URAP: «Angola, os anos dourados do colonialismo: a insurreição»
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A insurreição marca o início da luta armada para a libertação da Argélia, submetida desde 1830 pela França à exploração colonial, à discriminação racial e à opressão nacional.
Confrontada com a feroz repressão das mais elementares reivindicações democráticas e nacionais e com o massacre de populações inteiras, a resistência, organizada na Frente de Libertação Nacional, lança ataques em vários locais do país contra instalações militares, postos de polícia, centros de comunicações e organismos públicos.
A resposta das autoridades coloniais foi o terrorismo de estado mais brutal, incluindo o recurso indiscriminado à tortura e o bombardeamento de populações inteiras com napalm.
O povo árabe e berbere argelino pagou um elevado preço pela sua libertação: um milhão e meio de mortos.
A independência foi conquistada a 5 de Julho de 1962.
Pouco dias depois da proclamação da Comuna, trabalhava-se para constituir a (também) primeira organização de mulheres da História. A União das Mulheres foi uma das maiores associações da Comuna, distinta de qualquer outro movimento feminino pela sua importância numérica, pelo recrutamento jovem e operário, pelo funcionamento rigoroso e democrático, pela orientação marxista. Tal como acontecia aos elementos da Comuna, a maioria das mulheres mais destacadas da União tinha ligações à Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e estava associada ao movimento socialista francês, integrando as suas diversas correntes políticas.
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«A Comuna representa o grande princípio proclamando a eliminação de todo o privilégio, de toda a desigualdade – e por isso, deve ter em conta as reclamações justas de toda a população, sem distinção de sexo – distinção criada e mantida pela necessidade de antagonismo sobre o qual se apoiam os privilégios das classes governantes».
O programa da União exige a educação das raparigas e a sua formação profissional, a educação gratuita e laica para todas as crianças. As revolucionárias peticionam à Comuna a criação de orfanatos laicos, de creches para ajudar as mães solteiras a não cair na prostituição, e a substituição das religiosas dos hospitais e das prisões. A prostituição considerada como «forma de exploração comercial de criaturas humanas por outras criaturas humanas» é banida pela Comuna.
O trabalho das mulheres
Em França, as mais exploradas dos explorados representavam 33 por cento da população activa, concentradas nas manufacturas têxteis, ao domicílio e nas oficinas, em outras actividades artesanais, como o calçado e a encadernação, e também nas minas ou na construção do caminho-de-ferro, com jornadas de trabalho de 14 horas, ou mais, em condições sub-humanas e com salários de miséria. Uma miséria negra que só a prostituição ocasional poderia atenuar…
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Nas barricadas contra a invasão
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A 25 de Maio, depois de a Guarda Nacional ter abandonado a barricada da rua Château-d’Eau, um batalhão de 52 mulheres armadas retomou o combate com gritos «Viva a Comuna!». Cercadas e desarmadas foram de imediato fuziladas. A 600 metros, na barricada Folie Méricourt, outras 50 combatentes foram também chacinadas.
O período de 21 a 28 de Março ficará conhecido pela «semana sangrenta», homens e mulheres, crianças e velhos defendem nas últimas barricadas a bandeira vermelha da Comuna, e só os/as operários/as se mantiveram fiéis até ao fim.
Foi o massacre sistemático dos revolucionários – são mortos mais de 20 mil. Não chegava vencer a insurreição, era preciso castigar e fazer da revolução um banho de sangue. A burguesia europeia aplaude…
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E às mulheres, foi reservado um destaque particular: elas foram constantemente enxovalhadas, comparadas a «lobas», «hienas», «fanáticas», «imagem do crime e do vício», «bêbedas, debochadas, viragos, gatunas, de má vida…». As «pétroleuses», mulheres incendiárias, armadas de archote numa mão e de vasilha com petróleo na outra, foi abundantemente publicada na imprensa, uma imagem inventada pela calúnia reaccionária que também serviu para esconder o efeito destrutivo das bombas incendiárias do exército de Versalhes, e para justificar o massacre e a condenação de muitas operárias.
Os ensinamentos
Ao primeiro governo operário da História coube o «mérito de ter tomado as primeiras medidas verdadeiramente a favor da emancipação da mulher» (Conferência do PCP «A Emancipação da Mulher no Portugal de Abril», 1986).
