Manipulação e censura na comunicação social
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Graças à minha infecção bacteriana não tinha lido este texto. Mas mais vale tarde que nunca...
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Outra leitura possível é que o TC [Tribunal Constitucional] tenha plena consciência de que a situação bateu no fundo, que a descredibilização das chamadas "instituições democráticas" é total, que a legitimidade do Governo é insustentável, que as eleições já não conseguem traduzir a vontade do povo nem os partidos querem interpretá-la e assumi-la.
Talvez o TC tenha querido mostrar ao povo como é infundada a sua fé no sistema, como é disparatada a sua esperança de que alguma instância estatal assuma a defesa da justiça e da comunidade. Talvez o TC tenha querido enviar um sinal ao povo, demonstrar-lhe que não existe nenhum obstáculo entre o presente e a barbárie, que a lei não é uma defesa contra a arbitrariedade. Talvez o TC tenha querido mostrar que as "instituições democráticas" não conseguem defender os direitos dos cidadãos e que a revolta armada é a única solução. Talvez o acórdão pretenda apenas mostrar aos cidadãos que a via da legalidade democrática como forma de gerar alternativas políticas está esgotada. Se for assim, o acórdão [sobre o Código do Trabalho] tem lógica. Poderemos discordar dele, mas a coerência entre o objectivo e o instrumento será total.»
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Na semana passada, a difusão na Internet de um vídeo do hino da campanha Zero Desperdício, no qual participaram alguns dos mais talentosos músicos da nossa praça, levantou uma compreensível onda de protestos. A letra do hino, da autoria de Tim, é (para ser benevolente) profundamente infeliz, dizendo, a certa altura, “o que eu não aproveito ao almoço e ao jantar / a ti deve dar jeito, temos que nos encontrar”. Devo dizer que, quando li uma parte da letra que alguém pôs a circular na Web, tive a certeza de que se tratava de uma sátira. Quando vi, pareceu-me uma das coisas mais tristes que já me foi dado ver. É chocante a ausência de consideração pela dignidade das pessoas destinatárias da campanha, é chocante a naturalidade com que se encara o facto de umas pessoas viverem das sobras de outras, é chocante a maneira como esta desigualdade é travestida de solidariedade, é chocante o facto de os participantes na campanha não terem sentido nada disto.
Os erros acontecem e é possível que ninguém se tivesse dado conta de que o hino tinha esta leitura. Mas, nesse caso, alguma sensibilidade teria aconselhado a imediata retirada do vídeo e um pedido de desculpas mal a reacção surgiu. É triste que isso não tenha acontecido.
Mas a campanha Zero Desperdício merece outras considerações.
Vale a pena reflectir sobre a expressão “desperdício alimentar”, cujo combate é apresentado pela campanha como o seu objectivo número um. “Pôr fim ao desperdício” é apresentado como a missão da campanha e “Portugal não se pode dar ao lixo” é o seu slogan.
Repare-se que o problema identificado não é a “fome” ou a “carência alimentar” nem a missão “dar de comer a quem tem fome” ou algo do género. A actividade desenvolvida também não é apresentada primordialmente como uma acção de “solidariedade” nem sequer de “ajuda” ou “assistência” (expressões não isentas de carga negativa, pelo paternalismo e desigualdade que lhes está associado, mas certamente defensáveis). Repare-se na diferença entre este “pôr fim ao desperdício” e o nome do Banco de Ajuda Alimentar, claramente apresentado como assistencial, e cuja razão de ser, assumida sem ambiguidades, é melhorar as condições de vida dos destinatários da sua ajuda. Repare-se na diferença entre este ““Vamos brincar à caridadezinha” – José Barata Moura (gravação original de 1973)” e os famosos Restos du Coeur, criados pelo humorista francês Coluche e cuja designação é, em si, um grito solidário (estes “Restos” são a abreviatura de “Restaurantes” e não os restos do almoço e do jantar).
Toda a campanha do Zero Desperdício coloca, pelo contrário, a tónica “do lado da oferta”. Toda a iniciativa é “supply-side economics”. Tudo é apresentado como se fosse o facto de haver desperdício de alimentos que justifica a campanha e as acções dos dadores e não o facto de haver pessoas com fome. Mais: o facto de haver desperdícios parece até positivo, já que permite que os pobres beneficiem das sobras, num exemplo perfeito de “trickle-down economics”. O racional da campanha parece ser e poderia ser: “Já que esta comida ia para o lixo, vamos dá-la aos pobres”. É evidente que o desperdício de alimentos é intolerável, mas o que motiva a acção solidária não pode deixar de ser o combate à fome e a pobreza e às suas causas - e este objectivo, um claro imperativo ético, não pode ser deixado diplomaticamente de lado, para não ofender os poderes por chamar a atenção para a política de empobrecimento a que o país está a ser submetido. Há um dever de denúncia que é inalienável e indeclinável.
