Escola Pública Promotora de Coesão Social
«Slides utilizados na intervenção que fiz num seminário sobre a Escola Pública e coesão social organizado pelo Sindicato dos Professores do Norte, que teve lugar em Oliveira de Azeméis em 14/5/2016.»
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«Slides utilizados na intervenção que fiz num seminário sobre a Escola Pública e coesão social organizado pelo Sindicato dos Professores do Norte, que teve lugar em Oliveira de Azeméis em 14/5/2016.»
Quarto de sete posts descaradamente «surripiados» ao João Valente Aguiar do Blog «Vinhas da Ira»:
«4 - O mito da flexibilidade=liberdade. De acordo com o que se avalizou no post anterior, o capital procura inculcar nos trabalhadores modelos ideológicos com o propósito de estes actuarem como mini-empreendedores, como auto-empregadores. Esse vector ideológico não contribui apenas para criar referências de actuação individual dos trabalhadores coincidentes com os desígnios do capital. Importa também ao capital utilizar tal artifício como justificação e legitimação para o acentuamento da extracção de mais-valia, para o agravar da exploração da força de trabalho. Nesse âmbito, a retirada de direitos: o aumento da carga horária e da intensidade do trabalho; a limitação das idas à casa-de-banho, refeições, etc.; o reduzir de subsídios de alimentação, doença, assiduidade, etc. anexos ao salário; a redução salarial (em relação ao volume global de riqueza criada) - tudo isto, modalidades de redução do valor da força de trabalho, portanto, modalidades de aumento da exploração - são assumidos pelo capital perante os trabalhadores como inevitabilidades. A todo este processo de desbaste de direitos laborais o capital dá-lhe o nome de flexibilidade.
Na óptica dos apologistas neoliberais, tudo o que acrescentar valor ao salário, tudo o que assegurar um nível razoável à massa salarial é tomado como um atentado às liberdades individuais de cada trabalhador, pois este deveria apresentar-se no mercado livre de quaisquer “amarras” a não ser a mais completa ausência de garantias laborais. Para o pensamento neoliberal, a transformação do trabalhador em peça livre, em pau para toda a obra do capital é o consumar da “liberdade” individual. Ou seja, o indivíduo reduzido a si mesmo, o indivíduo trabalhador disponível a toda a hora e a todo o momento para executar as tarefas produtivas definidas pelo capital. A isto o capital chama de liberdade. Chamar-lhe-e-mos, a liberdade de o capital fazer do trabalhador uma mercadoria ajustável aos objectivos de elevação do lucro. Ainda mais simplesmente, a flexibilidade é a liberdade do capital fazer do trabalhador um indivíduo escravo dos ditames do lucro.
Independentemente de todos os artifícios ideológicos, a liberdade de uma classe é a ausência/constrangimento de liberdade da outra.»
(sublinhados meus)
Terceiro de sete posts descaradamente «surripiados» ao João Valente Aguiar do Blog «Vinhas da Ira»:
«3 - a comunidade ilusória dos colaboradores. Querendo ofuscar a existência da luta de classes, o pensamento neoliberal fundamenta a tese da comunhão de interesses entre patrões e trabalhadores. Nada de novo neste aspecto, a não ser a recauchutagem formal dos termos utilizados. Se as empresas até à década de 70 diziam que tinham x trabalhadores ou x empregados, com o avanço neoliberal rapidamente o patrão passou a empregador e o trabalhador/empregado/funcionário a colaborador. O capital sempre pregou a comunhão de interesses entre trabalhadores e patrões como forma de amenizar as lutas operárias e, por essa via, tentar captar camadas operárias para o seu lado. O conceito do colaborador é, por um lado, uma extensão quantitativa desse fenómeno. Isto é, o colaborador surge na sequência histórica que mencionei acima. Porém, por outro lado, o conceito do colaborador é uma extensão qualitativa das teses da conciliação e da paz entre as classes. A identificação do trabalhador como um outro relativamente à empresa, a identificação do trabalhador como pertencente a uma categoria distinta da empresa permitiu que a própria cultura operária e a acção política das suas organizações de classe formassem, nuns casos mais noutros menos, a consciência de classe do trabalhador. No caso mais recuado, o trabalhador ao ser considerado pela própria empresa como trabalhador ou empregado sabia de antemão que ele não seria bem igual aos donos da empresa onde trabalhava. Por outro lado, o conceito de empregado chamava a atenção para o facto de que quem controlava (e controla) o recrutamento da mão-de-obra é o patrão. Por isso é que haviam os “empregados”, isto é, indivíduos despossuídos de qualquer recurso de produção a não ser o seu próprio corpo e a sua mente. O conceito de trabalhador era ainda mais subversivo, no sentido em que afirmava quase taxativamente qual a função do indivíduo assalariado na empresa - trabalhar, produzir - ficando para o patrão a função de dirigir o processo de trabalho e, no final deste, arrecadar os lucros obtidos com a venda das mercadorias produzidas, precisamente, pelos que trabalhavam, os trabalhadores.
