Biblioteca-Museu República e Resistência/Espaço Grandella
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«O Render dos Ideais» – José Manuel Jara
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Com a presença do autor e de Luis Gomes - membro do Grupo de Estudos Marxistas
«Sendo feita de confrontações ideológicas a substâncias deste livro, é de justiça assinalar o seu contributo valioso, forçosamente não exaustivo, para a compreensão crítica de fenómenos como o percurso biográfico de antigos militantes do PCP, uns mais destacados do que outros, a seguir ao abandono, ou no processo de abandono, da sua condição de comunistas»
Na convicção de que é possível expor abreviadamente o que não é simples nem breve, apresento a seguir um conjunto limitado de questões e temas marcantes do âmbito do materialismo histórico, ou concepção materialista da história.
Leia-se, contudo, neste mesmo número de «O Militante», o passo de Engels sobre o que «o filisteu entende por materialismo», tanto mais que hoje, como há cento e vinte anos (esse texto data de 1888), não pouca gente continua activamente interessada na difamação do materialismo e do seu significado.
1. Em filosofia, em ciência (e, por extensão, na esfera ideológica em geral), o materialismo constitui desde há milhares de anos uma das duas linhas fundamentais do pensamento humano. A outra, como se sabe, é constituída pelo idealismo. Embora com variantes, com diversos nomes e até com disfarces ao longo do tempo, admite-se que o materialismo, como maneira filosófica de pensar, só recebeu o seu nome actual na Inglaterra da segunda metade do século XVII, em meio cultural adverso, entre os platónicos de Cambridge. Estes combatiam, em parte, o racionalismo de Descartes e, principalmente, o grande materialista inglês Thomas Hobbes. Desde então, a palavra e o conceito entraram rapidamente na circulação internacional e alargaram-se à luta entre concepções do mundo até aos nossos dias.
O escrito que a seguir se publica pertence a um mais vasto conjunto de inéditos do autor. Numa tira de papel anexa ao original francês lêem-se, na mesma língua e redigidas pela sua mão, as seguintes palavras: «V.M.-V. Intervenção no Colóquio do Instituto Maurice Thorez, em Paris.»
Não há título nem data no documento. Duas alusões que nele são feitas ao historiador Emile Bréhier permitem supor que o colóquio se terá realizado em 1965 ou muito perto desse ano. Tal como chegou até nós, o manuscrito está passado a limpo pela mão de Hélène, companheira e colaboradora do autor. Algumas lacunas ou dificuldades de leitura estão assinaladas por parênteses rectos na versão portuguesa, da minha responsabilidade. Julguei útil, por outro lado, acrescentar ao texto as notas que se lhe seguem.
Ao leitor atento não passarão despercebidas as circunstâncias de tempo e de lugar em que se enquadra esta intervenção oral, quando o Partido Comunista Francês era uma poderosa força popular e o socialismo mundial parecia inexpugnável até aos seus piores adversários. O leitor talvez descubra neste inédito formulações apenas esboçadas, como que embrionárias, mas do maior interesse teórico e político. Alguns desenvolvimentos, de resto, encontram-se no conjunto a que este documento inédito pertence.
Lembremos que, de Magalhães-Vilhena e sobre ele, publicou «O Militante» contributos nos seus n.ºs 211 (Julho/Agosto de 1994) e 212 (Setembro/Outubro do mesmo ano). Também o «Avante!» de 27-2-2003 dedicou a sua secção Em Foco ao «estudioso de Marx e de Lénine dez anos após o seu falecimento».
Para um conjunto de trabalhos do autor sobre o mundo antigo, veja-se o volume recente: Vasco de Magalhães-Vilhena, Estudos inéditos de filosofia antiga, edição crítica, tradução e prefácio de Hernâni Resende, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, LVIII + 390 pp.