Caía a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto Me lembrou Carlitos A lua, tal qual a dona do bordel, Pedia a cada estrela fria Um brilho de aluguel E nuvens, lá no mata-borrão do céu, Chupavam manchas torturadas, que sufoco! Louco, o bêbado com chapéu-coco Fazia irreverências mil pra noite do brasil. Meu brasil Que sonha com a volta do irmão do Henfil. Com tanta gente que partiu num rabo de foguete. Chora a nossa pátria mãe gentil, Choram Marias e Clarisses no solo do brasil. Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente, a esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar Azar, a esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista Tem que continuar...
Composta em 1979, tornou-se um símbolo da luta pela anistia. Pela volta dos exilados e pela abertura política do regime militar. Carlitos, personagem mais famoso de Charles Chaplin, representa a população oprimida, mas que ainda consegue manter o bom humor, denunciava as injustiças sociais de forma inteligente e engraçada. A Equilibrista dançando na corda bamba, de sombrinha, é a esperança de todo um povo.
Henrique de Sousa Filho, conhecido como Henfil, foi um cartunista, quadrinista, jornalista e escritor brasileiro. Seu irmão, Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, foi um sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiro; concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida. Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais. Mas, com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile em 1971.
Maria era mãe de Betinho (irmão de Henfil) e Clarice mulher do jornalista assassinado na ditadura Vladimir Herzog. Mas Marias e Clarisses, no plural, fazem referência às mães, talvez irmãs ou mulheres de pessoas que se foram, ou mesmo deixaram o nosso país, lutando por um ideal, um sonho, de ver o Brasil livre para a informação e para a expressão das artes.
Ê, tem jangada no mar Ê, iê, iê Ê, hoje tem arrastão Ê, todo mundo pescar Chega de sombra, João J'ouviu
Olha o arrastão entrando no mar sem fim Ê, meu irmão, me traz Yemanjá prá mim
Minha Santa Bárbara, me abençoai Quero me casar com Janaína
Ê, puxa bem devagar Ê, iê, iê Ê, já vem vindo o arrastão Ê, é a Rainha do Mar Vem, vem na rede João Pra mim
Valha-me Deus, Nosso Senhor do Bonfim Nunca, jamais, se viu tanto peixe assim
Minha Santa Bárbara, me abençoai Quero me casar com Janaína
Ê, tem jangada no mar Ê, iê, iê Ê, hoje tem arrastão Ê, todo mundo pescar Chega de sombra, João J'ouviu
Olha o arrastão entrando no mar sem fim Ê, meu irmão, me traz Yemanjá prá mim Olha o arrastão entrando no mar sem fim Ê, meu irmão, me traz Yemanjá prá mim
Excerto de uma Minissérie de Gilberto Braga que retratou um período da ditadura militar no Brasil (1964 à 1979).
E, em 1965, numa época de efervescência política e cultural, surge Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira. Sua interpretação de 'Arrastão' (Vinicius de Moraes e Edu Lobo) entrou para a história e não poderia ter ficado de fora da série.
Arrastãovence o I Festival de Música da TV Excelsior e Elis Reginaarrebata o prêmio de melhor cantora.
Histórico: Conforme o próprio Ivan Lins, essa música chamava Está Tudo nas Cartas: «Uma jornalista da revista Veja usou uma declaração do meu parceiro, Vitor Martins, que ele deu em off, e ela publicou. Nessa declaração o Vitor não falava boas coisas sobre o chefe da Censura Federal, mas isso não fazia parte da entrevista. Essa jornalista traiu o Vitor. Ela fez isso com a intenção de prejudicá-lo e fazer sensacionalismo. Eu nem quero falar o nome dela, mas é uma pessoa bastante conhecida aqui em São Paulo. Depois dessa entrevista do Vitor, Está Tudo nas Cartas entrou na lista de "vetada definitivamente" pela censura. Só que a gravação já estava pronta na voz da Elis Regina. Alguém da gravadora Phillips foi à Brasília e conseguiu liberar a música, mas com uma condição: era preciso mexer no título. Mudamos pra Cartomante. ARosalyn Carter, esposa do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, recebeu cartas da presidente do comitê feminino dos Direitos Humanos falando sobre os direitos humanos no Brasil. O nome da música Está Tudo nas Cartas ficou parecendo que a gente estava insinuando alguma coisa sobre essas cartas que foram entregues pra Rosalyn. Na época, isso deu uma confusão danada. Misteriosamente, liberaram a música com a condição de alterarmos o título.»