O exemplo do primeiro governo operário autenticamente popular foi particularmente valorizado por Marx, Engels e Lénine quanto à questão do Estado. A Comuna provou que «a classe operária não pode simplesmente tomar posse da máquina do Estado [que encontra] montada e pô-la em movimento para os seus objectivos próprios» (K. Marx, F. Engels, Manifesto do Partido Comunista, Prefácio à Edição Alemã, 1972) – é necessário criar um novo tipo de Estado, «transformar os meios de produção, a terra e o trabalho, em instrumentos do trabalho livre e associado».
Lénine refere a falta de uma «organização política séria do proletariado», sem grandes sindicatos ou associações cooperativas, e sobretudo a falta de tempo – a Comuna só teve tempo para pensar na sua própria defesa. Todas as medidas de carácter prático e toda a legislação social da Comuna, corresponderam ao que designou por «programa mínimo do socialismo» (A Comuna de Paris e as Tarefas da Ditadura Democrática, 1905).
Tal como a emancipação da classe operária não poderá ter lugar no quadro do capitalismo (Karl Marx), também «a emancipação da mulher, como a de todo o género humano, só se tornará realidade no dia em que o trabalho se emancipar do capital» (Clara Zetkin).
(sublinhados meus)
Publicado neste blog:
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1. O Partido insiste em que a tarefa de organizar é uma tarefa central e decisiva. Insiste na necessidade, não só de fortalecer a sua própria organização, a organização do Partido, mas de fortalecer todas as formas de organização não partidária (…)
(…) o trabalho de organização oferece numerosas dificuldades. Exige grande tenacidade, paciência, método e imaginação. Exige que se saiba dar apreço aos pequenos êxitos, pois muitas vezes é necessário caminhar passo a passo. Exige a um tempo prudência e audácia. Disciplina e iniciativa.
Por todas as dificuldades que apresenta, o trabalho de organização não é do agrado daqueles que pretendem resolver os complexos problemas de uma revolução vitoriosa sem grande trabalho preparatório. Quando ouvem dizer que é necessário organizar (…), e organizar os operários, e organizar os camponeses, e organizar os pescadores, e organizar os estudantes, e organizar os intelectuais, e organizar os militares, e organizar os jovens, e organizar as mulheres, e organizar as lutas sejam pequenas ou grandes, acham decididamente que se trata de um trabalho demasiado moroso e difícil e dizem que «assim nunca mais se lá chega». A verdade é a inversa. A verdade é que chegaremos se soubermos organizar, e nunca chegaremos se não o soubermos. (…)
(…) Nós, comunistas, (…) sabemos por experiência própria que da organização depende o êxito.
Ao dizermos que da organização depende o êxito, não nos referimos apenas à constituição de organizações partidárias. Referimo-nos também à organização das lutas económicas e políticas, à constituição de variados organismos de unidade para conduzirem tais lutas, à utilização de organizações legais para reforçar o contacto com as massas, alargar o movimento de massas e dirigi-lo no melhor sentido.
O Partido Comunista não é apenas o mais forte da Oposição pelo facto de ser o Partido dos trabalhadores e estar armado com a ideologia revolucionária do proletariado: o marxismo-leninismo. Sabe-se haver países onde o Partido marxista-leninista está longe de ser o mais forte. O nosso partido é o mais forte e distingue-se com vantagem de todos os outros da Oposição porque, ao contrário dos outros, tem uma organização partidária sólida e estruturada, e porque essa organização partidária, por sua vez, assenta a sua actividade num mais largo trabalho de organização não partidária.
A organização não é uma palavra mágica de que resultem efeitos pelo facto de muitas vezes se proferir. Se se diz mil vezes que é necessário organizar e nada se organiza, mais vale estar calado. A organização é trabalho concreto e quotidiano. A propaganda da necessidade de organizar só tem valor, se é acompanhada de um trabalho de organização efectivo.
Sem organização podem «fazer-se coisas». Mas não se podem lançar grandes lutas, dar-lhes continuidade, elevá-las a um nível superior. A agitação pode por as massas em movimento, mas não pode manter com elas o contacto, encabeçá-las, dirigi-las, orientá-las ante as surpresas que a cada passo surgem. Isto que é válido em relação a qualquer luta reivindicativa económica, a qualquer manifestação de rua, com mais razão é válido em relação à tarefa grandiosa que as forças democráticas portuguesas têm diante de si: conduzir o povo até ao levantamento nacional, até à insurreição armada, que ponha fim à ditadura e instaure uma ordem democrática.
