Falando na abertura do ano lectivo do Instituto de Defesa Nacional (IDN), o novo ministro da Defesa disse que “Portugal é historicamente treinado no cosmopolitismo”, lembrando que os portugueses “lideraram a primeira globalização” durante os Descobrimentos.
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“A Defesa vira-se hoje para o espaço global, as nossas fronteiras não começam na fronteira territorial clássica, as fronteiras da nossa segurança jogam-se muitas vezes em regiões fisicamente afastadas de nós mas geo-estrategicamente próximas, a Defesa tem de ser entendida crescentemente como uma realidade multilateral que implica parcerias e partilha de responsabilidades e de capacidades”, declarou.
Perante ameaças que “não são previsíveis”, Santos Silva defendeu uma Defesa Nacional “crescentemente flexível, capaz de se adaptar permanentemente”, que “deve ser concebida num quadro mais geral de segurança que compreende vários instrumentos e meios de natureza militar e civil coordenados entre si”.
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O novo ministro apontou Portugal como precursor do “cosmopolitismo e da globalização”, (...)
“Para nós portugueses, esta mudança de paradigma enriquece a nossa própria matriz histórica, esta mudança a que se assiste em matéria de Defesa e Segurança não rompe, antes enriquece a nossa própria matriz, acrescenta novos valores a valores que não substitui nem pode substituir”, vincou.
Neste sentido, o responsável pela pasta da Defesa, “o novo quadro que regula hoje as questões da Segurança e da Defesa é um paradigma” que os portugueses “conhecem há séculos” (...)
Aqui o jornalista da TSF entusiasma-se ao ponto de terminar assim a sua reportagem:
«O novo Ministro da Defesa ressalva que o paradigma da defesa nacional está muito para além das fronteiras do país e os portugueses já estão habituados a adaptarem-se a novas situações ou não fossem eles os primeiros a saírem para o mundo no tempo das cascas de noz por esses mares fora».
Chegou agora a vez de Camões ser acusado de plagiar Obama por, no século XVI, ter escrito um soneto que falava de mudança! Responsáveis pela campanha de 2008 de Obama, que ganhou um importante prémio de publicidade, afirmaram, em conferência de imprensa, que o referido soneto se inspira descaradamente no slogan "Change we Need". Apesar dos esforços dos jornalistas, Camões tem-se mantido incontactável, pelo menos até ao fecho desta edição.
O projectado saque dos túmulos sagrados dos Imperadores da China não chega a ser consumado, embora António de Faria consiga profanar «os ossos dos santos» (LXXVI, 421). O conselho de Hiticou, o velho e santo eremita de Calempluy, a António de Faria, para que se arrependa antes que seja tarde demais é por ele acolhido com uma hipócrita promessa de se emendar, ao que o Hiticou responde, dizendo:
Queira Deus que seja isso assim, porque ao menos não terás castigo tão grande como essoutros ministros da noite, que como cães esfaimados me parece que toda a prata do mundo não os poderá fartar. (LXXVI, 421)
E assim é que o velho sacerdote budista faz soar a trombeta da perdição, que não tarda em chegar. Na viagem de regresso, António de Faria afunda-se com o seu navio, ao grito de «Senhor Deus, misericórdia!» ― um clamor que encontra eco em toda a Peregrinação.
"Excerto do programa "Grandes Portugueses- Luís Vaz de Camões". Leitura de Canto IV de "Os Lusíadas" por Helder Macedo. Montagem - Paulo Milhomens Música - Fernando Lopes-Graça"
25 Já sobre os Idálios montes pende, Onde o filho frecheiro estava então, Ajuntando outros muitos, que pretende Fazer ũa famosa expedição Contra o mundo revelde, por que emende Erros grandes que há dias nele estão, Amando cousas que nos foram dadas, Não pera ser amadas, mas usadas.
