Este documento foi elaborado pelo Conselho Nacional de Segurança dos EUA sob a direcção de Henry Kissinger e dado como concluído em 10 de Dezembro de 1974 .
Foi adoptado como política oficial dos USA pelo Presidente Gerald Ford [o que deu o aval ao presidente Suharto da Indonésia para a invasão de Timor-Leste] em Novembro de 1975. Durante alguns anos foi um documento classificado como secreto, mas acabou por ser tornado público no início dos anos 90 do século XX.
Segundo este memorando seriam abrangidos 13 países a saber: India, Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Tailândia, Filipinas, Turquia, Nigéria, Egipto, Etiópia, Mexico, Colômbia e Brasil
Bem, se o PCP tivesse dito a frase do título seria logo insultado... Mas não, não foi o PCP.
O PCP disse isto, por exemplo:
«Os primeiros seis meses de vida do Governo do PS confirmaram não apenas a persistência nas mesmas opções e orientações políticas comprometidas com o interesse do grande capital e que tem conduzido ao agravamento dos problemas do país, como a intenção de prosseguir de forma agravada como o evidenciam o Orçamento de Estado para 2010 e a apresentação e discussão do Programa de Estabilidade e Crescimento.»
«O Governo PS e o capital tentam apresentar como inevitável uma política que, ditada pela alienação de sectores estratégicos, pela mercantilização de serviços públicos essenciais à vida das populações e pela liquidação da capacidade produtiva, se traduzirá no final de 2013 numa situação económica e social ainda pior.»
Ouviram? Mário Soares disse: «Houve um momento em que os próprios Partidos Socialistas foram um pouco colonizados (e digo isto entre aspas: "colonizados") pelo neoliberalismo americanono tempo do Bush».
Mas este gigante da política nacional, Mário Soares, já tinha afirmado coisa parecida em 6 de Setembro de 2009:
«Acho que começa a haver uma reacção muito positiva mesmo dentro dos partidos socialistas europeus que forammuito colonizadospelo neoliberalismo.»
Para começar, foram muito colonizados ou foram um pouco colonizados? Ó Dr. Mário Soares, decida-se, não nos deixe nesta angústia! E como é que é ser colonizado-com-aspas?
Depois, Mário Soares afirma que foi «no tempo do Bush». No tempo do Bush-pai, do Bush-filho, do Bush-Clinton ou do Bush-Obama? Ou de todos os Bushes anteriores?
Ora vamos lá a ver qual era o Bush que colonizava (com aspas ou sem aspas?) o PS no tempo em que Mário Soares visitava Carlucci no «ninho do corvo» (lembra-se, Dr. Soares?). Era Gerald Ford, aquele presidente que nem sequer tinha sido eleito, visto ter substituido Spiro Agnew e, depois, Richard Nixon.
E agora, com Obama? Não foi já este Governo do PS que mandou tropas de combate para o Afeganistão?
Vamos lá perguntar a opinião ao «amigo» de Mário Soares, Manuel Alegre:
«Esperava-se então que fosse a hora do socialismo democrático. Mas o que veio foi a globalização neoliberal. Com os socialistas na defensiva ou ideologicamente colonizados.»
Está ver, Dr. Soares? Afinal o seu «familiar» está praticamente de acordo consigo! O meu palpite é que vocês andam zangados porque ambos querem mostrar que «restauram» melhor a aparência do PS!
E o que diz Mário Soares de Manuel Alegre, na citada entrevista à Antena 1? Ouçamos:
«[Manuel Alegre] esteve durante muito tempo, enquanto deputado (...) a condenar e a criticar de uma maneira dura e de uma maneira, às vezes, difícil o Partido Socialista».
Mas, ó Dr. Mário Soares, o senhor faz uma crítica, que se pode dizer implacável!, ao PS (que «foi colonizado pelo neoliberalismo americano») e depois vem censurar o Manuel Alegre?