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2. (…) Para impulsionar decididamente as lutas reivindicativas da classe operária é indispensável o fortalecimento da organização do Partido e a organização audaciosa, enérgica, virada para a perspectiva revolucionária, dessas lutas. (…)
(…) A luta em cada fábrica ou empresa é sem dúvida de decisiva importância. Há sempre em cada fábrica ou empresa problemas próprios e reivindicações próprias dos que aí trabalham. Além disso, a fábrica ou outro local de trabalho é o sítio onde os trabalhadores vivem em comum diariamente muitas horas no dia, onde discutem naturalmente a sua situação e os seus interesses, onde podem encontrar-se e combinarem o que fazer. (…)
Na organização da luta reivindicativa, seja numa só empresa, seja num conjunto de empresas, uma preocupação determinada pela experiência deve ter-se presente: quanto mais larga participação de trabalhadores tiver lugar na preparação e na condução da luta, quanto mais reuniões de trabalhadores forem realizadas, quanto mais comissões forem criadas, quanto mais trabalhadores pertencerem às comissões, mais poderoso será o movimento, mais estarão ao abrigo da repressão os seus dirigentes, mais condições haverá de dar continuidade à luta e conduzi-la até um desfecho vitorioso. (…)
(…) Quando se consegue, numa luta reivindicativa, criar uma organização em que participam muitas dezenas e mesmo centenas de operários e operárias, tem-se uma condição fundamental para lutar até alcançar a vitória. (…)
(…) tem mostrado a necessidade e a vantagem de grande maleabilidade, da escolha em cada momento das formas de organização mais apropriadas à situação, aos objectivos, à disposição das massas, ao grau da sua radicalização, às posições do Partido. (…)
(…) As greves não se decretam, mas decidem-se e declaram-se. Para o fazer com êxito é necessário conhecer de perto a disposição das massas, conhecer a evolução da luta e escolher o momento justo. A percepção revolucionária e a audácia dos militantes representam um importante papel. (…)
4. (…) A organização é um insubstituível instrumento para a acção política. (…)
(…) A organização tem de ser actuante, voltada para a acção popular e voltada para o seu próprio alargamento.
5. A organização política deve significar a organização da acção política. Pequenas ou grandes, todas as lutas políticas, para serem eficientes, têm de ser organizadas. (…)
Mesmo para lançar uma grande acção política é indispensável organizá-la. Mas, para o êxito, não basta lançar a acção. É necessário dirigi-la. (…) Se, na preparação de uma grande luta foi débil o trabalho de organização, não só a mobilização das massas é limitada, como depois, com facilidade, no decurso dela, falta a informação, não se conhece dia a dia e hora a hora a disposição das massas, deixa-se de poder orientar e dirigir. Ao contrário, quando uma luta política é convenientemente organizada, não só se consegue lançar, como se pode acompanhar e dirigir.
Há quem tenha, em relação às lutas políticas, o culto da espontaneidade. Pensam alguns que a questão se resolve com apelos. Pensam que se faz um apelo «à greve!» e se faz a greve. Um apelo «à manifestação» e se faz a manifestação. E até há quem pense que a mais complexa de todas as lutas políticas, a insurreição, se pode resolver da mesma forma. Um apelo «à insurreição!» e ai a temos. Não. Hoje uma greve ou uma manifestação ou outra qualquer luta política, amanhã a insurreição, só podem ser bem sucedidas se convenientemente organizadas. (…)
Aqueles que «assistem» às grandes lutas populares de massas e se pronunciam sobre elas sem nada saberem da sua preparação, muitas vezes imaginam que elas aparecem por encanto, apenas como resultado da indignação espontânea do povo, ou, quando muito, de alguns apelos exaltados. A verdade é que só uma cuidadosa organização pode garantir o sucesso. (…)
(…) Ao estudarem-se estas grandes lutas políticas de massas, quem aparece com razão? Aqueles que dizem que, se é necessário um trabalho de organização em profundidade, «nunca mais se chegará lá», ou o Partido que defende e mostra na prática que só com tal trabalho «lá se pode chegar»? (…)
(…) A própria agitação, para ser eficaz, para tocar largas massas, precisa também de ser organizada. (…)
(…) a agitação, para poder ser eficiente, necessita de uma cuidadosa organização e não basta, como cuidam alguns «espectadores», que meia dúzia de pessoas se resolvam a escrever os apelos, a editá-los e a distribui-los. (…)
A organização de uma luta pressupõe a existência anterior de uma organização política em condições de realizar aquela. (…)
Assim como as massas se educam e preparam na luta diária para lutas superiores, assim só na organização diária das lutas as forças democráticas e as massas populares ganham hábitos e experiências de organização indispensáveis para uma fase superior do movimento antifascista. Não basta que um pequeno núcleo de direcção política esteja organizado. É necessário criar toda uma ampla e forte organização enraizada nas massas, é necessário ter centenas e milhares de dirigentes da luta popular enquadrados num trabalho organizado, com fins determinados de acção de massas, é necessário chamar cada dia novos lutadores de vanguarda à direcção do movimento de massas, é necessário levar até às massas a prática da organização.
