As eleições para a Presidência, assim como para o Senado e a Câmara de Representantes, realizadas nos Estados Unidos da América expressaram profundos problemas, contradições e desigualdades que percorrem a sociedade daquele País, que são expressão do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo que afecta particularmente a maior potência imperialista do Mundo.
O lamentável espectáculo da campanha eleitoral expressou de forma muito clara a degradação do sistema político dos EUA, facto inseparável da crise social e da desilusão provocada em vastos sectores populares pela presidência Obama que, tanto no plano interno como externo, defraudou as expectativas de mudança que falsamente foram alimentadas.
A eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA poderá aprofundar ainda mais a política externa reaccionária e agressiva dos EUA levada a cabo por sucessivas administrações norte-americanas, e da qual a candidata derrotada foi destacada protagonista. Tal facto realça a importância da intensificação e alargamento da luta pela paz e contra as ingerências e agressões do imperialismo, nomeadamente do imperialismo norte-americano.
O PCP expressa a sua solidariedade aos comunistas, às forças e sectores progressistas dos EUA que persistem na luta pela justiça social, a democracia, o progresso e a paz, e na denúncia da verdadeira natureza de um sistema de poder contrário aos interesses dos trabalhadores e do povo dos EUA.
«Donald Trump foi eleito presidente dos EUA, apesar da candidata do Partido Democrata seguir à frente no voto popular. O bipartidarismo mantém o poder, mas com o pior resultado dos últimos 20 anos.
(...) o candidato eleito não necessita de receber a maioria dos votos nem de protagonizar a candidatura mais votada.
Esta deverá ser a quinta vez em que o presidente eleito não é o candidato com mais votos.
Desde o início do século XX, uma situação idêntica aconteceu por uma vez, em 2000, quando Al Gore foi o mais votado e George W. Bush foi eleito presidente.»
«As eleições presidenciais norte-americanas da próxima terça-feira serão as primeiras desde que foram introduzidas novas restrições ao exercício do voto em catorze estados.
(...)
As restrições ao direito de voto nos EUA incidem, particularmente, sobre a população afro-americana, hispânica e asiática.
(...)
Apesar dos alarmes lançados pela campanha de Donald Trump para uma fraude eleitoral em larga escala, organizações de defesa dos direitos civis denunciam alterações legais que podem deixar de fora muitos que queiram votar a 8 de Novembro.»
É caso para dizer:
Terminado o «big show», deixa assentar a poeira...
«Este é um tempo para os trabalhadores e o povo fazerem ouvir a sua voz e, com o seu apoio ao PCP e à CDU, pôr fim ao círculo vicioso da alternância sem alternativa e abrir portas a uma vida nova de progresso e desenvolvimento para os portugueses.»
1. Não deixa de ser intrigante que um dos eixos fundamentais da campanha eleitoral do PPD/PSD tenha sido a «asfixia democrática».
Os leitores recordar-se-ão que em sucessivos escritos nesta coluna foram revelados comportamentos «asfixiantes» de diversos interventores com responsabilidades institucionais nas diferentes fases dos processos eleitorais. Sobre algumas das questões aqui levantadas membros da Comissão Nacional de Eleições vieram a terreiro pronunciar-se. Pois bem, em mais de noventa por cento dos casos relatados a sua origem esteve em militantes do PPD/PSD, nomeadamente em autarcas seus.
A direcção do PPD/PSD sanciona tais comportamentos? Pergunto porque nunca li, ouvi ou vi declarações de críticas dessas actuações. Ou será que desconhece a realidade? Ou, o que é mais grave, sabe e assobia para o lado?
Quando na Madeira, ainda não há muito, se ameaçava atirar os comunistas e outros democratas ao mar estávamos (estamos?) perante comportamentos democráticos? Quando um primeiro-ministro do PPD/PSD, hoje Presidente da República, permitiu que durante anos a fio os então denominados Serviços de Informação da República lhe remetessem relatórios onde partidos políticos, sindicatos, movimentos de cidadãos, associações cívicas e tuti quanti eram apelidados de «inimigos internos» estamos perante o quê?
2. Igualmente intrigante é a «extraordinária vitória eleitoral» do Partido Socialista. O PS sofreu uma acentuada quebra eleitoral. Passou de maioria absoluta a maioria relativa. Perdeu mais de meio milhão de votos e 24 deputados. Algum leitor caridoso me quer explicar em que parte do mundo é que tudo isto pode ser interpretado como «extraordinária vitória»? Parafraseando alguém «depois o burro sou eu…»
Como intrigante foi (ou talvez não), mais uma vez, a peregrina ideia veiculada por quase toda a comunicação social de que estas eleições se destinavam a eleger um primeiro-ministro em vez de 230 deputados. Mas os leitores querem apostar comigo que os que criaram as «caixas» de eleições para primeiro-ministro vão ser os mesmos que mais adiante vão falar da não ligação dos deputados aos eleitores?
Menos intrigante foi o assistirmos, também sem carácter de novidade, a uma cobertura por parte de muitos órgãos de informação das campanhas eleitorais das diferentes forças políticas assente numa atitude pré-determinada de silenciamento, desvalorização e discriminação de alguns partidos face a outros. Mais uma vez nos títulos de jornais, revistas, rádios e televisões predominaram as tentativas de bipolarização PS-PPD/PSD, a crescente fulanização, a lateralização dos assuntos relevantes da campanha. Os objectivos são conhecidos: por um lado, escamotear as responsabilidades que PS, PPD/PSD e CDS/PP partilham na actual situação do país. Por outro esconder ou, no mínimo, a esbater a identidade de políticas entre estes partidos.
Umas quantas eleições legislativas depois continuam a intrigar-me os «critérios jornalísticos» que presidem a tais actuações. Mas o problema deve ser meu…
3. E, para terminar, desde já me declaro intrigado pelo facto de haver muita gente inteligente que parece não aprender com os erros passados.
Aí estão de novo as mistificações sobre a instabilidade política do país (como será que tantos e tantos países são governados há dezenas de anos por coligações?). Aí estão os falsos argumentos de combate ao défice orçamental. Aí estão as sugestões de pactos de regime. Tudo muito bem embrulhado em discussões académicas e/ou especulações de cenários.
O objectivo é um só: continuar e aprofundar as políticas dos interesses da direita e da direita dos interesses. Só que a solução para os problemas do país parece que passa pela ruptura com trinta e três anos dessas políticas. Digo eu…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 2 de Outubro de 2009