Álvaro de Campos- Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 22.
Meu corpo é máquina de sonhar. Todos os meus gestos, palavras e olhares são extensões deste sonho. E quando saio à rua, tal Bernardo Soares, carrego neste corpo tristonho uma alegria que não cabe. Tudo o que toco seja com os olhos, o ouvido ou o tato passa a fazer parte do meu corpo. O som o ar os postes tomam lugar nas hostes desta máquina de sonhar. Meu corpo é máquina e com ele sonho pelas ruas, e se me pedem um trocado no sinal posso dar ou não, dependendo do que sonho no momento. (O sonho tem suas próprias leis, está sempre em movimento) E quando volto para casa sonhando baixinho ainda te encontro no meio do meu caminho como se morássemos na mesma cidade. Meu corpo é máquina de sonhar teu corpo em alta velocidade.