Há duas semanas, terminámos o Artigo 38.º com a convicção de que, apesar do tratamento noticioso dado à Festa do Avante! nos dias que a antecederam, seriam «muitos e muitos milhares os que, apesar de todo este denso manto de silêncio», ali estariam para usufruir dos três dias da Festa. Passada que está mais uma edição daquela que é a maior iniciativa político-cultural que se realiza no País, podemos confirmar que se tratou de um enorme êxito.
Outra confirmação que tivemos nos dias que se seguiram à Festa foi a do prosseguimento dos traços essenciais da tradicional cobertura mediática que lhe é dada... Um dos principais será o apagamento generalizado da componente de massas da Festa do Avante!, sobretudo no que à juventude diz respeito. Quem lá esteve viu – e quem leu o Avante! apercebeu-se – as multidões que encheram o recinto do Palco 25 de Abril no comício de encerramento e em vários espectáculos; as enchentes verificadas noutros palcos e nos debates; os ajuntamentos vividos nos mais variados espaços. E a presença constante e contagiante da juventude. Mas quem procurou saber da Festa pelos restantes jornais nada ficou a saber sobre isto: os textos pouco ou nada disseram; as fotografias (regra geral planos muito fechados) nunca mostraram mais do que um punhado de gente.
A ausência de tratamento da componente cultural da Festa é outro desses traços. Pela comunicação social não se ficou a saber que ali se realizaram dezenas de espectáculos de música e teatro, com especial destaque para o concerto de música clássica de sexta-feira; que foram transmitidos filmes; que estava patente uma exposição de cem desenhos de alguns dos mais conceituados artistas plásticos portugueses do século XX.
Revelá-lo seria mostrar que, ao contrário da imagem que tão esforçadamente constroem dos comunistas e do seu Partido, a Festa do Avante! é, em si mesma, a materialização de uma concepção e de um projecto de sociedade – em que o acesso à cultura está ao alcance de todos; em que se valoriza integralmente o ser humano; em que a criatividade e a imaginação são, a par do trabalho, factores de emancipação humana.
A abertura do ano lectivo foi o tema central dos noticiários televisivos da passada segunda-feira. E foi com pompa e circunstância que as principais estações ouviram Sócrates e Passos Coelho afirmar que, no essencial, tudo estava a correr bem (se bem que para o líder do PSD o Governo deveria ter avisado os pais de que as escolas iam fechar). Nesse mesmo dia, o PCP realizou uma conferência de imprensa precisamente sobre esse tema, em que considerou que o ano lectivo não só «começou mal» como parece estar «inevitavelmente comprometido». Na ocasião, um membro da Comissão Política do Partido falou do fecho das escolas e da criação de mega-agrupamentos; da precariedade e do desemprego entre os docentes e os auxiliares; da própria destruição da escola pública. E daqui a comunicação social apenas extraiu a proposta de distribuição gratuita de manuais escolares durante o ensino obrigatório. Não fossem os comunistas «estragar a festa» de PS e PSD...
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In Jornal «Avante!» - Edição de 16 de Setembro de 2010
A semana passada ficou marcada pela apresentação do dirigente do PCP Francisco Lopes como candidato à Presidência da República. No próprio dia da apresentação como nos seguintes, muito se falou da candidatura comunista, em várias notícias, reportagens, entrevistas e comentários.
Mas, à semelhança do que aconteceu noutros momentos da história do Partido, a generalidade dos comentadores, analistas e politólogos que por aí andam logo trataram de desvalorizar a candidatura comunista, recorrendo aos preconceitos e caricaturas de sempre: da origem social do candidato à sua pretensa ortodoxia, passando pela sensibilizadora preocupação com um (desejável, para eles) mau resultado obtido por Francisco Lopes nas próximas eleições presidenciais. Da declaração de candidatura, dos seus objectivos e propostas, muito pouco se disse.
Nada de novo, portanto. E nada que surpreenda: estes propagandistas da política de direita não conseguem ver para além do esquema imposto pela ideologia dominante e esta determina que se silencie, deturpe e caricature os comunistas e as suas propostas de ruptura e de mudança. Os interesses dos seus patrões assim o exigem.
