As últimas palavras do último discurso de Martin Luther King:
(...) Well, I don't know what will happen now. We've got some difficult days ahead. But it doesn't matter with me now. Because I've been to the mountaintop. And I don't mind. Like anybody, I would like to live a long life. Longevity has its place. But I'm not concerned about that now. I just want to do God's will. And He's allowed me to go up to the mountain. And I've looked over. And I've seen the promised land. I may not get there with you. But I want you to know tonight, that we, as a people will get to the promised land. And I'm happy, tonight. I'm not worried about anything. I'm not fearing any man. Mine eyes have seen the glory of the coming of the Lord.
Bem, eu não sei o que acontecerá agora. Teremos alguns dias difíceis. Mas, para mim, isso não importa. Porque eu estive no cimo da montanha. E não me importo. Como todos, gostaria de ter uma vida longa. Por que não? Mas não estou preocupado com isso agora. Só quero fazer a vontade de Deus. E Ele permitiu que eu subisse a montanha. E eu vi lá de cima. E vi a terra prometida. Talvez não vos acompanhe até lá. Mas, quero que saibam esta noite que nós, como povo, chegaremos à terra prometida. E estou feliz esta noite. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem. Os meus olhos viram a glória da chegada do Senhor.
(...) Well, I don't know what will happen now. We've got some difficult days ahead. But it doesn't matter with me now. Because I've been to the mountaintop. And I don't mind. Like anybody, I would like to live a long life. Longevity has its place. But I'm not concerned about that now. I just want to do God's will. And He's allowed me to go up to the mountain. And I've looked over. And I've seen the promised land. I may not get there with you. But I want you to know tonight, that we, as a people will get to the promised land. And I'm happy, tonight. I'm not worried about anything. I'm not fearing any man. Mine eyes have seen the glory of the coming of the Lord.
Bem, eu não sei o que acontecerá agora. Teremos alguns dias difíceis. Mas, para mim, isso não importa. Porque eu estive no cimo da montanha. E não me importo. Como todos, gostaria de ter uma vida longa. Por que não? Mas não estou preocupado com isso agora. Só quero fazer a vontade de Deus. E Ele permitiu que eu subisse a montanha. E eu vi lá de cima. E vi a terra prometida. Talvez não vos acompanhe até lá. Mas, quero que saibam esta noite que nós, como povo, chegaremos à terra prometida. E estou feliz esta noite. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem. Os meus olhos viram a glória da chegada do Senhor.
Agora é comparar este texto com a letra da canção:
Martin Luther King pronunciou este discurso, pleno de actualidade, no dia 4 de Abril de 1967. Foi assassinado exactamente um ano depois em Memphis, Tennessee.
Apresenta-se a seguir os excertos do discurso que aparecem no final do filme War Made Easy:
«(…)1."A time comes when silence is betrayal." And that time has come for us(...)
2.Even when pressed by the demands of inner truth, men do not easily assume the task of opposing their government's policy, especially in time of war.(…)
3.(…)and I knew that I could never again raise my voice against the violence of the oppressed in the ghettos without having first spoken clearly to the greatest purveyor of violence in the world today -- my own government.(...)
4.What do they think as we test out our latest weapons on them, just as the Germans tested out new medicine and new tortures in the concentration camps of Europe?(…)
5.Now there is little left to build on, save bitterness.(...)
6.(...) we are met by a deep but understandable mistrust. To speak for them is to explain this lack of confidence in Western words, and especially their distrust of American intentions now.(…)
10.Somehow this madness must cease. We must stop now.(...)
11.I speak as one who loves America, to the leaders of our own nation: The great initiative in this war is ours; the initiative to stop it must be ours.(…)
7.The world now demands a maturity of America that we may not be able to achieve.(...)
8. "This way of settling differences is not just."(…)
9.A nation that continues year after year to spend more money on military defense than on programs of social uplift is approaching spiritual death.(…)»
Estes excertos foram escolhidos para poderem ser utilizados no filme (foram excluídas todas as referências ao Vietnam) e podem ser, até com maior propriedade, aplicados à realidade actual.
