Neste estudo, utilizando dados do Eurostat, mostro:
(1) Em Portugal, o nível de escolaridade da maioria dos patrões é inferior à dos trabalhadores (55,8% têm o ensino básico e apenas 21,7% o ensino superior, enquanto os trabalhadores 45,5% têm o ensino básico e 27,2% o ensino superior);
(2) Na U.E. o nível de escolaridade dos patrões é muito superior à dos patrões portugueses (apenas 17,5% têm o ensino básico);
(3) A baixíssima escolaridade dos patrões portugueses constitui um obstáculo sério à recuperação económica e ao desenvolvimento do país mas, apesar disso, ninguém fala nem se preocupa;
(4)Contrariamente ao que se pretende fazer crer a produtividade do trabalho em Portugal tem aumentado mais que a média da U.E. (entre 2004 e 2013, aumentou em Portugal 11,9% e na U.E. apenas 7,2%) e os custos salariais reais têm diminuído mais no nosso país do que na U.E.( Portugal: -4,2%; U.E.:-0,5%).
«A produtividade e a competitividade das empresas, de que tantas vezes se fala (a competitividade transformou-se no “novo deus” do Capital e dos seus defensores), dependem muito da liderança, da organização e da inovação a nível das empresas.
E estas dependem muito da competência e da capacidade de quem as dirige e organiza, ou seja, do empresário.
Por isso, o seu nível de escolaridade é fundamental pois, embora não seja uma condição suficiente, é condição absolutamente necessária para aceder a maiores e mais elevados níveis de conhecimento, de competência e das capacidades indispensáveis e ter maior capacidade de adaptação e de resposta num mundo onde o comércio, a inovação e o saber estão cada vez mais globalizados e em permanente alteração.
Por essa razão, o baixíssimo nível de escolaridade da maioria dos patrões portugueses, inferior mesmo à dos trabalhadores, como se vai mostrar, `de que ninguém fala e parece não se preocupar (patrões e governo só falam da necessidade de aumentar aqualificação dos trabalhadores, mas não a dos patrões que é tão ou ainda mais necessária), constitui um obstáculo sério à recuperação económica e ao desenvolvimento do país.»
O ex-ministro das Finanças e actual presidente executivo do BIC, Teixeira dos Santos (TS), botou discurso em Lisboa, em 25 de Outubro, num evento denominado «Conversas com Sucesso», organizado pela «Alumnigmc/Global Management Chalenge», sobre «As privatizações em Portugal». O debate teve um moderador à altura: Henrique Monteiro, jornalista do Expresso.
Para TS, as privatizações foram «um dos catalisadores de grandes transformações na economia portuguesa»! E, seguindo o relato de 5 de Novembro de 2016, para TS «as privatizações foram motivadas até meados dos anos 90 pelo processo de integração na União Europeia, com o intuito de reformar a economia e os mercados e nos anos seguintes, entre outros, reduzir o peso da dívida na economia».
Afirmou ainda que «as privatizações melhoraram a eficiência, os níveis de inovação, produtividade e o serviço aos clientes das empresas, atraem investimento estrangeiro e beneficiam as finanças públicas». Ou seja, as privatizações foram um verdadeiro sucesso!
Em discurso directo, TS, que foi ministro e secretário de Estado de vários governos do PS, recorda e enfeita-se de louros: as privatizações, entre 1989 e 2015, «renderam cerca de 58 mil milhões de euros. Sou responsável por cerca de 40% desta receita»!
No nosso país há um excesso de dias de repouso que são causa da fraca evolução da nossa economia. O número de dias de repouso garantidos pela lei seriam o principal entrave ao desenvolvimento do País. Aponta-se o dedo às famosas pontes.
Trata-se de uma mistificação recorrente. Repetida milhares de vezes por dezenas ou centenas de personalidades com o maior dos atrevimentos. Até Angela Merkel se pronunciou sobre o assunto!!! Só que a realidade é outra.
Em 2010 tivemos 25 dias de férias a que os trabalhadores portugueses têm direito e 14 dias de feriados nacionais. Destes 9 foram num dia de semana e 4 foram oportunidades de ponte.
Número de dias de férias que têm outros países da União Europeia (U.E.): Reino Unido – 28 dias; Suécia – entre 25 e 32 dias, dependendo da idade; França – 25 a 35 dias; Alemanha, Áustria e Noruega – 25 dias; Bélgica e Holanda com 20 dias.
Feriados na Europa: Alemanha – 13, Áustria – 17, Bélgica – 16, Dinamarca – 14, Espanha – 14, França – 14, Itália – 14, Luxemburgo – 12, Noruega – 17, Holanda – 10, Reino Unido – 11, Suécia – 19, Suíça – 19 e República Checa – 14. Acresce que se o trabalhador quiser fazer ponte nas oportunidades que tem, será por certo à custa dos seus dias de férias.
Daqui se infere claramente que não existe uma relação directa entre a produtividade (ou falta dela) e o número de dias de férias, ou de feriados...
No nosso país há um excesso de dias de repouso que são causa da fraca evolução da nossa economia. O número de dias de repouso garantidos pela lei seriam o principal entrave ao desenvolvimento do País. Aponta-se o dedo às famosas pontes.
Trata-se de uma mistificação recorrente. Repetida milhares de vezes por dezenas ou centenas de personalidades com o maior dos atrevimentos. Só que a realidade é outra.
Em 2010 vamos ter 25 dias de férias a que os trabalhadores portugueses têm direito e 14 dias de feriados nacionais. Destes 9 são num dia de semana e 4 são oportunidades de ponte.