Bem, como diz Aguiar Branco citando Lénin: O que é que se há-de fazer? [Isto não vem a propósito mas fica sempre bem uma citação]
1. A 11 de Setembro de 1973, no Chile de Salvador Allende (cujo centenário do nascimento se comemora neste ano de 2008), Augusto Pinochet executava a fase final de um golpe. Golpe há muito preparado e anunciado pela comunicação social dominante como «inevitável». Golpe que desde o início foi fomentado, financiado e apoiado pela CIA, obedecendo às ordens da Administração Nixon.
Um ano depois da sangrenta tomada do poder o então Presidente, não eleito sublinhe-se, Gerald Ford foi entrevistado pela revista «Time». Questionado sobre que lei internacional dava aos EUA o direito de tentar desestabilizar um governo constitucionalmente eleito de outro país respondeu lapidar: «Não vou pronunciar-me aqui sobre se isso é ou não permitido por leis internacionais. É um facto reconhecido, no entanto, que tanto historicamente como no presente, tais acções se aplicam no melhor interesse dos países envolvidos. O nosso governo, tal como outros governos, empreende essas acções para ajudar a boa orientação das políticas externas e para proteger a segurança nacional... A CIA tentou ajudar, no Chile, a preservação dos jornais opositores e das rádios e apoiar os partidos da oposição».
Esta visão continua hoje em vigor nos EUA e na comunicação social dominante. Analisemos o que está acontecer na Bolívia.
Os mesmos que estão sempre pronta a dar lições de democracia aos outros, noticiaram como facto trivial o recente referendo convocado neste país pelo presidente Evo Morales. De notar que este acto se realizou a meio de um mandato obtido em 2006 com 53,4% dos votos. Que o Presidente para se manter em funções teria de ter mais votos do que quando foi eleito (se, por exemplo, tivesse tido 53%, teria de abandonar o cargo). Que Evo Morales recolheu 67% dos votos.
Pois qual a linha dominante de análise dos mais recentes acontecimentos na Bolívia? A culpa é de Evo Morales, pois claro. O «malandro» nacionalizou as indústrias de gás e do petróleo, respeitando assim o seu programa eleitoral sufragado nas eleições. O «desestabilizador», vejam lá, canalizou as verbas do petróleo e do gás natural para um programa nacional de assistência a idosos. Mais. Fê-lo sem atender às exigências dos (33% de votos no referendo) que, nas respectivas regiões, consideravam que essas verbas eram deles e só deles e não do País. Mas não se ficam por aqui na sua absurda argumentação. Se Evo Morales não aceitar os «conselhos» da chamada «comunidade internacional», abdicando da sua luta pela libertação e promoção social dos mais desprotegidos do seu país, então são de esperar as inevitáveis consequências.
Será que os que assim escrevem e falam não se apercebem que, queiram ou não, estão a preparar o terreno para novos 11 de Setembro de 1973? E o que proclamariam se as autarquias do PSD, ou da CDU, se recusassem, por exemplo, a entregar os impostos cobrados no seu território, a pretexto de que discordavam do TGV ou do novo aeroporto? E se as referidas câmaras ameaçassem separar-se e proclamar a independência? E se, pela violência, promovessem o assalto e vandalização dos edifícios governamentais? E matassem quem defendesse o governo legítimo de Portugal? Alguém dúvida do que diriam e escreveriam?
2. Uma nota a propósito da «democracia» das eleições americanas. Em 2004 esteve-se à beira de um absurdo e de um escândalo de ainda maiores proporções do ponto de vista numérico do que o ocorrido 4 anos antes com Al Gore. E, curiosamente, de sentido político contrário. Com efeito John Kerry teve menos 3 milhões de votos que G.W. Bush. Mas se tem ganho no Estado do Ohio, para o que só teria precisado de mais 150 mil votos, teria sido ele o Presidente eleito. Como escreve o Vítor Dias, parece pois que nas «grandes democracias» há uns «pequenos» problemas democráticos.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 19 de Setembro de 2008