«No estudo anterior, utilizando os dados oficiais do desemprego registado divulgados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) na sua publicação "Informação mensal do mercado de emprego", mostramos que esses dados não dão, contrariamente ao que o governo e os seus defensores nos media pretendem fazer crer, uma informação rigorosa sobre a dimensão do desemprego e sobre a redução do desemprego.
Em 1 de Janeiro de 2015, de acordo com a "Informação mensal do mercado de emprego" do IEFP, estavam inscritos nos Centros de Emprego de todo o país 598.581 desempregados. Entre 1 de Janeiro e 30 de Junho de 2015, inscreveram nos Centros de Emprego mais 340.733 novos desempregados, e durante este mesmo período (6 meses) os Centro de Emprego arranjaram trabalho (colocaram) apenas 64.565 desempregados. Fazendo as contas deviam existir, no fim do mês de Junho de 2015, 874.749 desempregados (598.581 + 340.733 – 64.565 = 874.749) inscritos nos Centros de Emprego. No entanto, segundo a "Informação mensal do mercado de emprego" de Junho de 2015, estavam inscritos nos Centros de Emprego, no fim de Junho de 2015, apenas 536.656 desempregados. Isto significa que desapareceram dos ficheiros dos Centros de Emprego 338.093 desempregados durante o 1º semestre de 2015. E nem o IEFP nem o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, que tutela aquele Instituto, deram qualquer explicação para a limpeza de 338.093 desempregados (apagão) dos ficheiros dos Centros de Emprego. É evidente que os dados do chamado desemprego registado do IEFP, utilizados pelo governo para enganar a opinião pública fazendo crer que o desemprego está a diminuir, não traduzem com rigor a realidade do desemprego.»
Por favor expliquem-me, muito, muito, muito devagar, como se eu fosse muito, muito, muito burro (sem ofensa para o animal...), que sumiço levaram nas estatístiacs oficiais o «subemprego visível» e os «inactivos disponíveis»?
INACTIVO DISPONÍVEL: um desempregado que não procura trabalho na semana em que foi realizado o inquérito (período de referência) ou nas três semanas anteriores. Assim já não é incluído no número oficial de desemprego...
Este «Conceito» é expendido nas «Estatísticas do Emprego» divulgadas trimestralmente pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) e foi inventado pelos chamados «eurocratas» (burocratas de serviço na União Europeia).
Por favor expliquem-me, muito, muito, muito devagar, como se eu fosse muito, muito, muito burro, o significado e o objectivo desta definição...
Por todo o lado há quem se entretenha a inventar conceitos inimagináveis. Os chamados «eurocratas» (burocratas de serviço na UE) são disso um bom exemplo. A finalidade é óbvia: manipular a opinião pública e os cidadãos e fazer passar a «mensagem».
Vejamos alguns «Conceitos» expendidos nas «Estatísticas do Emprego» divulgadas trimestralmente pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
Para alguém ser incluído no número oficial de DESEMPREGADOS é necessário que «tenha procurado um trabalho, isto é, tenha feito diligências ao longo de um período especificado (período de referência ou nas três semanas anteriores) para encontrar um emprego remunerado ou não». Conclusão lógica: se um desempregado não procurar trabalho na semana em que foi realizado o inquérito (período de referência) ou nas três semanas anteriores já não é incluído no número oficial de desemprego. Mas tem nome: são os chamados INACTIVOS DISPONÍVEIS. Ora de acordo com o INE, no 2º Trimestre de 2009, existiam 64,2 mil desempregados nesta situação. Convenientemente não são considerados no número oficial de desempregados divulgados pela generalidade da comunicação social.
Depois temos ainda o chamado SUBEMPREGO VISÍVEL. Este conceito abrange os desempregados que não trabalham por não encontrarem emprego, que não recebem subsídio de desemprego e que, para sobreviver, fazem pequenos «biscates». De acordo com o INE eram, no 2º Trimestre de 2009, 63,3 mil. Obviamente que também não foram considerados no número oficial de desempregados.
Finalmente o INE considera como estando EMPREGADO todo aquele que tenha «efectuado um trabalho de pelo menos uma hora (!!!), mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista a um beneficio ou ganho familiar em dinheiro ou géneros».
Traduzindo para português corrente: existe muita gente considerada como empregada, e que por isso não está incluída nos números oficiais de desemprego, apesar de estar efectivamente desempregada.
O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) não fica atrás do INE. Os dados dos desempregados divulgados mensalmente pelo IEFP não abrangem a totalidade dos desempregados. Só incluem os desempregados que tomaram a iniciativa de se inscreverem nos Centros de Emprego. Todos os desempregados que não se inscreveram nos Centros de Emprego, e são ainda muitos, não estão considerados nos números do desemprego registado divulgados mensalmente pelo IEFP.
A estes há que acrescentar os que, mensalmente, são eliminados dos ficheiros por iniciativa do próprio Instituto. Este é um «estranho fenómeno» (a «culpa», para variar, começou por ser atribuída à informática) que sucede todos os meses no IEFP. E apesar de ser um «fenómeno» recorrente, o seu presidente tem-se recusado sistematicamente a explicar as suas causas. Efeito prático: na «Informação Mensal do Mercado do Emprego» que o IEFP divulga todos os meses, não consta o número de desempregados que são eliminados dos ficheiros, nem as respectivas razões.
Segundo dados apurados pelo economista Eugénio Rosa a partir dos números do próprio IEFP, só no período Janeiro/2009 a Julho/2009 foram eliminados, em média, 43.380 desempregados por mês dos ficheiros dos Centros de Emprego. O que corresponde, em média, a 72,35% do número de desempregados que se inscreveram em cada mês. Muito conveniente, não acham?
Mas nem assim se consegue esconder a dramática realidade.
Num ano apenas a destruição líquida de emprego atingiu 151,9 mil pessoas e a população com emprego no 2º Trimestre de 2009 é já inferior à do 2º trimestre de 2005. Os grupos etários mais atingidos pela destruição líquida de emprego têm sido os trabalhadores dos escalões 15-24 e 25-45 anos. No 2º Trimestre de 2009, o número real de desempregados era de 635,2 mil (11%), números que constituem o mais alto valor desde o 25 de Abril. Menos de metade (223.441) do número oficial (507,7 mil) de desempregados estão a receber subsídio de desemprego.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 4 de Setembro de 2009