É evidente que o “combate ao desperdício” - objectivo razoável em termos gerais, mas moralmente neutro - se insere bem no discurso ideológico caro ao Governo e à direita e se alinha com os apelos à produtividade e à competitividade, enquanto que o “combate à pobreza” tem tonalidades que o Governo, o Presidente da República, os partidos da direita e os grandes patrões não apreciam. Cheira a socialismo, a comunismo, a direitos humanos, aquelas coisas que a direita portuguesa abomina. Mas aquilo a que a simples solidariedade humana nos obriga é a partilhar, de forma a acabar com a fome, independentemente de haver ou não desperdício.
É possível que os autores da campanha “Zero desperdício” tenham decidido não realçar nos seus documentos as expressões “fome” nem“combate à pobreza” (pelas suas tonalidades de esquerda) e falar apenas de “redução do desperdício” (pelas suas tonalidades de direita). Pode ter sido uma astuta decisão de marketing político, uma decisão pragmática de quem sabe que o PSD e o CDS têm a maioria em Portugal. Mas, se o foi, a decisão aceita o pressuposto de que algo tão básico como o combate à fome, tão central nos direitos humanos, deve ser posto de lado devido à sua pretensa tintagem política e deve ser substituído por algo mais aceitável nos salões, algo que cheire a promoção da eficiência empresarial. O que seria triste.
José Vítor Malheiros in jornal «Público» edição de 24 de Abril de 2012 (link só para assinantes)
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Gostaria de ter escrito isto!
Para ver e ouvir a diferença de forma e de conteúdo do artista. E na altura «cantigas» destas podiam dar direito a uns «safanões a tempo»…
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O Castendo já tinha dialogado com a virgem vestal de seu nome Pedro Correia.
Depois foi o episódio Pedro Passos Coelho-Jerónimo de Sousa na Assembleia da República.
Agora temos isto:
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A CGTP acaba de eleger um novo líder e renovar os quadros para uma média etária inferior a 48 anos. Mas renovar implicaria duas coisas: libertar a central sindical dos partidos (e Arménio Carlos é do Comité Central do PCP) e pôr de lado a gasta retórica do "nós somos os explorados, eles são os exploradores", como o ouvimos dizer no sábado à noite.
O novo líder da CGTP está preso a um dicionário de palavras ocas e maniqueístas. Fala de "declaração de guerra" e "golpe palaciano" contra os trabalhadores, diz que as ideias do Governo - deste, do anterior e certamente do próximo - são "ridículas", uma "vergonha" ou "terrorismo social". "Exploração", "chantagem", "vilanagem", "agiotagem" são comuns. Arménio Carlos quer "combater a prosápia dos fariseus", denunciar a "mina de ouro" dos patrões e insistir que "o capital é insaciável".
Talvez consiga com um posicionamento populista atrair os desejados 100 mil novos membros. Mas com este nós-somos-bons-eles-são-maus não vai com certeza contribuir para tirar o país da crise.
(...)
Editorial jornal "Público" de 30 de Janeiro de 2012 (com link só para assinantes)
O que leva um(a) jornalista a escrever isto num editorial de um jornal dito de referência? Uma súbita conversão às teses de Paula Bobone sobre o «Socialmente Correcto»? Não lê o próprio jornal onde escreve? Ou tiques censórios?
Exploração é um empresário corticeiro despedir centenas de trabalhadores a pretexto da crise e depois obter lucros recorde. Exploração é um Conselho de Administração de um banco distribuir para si próprio 10% dos lucros e recusar-se a aumentar os salários dos trabalhadores em 1,5%. Exploração é uma multinacional da indústria automóvel, um dos exemplos de empresa exportadora, exigir aos trabalhadores que as licenças de paternidade e maternidade, ou as licenças por baixa médica fossem compensadas à empresa com dias de trabalho não pago.
Terrorismo social é uma trabalhadora de uma grande superfície comercial, grávida, abortar em pleno local de trabalho por ser obrigada a transportar grandes pesos. Terrorismo social é ser-se despedido porque se faz greve. Terrorismo social é desistir-se do ensino superior porque não há dinheiro para as propinas. Terrorismo social é as mortes que vão surgir por falta de dinheiro para medicamentos, ou para pagar as taxas moderadoras.
E podia continuar. Sublinho que recorri apenas a notícias do jornal «Público».
Como escreveu no «Público», o jornalista José Vítor Malheiros, «Podíamos ainda desejar que os jornalistas (...) deixassem de tratar a propaganda do Governo como factos e as propostas das restantes forças políticas como inexistentes.»
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