Este seu labor anticomunista, se bem que intenso e esforçado, não teve o resultado que desejavam, pois a candidatura do PCP, apesar de ser ainda uma novidade, está já a conquistar o seu espaço entre aqueles que são prejudicados pela política que o Governo – em conluio com o PSD e com o Presidente da República – tem vindo a prosseguir.
O mesmo sucedeu com a apresentação, na segunda-feira, da campanha do PCPPortugal a produzir. Salvo algumas excepções, a generalidade dos órgãos de comunicação social ignorou por completo esta iniciativa do Partido (alguns dos quais, diga-se, estiveram presentes na conferência de imprensa e não trataram o assunto). Não sendo raro este silenciamento, é ainda mais sentido quando em causa estão questões que abalam frontalmente os fundamentos da política de direita: é assim com a defesa da produção nacional; foi assim quando o assunto foi a banca, os seus privilégios e a defesa da sua nacionalização…
A poucos dias da abertura da Festa do Avante! e quando tanto se fala de reentrées lá começam a surgir notícias sobre aquela que é a maior iniciativa político-cultural que se realiza em Portugal. Mas uma análise mais fina dessas notícias revela algo que seria inacreditável se não fosse normal: não se fica a saber quase nada do seu conteúdo, dos espectáculos de música, dança ou teatro; das exposições de artes plásticas; dos debates políticos; das modalidades desportivas; da gastronomia.
Só se refere – o que tendo um significado profundo não é suficiente – que a Festa é construída de forma voluntária e abnegada por milhares de militantes e simpatizantes do Partido. Fica é a parecer que a constroem como um fim em si.
E não é por falta de matéria ou de insistência do PCP, que produziu nas últimas semanas várias notas e conferências de imprensa sobre aspectos concretos da programação da Festa do Avante!. Mas uma vez mais, quando as portas da Atalaia abriram, serão muitos e muitos milhares os que, apesar de todo este denso manto de silêncio, ali estarão para usufruir dos três dias da Festa.
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In Jornal «Avante!» - Edição de 2 de Setembro de 2010
Para comemorar os 30 anos (1978-2008), a Festa da Alegria antecipa a sua abertura com a exibição, em estreia absoluta em Braga, do filme «Fados», de Carlos Saura (com Marisa, Camané, Carlos do Carmo, Chico Buarque, Caetano Veloso e Lila Downs), que será apresentado por Carlos do Carmo. A sua exibição ocorre na sexta-feira, dia 18, pelas 21h00, no Auditório do Parque de Exposições de Braga.
Realiza-se nos próximos dias 19 e 20 de Julho (sábado e domingo), em Braga, no Parque das Exposições, a 15ª edição da Festa da Alegria, promovida pela Organização Regional de Braga do PCP.
A edição deste ano, que assinala o 30º aniversário da primeira edição (1978 – 2008), apresenta um programa diversificado, com exposições, debates, desporto, artesanato, animação de rua e espectáculos dos quais destacamos - no sábado com os Blasted Mechanism, Let the Jam Roll, Uxu Kalhus, Os Alentejanos e Cantares da Terra e no domingo com Kumpnia Algazarra, Peixe:Avião, Quadrilha e Mineiros de Aljustrel.
Os visitantes terão também ao seu dispor um espaço dedicado ao livro – A Festa do Livro e do Disco, o Espaço Internet e Novas Tecnologias e as exposições: “90 anos da Revolução de Outubro”; “Caxias – uma fuga audaciosa”; “Iraque – 5 anos de guerra” e “Lino Lima, o resistente e o militante”. No domingo, dia 20, às 18 horas, realizar-se-á um comício com a participação do Secretário-Geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
«O neo-realismo, as exposições gerais de artes plásticas e a contribuição que deram à luta pela modernidade da arte, em Portugal, têm sido persistentemente votados ao esquecimento, atacados ou deturpados. É altura de reabilitar e conferir a sua real dimensão a essa fase tão importante da História da Arte Contemporânea, ligada indissoluvelmente à luta anti-fascista em Portugal»