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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

A Irlanda e as fatais necessidades de um grande império (2), por Eça de Queirós

Fenians, Mollie Maguire e Liga da Terra

(...)

Estas duas associações secretas [os Fenians e Mollie Maguire] são terríveis e completam-se uma pela outra. Os Fenians, que estiveram um momento desorganizados, mas que têm hoje a prosperidade de uma instituição pública, são uma seita política, com o fim claro de conquistar a independência da Irlanda: o seu meio é uma futura insurreição, batalhas à luz do dia, um esforço heróico de raça que sacode o estrangeiro.

É evidente, portanto, que a Inglaterra não tem nada a temer desta associação: uma esquadra no canal de S. José, dez mil homens desembarcados e os Fenians serão, no estilo da canção, como a erva dos campos depois que passou o ceifador, um estendal de coisas sem vida! Mas não é assim com Mollie Maguire; esta constitui puramente uma conspiração: os seus estatutos, os seus fins, a sua organização, os seus chefes, tudo está envolvido num mistério, que é o terror na Irlanda; só são claros os seus crimes. Há um proprietário duro que levantou a renda? Uma noite, ou ele ou o seu procurador aparecem a beira de um caminho, com duas balas na cabeça. Quem foi? Foi Mollie Maguire: foi ninguém, foi a miséria, foi a Irlanda. Há um senhorio, um agente, que fez uma penhora? À meia-noite, a sua casa começa a arder, e é num momento uma ruína fumegante. Quem foi? Mollie Maguire. Houve um burguês especulador que comprou o casebre de um proprietário penhorado? No outro dia lá está no fundo de uma lagoa, com um pedregulho ao pescoço. Quem foi, coitado? Mollie Maguire. Todos os dias, nestes últimos meses, são assim, dois, três destes crimes – que têm em Inglaterra o nome de agrários. Os tribunais, a polícia, já se não fatigam em devassas e em autos: para quê? Mollie Maguire é intangível, Mollie Maguire é impessoal.

E se houvesse um magistrado tão desgostoso da vida que quisesse descobrir donde viera a bala, o pedregulho ou o fogo – teria certamente, horas depois, o que tanto parecia desejar: um punhal através do peito. São verdadeiramente os processos do niilismo militante: nem falta a esta seita aquela vaga exaltação mística que complica o niilismo. Se Mollie (Mollie é o diminutivo de Maria) não é uma divindade, é pelo menos uma degeneração fetichista da divindade: é a tenebrosa padroeira das desforras da plebe, aquela em que os desgraçados abandonados de Deus, do Deus oficial, do Deus da missa, encontram socorro, amizade, força – uma sorte de encarnação feminina do Diabo de Sabbath, do Diabo confidente dos servos e dos feiticeiros da meia-noite.

A estas duas associações deve juntar-se uma terceira, legal essa, falando alto nas praças, com jornais, com tabuleta, vivendo sob a protecção da constituição, respeitada da polícia, e que se chama a Liga da Terra. O seu fim é promover, por meio de meetings e representações, uma vasta agitação, um impulsivo movimento da opinião, que force o parlamento inglês a reformar o sistema agrário. Mas é realmente uma associação legal? São os seus fins tão honestamente moderados, tão estreitamente constitucionais como se diz? Todo o mundo o duvida. Na Irlanda, sempre que dois homens se reúnem conspiram: quando se sentem quatro, apedrejam logo a polícia: que será então quando reconhecerem que são duzentos mil? Além disso, as reclamações desta associação são de um vago singular: nada de prático, nada de realizável: apenas os velhos gritos sentimentais da aspiração humanitária. E ao mesmo tempo os homens que a dirigem são espíritos positivos e experimentados. Há aqui uma contradição assustadora. Sente-se que os chefes deste movimento, sabendo bem que da Inglaterra nada têm a esperar, estão simplesmente, sob as aparências da legalidade, organizando a insurreição: formular um programa prático para o parlamento votar seria, na opinião deles, ocioso e pueril: as declamações verbosas em que se fale muito de legalidade, ordem, parlamentarismo bastam para iludir a política... E não é duvidoso que, num certo momento, Fenians, Mollie Maguire e Liga da Terra formarão um só movimento – o da revolta desesperada.

(...)

In AFEGANISTÃO E IRLANDA, Cartas de Inglaterra, Texto Integral das Obras de Eça de Queirós

    

Ver também: Cartas de Inglaterra by José Maria Eça de Queirós - Project Gutenberg

Os Molly Maguire nos EUA:

  • The Molly Maguires (1970): Um filme de Martin Ritt sobre a luta dos mineiros de ascendência irlandesa nas minas de carvão da Pensilvânia (EUA).

Documentário sobre os mineiros irlandeses nos EUA:

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                     

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