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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

França: Uma democracia de caserna

Mapa França2.JPG

 

E, como na véspera das duas guerras mundiais, uma crise financeira maior, estrutural, o aumento dos nacionalismos, o desejo daí avançar, a ausência de uma resistência coerente e organizada, e centenas de outros sintomas análogos: as eleições regionais francesas, de 6 a 13 de Dezembro passado, consagraram a vitória ideológica, «moral» e organizacional da Frente Nacional, o partido da extrema-direita francês.

Esse partido, que foi fundado em 1972 por um pequeno grupo de neofascistas e de nostálgicos do regime de Vichy (um certo Leon Gaultier, ex-subtenente das Waffen-SS), reagrupados em volta de um velho torcionário da guerra da Argélia, reuniu mais de 6,8 milhões de sufrágios na noite de uma segunda volta que mesmo assim, não lhe assegurou a vitória de uma única presidência de região [Sete regiões da direita dita «clássica» e cinco à «esquerda», que se quer assim chamar, — uma decima terceira região (a Córsega) que ficou nos autonomistas locais].

Uma aliança bizarra da direita dita «clássica» mas não menos virulenta, e de um melting pot em que o Partido Socialista tem o papel forte pouco interessante; restos de listas de «esquerda» em benefício das actuais, sob pretexto de erguer uma «frente republicana»; e «fusões técnicas», aliás muito espantosas, operadas aqui e ali entre as listas que dizem representar a «esquerda da esquerda», (comunistas, ecologistas, vários) com as listas do Partido Socialista; tais foram os vários processos que, sem o menor debate de ideias, permitiram chegar aqui.

Assim, na noite da segunda volta de toda esta eleição, a 13 de Dezembro, não levando em conta quase 19 milhões de abstenções e 5,7 milhões de não inscritos, são duas «forças» que reuniram uma (os Republicanos e seus aliados) cerca de 10 milhões de sufrágios, e o outra (o PS e seus satélites) apenas 7,3 milhões, que tiraram a parte de leão dos lugares de concelheiros regionais (1.259 dos 1.758 que estavam em disputa, ou seja cerca de 72% dos lugares) ainda que essas duas forças não tivessem sido escolhidas por mais de 34% dos 54 milhões de pessoas em idade de votar…

Resta um «derrotado» perante o qual tudo deveria ajustar-se: a Frente nacional de Marine Le Pen. Pois este escrutínio tem toda a aparência de um simples adiamento. Devemos pensar, que num país em que dois milhões de jovens na idade de votar com pelo menos 25 anos estão no desemprego e sem formação, 76% dos eleitores entre 18 e 24 anos (contra 49,4% de abstenções no conjunto dos inscritos) não foram às urnas, a 6 de Dezembro último, dia da primeira volta destas eleições regionais. E, entre aqueles (bem raros) que nesse dia se votaram, 34% dos entre 18-30 anos deram o seu sufrágio à Frente nacional.

AQUI

 

Dados arrepiantes, não divulgados pela comunicação social dominante (sublinhe-se), para analisar, reflectir e agir.

 

União Europeia: camisas castanhas e botas pretas

Bandeira União Europeia_2011

 

À deriva neoliberal e federalista da UE associa-se, no plano interno, uma deriva securitária e autoritária e, no plano externo, uma deriva militarista e intervencionista. Os recentes atentados terroristas de Paris servem esta estratégia de cerceamento das liberdades no plano interno e de crescente agressividade no plano externo. Evolução indissociável do ascenso da extrema-direita e de forças de cariz assumidamente fascista em vários países.

Mas o caso francês está longe de ser único, ele remete para a necessária reflexão, prevenção e luta contra o fascismo como «saída» violenta, associada à guerra, da crise do capitalismo. O lastro para o reforço da extrema-direita foi criado durante anos e é agora acentuado com a crise social e a generalização de conflitos. Políticas económicas, de exploração, neocoloniais, de guerra e ingerência estão na base do crescimento da extrema-direita.