Que se não diga que «não há gente»! Algumas grandes lutas políticas, quando bem conduzidas, desmentem uma tal afirmação. A experiência mostra que, para a condução das grandes lutas políticas, é necessário, possível e decisivo, atrair à sua preparação e direcção centenas de lutadores de vanguarda. (…)
In Álvaro Cunhal, Rumo à Vitória, Edições «Avante!», 1964, págs. 181-195
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A Irlanda prepara-se para a insurreição...
A Inglaterra prepara-se para manter a integridade do império...
(...)
Este era o estado da Irlanda há dois meses, quando se deu o caso inesperado do Bill de Compensação. Este projecto de lei, apresentado pelo ministro Gladstone (parte por um sentimento liberal de justiça, parte para agradecer os fortes serviços dos Irlandeses nas últimas eleições), não trazia certamente um remate aos males da Irlanda; mas, coarctando os abusos dos senhores, dificultando a arbitrariedade das «expulsões», modificando a legislação bárbara das penhoras, aliviava o trabalhador irlandês do férreo calcanhar feudal que o esmaga. O bill passou aos aplausos da Câmara dos Comuns: mas escuso de acrescentar que a Câmara dos Lordes, essa augusta e gótica assembleia de senhores semifeudais, o rejeitou com horror, como a obra mesma do liberalismo satânico!
Vêem daí o resultado: os agitadores da Irlanda, os seus profetas, os seus chefes, apossaram-se com entusiasmo desta rejeição da Câmara dos Lordes – e utilizaram-na tão habilmente como António utilizou a túnica ensanguentada de César. Foram-na mostrando à plebe indignada, por campos e aldeias, gritando bem alto: «Aqui está o que fizeram os lordes, os vossos amos, os vossos exploradores! A primeira proposta justa, em bem da Irlanda, que se lhes apresenta, repelem-na! Querem manter-vos na servidão, na fome, no opróbrio das velhas idades, no estado da raça vencida! Às armas!»
E desde então a Irlanda prepara-se ardentemente para a insurreição: apesar dos cruzeiros que vigiam a costa, todos os dias há desembarques de armas; o dinheiro, os voluntários afluem da América: pelos campos vêem-se grupos de duzentos, trezentos homens, de espingardas ao ombro, fazendo exercícios como regimentos em vésperas de campanha; ainda que seja agora a época das colheitas, a população não está nos campos, está nos meetings, nos clubes; e os tribunos, os agitadores, prodigalizam-se sem repouso. Não falta decerto a estes homens nem coragem, nem aquela eloquência patética que faz passar nas multidões o arrepio sagrado. Um deles, Redathd, exclamava há dias:
«Dizem-nos a cada momento: sede justos, pagai ao lorde, pagai ao senhorio! E citam-nos a palavra divina daquele que disse: "Dai a César o que é de César!" Houve só um homem, Brutus, que deu a César o que a César era devido, um punhal através do coração!»
Esta brutalidade tem grandeza. Agora imagine-se isto lançado a uma multidão oprimida, com gestos teatrais desta raça violenta, de noite, num destes sinistros descampados da Irlanda, que são todos rocha e urze, ao clarão de archotes, dando aquela intermitência de treva e brilho que é como a alma mesma da Irlanda – e veja-se o efeito!
Em Inglaterra, mesmo os optimistas consideram a insurreição quase inevitável para os frios do Outono. E o honesto John Bull prepara-se: já o ministro do Interior está em Dublin, e é iminente a declaração da lei marcial... Neste ponto, radicais e conservadores são unânimes: se a Irlanda se levanta, que se esmague a Irlanda! Somente John Bull declara que o seu coração há-de chorar enquanto a sua mão castigar... Excelente pai!
