnas.
2. Entretanto o país assiste ao avolumar incontrolado dos casos e práticas de corrupção em sectores na sociedade portuguesa e no Estado. Realidade que é inseparável da crescente subordinação do poder político ao poder económico. A sua simples enumeração dispensa mais comentários. As recentes decisões do Tribunal de Contas sobre processos de obras públicas, designadamente das auto-estradas, de contornos graves e ainda por explicar. O processo em curso da Face Oculta. Inúmeros outros casos cujas investigações se arrastam sem fim à vista, como a operação Furacão, o caso Freeport, o negócio dos submarinos, os casos Portucale e da banca.
Casos relativamente aos quais há inquietantes indícios de práticas de corrupção e outros actos criminosos e lesivos do interesse público. Casos que exigem o rápido apuramento de responsabilidades e a punição dos seus autores. Isto sob pena de se alastrar e agravar a impunidade reinante entre os mais poderosos. E de se ampliar a descredibilização da justiça e degradar o regime democrático.
3. No plano económico e social, mantêm-se os mais elevados valores do desemprego registados desde o 25 de Abril de 1974, ultrapassando já os 700 mil trabalhadores. E todos os indicadores apontam para o seu agravamento durante o próximo ano.
Permanece o quadro de recessão económica. Portugal vai enfrentar pelo segundo ano consecutivo uma quebra significativa do PIB. Persistem quebras na procura interna, em resultado de fortes quebras no Investimento e no Consumo Privado, nas exportações e importações. Dados que atestam bem a redução da actividade económica.
Aumenta perigosamente o endividamento do país e acentua-se a sua dependência externa. Agrava-se a divergência face aos restantes países da União Europeia. Prosseguem a um ritmo vertiginoso os encerramentos, as falências e as deslocalizações de empresas. O que demonstra a continuidade do desastroso processo de destruição da produção nacional.
No entanto, diariamente são divulgados os números chocantes dos lucros dos principais grupos económicos nacionais. Só nos primeiros 9 meses de 2009, cinco bancos tiveram lucros superiores a 5 milhões de euros por dia, tendo já acumulado mais de 1400 milhões de euros durante esse período. Os lucros (em período de crise, sublinhe-se) do conjunto de algumas das principais empresas estratégicas do país - banca, EDP, REN, Galp, PT, Brisa - alcançaram a cifra colossal de mais de 3000 milhões de euros de lucros, só neste ano. E ainda faltam os resultados dos últimos três meses...
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 11 de Dezembro de 2009