O conceito de colaborador é sui generis porque procura apresentar o pólo antagónico da relação capital/trabalho como se um par complementar se tratasse. Ou seja, o pensamento neoliberal vai ainda mais além do pensamento funcionalista clássico das teses capitalistas comuns. O trabalhador não apenas tem uma função complementar ao do patrão: onde uns seriam detentores de trabalho e outros de capital (maquinaria e dinheiro - como se estes não fossem também eles fruto do… trabalho!). No pensamento neoliberal vai-se ainda mais longe: o trabalhador é um amigo colaborador do patrão. Isto é, o trabalhador mais ganha e mais recebe quanto mais veste a camisola da empresa, quanto mais horas não-pagas oferece à empresa, quanto mais labor, suor e reflexão oferecer à sua segunda família: a empresa. O trabalhador é um da equipa da empresa onde todos são comparsas e se direccionam para o mesmo objectivo: expandir os níveis de lucratividade da empresa. Assim, ao trabalhador fomenta-se a ideia de que há inimigos a abater: os trabalhadores das outras empresas em competição, os trabalhadores em geral que defendem ou ainda têm vínculos laborais estáveis e com salários relativamente bem pagos. Esses são os parasitas que impedem a competitividade da empresa. O trabalhador dentro do conceito do colaborador é, então, uma espécie de mini-empreendedor de si mesmo que tem de ser capaz de vender a sua força de trabalho, a sua força física e as suas capacidades intelectuais (adquiridas ou não) pelo preço mais competitivo (mais baixo) do mercado.
Com esta estratégia ideológica (não esqueçamos, sempre apresentada como inevitável e perfeitamente natural), pretende o capital reforçar as teses da comunhão de interesses entre trabalhadores e patrões. As contradições do sistema e os seus efeitos devastadores colocam aos trabalhadores a necessidade da luta. Que surje sempre, independentemente do tempo de duração das receitas ideológicas da classe dominante.»
(sublinhados meus)
Segundo de sete posts descaradamente «surripiados» ao João Valente Aguiar do Blog «Vinhas da Ira»:
«2 - o custo/benefício como código de leitura e de acção. A assunção de que o mercado (no sentido, da transformação da matéria, seja ela qual for, em mercadoria) é uma instituição natural e inultrapassável, cria a imagem de que a racionalização que os agentes sociais (na linguagem neoliberal não são sociais, mas tão-somente económicos) fazem das suas condutas passaria inevitavelmente por um raciocínio do tipo custo/benefício. Basicamente, o indivíduo teria que se comportar sempre de acordo com a equação “quantos mais benefícios tiver em relação aos prejuízos melhor”. Em termos muito gerais e um tanto ou quanto vagos, esta asserção até pode ser verdadeira. Qualquer pessoa na sua vida, como é óbvio, gosta de ter mais aspectos positivos do que negativos, mais bons momentos do que maus momentos. Contudo, o raciocínio neoliberal - que, curiosamente, se afirma tão natural e amoral mas que prega a moral do capital a toda a hora - equipara o bem e o mal não em termos das necessidades reais das pessoas, mas em termos dos ganhos económicos. Na base, o indivíduo e a sociedade no seu conjunto devem raciocinar na linha do custo/benefício tendo em conta os ganhos de lucratividade económica do mesmo. Por exemplo, uma determinada tecnologia na produção de componentes automóveis eleva a intensidade do trabalho, permitindo fabricar mais peças, por conseguinte, aumentando a produtividade da empresa e a correlativa lucratividade. Mas, ao mesmo tempo, considera-se que os salários devem manter-se e, num outro plano, essa nova maquinaria provoca danos nas articulações e nos tendões dos trabalhadores dessa empresa. O raciocínio neoliberal (que mais parece um reflexo condicionado pavloviano do que um uso da razão) pregará, neste caso, que como a máquina eleva os benefícios (o lucro) da empresa e baixa os custos com capital fixo, então nada melhor do que a aplicar ao processo de produção. Ora, do ponto de vista dos trabalhadores, a tecnologia não é neutra e deve estar ao serviço da satisfação das necessidades dos seres humanos e não para elevar a massa de capital à custa do rolo compressor do capital.
Debaixo do manto diáfano do pensamento neoliberal, a nudez crua da luta de classes.»
(sublinhados meus)
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