26 Via Actéon na caça tão austero, De cego na alegria bruta, insana, Que, por seguir um feio animal fero, Foge da gente e bela forma humana; E por castigo quer, doce e severo, Mostrar-lhe a formosura de Diana. (E guarde-se não seja inda comido Desses cães que agora ama, e consumido).
27 E vê do mundo todo os principais Que nenhum no bem púbrico imagina; Vê neles que não têm amor a mais Que a si sòmente, e a quem Filáucia ensina; Vê que esses que frequentam os reais Paços, por verdadeira e sã doutrina Vendem adulação, que mal consente Mondar-se o novo trigo florecente.
28 Vê que aqueles que devem à pobreza Amor divino, e ao povo caridade, Amam sòmente mandos e riqueza, Simulando justiça e integridade; Da feia tirania e de aspereza Fazem direito e vã severidade; Leis em favor do Rei se estabelecem, As em favor do povo só perecem.
29 Vê, enfim, que ninguém ama o que deve, Senão o que sòmente mal deseja. Não quer que tanto tempo se releve O castigo que duro e justo seja. Seus ministros ajunta, por que leve Exércitos conformes à peleja Que espera ter co a mal regida gente Que lhe não for agora obediente.
92 Mas a Fama, trombeta de obras tais, Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos De Deuses, Semideuses, Imortais, Indígetes, Heróicos e de Magnos. Por isso, ó vós que as famas estimais, Se quiserdes no mundo ser tamanhos, Despertai já do sono do ócio ignavo, Que o ânimo, de livre, faz escravo.
93 E ponde na cobiça um freio duro, E na ambição também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vício da tirania infame e urgente; Porque essas honras vãs, esse ouro puro, Verdadeiro valor não dão à gente: Milhor é merecê-los sem os ter, Que possuí-los sem os merecer.
96 Nas naus estar se deixa, vagaroso, Até ver o que o tempo lhe descobre; Que não se fia já do cobiçoso Regedor, corrompido e pouco nobre. Veja agora o juízo curioso Quanto no rico, assi como no pobre, Pode o vil interesse e sede imiga Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
97 A Polidoro mata o Rei Treício, Só por ficar senhor do grão tesouro; Entra, pelo fortíssimo edifício, Com a filha de Acriso a chuva d' ouro; Pode tanto em Tarpeia avaro vício Que, a troco do metal luzente e louro, Entrega aos inimigos a alta torre, Do qual quási afogada em pago morre.
98 Este rende munidas fortalezas; Faz trédoros e falsos os amigos; Este a mais nobres faz fazer vilezas, E entrega Capitães aos inimigos; Este corrompe virginais purezas, Sem temer de honra ou fama alguns perigos; Este deprava às vezes as ciências, Os juízos cegando e as consciências.
99 Este interpreta mais que sutilmente Os textos; este faz e desfaz leis; Este causa os perjúrios entre a gente E mil vezes tiranos torna os Reis. Até os que só a Deus omnipotente Se dedicam, mil vezes ouvireis Que corrompe este encantador, e ilude; Mas não sem cor, contudo, de virtude!
84 Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse A quem ao bem comum e do seu Rei Antepuser seu próprio interesse, Imigo da divina e humana Lei. Nenhum ambicioso que quisesse Subir a grandes cargos, cantarei, Só por poder com torpes exercícios Usar mais largamente de seus vícios;
85 Nenhum que use de seu poder bastante Pera servir a seu desejo feio, E que, por comprazer ao vulgo errante, Se muda em mais figuras que Proteio. Nem, Camenas, também cuideis que cante Quem, com hábito honesto e grave, veio, Por contentar o Rei, no ofício novo, A despir e roubar o pobre povo!
86 Nem quem acha que é justo e que é direito Guardar-se a lei do Rei severamente, E não acha que é justo e bom respeito Que se pague o suor da servil gente; Nem quem sempre, com pouco experto peito, Razões aprende, e cuida que é prudente, Pera taxar, com mão rapace e escassa, Os trabalhos alheios que não passa.