Alemanha reconhece genocídio na Namíbia 110 anos depois...
A Alemanha vai pedir desculpas oficiais à Namíbia pelo genocídio dos povos herero e nama cometido pelas tropas imperiais alemães, no começo do século XX.
A Alemanha demorou 110 anos a reconhecer o genocídio.
O que se conhece desta história trágica confirma a desumanidade do crime perpetrado.
Desapossados pelos colonialistas alemães das suas terras, do seu gado e de todos os meios de subsistência, hereros e namas revoltaram-se em Janeiro de 1904 e mataram 123 colonos.
A repressão da administração colonial foi bárbara. A violência culminou em Agosto, com a batalha de Waterberg, a cerca de 200 quilómetros da capital. Derrotados, os rebeldes retiraram-se para Leste, com as suas famílias, tentando alcançar o Botswana vizinho. Foram perseguidos, através do deserto do Kalahari, pelas tropas alemãs, que não pouparam mulheres e crianças e chegaram a envenenar poços de água para matar à sede os inimigos desarmados.
Das 80 mil pessoas que iniciaram a fuga, apenas 15 mil sobreviveram.
Em Outubro, o comandante militar da colónia, general Lothar von Trotha – que já tinha dado provas, na África Oriental e na China (Guerra dos Boxers, de 1899 a 1901), de uma brutalidade sem limites – decidiu exterminar os dois povos rebeldes, decretando que «dentro das fronteiras [coloniais] alemãs todo o herero, com ou sem arma, com ou sem gado, deve ser abatido». Repetiu a «ordem de exterminação» em Abril do ano seguinte.
Oitenta por cento dos hereros e metade dos namas foram aniquilados.
Dois corajosos chefes da revolta, Hendrik Witbooi e Samuel Maharero, são hoje admirados como heróis do povo namibiano. Povo que continuou a resistir até que em 1990 conquistou a independência, lutando contra a África do Sul do apartheid, potência administrante do Sudoeste Africano após a I Guerra Mundial.
Em 2011, a Alemanha restituiu à Namíbia dezenas de crânios de guerreiros hereros e namas que tinham sido enviados para Berlim, após o genocídio, para experiências «científicas» visando provar a superioridade dos brancos sobre os negros.
Hoje, não é tarde para dar a conhecer e denunciar estes e outros crimes hediondos do colonialismo.