1. A Europa está refém da culpa do Holocausto desde a II Guerra Mundial. Mas honrar a memória do Holocausto será travar a mortandade em Gaza agora. E honrá-la enfim, porque essa memória foi traída até chegarmos a isto: 2,3 milhões de pessoas trancadas num gueto, bombardeadas dia e noite, metade das quais deslocadas, sem água, comida, assistência. E foi traída também no gueto-arquipélago da Cisjordânia, onde quase três milhões de palestinianos enfrentam a violência de colonos cada vez mais radicais. Os hoje 700 mil colonos que Israel foi plantando com betão e alcatrão, bem agarrados ao chão, tanto na Cisjordânia como em Jerusalém Oriental, todos ilegais à luz do que a Europa assinou. E que assim impedem a “Solução Dois Estados”, como os líderes mundiais — todos eles — estão cansados de saber.
O direito internacional dá provas de não servir para muito. Israel violou a lei quando cortou o fornecimento de eletricidade, água, combustíveis e comida na Faixa de Gaza. Viola a lei quando bombardeia áreas residenciais, hospitais, abrigos das Nações Unidas ou escolas, viola a lei quando dá avisos prévios impossíveis de cumprir e claro que viola a lei quando mata civis. Mas nada disto tem consequências. Está a decorrer um massacre à vista de todos. O número de mortos que se perspectiva e a forma como estão a tentar eliminar os palestinianos da região obrigam a falar em genocídio e limpeza étnica.
Os bombardeamentos aéreos e a presente invasão de Gaza pelas forças terrestres israelenses têm que ser analisados num contexto histórico. A operação "Chumbo Fundido" ("Cast Lead") é uma missão cuidadosamente planeada que, por sua vez, faz parte de uma estratégia militar-serviços secretos formulada pela primeira vez em 2001:
«Fontes do 'establishment' da defesa disseram que o ministro da Defesa Ehud Barak deu instruções às forças de defesa israelenses para se prepararem para a operação, há mais de seis meses, na altura em que Israel estava a começar a negociar um acordo de cessar fogo com o Hamas». (Barak Ravid, Operation "Cast Lead": Israeli Air Force strike followed months of planning [Operação "Chumbo Fundido". O ataque da Força Aérea israelense vem na sequência de meses de preparativos], Haaretz, 27 de Dezembro, 2008).
Foi Israel quem quebrou as tréguas no dia das eleições presidenciais americanas, a 4 de Novembro:
«Israel serviu-se desta diversão para quebrar o cessar-fogo com o Hamas, bombardeando a faixa de Gaza. Israel declarou que esta violação do cessar- fogo pretendia impedir o Hamas de escavar túneis no território israelense.
Logo no dia seguinte, Israel desencadeou um cerco terrorista a Gaza, impedindo a entrada de alimentos, combustível, medicamentos e outros bens necessários na tentativa de "subjugar" os palestinianos, enquanto simultaneamente efectuava incursões armadas.
Em resposta, o Hamas e outros em Gaza voltaram a alvejar Israel com projécteis de petróleo inflamado, artesanais e quase sempre imprecisos. Durante os últimos sete anos, estes projécteis causaram a morte de 17 israelenses. Durante o mesmo período de tempo, os ataques relâmpago de Israel mataram milhares de palestinianos, suscitando um protesto mundial que caiu em orelhas moucas nas Nações Unidas.» (Shamus Cooke, The Massacre in Palestine and the Threat of a Wider War, Global Research [O Massacre na Palestina e a Ameaça de uma Guerra Mais Ampla], Global Research, Dezembro, 2008).