O jornal Standard, o venerável Standard, tinha há dias uma frase adorável: «Se, como é de temer, a Irlanda vier a esquecer-se do que deve a si e à Inglaterra», exclamava o solene Standard, «é doloroso pensar que no próximo Inverno, para manter a integridade do império, a santidade da lei e a inviolabilidade da propriedade, nós teremos de ir, com o coração negro de dor, mas a espada firme na mão, levar à Irlanda, à ilha irmã, à ilha bem-amada, uma necessária exterminação.»
Exterminação é muito: e quero crer que está ali para rematar com uma nota grave, uma nota de órgão, a harmonia do passado. Mas o sentimento é curioso e raro: seria um espectáculo maravilhoso – ver, no próximo Inverno, John Bull percorrendo a Irlanda, cheio de ferocidade e afogado em ternura, com os olhos a escorrer de lágrimas e a sua baioneta a pingar de sangue... Ainda as fatais necessidades de um grande império! Volto ao meu desejo – um quintalejo, uma vaca, dois pés de alface... E um cachimbo, o cachimbo da paz...
In AFEGANISTÃO E IRLANDA, Cartas de Inglaterra, Texto Integral das Obras de Eça de Queirós
Ver também: Cartas de Inglaterra by José Maria Eça de Queirós - Project Gutenberg
adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge
Fenians, Mollie Maguire e Liga da Terra
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Estas duas associações secretas [os Fenians e Mollie Maguire] são terríveis e completam-se uma pela outra. Os Fenians, que estiveram um momento desorganizados, mas que têm hoje a prosperidade de uma instituição pública, são uma seita política, com o fim claro de conquistar a independência da Irlanda: o seu meio é uma futura insurreição, batalhas à luz do dia, um esforço heróico de raça que sacode o estrangeiro.
É evidente, portanto, que a Inglaterra não tem nada a temer desta associação: uma esquadra no canal de S. José, dez mil homens desembarcados e os Fenians serão, no estilo da canção, como a erva dos campos depois que passou o ceifador, um estendal de coisas sem vida! Mas não é assim com Mollie Maguire; esta constitui puramente uma conspiração: os seus estatutos, os seus fins, a sua organização, os seus chefes, tudo está envolvido num mistério, que é o terror na Irlanda; só são claros os seus crimes. Há um proprietário duro que levantou a renda? Uma noite, ou ele ou o seu procurador aparecem a beira de um caminho, com duas balas na cabeça. Quem foi? Foi Mollie Maguire: foi ninguém, foi a miséria, foi a Irlanda. Há um senhorio, um agente, que fez uma penhora? À meia-noite, a sua casa começa a arder, e é num momento uma ruína fumegante. Quem foi? Mollie Maguire. Houve um burguês especulador que comprou o casebre de um proprietário penhorado? No outro dia lá está no fundo de uma lagoa, com um pedregulho ao pescoço. Quem foi, coitado? Mollie Maguire. Todos os dias, nestes últimos meses, são assim, dois, três destes crimes – que têm em Inglaterra o nome de agrários. Os tribunais, a polícia, já se não fatigam em devassas e em autos: para quê? Mollie Maguire é intangível, Mollie Maguire é impessoal.
E se houvesse um magistrado tão desgostoso da vida que quisesse descobrir donde viera a bala, o pedregulho ou o fogo – teria certamente, horas depois, o que tanto parecia desejar: um punhal através do peito. São verdadeiramente os processos do niilismo militante: nem falta a esta seita aquela vaga exaltação mística que complica o niilismo. Se Mollie (Mollie é o diminutivo de Maria) não é uma divindade, é pelo menos uma degeneração fetichista da divindade: é a tenebrosa padroeira das desforras da plebe, aquela em que os desgraçados abandonados de Deus, do Deus oficial, do Deus da missa, encontram socorro, amizade, força – uma sorte de encarnação feminina do Diabo de Sabbath, do Diabo confidente dos servos e dos feiticeiros da meia-noite.
