Sabe-se que as grandes agências de notícias internacionais determinam, em muito, as agendas e os conteúdos dos diferentes órgãos de comunicação social. Sabe-se que se vangloriam de que notícia por elas difundidas, é notícia editada em todos os países do mundo em menos de 24 horas. Sabe-se que o que se silencia é, na maior parte das vezes, tão ou mais importante do que o que se publica. Sabe-se, mas ainda ficamos chocados com algumas realidades. Três exemplos escolhidos ao acaso.
Primeiro. A «Festa da Alegria» em Braga foi o maior acontecimento político-partidário do fim-de-semana de 19/20 de Julho. Nela participaram muitos milhares de pessoas, que estiveram lá e viram É uma realidade indesmentível. Qualquer que seja o critério jornalístico. Goste-se ou não do PCP. Por mais que isso custe a quem não gosta. Os media dominantes, elucidativamente, ignoraram esse acontecimento.
Nas televisões nenhum dos canais mostrou uma imagem que fosse dos milhares de pessoas que participaram na Festa e assistiram ao comício com o secretário-geral do PCP. Do discurso de Jerónimo de Sousa nada disseram. E no final, fizeram-lhe umas perguntas sobre questões que nada tinham a ver com a sua intervenção. Nos jornais idêntico «tratamento». No «Jornal de Notícias», no «Público» e no «Correio da Manhã», nem uma linha. No «Diário de Notícias» uma linha! Apenas a imprensa regional cumpriu positivamente o seu dever de informar.
Seria de esperar uma (ou mais) excepção. Mas não. O que se passou? Não é crível que os directores em causa se tenham reunido à volta de uma mesa e decidido em conformidade. Algo de muito mais profundo se desenrola. Estamos claramente perante uma formatação de procedimentos para com quem não alinha no pensamento único. Formatação essa que vem de longe e se tem refinado ao longo dos anos. Basta, em relação a cada um dos órgãos referidos, comparar com o que nesses dias transmitiram e publicaram em relação a outras forças políticas.
Segundo exemplo. A Colômbia tem estado na ordem do dia. Seja por causa de Ingrid Betancourt, seja pela putativa presença – sempre anunciada e nunca confirmada – das FARC na Festa do «Avante!». Mas nem uma linha sobre a realidade vivida nesse país.
Álvaro Uribe, enfrenta um procedimento de impugnação em tudo semelhante ao vivido por Collor de Mello há uns anos no Brasil. O Supremo Tribunal instaurou-lhe um processo por ter comprado os votos no Congresso que permitiram a sua reeleição. Cerca de 32 senadores (a maioria do partido de Uribe), num total de 102, estão presos e/ou acusados de ligações aos cartéis da droga, aos bandos paramilitares e à venda de votos que permitiu a reeleição de Uribe. A ex-parlamentar Ydis Medina confirmou perante o Tribunal estes factos. Nada disto é notícia merecedora de edição? Nos EUA sim (basta ver, por exemplo, a CBS). Em Portugal não.
Mais. Nem uma palavra, nem uma notícia, a informar que a Colômbia é campeã do mundo em assassinatos de sindicalistas e de JORNALISTAS: mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo. Trinta só este ano. Será porque na sua maioria são índios? Será por não terem aquele «charme discreto da burguesia» a que se referia Luís Buñuel? Porque sim para Ingrid Betancourt e porque não para Guillermo Rivera Fúquene? Porque sim para a publicação dos relatórios da Amnistia Internacional sobre a China e porque não para os sobre a Colômbia?
Terceiro exemplo. O PCP emitiu uma nota sobre a detenção da cidadã espanhola Remedios Garcia Albert. Face ao alarido em torno do PCP e das FARC seria de esperar um qualquer tratamento jornalístico. Puro engano. Alguém me explica?
Nota final: para quem não sabe o PCP difunde mais de mil posições públicas por ano (só dos seus organismos centrais ou estruturas nacionais) …
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 7 de Agosto de 2008
Como aqui fomos escrevendo em outras «Conversas da treta», a comunicação social nos nossos dias reproduz como nunca a ideologia dominante. Seja na TV, na rádio ou nos jornais. Como negócio rege-se pelas leis do lucro. As audiências, ou as tiragens, com as consequentes receitas da publicidade, determinam, em última análise, os seus conteúdos essenciais. Os traços dominantes do que é difundido, ainda que com diferentes matizes, são comuns a públicos e privados. Mas também o que não se noticia. O que se silencia é, na maior parte das vezes, tão ou mais importante do que o que se publica. Para «alguns» a comunicação social dominante não tem tempo, nem espaço.
A «Festa da Alegria» em Braga foi o maior acontecimento político-partidário do fim-de-semana. Nela participaram muitos milhares de pessoas, que estiveram lá e viram É uma realidade indesmentível. Qualquer que seja o critério jornalístico. Goste-se ou não do PCP. Por mais que isso custe a quem não gosta. O facto de os média dominantes terem ignorado esse acontecimento é bem elucidativo do conceito de informar que neles vigora.
Nas televisões foi o que se viu: nenhum dos canais mostrou uma imagem dos milhares de pessoas que participaram na Festa e assistiram ao comício com o secretário-geral do PCP. Do discurso de Jerónimo de Sousa nada disseram. E no final, fizeram-lhe umas perguntas sobre questões que nada tinham a ver com a sua intervenção.
Nos jornais, foi ainda pior, se é que é possível. No «Jornal de Notícias», no «Público» e no «Correio da Manhã», nem uma linha. No «Diário de Notícias» uma linha.