Confirma-se a tese do XIX Congresso do PCP de que o «aprofundamento da exploração e opressão capitalistas alimenta a acção das forças e grupos fascistas» e que este tipo de forças encontra no retrocesso e desestruturação social, na opressão dos sentimentos nacionais e no carácter abertamente reaccionário das políticas da direita e da social‐democracia, campo fértil para a propagação da sua ideologia de ódio racial e social.

AQUI

Exemplo bem expresso nas eleições regionais francesas, de 6 a 13 de Dezembro passado, que consagraram a vitória ideológica, «moral» e organizacional da Frente Nacional, o partido da extrema-direita francês.

Traduz-se pelo crescimento na Suíça da UDC, cujo líder Oskar Freysinger quer defender «a bandeira nacional, que ostenta uma cruz», e o hino nacional (que) tem, lembra ele, a forma de um cântico».

Este vento mau inflama, na Polónia, o eleitorado do PiS (O partido Direito e justiça», Prawo i Sprawiedliwose) cujo deputado Marek Jurek diz recusar a «islamização» do país.

Em Itália, é preciso votar na Liga, que não é apenas do Norte: o senador Volpi, membro da Liga, afirma claramente opor-se à «explosão migratória» e defender «os valores ancestrais».

Os países nórdicos, como Francis Arzalier, observa, vêem em cada momento eleitoral aumentar os mesmos intratáveis defensores de uma identidade pretensamente ameaçada, «Verdadeiros Finlandeses» em Helsínquia, «Democratas» da Suécia ou da Noruega, «Partido do povo dinamarquês» em Copenhaga, que se definem todos como «identitários», fascistas de toda a espécie proclamam alto e bom som que os antigos colaboradores dos nazis foram na verdade os verdadeiros patriotas, na Eslováquia, na Letónia, na Ucrânia, etc.

Ou ainda partidários do universitário britânico John Laughland, próximo do partido UKIP (Partido da Independência do Reino Unido) ou os inquietantes manifestantes de «Pegida» [Abreviação de Europeus Patriotas contra a islamização da Pátria], em Dresden, na Alemanha, para os quais a fórmula «Nós somos o povo» exprime a vontade de defender o «sangue germânico» como há setenta anos…

[Esta recensão, a que se poderia juntar a situação que existe actualmente na Hungria, na Áustria, etc. reporta-se a ARZALIER, Francis Veja-se…]

AQUI

Aliás, a União Europeia não só permite a criação do lastro para o crescimento da extrema-direita, como estimula e apoia, na sua «vizinhança», forças abertamente fascistas, como é o caso da Ucrânia.

AQUI

 

Três textos obrigatórios, de quatro autores de diferentes países, mas do mesmo quadrante político e ideológico, «manipulados» pelo autor deste blog, de forma a darem um só artigo...

 

Henri Alleg (20 Julho 1921 / 17 Julho 2013) Um Comunista e Revolucionário exemplar

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Esperava a notícia da morte de Henri Alleg.

Faleceu ontem, quarta-feira, mas saíra praticamente da vida no ano passado quando, em férias numa ilha grega, sofreu um avc. O seu cérebro foi tao atingido que a recuperação era impossível.

Ficou semi hemiplégico e passou os últimos meses numa clinica, caminhando para o fim numa existência quase vegetativa. Reconhecia os filhos, dizia algumas palavras, mas o seu discurso tornara-se caótico.

Ligou-me a esse homem uma amizade tão profunda que sinto dificuldade em a definir.

Aos 90 anos passou uma semana em V.N de Gaia, comigo e a minha companheira, e pronunciou então na Universidade Popular do Porto uma conferência sobre a Argélia e os acontecimentos que abalavam o Islão africano. Pelo saber histórico e lucidez impressionou quantos então o ouviram.

Admirava-o há muito quando o conheci na Bulgaria,em l986, durante um Congresso Internacional. A empatia foi imediata, abrindo a porta a uma amizade que se reforçou a cada ano.

Henri, apos o 25 de Abril, foi correspondente de L’ Humanité em Lisboa. Não tive então oportunidade de o encontrar. Mas no último quarto de século visitou Portugal muitas vezes. A Editora Caminho publicou três livros seus (SOS América, O Grande Salto Atrás e O Século do Dragão) e a Editora Mareantes lançou a tradução portuguesa de La Question (A Tortura), o livro que o tornou famoso e contribuiu para apressar o fim da guerra da Argélia.

Amava Portugal, especialmente o Alentejo da Margem Esquerda do Guadiana, e admirava muito o Partido Comunista Português.

Participou em Portugal de diferentes Encontros Internacionais e, numa das suas visitas a Lisboa, foi recebido pela Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da Republica, debateu ali com deputados de todos os partidos grandes problemas do nosso tempo, e foi depois aplaudido pelo plenário.

Recordo também o interesse excecional suscitado pela sua passagem pelo Brasil e Cuba, onde o acompanhei nas suas visitas àqueles países.

A complexidade do sentimento de admiração que Henri Alleg me inspirava levou-me a escrever sobre ele e os seus livros mais páginas do que ao longo da vida dediquei a qualquer outro escritor. Elas aparecem em livros meus e em artigos publicados em jornais e revistas de muitos países. Evito portanto repetições.

Recordo que ao ler La Grande Aventure d’Alger Republicain o choque - é a palavra- foi tao forte que sugeri numa conferência que o estudo desse livro deveria figurar no programa de todas as Faculdades de Jornalismo do mundo.

O que encontrei de diferente em Henri Alleg?

Refletindo sobre o fascínio que aquele homem exercia sobre mim, conclui que a admiração nascia da firmeza das suas opções ideológicas, de uma coragem espartana e de um eticismo raríssimo.

Mais de uma vez lhe disse que via nele o modelo dos bolcheviques do ano 17.

Henri apareceu-me como o comunista integral, puro, quase perfeito. Não conheci outro com quem me identificasse tao harmoniosamente no debate de ideias.

É de lamentar que Mémoire Algérienne não tenha sido traduzido para o português. Nesse livro de memórias, que é muito mais do que isso, Henri, nos capítulos finais, permite ao leitor imaginar o sofrimento do comunista que acompanha o rápido afastamento, apos a independência, dos dirigentes da FLN dos princípios e valores que tinham conduzido os revolucionários argelinos à vitória sobre o colonialismo francês. Pagou um alto preço pela autenticidade com que se distanciou do poder em Alger Republicain, o seu diário, fechado por Houari Boumedienne, herói da luta pela independência.

Pesado foi também o preço que pagou em França, onde, apos o regresso à Europa, foi secretário de Redação de L’ Humanité, então órgão do CC do Partido Comunista Francês.

Henri Alleg denunciou desde o início a vaga do euro comunismo que atingiu os partidos francês, italiano e espanhol, entre outros.

Criticou com frontalidade a estratégia que levou o PCF a participar em governos do Partido Socialista que praticaram políticas neoliberais.

No belo livro que escreveu sobre a destruição da URSS e a reimplantação do capitalismo na Rússia fustigou os intelectuais que, renunciando ao marxismo, passaram em rápida metamorfose a defensores do capitalismo e a posições antissoviéticas. Não hesitou mesmo em criticar o próprio secretário-geral do PCF, Robert Hué, considerando a orientação imprimida ao PCF como incompatível com as suas tradições revolucionárias de organização marxista-leninista.

Mas, contrariamente a outros camaradas, travou o seu combate de comunista dentro do Partido como militante.

Tive a oportunidade em França, de registar,em assembleias comunistas a que assisti, o enorme respeito que Henri Alleg inspirava quando tomava a palavra. Verifiquei que mesmo dirigentes por ele criticados admiravam a clareza, o fundamento e a dignidade do seu discurso critico.

Nos últimos anos, apesar de uma saúde frágil, compareceu em programas de televisão, voltou a Portugal e revisitou a Argélia onde foi recebido com entusiasmo e emoção. Nos EUA as suas conferências suscitaram debates ideológicos de uma profundidade incomum, com a participação de comunistas e académicos progressistas. E quase até ao AVC que o abateu, percorreu a França, respondendo a convites de Federações Comunistas e outras organizações. A juventude, sobretudo, aclamava- o com ternura e admiração.

A morte da companheira, Gilberte Serfaty, em 2010, foi para ele um golpe demolidor.

«Não mais posso sentir a alegria de viver…» - respondeu-me quando o interroguei sobre o peso da solidão. Ela, argelina, era também uma comunista excecional. Contribuiu muito para organizar com o Partido a sua fuga rocambolesca da prisão francesa de Rennes, para onde fora transferido da Argélia.

Muitas vezes, quando ia a França, instalava-me na sua casa de Palaiseau,nos subúrbios de Paris. Henri, que era um gourmet e um grande cozinheiro, recebia-me com autênticos banquetes e preparava um maravilhoso couscous, acompanhado de vinhos argelinos.

Na última visita a Palaiseau antes da sua doença, minha companheira e eu participamos de um jantar inesquecível. Eramos cinco: nós, Henri, Gilberte e o filho, Jean Salem, já então um filósofo marxista de prestígio internacional.

Recordo que nessa noite passamos o mundo em revista. Henri irradiava energia; amargurado com o presente cinzento da humanidade, falou do futuro com a esperança de um jovem bolchevique.

Repito: Henri Alleg foi um revolucionário e um comunista exemplar.

Miguel Urbano Rodrigues - Vila Nova de Gaia,18 de julho de 2013

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Desmontagem da «democracia representativa»

     Salem – Élection Piège à Cons? – Que Reste-t-il De La Démocratie? é uma contribuição valiosa para a desmontagem do mito da chamada democracia representativa. Em apenas 104 páginas, o autor consegue imprimir força de evidência a um conjunto de questões que condicionam o futuro da humanidade.

Salem, professor de História da Filosofia na Sorbonne, conhecedor profundo do pensamento dos materialistas gregos, consegue numa linguagem muito acessível encaminhar os leitores para a reflexão sobre problemas inseparáveis da crise global que está encaminhando a humanidade para o abismo.

No seu livro Lénine et la Révolution, recorrendo a seis teses do grande revolucionário russo, demonstrou que elas não perderam actualidade na luta contra a barbárie capitalista.

Neste ensaio ilumina as engrenagens da falsa democracia, desmonta os mecanismos do circo eleitoral e alerta para o papel que a manipulação mediática representa hoje na estratégia de poder do grande capital.

Ler Texto Integral

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«O filósofo marxista Jean Salem publicou recentemente um novo livro: «Eléctions, piége à cons?». Publicamos a Introdução desse importante texto, que coloca uma questão central: nos dias de hoje, em tantos lugares da Europa, é através dos mecanismos eleitorais das democracias burguesas que forças fascistas e de extrema-direita vêm assumindo uma importante parcela do poder político

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Revolução de Outubro foi há 92 anos - Lénine e a Revolução

«Só quando “os de baixo” não querem o que é velho e “os de cima” não podem continuar como dantes, só então a revolução pode vencer.»
                                         

A Revolução de Outubro e a construção do socialismo

    A publicação de Lénine e a Revolução de Outubro de Jean Salem, por ocasião dos 90 anos da Revolução de Outubro, pretende ser uma contribuição da Editorial Avante! para estimular o debate em torno dos setenta anos de socialismo real, pois pensamos, como o autor do livro, que «uma [sua] reabilitação muito mais que parcial» «acompanhará como condição necessária o ascenso do próximo movimento revolucionário.» Pelo meu lado, limitar-me-ei a algumas observações em torno da derrota do socialismo na URSS e nos países do Leste europeu.

Intervindo no XIII Congresso Extraordinário, realizado em Maio de 1990, antes ainda do desaparecimento da URSS, resumia assim o camarada Álvaro Cunhal os cinco principais traços negativos presentes na construção do socialismo real: «A substituição do poder popular por uma forte centralização do poder político, cada vez mais afastado das aspirações, opinião e vontade do povo; a democracia política sofrendo graves limitações ao mesmo tempo que se verificava a acentuação do carácter repressivo do Estado e a infracção da legalidade; a edificação de uma economia com centralização excessiva da propriedade estatal, a eliminação de outras formas de propriedade e de gestão, o desprezo pelo papel do mercado e a desincentivação do empenhamento e produtividade dos trabalhadores; o estabelecimento no partido de uma direcção altamente centralizada, de um sistema de centralismo burocrático, com o afastamento progressivo dos trabalhadores e das massas populares e a imposição administrativa das decisões tanto no partido como no Estado dada a fusão e confusão das funções do Estado e do Partido; e finalmente a dogmatização e instrumentalização do marxismo-leninismo e sua imposição como ideologia do Estado
Ao apontar estes aspectos negativos, o nosso Partido não deixou, porém, de salientar que, com a Revolução de Outubro de 1917, pela primeira vez na história foi empreendida a construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem – a sociedade socialista; que extraordinários avanços e conquistas revolucionárias foram alcançados pelo povo soviético, os quais se traduziram também em poderoso estímulo e apoio solidário à luta dos trabalhadores dos países capitalistas, assim como à dos povos pela sua independência; que as realizações da URSS e do campo socialista em benefício dos seus povos e dos povos de todo o mundo – nos domínios económico, social, cultural, político, diplomático e militar – são factos que marcaram indelevelmente toda a história do século XX.
Nós, PCP, não alinhamos, pois, na «moda», como dizia Arismendi, de apresentar «os anais do comunismo como um itinerário de erros e tragédias», de fazer uma «história maniqueia ao contrário», nas palavras do mesmo Arismendi, que refere ainda que para essa história contribuíram também «pretensos renovadores que sepultaram com isso a sua própria identidade de comunistas». Não nos revemos, pois, naquilo que com razão Domenico Losurdo diz de «sectores inteiros do movimento comunista internacional»: «é como se um Hiroshima ideológico [lhes] tivesse devastado a capacidade de pensar de maneira autónoma».
Não, foi com toda a autonomia que, quer no nosso Programa aprovado no XII Congresso (Dezembro de 1988) quer no aprovado no XIV Congresso (Dezembro de 1992), «partindo da realidade portuguesa e da experiência revolucionária portuguesa nos seus múltiplos aspectos e assimilando criticamente a experiência revolucionária mundial» «apontamos ao povo português, como seu objectivo, a futura construção da sociedade socialista», da qual consideramos como características essenciais o poder efectivo do povo, a democracia política e as liberdades e direitos dos cidadãos, a propriedade social de sectores básicos em articulação com estruturas económicas diversificadas e a empenhada participação dos trabalhadores na actividade económica, a democracia interna do Partido e a sua estreita ligação aos trabalhadores e às massas, e o desenvolvimento criativo da teoria.
Foi contra «narcisismos da derrota» de proporções quase epidémicas mas sem auto-satisfações utopistas que reafirmámos que «a liquidação da exploração capitalista, o desaparecimento geral e efectivo de discriminações, desigualdades, injustiças e flagelos sociais é tarefa histórica que só com a revolução socialista é possível realizar».

   

              

Humanamente exaltante

   

Penso, porém, que não evitámos ser levados nas nossas análises a pôr uma tónica excessiva nas deformações e na derrota do socialismo real e nas suas causas internas – a utilização de conceitos como o de implosão, de colapso ou de «modelo» (ainda que este entre aspas…) revela-o – e fizemo-lo em detrimento da transmissão, sobretudo aos jovens, do que houve de humanamente exaltante e de civilizacional e culturalmente progressivo na tarefa histórica inédita da construção de uma sociedade liberta da exploração; não evitámos a permanência de grandes lacunas na contextualização histórica, interna e externa, da construção do socialismo e na reposição da verdade histórica dessa construção; não evitámos as fraquezas da nossa intervenção ideológica na luta contra as falsificações e caricaturas em catadupa bolsadas pelos nossos inimigos de classe.
Trata-se de debilidades e omissões que não devem ser minimizadas e muito menos deixadas em silêncio. É preciso, isso sim, crítica e revolucionariamente - como é da essência da dialéctica (Marx) - superá-las, sob pena de permitirmos a introjeção nas nossas fileiras das calúnias dos detractores do socialismo e do comunismo, com o consequente desânimo, paralisação, deserção, divisão e integração no statu quo das forças sociais e políticas que podem e devem ser a base de uma transformação revolucionária da sociedade capitalista, necessidade exigida pelas próprias leis que lhe são inerentes.

     

A vaga persecutória anticomunista

    

A participação do camarada Barata-Moura nesta sessão fez com que me lembrasse, a propósito do que anteriormente referi, do que ele em Janeiro de 1992 escreveu a propósito da campanha anticomunista então (e hoje) em curso que visava (e visa) objectivos ambiciosos. Ele caracterizava-os assim:
«- uma erradicação do comunismo da consciência e do sentir dos homens, atrelando-os à simbólica representação de um sonho que se desvaneceu,
«- um embotamento da capacidade de luta daqueles que continuam a sofrer e a rejeitar a fatalidade da exploração,
«- uma oclusão e um estreitamento do próprio leque de perspectivas que a humanidade diante de si tem para as tarefas de configuração do seu futuro
Eu hoje acrescentaria um quarto objectivo (penso que o Barata-Moura estará de acordo comigo) que é uma criminalização das concepções e da acção histórica dos comunistas preparando o terreno para uma vaga persecutória contra eles, à medida que se agudizem as contradições inerentes ao modo de produção capitalista e sobrevenham tempos de crise.
Mas voltemos ao texto de Barata-Moura.
«O que a gravidade dos tempos nos impõe», escrevia ele, é «questionar comunistamente o comunismo». O que significava, e passo a citar:
«- empreender um estudo concreto (multilateralmente informado e reflectido) dos processos (e respectivas inflexões) ao longo das quais estas experiências históricas de reconfiguração socialista do viver se materializaram e vão des-construindo;
«- investir com seriedade e urgência numa investigação aprofundada e prospectiva do novo quadro mundial (e diversificadamente nacional também), no sentido de melhor compreender – não só a sua essência geral, mas as formas determinadas (económicas, políticas, sociais, culturais) que manifesta – e de nele descortinar o leque reajustado de possíveis que continua a pro-jectar;
«- não capitular, nem abrandar, na frente do esclarecimento e mobilização das forças sociais que estão objectivamente em condições – pelos seus interesses, pelas suas aspirações, pela sua luta – de influenciar e de protagonizar desenvolvimentos que apontam ao revolucionamento estrutural do modo actualmente vigente de produzir e reproduzir o viver conjunto da humanidade
Julgo que nenhum de vocês negará o acerto e a pertinência destas palavras. Vale a pena lê-las desenvolvidamente no seu livro «Materialismo e Subjectividade. Estudos em torno de Marx

(sublinhados meus)

                  

Intervenção de Francisco Melo proferida na sessão de lançamento do livro de Jean Salem

      

Um livro contra a corrente

    Foi lançado na segunda-feira, 26 de Novembro, em Lisboa, o mais recente livro das «Edições Avante!», Lénine e a Revolução, de Jean Salem. A apresentação esteve a cargo de José Barata Moura e Francisco Melo.

«O dever do revolucionário é converter em actualidade as boas questões.» O desafio foi lançado por José Barata Moura na apresentação do livro de Jean Salem Lénine e a Revolução, que decorreu na segunda-feira, nas instalações das Edições Avante!. Em sua opinião, foi isso que Salem fez ao escrever esta obra.
Para Barata Moura, Lénine e a Revolução é também um acto de coragem, ao ter sido publicado «numa conjuntura abertamente hostil às ideias de Lénine e quando se procura criminalizar o projecto comunista». Desde a década de oitenta – com Reagan à frente dos Estados Unidos da América e Thatcher do Reino Unido – que se verifica uma «reversão da ideologia capitalista às teses mais retrógradas e trogloditas, do liberalismo do século XVIII», lembrou.
Apresentando a biografia do autor da obra, José Barata Moura destacou o percurso de Jean Salem pela filosofia clássica, nomeadamente da Grécia, onde aprofundou o estudo da ética e do materialismo. E explicou o desenvolvimento dos seus estudos e a relação destas correntes com o pensamento de Marx e Lénine.
Jean Salem, lembrou José Barata Moura, estudou na União Soviética, numa escola para filhos de revolucionários de todo o mundo no momento em que o seu pai, Henri Alleg, esteve preso na Argélia. O livro, adiantou, será também uma homenagem ao Outubro soviético, que lhe permitiu estudar e «descobrir o mundo e a vida».

Intervir na batalha ideológica

Da sua parte, Francisco Melo, responsável pelas Edições Avante! e membro do Comité Central, realçou que a publicação de Lénine e a Revolução pretende ser uma contribuição para «estimular o debate em torno dos setenta anos de socialismo real». Tal como o autor, o editor considera que «uma [sua] reabilitação muito mais que parcial» acompanhará como condição necessária o ascenso do próximo movimento revolucionário
Lembrando que o PCP tem já um vasto património de análise acerca da evolução do socialismo no Leste da Europa, nomeadamente no XIII e XIV Congressos, Francisco Melo realçou que o Partido não deixou de salientar que «com a Revolução de Outubro, pela primeira vez na história, foi empreendida a construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem».
No PCP, reafirmou, «não alinhamos» na moda de apresentar «os anais do comunismo como um itinerário de erros e tragédias». Até porque, para a história da derrota do socialismo real, contribuíram também «pretensos renovadores que sepultaram com isso a sua própria identidade de comunistas».
Mas realçou, «não evitámos ser levados nas nossas análises a pôr uma tónica excessiva nas deformações e na derrota do socialismo real e nas suas causas internas». Daí a utilização de conceitos como o de «implosão», «colapso» ou «modelo», destacou.
E, acrescentou, «fizemo-lo em detrimento da transmissão, sobretudo aos jovens, do que houve de humanamente exaltante e de civilizacional e culturalmente progressivo na tarefa histórica inédita da construção de uma sociedade liberta da exploração, não evitamos a permanência de grandes lacunas na contextualização histórica, interna e externa, da construção do socialismo e na reposição da verdade histórica dessa construção; não evitamos as fraquezas da nossa intervenção ideológica na luta contra as falsificações e caricaturas em catadupa bolsadas pelos nossos inimigos de classe».

(sublinhados meus)

  

In jornal "Avante!" - Edição de 29 de Novembro de 2007

               

Leitura Obrigatória (LIV)

    Lénine e a Revolução (Jean Salem)

Eis agora, na sua mais perfeita secura e na sua formulação mais lapidar, as seis teses que achei poder deduzir daquilo que Lénine escreveu acerca da ideia de revolução:

1. A revolução é uma guerra; e a política é, de uma maneira geral, comparável à arte militar.
2. Uma revolução política é também e sobretudo uma revolução social, uma mudança na situação das classes em que a sociedade se divide.
3. Uma revolução é feita de uma série de batalhas; cabe ao partido de vanguarda fornecer em cada etapa uma palavra de ordem adaptada à situação objectiva; cabe-lhe a ele reconhecer o momento oportuno para a insurreição.
4. Os grandes problemas da vida dos povos nunca são resolvidos senão pela força.
5. Os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas.
6. Na era das massas, a política começa onde se encontram milhões de homens, ou mesmo dezenas de milhões. Convém, além disso, assinalar o deslocamento tendencial dos focos da revolução para os países dominados.

Jean Salem

     

Jean Salem é Professor de Filosofia na Sorbonne e demonstra nesta obra o interesse e a actualidade destas teses.

     

In Edições «Avante!»

             

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