As razões manifestadas por Israel para a sua declaração de guerra total contra a população de Gaza são a mais recente variação de um tema que pôs em circulação a seguir à vitória eleitoral de 2006 do Hamas em Gaza. Em Fevereiro daquele ano Israel emitiu um conjunto oficial de exigências. Israel exigia que o Hamas reconhecesse o direito permanente de Israel a existir, renegasse a violência e aceitasse a validade dos acordos anteriores israelenses-palestinos. Israel afirma que a incapacidade do Hamas em cumprir estas exigências explica e justifica seus ataques aéreos sobre o povo de Gaza.
Na realidade, a agressão de Israel tem pouco a ver com a resposta do Hamas a estas exigências, as quais são, como veremos, insinceras.
Argumenta Israel que a necessidade de derrotar o Hamas é a questão nuclear que motiva os seus actuais ataques aéreos. Esta afirmação é de avaliação especialmente difícil para os americanos. Os media dos EUA habitualmente reflectem a demonização oficial israelense dos objectivos e acções do Hamas.
O entendimento da história do Hamas e da sua actual posição sobre questões chave é essencial para apreciar o que está realmente em causa na escalada da crise em Israel e na Palestina.
O objectivo do que se segue é simplesmente situar o Hamas no contexto da ocupação e da resposta palestina à mesma. Vamos começar com as origens do Hamas e então examinar cada uma das exigências de Israel em 2006.
Os bombardeamentos aéreos e a presente invasão de Gaza pelas forças terrestres israelenses têm que ser analisados num contexto histórico. A operação "Chumbo Fundido" ("Cast Lead") é uma missão cuidadosamente planeada que, por sua vez, faz parte de uma estratégia militar-serviços secretos formulada pela primeira vez em 2001:
«Fontes do 'establishment' da defesa disseram que o ministro da Defesa Ehud Barak deu instruções às forças de defesa israelenses para se prepararem para a operação, há mais de seis meses, na altura em que Israel estava a começar a negociar um acordo de cessar fogo com o Hamas». (Barak Ravid, Operation "Cast Lead": Israeli Air Force strike followed months of planning [Operação "Chumbo Fundido". O ataque da Força Aérea israelense vem na sequência de meses de preparativos], Haaretz, 27 de Dezembro, 2008).
Foi Israel quem quebrou as tréguas no dia das eleições presidenciais americanas, a 4 de Novembro:
«Israel serviu-se desta diversão para quebrar o cessar-fogo com o Hamas, bombardeando a faixa de Gaza. Israel declarou que esta violação do cessar- fogo pretendia impedir o Hamas de escavar túneis no território israelense.
Logo no dia seguinte, Israel desencadeou um cerco terrorista a Gaza, impedindo a entrada de alimentos, combustível, medicamentos e outros bens necessários na tentativa de "subjugar" os palestinianos, enquanto simultaneamente efectuava incursões armadas.
Em resposta, o Hamas e outros em Gaza voltaram a alvejar Israel com projécteis de petróleo inflamado, artesanais e quase sempre imprecisos. Durante os últimos sete anos, estes projécteis causaram a morte de 17 israelenses. Durante o mesmo período de tempo, os ataques relâmpago de Israel mataram milhares de palestinianos, suscitando um protesto mundial que caiu em orelhas moucas nas Nações Unidas.» (Shamus Cooke, The Massacre in Palestine and the Threat of a Wider War, Global Research [O Massacre na Palestina e a Ameaça de uma Guerra Mais Ampla], Global Research, Dezembro, 2008).