O novo Governo acaba de decidir a localização definitiva do novo Aeroporto de Lisboa. Vai ser no Ministério da Educação! Foi Nuno Crato que o comunicou aos jornalistas: "Dêem-me uns dias, dêem-me uns dias para aterrar". Claro que lhe damos uns dias... Está nevoeiro, ou vem lá muito do alto, das estrelas? Ou é a pista que ainda não está pronta?
Entre muita coisa seguramente acertada, logo decorridos 1m 35s, afirmou algo que nos deixou um pouco confusos, com tonturas. Talvez seja das alturas... Como ainda não aterramos... Ora, vejamos:
«Os exames não são fiáveis. Os exames não são comparáveis de ano para ano. Os exames de ano para ano variam de critério. Variam de conteúdo. Variam até de tempo para a sua resolução. Portanto, o que se passa é que ninguém sabe comparar um 14 de média deste ano com um 10 de média cinco anos atrás. Ninguém sabe. Os exames em Portugal não são comparáveis. É preciso que haja mais exames como forma de avaliação externa credível, que baliza todas as aprendizagens e que baliza a avaliação que o professor vai fazer nas suas turmas. É preciso que haja mais exames, é preciso que os exames sejam fiáveis, que nos digam alguma coisa. Ninguémacredita que em dois anos é possível passar de média de Matemática de 8 para 14. Ninguém acredita nisto. A não ser… o Ministério da Educação. Mas o Ministério da Educação acredita naquilo que faz. E daí resulta uma medida simples. Por que é que as estatísticas da Economia não são feitas pelo Primeiro Ministro? Nem pelo Ministro da Economia? Por que é que as estatísticas de saúde não são feitas pelo Ministro da Saúde? Por que é que existe uma coisa chamada Instituto Nacional de Estatística? Porque se pressupõe que as estatísticas devem ser feitas com independência. Não devem ser os interessados nos resultados das estatísticas a publicar as estatísticas. Não deve ser o Ministro da Economia a dizer como é que está a inflacção. Não deve ser o Primeiro Ministro a dizer como é que está a inflacção. Deve ser uma entidade independente. Neste momento não temos uma entidade independente avaliadora. E mais, nos últimos anos assistimos a algo sem precedentes. Algo que nunca tinha acontecido. Que é a utilização da avaliação como arma política. Quando o Governo e um Ministro ou uma Ministra dizem "aqui está o resultado do meu progresso, são estes exames" e nós sabemos que os exames não são credíveis, nós devemos pôr tudo em causa. E devemos dizer: Desculpe, os exames devem ser feitos por outra pessoa. Os exames devem sair do Ministério da Educação. Isto é muito simples. É preciso extinguir o GAVE e criar um gabinete de avaliação independente. Onde? A imaginação pode ser muita. Pode ser sob o Primeiro Ministro. Pode ser sob tutela do INE, do Instituto Nacional de Estatística. Pode ser uma empresa contratada ao exterior. Pode ser uma Universidade contratada como se faz em Inglaterra. Pode ser uma empresa privada como acontece nos Estados Unidos. Pode ser a Assembleia da República a coordenar o gabinete de avaliação. Mas é necessário retirar a avaliação - de quem? - de quem está a ser avaliado por ela, que é o Ministério da Educação. Portanto, a avaliação deve ser tornada independente. [Palmas] Muito obrigado. Não são precisos muitos decretos para fazer isto. Não é preciso muita coisa. É preciso um Ministro que tenha a coragem de chegar e dizer "O Gabinete de Avaliação Educativa está encerrado e vamos contratar alguém". Podem ser as pessoas que lá trabalham. Podem ser pessoas que tenham experiência nisso. Mas é algo que tem que serindependente do Ministério da Educação.»
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A parte interessante é a segunda, quando proclama que "os exames devem sair do Ministério da Educação" e que "é preciso extinguir o GAVE e criar um gabinete de avaliação independente".
Já aqui temos sustentado que este país é uma choldra. E um exemplo da choldra que este país é, é este costume de mudar os nomes como, por exemplo, extinguir o "gabinete de avaliação não-sei-quê" para criar o "gabinete de avaliação outro-quê-não-sei".
Os exames feitos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)? E nós que pensávamos que o Instituto Nacional de Estatística era para fazer... estatísticas!
Os exames devem ser feitos por "uma empresa contratada ao exterior"? Os exames devem ser feitos por "uma empresa privada"? Quem? Uma empresa que esteja para o Ministério da Educação como a Médis está para o Ministério da Saúde do Dr. Paulo Macedo? Uma Agência de Rating/Notação, como aquelas que tanto êxito tiveram e têm a provocar esta crise? O BPN? O BPP?
