1. A Ideologia Alemã de Karl Marx e Friedrich Engels, obra começada a redigir na Primavera de 1845, em Bruxelas, apresenta o seguinte subtítulo: Crítica da Filosofia alemã mais recente na pessoa dos seus representantes Feuerbach, Bruno Bauer e Stirner, e do socialismo alemão na dos seus diferentes profetas.
Centrar-nos-emos no primeiro capítulo que se ocupa de Feuerbach ou, mais precisamente, da oposição das concepções materialista e idealista. Antes, derivo para um excurso breve, abrangendo dois tópicos introdutórios.
Na convicção de que é possível expor abreviadamente o que não é simples nem breve, apresento a seguir um conjunto limitado de questões e temas marcantes do âmbito do materialismo histórico, ou concepção materialista da história.
Leia-se, contudo, neste mesmo número de «O Militante», o passo de Engels sobre o que «o filisteu entende por materialismo», tanto mais que hoje, como há cento e vinte anos (esse texto data de 1888), não pouca gente continua activamente interessada na difamação do materialismo e do seu significado.
1. Em filosofia, em ciência (e, por extensão, na esfera ideológica em geral), o materialismo constitui desde há milhares de anos uma das duas linhas fundamentais do pensamento humano. A outra, como se sabe, é constituída pelo idealismo. Embora com variantes, com diversos nomes e até com disfarces ao longo do tempo, admite-se que o materialismo, como maneira filosófica de pensar, só recebeu o seu nome actual na Inglaterra da segunda metade do século XVII, em meio cultural adverso, entre os platónicos de Cambridge. Estes combatiam, em parte, o racionalismo de Descartes e, principalmente, o grande materialista inglês Thomas Hobbes. Desde então, a palavra e o conceito entraram rapidamente na circulação internacional e alargaram-se à luta entre concepções do mundo até aos nossos dias.