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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

Álvaro Cunhal e o Partido com Paredes de Vidro

      Em 1985, quando foi lançada em Lisboa a 1ª edição dessa obra, era inimaginável a tragédia que destruiu a URSS e transformou a Rússia num país capitalista. No horizonte próximo o que se esboçava era a vitória do socialismo sobre o capitalismo.

Mas a História tomou outro rumo.

No prefácio a esta 6ª edição, Álvaro Cunhal apresenta por isso com espirito autocritico a perspectiva histórica da 1ª, mas reafirma que o capitalismo está condenado a desaparecer porque não pode superar «insanáveis contradições internas e continua a mostrar-se incapaz de responder às legítimas aspirações económicas, sociais, políticas e culturais da humanidade

Este livro traz respostas a questões relativas aos comunistas. Ajuda a compreender porque resistiu o PCP ao desaparecimento da União Soviética e é um dos poucos partidos comunistas que na Europa sobreviveu intacto ao vendaval que desnaturou ou destruiu a maioria deles.

Enquanto outros, como o italiano, o francês e o espanhol, aderiram ao anti sovietismo, e adotaram linhas reformistas que os tornaram cúmplices do neoliberalismo, o PCP manteve-se fiel aos princípios e valores do marxismo-leninismo.

O Partido com Paredes de Vidro não é apenas como ensaio uma demonstração brilhante do domínio pelo autor do materialismo dialectico. O livro não seria o que é sem o talento e a imaginação que fazem dele uma obra marcada por poderosa criatividade.

«Como somos, como pensamos, como atuamos, como lutamos, como vivemos,nós,os comunistas portugueses.»

Na sua resposta, Álvaro Cunhal procura e consegue com frequência imprimir força de revelação à própria evidência. A personagem central é sempre o Partido.

É nele que se inserem o abstracto - as ideias, a concepção do mundo - e o concreto, os homens que fazem do Partido um grande coletivo revolucionário.

O tratamento de questões teóricas surge entrosado em exemplos de uma praxis viva. Está ali praticamente tudo, exposto, comentado e explicado sem véus, nem omissões: a organização, o trabalho colectivo, o estilo e o tipo de direcção do centralismo democrático, as eleições internas, o voto secreto, a prestação de contas, a experiencia, a renovação permanente, o consenso, a unanimidade, os quadros, a democracia, os deveres e direitos, a crítica e a autocrítica, a moral comunista.Com transparência cristalina.

A estrutura orgânica do Partido e a sua praxis revelam a natureza de classe, inseparável da raiz ideológica e da firmeza política e revolucionária. Alias, a manutenção da regra de ouro de uma maioria de operários nos organismos de direção tem sido justificada pelas respostas da História. Sem ela o PCP seria um partido muito diferente.

O tema do individuo, do militante inserido no coletivo, merece uma atenção especial.

«Ser comunista – sublinha - não impede que se ria mais ou se ria menos, que se goste de estar em casa ou de passear ao ar livre, que se aprecie ou não se aprecie um bom petisco, que se fume ou não se fume, que se beba ou não se beba um copo, que se viva mais ou menos intensamente o amor (…) Amar o sol, o ar livre, a natureza, a terra e o mar, o ar e a água, as plantas e as flores, os animais, as pedras, a luz, a cor, o som,o movimento, a alegria, o riso, o prazer, é da própria natureza do ser humano (…) Que ninguém tenha vergonha de ser feliz. Alem do mais porque a felicidade do ser humano é um dos objetivos da luta dos comunistas

Trechos como estes, pela mundividência que expressam, derrubam pirâmides de mentiras erguidas pela propaganda anticomunista.

Álvaro Cunhal sabe que não há comunistas perfeitos. Não apresenta portanto o PCP como um partido de santos. Mas acha que a exigência moral dos comunistas favorece o seu aperfeiçoamento individual.

«Em cada ser humano – recorda - há imensas potencialidades de evolução para o bem e de evolução para o mal. O Partido, em relação aos seus membros tem de confiar que com a sua ajuda a evolução será para o bem».

Aos que, caluniando o Partido, insistem em apresentá-lo como uma máquina que tritura os seus membros, Álvaro Cunhal responde com uma crítica profunda ao dogmatismo e ao sectarismo. Apontando erros cometidos, condena como inadmissível a tendência de alguns dirigentes e quadros a ingerir-se na vida privada dos militantes.

Não surpreendeu que o livro de Álvaro Cunhal tenha suscitado reparos no Leste europeu. Em alguns países foi publicado com cortes. A transparência do PCP incomodou dirigentes que se sentiram retratados em críticas ao autoritarismo e ao dogmatismo.

Uma certeza: a publicação pela Editora Expressão Popular do Partido com Paredes de Vidros é uma contribuição valiosa para um melhor conhecimento no Brasil do Partido Comunista Português, do seu coletivo revolucionário, da sua luta por um Portugal democrático, soberano, progressista.