Como é em vão que na comunicação social dita de referência procuramos notícias sobre o facto do Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, enfrentar uma crise política grave. Com efeito sessenta parlamentares da sua base de apoio estão incriminados num escândalo de corrupção, ligações com o narcotráfico e os paramilitares. Tem um primo e conselheiro político, Mário Uribe, preso pelos mesmos motivos. O Supremo Tribunal contesta a legalidade de sua reeleição em 2006, obtida mediante a compra de votos confirmado pela confissão da ex-parlamentar Ydis Medina.
Ou notícias a informarem que a Colômbia é campeã do mundo em assassinatos de sindicalistas e de jornalistas: mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo. Que mais de 11.200 colombianos foram assassinados desde que Uribe foi «eleito» (não inclui os mortos em combate entre as guerrilhas e as Forças Armadas). Que o número de desaparecidos ronda os 30 mil. São homens e mulheres, novos e velhos, com nome. Mas não são mediáticos. Não podem aparecer nas televisões e nos jornais. Jazem sob sete palmos de terra.
Como Guillermo Rivera Fúquene, marido e pai, comunista e membro do Polo Democrático Alternativo que governa o município de Bogotá. Presidente do Sindicato dos funcionários da autarquia da capital do país. Foi visto pela última vez no dia 22 de Abril, às 6.30 da manhã, numa rua do bairro «El Tunal» onde tinha ido levar a filha à escola. Uma testemunha e câmaras de vídeo instaladas no local atestam que foi abordado por um grupo de agentes policiais e foi forçado a entrar num carro da Polícia Metropolitana. Assassinado a 23 de Abril depois ter sido selvaticamente torturado. A 24 o seu corpo pareceu numa lixeira situada a 100 km da capital. Sepultado a 28 de Abril como «desconhecido». O corpo só foi identificado e entregue à sua esposa, Sónia Betancour, a 15 de Julho. Foi o 24º dirigente sindical colombiano assassinado em 2008. O leitor viu, ouviu, ou leu algo sobre o assunto?
Mais um assassinado entre os vinte e quatro dirigentes sindicais já trucidados na Colômbia este ano. Índios a maior parte, provavelmente. Mas, para estes, a Europa não tem tempo. Afinal foi lá que os europeus fizeram os maiores massacres da HISTÓRIA.
"Hoy, en pleno siglo veinte nos siguen llegando rubios Y les abrimos la casa y les llamamos amigos. Pero si llega cansadoun indiode andar la sierra Lo humillamos y lo vemos como extraño por su tierra.
Tu, hipócrita que te muestras humilde ante el extranjero Pero te vuelves soberbio con tus hermanos del pueblo. Oh, maldición de Malinche, enfermedad del presente Cuándo dejarás mi tierra.. cuándo harás libre a mi gente".
Excerto de Maldición de Malinche (G. Palomares)
Para ver e ouvir Amparo Ochoa e Gabino Palomares a cantarem «Maldicion de Malinche» clicar AQUI, AQUI e AQUI
Foi nesta lixeira, numa zona rural de Ibagué, cerca de 100 kilómetros a oeste de Bogotá, que foi encontrado sem vida o corpo de Guillermo Rivera Fúquene.
Selvaticamemente torturado antes de ser assassinado
«Sonia Betancur relató que, de acuerdo al dictamen de medicina legal, su esposo y padre de dos hijas fue salvajemente torturado antes de morir al parecer por asfixia y estrangulamiento. De acuerdo a la versión de especialistas Rivera debió ser asesinado el 23 de abril, su cuerpo fue encontrado el día 24 tirado en un basurero y escombrera y sepultado en una fosa en el cementerio de Ibagué como “NN” el 28. Presentaba moretones en todo el cuerpo, con raspones y heridas que indican que lo amarraron y arrastraron hasta el basurero a escasos metros del cañón de un río. Allí fue visto por unos indigentes quienes dieron aviso a las autoridades.»
Bogotá, 15 julio de 2008 - Gabriel Becerra, coordinador del comité por la vida y la libertad de Guillermo Rivera Fúquene informó que el cuerpo sin vida del sindicalista de la Contraloría Distrital fue encontrado en la ciudad de Ibagué, capital del Departamento del Tolima, Colombia.
“Lamentamos informarle al movimiento social y a la opinión pública nacional e internacional que el día de hoy, martes 15 julio, se conoció oficialmente de la aparición en la ciudad de Ibagué, del cuerpo sin vida del compañero Guillermo Rivera Fúquene, dirigente sindical y político, desaparecido el pasado 22 de abril en la ciudad de Bogotá” asegura en un comunicado público.
«Daqui lanço um apelo sincero à expressão de formas desolidariedade com Sónia Betancurque permitam salvar a vida de seu marido e do pai da pequena ChiaraGuillermo Fúquene.E conto, daqui por 15 dias,poder informar os leitores de«o tempo das cerejas» do número de blogues que se referiram a este assunto.».
Este é o apelo do Vítor Dias com que aqui nos solidarizamos. O motivo está AQUI. Guillermo Rivera Fúquene, marido e pai, comunista e membro do Polo Democrático Alternativo que governa o munícipio de Bogotá, e ainda e sobretudo Presidente do Sindicato dos funcionários da autarquia da capital do país.
Foi visto pela última vez no dia 22 de Abril, às 6.30 da manhã, numa rua do bairro «El Tunal» onde tinha ido levar a filha à escola, em Bogotá, onde reside. Uma testemunha e câmaras de video instaladas no local atestam que foi abordado por um grupo de agentes policiais e foi forçado a entrar num carro da Polícia Metropolitana.
Três meses depois do seu desaparecimento, as autoridades dependentes do Presidente Álvaro Uribe não prestam nenhum esclarecimento cabal sobre este drama (que se deseja não se transforme em mais um crime).
Maís notícias sobre Guillermo Rivera Fúquene aqui: