O Manifesto do Partido Comunista foi publicado pela primeira vez em Londres na segunda metade de Fevereiro de 1848, sob os auspícios de uma associação cultural operária que funcionava na órbita da Liga dos Comunistas. Com toda a probabilidade, Marx foi o redactor do escrito. No entanto, em termos substanciais, trata-se de uma obra conjunta de Marx e de Engels, que vinha a ser pensada e preparada desde 1847. Não estamos perante um desabafo de almas inquietas com o curso do mundo, nem perante um protesto de indignação moral, nem perante uma rebuscada congeminação de gabinete. Trata-se de um texto, apoiado, de clarificação estratégica, de consolidação doutrinária de uma plataforma de forças combativas, em suma, trata-se de um instrumento em que a compreensão do passado e o debate crítico do presente se abrem a uma necessária perspectiva de luta que os vincula a um futuro (que é também afazer) de realização.
«Não estamos perante um desabafo de almas inquietas com o curso do mundo, nem perante um protesto de indignação moral, nem perante uma rebuscada congeminação de gabinete. Trata-se de um texto, apoiado, de clarificação estratégica, de consolidação doutrinária de uma plataforma de forças combativas, em suma, trata-se de um instrumento em que a compreensão do passado e o debate crítico do presente se abrem a uma necessária perspectiva de luta que os vínculos a um futuro de realização. O Manifesto começou por ser actual, e actuante, porque foi capaz de surpreender dinâmicas sociais profundas que trabalhavam o tempo em que foi composto. Fala de um modo estruturante de produzir e de reproduzir o viver económico e social que, transformadamente, persiste na sua matriz e lógicas fundamentais – e para cujas contradições e assimetrias, crises e misérias importa preparar, e lutar por estabelecer, uma base de sustentação nova, nas condições e à altura das exigência do tempo, que, removendo e superando a exigência, recoloque a humanidade em caminho de desenvolvimento qualificante. O Manifesto põe nuclearmente em evidência a dimensão da luta de classes na modelação do acontecer histórico, e das grandes transformações que presidem à sua organização. Esta dinâmica de luta é particularmente perceptível nos momentos de confrontação social aguda e de revolucionamento – que, por exemplo, conhecemos, em Portugal, durante o fascismo e com o 25 de Abril. Mas ela não deixa de estar presente, e actuante, nas formas que lhe são apropriadas, ao longo dos segmentos do processo histórico – mesmo se marcadas por modalidades diferenciadas de “contra-revolução”, de pretensa “estabilização democrática”, ou de espicaçado afã regressivo a receituários liberalistas crus.»