Uma Universidade pública, a Assembleia da República, o Primeiro Ministro, até o INE!, devem ser excluídos porque ou dependem do Governo ou dos partidos que o sustentam, e são seguramente suspeitos de conluio com o Ministério da Educação que é "quem está a ser avaliado"!
Então os exames servem para avaliar o Ministério da Educação? E nós que pensávamos que os exames serviam, em primeiríssimo lugar, para avaliar os alunos/estudantes!
Não há aqui uma grande confusão entre diferentes avaliações e exames? Estes assuntos não são sobretudo uma questão de honestidade e competência? E, dependentes de todo o Ministério, com milhares de funcionários, não há pessoas honestas e competentes? A começar pelas chefias, pelo Ministro...
De facto, "a imaginação pode ser muita". As ideias é que são confusas... Deve ser das alturas...
E como "a imaginação pode ser muita" e tudo isto tem que ser muitíssimo independente (género Fernando Nobre), nós também temos a nossa proposta: que as avaliações e os exames, e tudo o mais, seja feito pelo Clube de Caça Submarina da Ásia Central!
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Post Scriptum:
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Nuno Crato ganhou prestígio a criticar o chamado «eduquês» e outros aspectos negativos e até, por vezes caricatos, do nosso sistema educativo. Todavia, a maior parte das pessoas ignora as suas «propostas»... Mas basta ler a sua entrevista "Menos Estado para melhor Educação" à «Agência Ecclesia» para se ter uma ideia do seu perfil de "pensador". Apenas um excerto:
«Acho que o Ministério da Educação deveria quase que ser implodido, devia desaparecer, devia-se criar uma coisa muito mais simples, que não tivesse a Educação como pertença mas tivesse a Educação como missão, uma missão reguladora muito genérica e que sobretudo promovesse a avaliação do que se está a passar.»
[Leiam a entrevista toda, por favor!...]
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Mas, que raio! Num sítio diz "Mas é necessário retirar a avaliação - de quem? - de quem está a ser avaliado por ela, que é o Ministério da Educação". Noutro, diz que o referido Ministério devia promover "a avaliação do que se está a passar."
Percebe-se que as duas frases não são bem contraditórias, mas também não são bem conciliáveis...
Depois, o homem vai aterrar para fazer (quase) implodir o Ministério? Vai ou não vai, gaita! Vá ou não vá, por muito menos alguns foram parar a Guantánamo!
Percebe-se agora por que razão Daniel Oliveira (do qual, todavia, não somos particularmente adeptos) o tratou de "taliban". Diríamos que Crato é mais uma espécie de NATO, que quer levar a "Educação" ao Ministério como Obama quer levar a "Democracia" à Líbia.
«Que ouçam, com atenção, e sublinho atenção, a comunicação apresentada em 2009 ao “Fórum Portugal de Verdade” e as intervenções no “Plano Inclinado”. Os diagnósticos não me afastam. Os remédios arrepiam-me.»
E que há mais a dizer? Bem, sobre a Universidade pode Nuno Crato aconselhar-se com Paulo Portas, seu colega de coligação, sobre a maneira de fazer uma Universidade bem moderna...
Fosse pela generalidade da comunicação social e a candidatura de Francisco Lopes não se estaria a afirmar da forma como está. Na verdade, não fosse a intensa intervenção da candidatura nas últimas semanas – com o candidato a correr o País de lés a lés e com muitas acções de campanha sem a sua participação –, e seriam muitos os portugueses que pensariam que a disputa eleitoral se resumirá a Cavaco Silva e a Manuel Alegre, tal é o silenciamento a que é votada a candidatura comunista. Este é, aliás, o traço mais saliente da cobertura mediática das eleições presidenciais de 23 de Janeiro próximo.
Numa estranha concepção de «jornalismo», as três estações de televisão conseguiram a proeza de cobrir o primeiro comício da candidatura de Francisco Lopes, realizado a 29 de Outubro no salão da Voz do Operário, em Lisboa, sem mostrar uma única imagem do candidato. Para esconder, como é evidente, o projecto ímpar de ruptura e de mudança de que é portador. Se dissermos que este é apenas um exemplo (particularmente chocante, é certo, mas apenas um) deste silenciamento a situação ganha contornos de escândalo.
Aliás, das raras vezes (tendo em conta o elevado número de iniciativas em que tem participado) em que lhe tem sido dada visibilidade é apenas e só para comentar declarações dos outros candidatos, nomeadamente Cavaco ou Alegre, que assim continuam a marcar a agenda, mesmo quando nada fazem ou dizem.