Número de dias de férias que têm outros países da União Europeia (U.E.): Reino Unido – 28 dias; Suécia – entre 25 e 32 dias, dependendo da idade; França – 25 a 35 dias; Alemanha, Áustria e Noruega – 25 dias; Bélgica e Holanda com 20 dias.
Feriados na Europa: Alemanha – 13, Áustria – 17, Bélgica – 16, Dinamarca – 14, Espanha – 14, França – 14, Itália – 14, Luxemburgo – 12, Noruega – 17, Holanda – 10, Reino Unido – 11, Suécia – 19, Suíça – 19 e República Checa – 14. Acresce que se o trabalhador quiser fazer ponte nas 4 oportunidades que tem, será por certo à custa dos seus dias de férias.
Daqui se infere claramente que não existe uma relação directa entre a produtividade (ou falta dela) e o número de dias de férias, ou de feriados.
O aumento da competitividade das empresas depende muito, isso sim, da organização e gestão das empresas. Ou seja, depende da introdução da inovação. Da modernização dos equipamentos e do seu aproveitamento integral. Das condições de trabalho e motivação dos trabalhadores.
E em todos estes aspectos o empresário tem um papel estratégico, até porque muitas delas resultam da sua iniciativa e decisão. Para poder exercer tal função o empresário necessita de ter conhecimentos e competências. E a base de aquisição desses saberes e competências é um elevado nível de escolaridade. Mas os dados oficiais mostram uma preocupante baixa escolaridade dos patrões portugueses que se tem agravado nos últimos anos.
Como refere o economista Eugénio Rosa, segundo o INE, entre 2003 e 2008, a percentagem de patrões com escolaridade inferior ao secundário aumentou de 79,6 por cento para 81 por cento O mesmo se verificou em relação aos patrões com um nível de escolaridade secundária que diminuiu de 12,4 por cento para 10 por cento. Apenas a de escolaridade superior é que se manteve praticamente estacionária, pois passou de 8,1 por cento para 9 por cento.
Se a comparação for feita em relação à U.E. a 27 constata-se que é em Portugal que os patrões têm mais baixo nível de escolaridade. Em 2008, a percentagem de patrões com escolaridade inferior ao secundário era de 28 por cento em média nos países da U.E. e em Portugal de 81 por cento. E a percentagem de patrões com o ensino superior era em média de 27 por cento nos países da U.E. e de apenas 9 por cento em Portugal.
Resolver este grave problema estrutural das empresas devia ser um objectivo urgente. Ele teria certamente efeitos muito importantes no aumento da competitividade das empresas portuguesas. Mas isso é sistematicamente ignorado pelos poderes instituídos, que não querem nem ouvir falar desta matéria.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
– Entre 2003 e 2008, a percentagem de patrões com um nível de escolaridade inferior ao secundário subiu de 79,6% para 81%
«Com a justificação da crise, assiste-se neste momento a um forte ataque aos direitos e condições de vida dos trabalhadores portugueses. Os arautos do neoliberalismo levantam do novo a cabeça e começam a defender as suas "soluções milagrosas" que conduziram o mundo à crise actual, ao desemprego maciço e à destruição de milhares de empresas. Em relação a Portugal chegam mesmo ao desplante de propor reduções de salários nominais de 30%, quando os salários dos portugueses são já os mais baixos da Zona Euro. De acordo a OCDE, em 2008 o salário médio em Portugal era de 1.150€, enquanto o salário médio na Zona Euro atingia 2.558€, ou seja, 2,2 vezes mais. Se a análise for feita em relação ao salário médio de cada país, conclui-se que o salário médio em Portugal variava entre 33,3% (Luxemburgo) e 69,3% (Espanha) dos países da Zona Euro, correspondendo apenas a 44,9% do salário médio nesta zona. Reduzir o salário médio em Portugal em 30% significaria baixá-lo de 1150€ para apenas 805 € , ou seja, para cerca de um terço do da Zona do Euro. Em Outubro de 2009, segundo o Boletim Estatístico de Maio de 2010 do Ministério do Trabalho, o salário médio em Portugal era ainda apenas 918,2 €, e o ganho médio mensal 1101,9 €. Embora os defensores do pensamento económico de cariz neoliberal em Portugal ainda não tenham a coragem de defender abertamente a redução de salários, no entanto, na surdina, já o fazem, e publicamente afirmam que se não forem tomadas medidas duras (leia-se contra os trabalhadores e pensionistas), então será necessário reduzir salários nominais. E reduzir salários que são já inferiores a metade dos da Zona do Euro.
Tal "solução" não resiste a qualquer análise séria. Dados das empresas portuguesas de 2008 divulgados pelo INE em 2010 revelam que as remunerações, sem encargos sociais, representam, em média, apenas 11,7% dos custos totais das empresas portuguesas e, se se incluir as contribuições sociais, essa percentagem aumenta para 15%. Portanto, uma redução mesmo de 30% nos salários diminuiria, em média, os custos totais apenas entre 3,5% e 4,5% (entrando com as importações a diminuição, no máximo, seria de 9%). Portanto, valores que não tornariam nem as empresas nem as exportações portuguesas suficientemente competitivas (uma alteração no valor do euro seria suficiente para o anular), e que não assegurariam um aumento significativo destas últimas. Tal medida provocaria uma tal contracção do mercado interno que levaria certamente à falência milhares de empresas portuguesas, o que faria disparar ainda mais o desemprego, criando assim um circulo vicioso de destruição cujo fim seria difícil de prever. Para além disso seria uma autêntica catástrofe social condenando à miséria centenas de milhares de famílias. Ela mostra bem a insensibilidade social e a anemia a que chegou o pensamento económico de cariz neoliberal.»