A estas duas associações deve juntar-se uma terceira, legal essa, falando alto nas praças, com jornais, com tabuleta, vivendo sob a protecção da constituição, respeitada da polícia, e que se chama a Liga da Terra. O seu fim é promover, por meio de meetings e representações, uma vasta agitação, um impulsivo movimento da opinião, que force o parlamento inglês a reformar o sistema agrário. Mas é realmente uma associação legal? São os seus fins tão honestamente moderados, tão estreitamente constitucionais como se diz? Todo o mundo o duvida. Na Irlanda, sempre que dois homens se reúnem conspiram: quando se sentem quatro, apedrejam logo a polícia: que será então quando reconhecerem que são duzentos mil? Além disso, as reclamações desta associação são de um vago singular: nada de prático, nada de realizável: apenas os velhos gritos sentimentais da aspiração humanitária. E ao mesmo tempo os homens que a dirigem são espíritos positivos e experimentados. Há aqui uma contradição assustadora. Sente-se que os chefes deste movimento, sabendo bem que da Inglaterra nada têm a esperar, estão simplesmente, sob as aparências da legalidade, organizando a insurreição: formular um programa prático para o parlamento votar seria, na opinião deles, ocioso e pueril: as declamações verbosas em que se fale muito de legalidade, ordem, parlamentarismo bastam para iludir a política... E não é duvidoso que, num certo momento, Fenians, Mollie Maguire e Liga da Terra formarão um só movimento – o da revolta desesperada.
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In AFEGANISTÃO E IRLANDA, Cartas de Inglaterra, Texto Integral das Obras de Eça de Queirós
Ver também: Cartas de Inglaterra by José Maria Eça de Queirós - Project Gutenberg
Os Molly Maguire nos EUA:
The Molly Maguires (1970): Um filme de Martin Ritt sobre a luta dos mineiros de ascendência irlandesa nas minas de carvão da Pensilvânia (EUA).
Documentário sobre os mineiros irlandeses nos EUA:
adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge
Um livro de análise histórica construído numa base cronológica, e servido por dezenas e dezenas de páginas de índices onomástico e analítico. Indispensável.
Portugal foi submetido durante quase meio século a uma ditadura terrorista de classe, sob um regime político assente, no essencial, na soberania pessoal de António de Oliveira Salazar.
Uma ditadura que serviu a formação de grandes grupos financeiros, que consagrou a concentração e centralização de capitais e a expansão e aceleração do domínio monopolista; tal como atomizou e inibiu a iniciativa social das massas operárias, trabalhadoras e populares, restringiu os seus direitos económicos, sociais, cívicos, culturais e políticos e fez definhar a independência e soberania nacionais.
Um regime político autocrático baseado no contínuo esvaziamento da soberania e cidadania populares e cuja mola real – seu motor de arranque e de cruzeiro, sua base de segurança – Foi o poder pessoal do chanceler, isto é, do presidente do Conselho de Ministros: António de Oliveira Salazar. Era uma ditadura com biografia. [...]
da Introdução
A Revolução Portuguesa O Passado e o Futuro (Álvaro Cunhal)
A presente obra de Álvaro Cunhal foi escrita por ocasião do VIII Congresso do PCP, realizado em 11/14 de Novembro de 1976, constituindo o relatório aprovado pelo Comité Central ao referido congresso.
Decorridos cerca de 31 anos da sua publicação, A Revolução Portuguesa - o Passado e o Futuro permanece — pela enormíssima quantidade de dados factuais que reúne e sistematiza, pelo rigor das análises e conclusões que faculta — uma obra inesperada de referência e de consulta para o estudo dos dois anos e meio da Revolução Portuguesa.
Não admira, pois, que as comemorações dos 20 anos do 25 de Abril tenham provocado uma renovada procura desta obra, tomando necessária uma nova edição.
Acção Revolucionária, Capitulação e Aventura (Álvaro Cunhal)
O ensaio Acção Revolucionária, Capitulação e Aventura foi escrito em 1967 e conservado até hoje na «gaveta de ensaios não publicados». Respeita a uma época em que se aprofundava a crise geral da ditadura fascista pronunciando uma situação revolucionária e confirmando o caminho que o PCP apontara da insurreição militar e popular para a conquista da liberdade e da democracia.
O ensaio editado aborda com relativo desenvolvimento os objectivos da luta antifascista que na época defendiam o PCP e as outras forças políticas e os problemas cruciais da unidade antifascista. Aborda as ilusões e tendências para o compromisso com a ditadura, nomeadamente com Marcelo Caetano e os «dissidentes do fascismo» por parte da então chamada burguesia liberal e de outros sectores da Oposição. Aborda finalmente o programa, os objectivos, as concepções, a situação e o papel do PCP na luta pelo derrubamento da ditadura e pela conquista da liberdade e a instauração de um regime democrático.
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