O livro de Álvaro Cunhal, sendo pessoal, é de todo o Partido, um ser único, com vida e vontade próprias cujo caminhar é traçado por todos e cada um.

Miguel Urbano Rodrigues

-

Maio, poesia e luta (XII)

Ana Menezes

-

Aviso

[Tradução de António Ramos Rosa]

  

A noite que precedeu a sua morte

foi a mais breve de toda a sua vida

Pensar que estava vivo ainda

era um fogo no sangue até aos punhos

A sua força era tal que ele gemia

Foi quando atingia o fundo deste horror

Que o seu rosto num sorriso se lhe abriu

Não tinha apenas um único camarada

Mas sim milhões e milhões de camaradas

Para o vingarem sim bem o sabia

E então para ele ergue-se a alvorada

 

Paul Éluard

-

Maio, poesia e luta (XI)

Ana Biscaia

-

Canção da esperança

 

Corações nossos faróis

Na noite desta batalha

Num refulgir de navalha

 Rasgai o véu aos heróis.   

 

As nuvens hão-de passar!

Penetra-as o sol da alma

Para além do próprio olhar.

E os medos de arrefecer

Espanta-os um peito calmo

À firmeza de vencer.

 

Os golpes de viva dor

Temperam a fé futura

Constante forjam o amor.

E as quedas não são fatais

Se a chama desta aventura

Em nós cresce ainda mais.

 

A luta nunca foi vã!

Os braços em liberdade

Levantam outro amanhã.

E os lábios dão a florir

Os hinos desta verdade:

É de acção nosso porvir.

 

Arquimedes da Silva Santos

-

Maio, poesia e luta (IX)

Ana Biscaia

-

Entre patrão e operário

 

Entre patrão e operário,

entre operário e patrão,

o que é extraordinário

é pretender-se união.

Não vista a pele do lobo

quem do lobo a lei enjeita.

A propriedade é um roubo.

Ladrão é quem a aproveita.

Negar a luta de classes

é negar a evidência

de um mundo de duas faces,

de miséria e de opulência.

 

Armindo Rodrigues

-

Maio, poesia e luta (VII)

Christina Casnellie

Frase inscrita no memorial aos Mártires de Chicago na revolta de Haymarket de 4 de Maio de 1886

 -

Para vós o meu canto...

-

Para vós o meu canto, companheiros da vida!

Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,

vós, para quem não existe batalha perdida,

nem desmedida margura,

nem aridez nos desertos;

vós, que modificais um leito dum rio;

- nos dias difíceis sem literatura,

penso em vós: e confio;

penso em mim e confio;

- para vós os meus versos, companheiros da vida!

Se canto os búzios, que falam dos clamores,

das pragas imensas lançadas ao mar

e da fome dos pescadores, 

- penso em vós, companheiros,

que trazeis outros búzios para cantar...

Acuso as falas e os gestos inúteis;

aponto as ruas tristes da cidade

a crivo de bocejos as meninas fúteis...

Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,

que trazeis ruas com outra claridade

e outro calor no apertar das mãos.

E vou convosco. - Definido e preciso,

erguido ao alto como um grito de guerra,

à espera do Dia de Juízo...

Que o Dia do Juízo

não é no céu... é na Terra!

-

Sidónio Muralha

-

Maio, poesia e luta (VI)

Pedro Nora

-

A camisola

[Tradução de Manuel de Seabra]

 

Sou filho de família muito humilde,
tão humilde que duma cortina velha
me fizeram uma camisola. Vermelha.
E por causa dessa camisola
nunca mais pude andar pela direita.
Tive de ir sempre contra a corrente,
porque não sei o que se passa,
que todos os que a enfrentam
vão sempre de cabeça ao chão.
E por causa dessa camisola
não mais pude sair à rua
nem trabalhar no meu ofício
de ferreiro.
Tive de ir para o campo de jornal,
pois assim ninguém me via.
Trabalhava com a foice.
E apesar de todos os males,
sei trabalhar com duas coisas:
com o martelo e a foice.
Quase não compreendo como a gente
quando me via pela rua
me gritava: Progressista!
Eu julgo que tudo era
causado pela ignorância.
Talvez noutra circunstância
já tivesse mudado de camisola.
Mas como gosto muito dela
porque é quente e me consola,
peço-lhe que não se faça velha.

 

Ovidi Montllor

-

Maio, poesia e luta (V)

Pedro Nora

-

Ana e António

 

A Ana e o António trabalhavam 

na mesma empresa.

Agora foram ambos despedidos.

Lá em casa, o silêncio sentou-se

em todas as cadeiras

em volta da mesa vazia.

«Neo-Realismo!» dirão os estetas

para quem ser despedido

é o preço do progresso.

Os estetas, esses, nunca

serão despedidos.

Ou julgam isso, ou julgam isso.

 

Mário Castrim

-

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