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Mostrar o que interessa aos poderosos
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O silenciamento da candidatura de Francisco Lopes contrasta com a autêntica «passadeira vermelha» mediática que é estendida a esses dois candidatos. Assim, assistimos à entronização diária de Cavaco Silva que, de entre os actuais responsáveis políticos, é dos que mais responsabilidades tem na situação do País, quer pela sua demolidora (para Portugal) passagem por São Bento ao longo de uma década quer pelo seu mandato presidencial. Mas nada disto importa aos donos dos grupos económicos que controlam os media a quem interessa que Cavaco Silva continue a não ser confrontado com o seu passado e com os seus compromissos actuais com a minoria que ganha – e muito – quando a imensa maioria do povo perde e sofre...
Também Manuel Alegre não tem razão de queixa da cobertura noticiosa de que é alvo. O candidato do PS apoiado pelo BE tem tido espaço mais do que suficiente para explicar (ou pelo menos tentar) as suas contradições. E não faltam as câmaras e os microfones quando se mostra contra o Orçamento do Estado e defende a sua aprovação; quando «compreende» a Greve Geral e os seus motivos e se esforça por defender o Governo e a sua política, que justificam o recurso a essa forma de luta; ou quando se considera acima dos partidos (imitando nesta matéria Fernando Nobre, que não terá razões de queixa relativamente à sua presença na comunicação social) apesar de ser não só apoiado por dois mas ser também, de todos os candidatos, o que mais refém está da política do Governo do PS.
É fácil de perceber que o silêncio a que a candidatura de Francisco Lopes é remetida se relaciona com a afirmação que faz da necessidade e possibilidade de uma outra política, patriótica e de esquerda, que rompa decididamente com a política de direita. Uma política que, a ser efectivada, poria em causa a imoral acumulação de lucros dos principais grupos económicos – precisamente aqueles que controlam a generalidade dos órgãos de comunicação social.
(sublinhados meus)
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In Jornal «Avante!» - Edição de 18 de Novembro de 2010
Quer dizer que, para Manuel Alegre, são a «crise», os «nossos escassos recursos» e a «importância» e a «urgência» da situação na Guiné a justificação para que não se envie mais tropas para o Afeganistão... Não houvesse esses obstáculos...
E, até agora, que se saiba, Manuel Alegre, ainda não disse mais nada. Quando se procura saber o que ele pensa da(s) guerra(s) apenas se encontram referências aos anos 60 como nesta notícia de 8 de Março de 2010: Alegre voltou ao local onde viveu a guerra. Não há nada a opor a queManuel Alegrevisite os locais onde viveu dos momentos mais dramáticos da sua vida. Mas seria interessante que se pronunciasse também sobre as guerras actuais e sobre a NATO. É que já não se trata de desalojar Américo Tomás de Belém e as eleições são em 2011 e não em 1965 ou em 1972...
E Fernando Nobre? Defenderia ele a «ruptura» do título deste texto? Fomos ver o Curriculum Vitae de Fernando Nobre. Aí se escreve que ele foi «orientador, enquanto representante de uma ONG, num exercício prático militar a convite do Comando da Nato em Oeiras, visando uma análise crítica sobre um cenário de guerra (Darfur) – gestão de crise, assistência humanitária e construção da paz.»
Seja-nos permitido concluir que Fernando Nobre nunca defenderia uma ruptura com a submissão ao imperialismo e à NATO.
Quanto a Defensor de Moura não há registo de que se tenha pronunciado sobre as guerras imperiais em curso, sobre a NATO, etc.
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Quem defendeu então a «ruptura» de que se fala neste "post"?
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Foi Francisco Lopes, candidato à Presidência da República, que, em duas ocasiões, defendeu uma ruptura com a submissão ao imperialismo e à NATO. Os textos são estes:
«Esta candidatura não tem hesitações, não alimenta equívocos, nem formula juízos ambíguos sobre as orientações, as soluções ou o rumo indispensáveis para resgatar o País do declínio para que está a ser conduzido. Mudança de política, ruptura com o rumo dominante na política nacional, afirmação de uma política alternativa – eis o que, com toda a clareza, se inscreve como objectivos necessários ao povo e ao País. (...)
Um rumo de ruptura com a natureza do processo de integração europeia e com a postura de submissão ao imperialismo e à NATO, que integre um quadro diversificado de relações internacionais, e contribua para um mundo mais justo, de paz e cooperação, onde seja assegurado aos trabalhadores e aos povos o direito a decidirem do seu próprio destino.»