By 1967, King had become the country's most prominent opponent of the Vietnam War, and a staunch critic of overall U.S. foreign policy, which he deemed militaristic. In his "Beyond Vietnam" speech delivered at New York's Riverside Church on April 4, 1967 -- a year to the day before he was murdered -- King called the United States "the greatest purveyor of violence in the world today."
Time magazine called the speech "demagogic slander that sounded like a script for Radio Hanoi," and the Washington Post declared that King had "diminished his usefulness to his cause, his country, his people."
Este texto é da responsabilidade do "nosso" correspondente nos EUA.
Caros amigos,
A 4 de Abril de 2008, completam-se 40 anos sobre o assassinato de Martin Luther King.
No seu último discurso, faz hoje 40 anos, em Memphis, ele pediu às mulheres e aos homens que o escutavam para subirem ao topo da montanha e verem a "terra prometida". E, acrescentou, premonitoriamente, "poderei não estar lá convosco".
A "terra prometida" (que ele não precisou de definir) era aquela onde cada um não precisasse de marchar para defender a sua própria dignidade. Não precisasse de cantar pela sua própria liberdade. Não fossem precisos discursos para reconhecer a sua condição humana. A "terra prometida" era o lugar sagrado em que todos os filhos de Deus seriam iguais.
E sublinhou, "I may not get there with you".
Passaram-se 40 anos e muita coisa mudou nesta América.
Mas continua a haver duas leituras diferentes sobre a mesma realidade.
Refiro dois estudos recentes.
Primeiro. De Philip Mazzoco (Ohio State University) e Mahzarin Banaji (Harvard). Ser preto na América significa, ainda hoje, relativamente à população branca: ter salário menor para o mesmo trabalho, ter maiores taxas de mortalidade infantil, ter uma taxa de desemprego que é quase o dobro da média nacional, ter maior probabilidade de ser pobre, viver com um risco dramaticamente maior de ser preso ou assassinado.
Segundo. De Richard Eibach (investigador na Yale University). Mediu a forma diferente como brancos e pretos avaliam o progresso da questão racial. Os brancos valorizam os avanços que foram conseguidos ("Como podem dizer que ainda há racismo quando temos uma Oprah Winfrey ou um Barack Obama?"). Os pretos valorizam o caminho que falta percorrer ("Como é que podem dizer que não há racismo se a polícia continua a parar o meu carro sem qualquer razão?"). Richard Eibach diz que, para os brancos, a "terra prometida" - a igualdade racial - é um ideal, qualquer coisa que seria bom atingir um dia. Os pretos vêem-na como uma necessidade, alguma coisa pela qual é preciso trabalhar para conseguir aqui e agora. A história do copo meio cheio ou meio vazio...
O que Martin Luther King disse há 40 anos atrás é que era preciso subir a montanha, para conseguir ver a grande paisagem, a "terra prometida". Ele sabia que existia. Sabia, também, tais eram as ameaças constantes que sofria, que não estaria presente quando toda a gente a visse. "I may not get there with you".
Do topo da montanha onde me encontro escrevo esta mensagem para vós, queridos amigos, filhos, mãe, mana, sobrinhos, em três continentes onde vivem a vossa vida e o vosso amor. Sei que comigo vêem a "terra prometida" e que sabem que há ainda caminho para caminhar.
Tão grande é a tarefa que não importa os que lá não chegam. Quando lá chegarmos, todos os mortos ou assassinados estarão, também, presentes porque permanecem vivos. Como escreveu o meu querido amigo José Cardoso Pires, "os homens não morrem quando são lembrados".
(sublinhados meus)
Um grande abraço,
Fernando
PS: Esta mensagem foi em grande parte inspirada por um artigo publicado em The Seattle Times, da autoria de Leonard Pitts Jr., conhecido colunista, e intitulada "Martin Luther King Jr.'s Promised Land: Are we there yet?".
Para ouvir na íntegra o discurso de Martin Luther King, de 3 de Março de 1968, em Memphis clicar AQUIe para ler (em inglês) clicar AQUI