«PARA REFLEXÃO DOS LEITORES: a propósito da noticia divulgada pelos media de que Vitor Gaspar tinha sido contratado para o FMI pela diretora Lagarde, transcrevemos uma citação do prémio Nobel da economia Paul Krugman: “Se alguns deles terminar o mandato usufruindo de grande estima por parte do grupo de Davos (fórum mundial anual constituído pelos representantes dos grandes grupos económicos internacionais e pelos governantes dos maiores países) há uma infinita série de postos na Comissão Europeia, no FMI ou em organismos afins para os quais poderá ser elegível mesmo que seja desprezado pelos seus próprios conterrâneos. Aliás, ser desprezado seria de certa forma uma mais-valia”. Gaspar inicia as suas novas funções bem pagas já em Junho-2014 anunciaram também os órgãos de comunicação.»
Na história abundam «deuses», de criação humana, feitos à imagem dos preconceitos e desígnios de uma realidade e temporalidade concreta, e cujo saldo de percurso na super-estrutura social e nas misérias do mundo é hediondo.
É o caso do episódio bíblico do «bezerro de ouro», recém recuperado por José Saramago no romance Caim, que mostra como a adoração dum totem, obviamente falso, a que se sacrificam os princípios, na esperança de todas as riquezas do mundo, termina no morticínio sangrento de milhares de inocentes.
É o caso do «bezerro de ouro» desta fase de domínio imperialista do mundo, o deus «mercado» - dito omnipresente, omnisciente e omnipotente -, ou seja, o capital financeiro multinacional «globalizado» a quem se imolam as economias mais débeis, como a nossa.
O resultado é a destruição da produção, das pequenas empresas e do mercado interno, o roubo do património do país, dos salários, direitos e prestações sociais, o desemprego, o assalto aos serviços públicos e funções sociais do Estado, a imolação dos dinheiros públicos – cujo défice é pretexto da rapina - e da soberania nacional.
À média de duas vezes por semana, o deus «mercado» ameaça e chantageia com terríveis catástrofes e é «aplacado» com novos sacrifícios, sempre dos mais fracos. E lá estão os seus sumo-sacerdotes e lacaios para garantir o repasto à infindável gula do «mercado», com a promessa de que desta feita o sofrimento terminará.
Os sumo-sacerdotes do «bezerro de ouro» são figuras como Krugman, Prémio Nobel norte americano, para quem os salários dos países da periferia da UE precisam de cair 30%, relativamente à Alemanha, ou Trichet, Presidente do BCE, que garante não existir qualquer ataque especulativo, mas apenas países prevaricadores das contas públicas que é necessário sancionar, ou um tal Barroso, papagaio de Merkel, que não se engasga ao dar voz à proposta de censura prévia da Comissão Europeia aos orçamentos de (certos) estados-membros.
E os lacaios do «bezerro de ouro» são os Migueis de Vasconcelos, do PS, PSD, e não só, que entregam à morte a independência económica e a soberania nacional, no altar do capital financeiro sem pátria e das grandes potências do directório federalista do Euro. Numa verdadeira traição nacional. A que um dia se fará justiça.
In jornal «Avante!» - Edição de 27 de Maio de 2010
«O OE2009, é um orçamento que não evita nem a recessão económica, para onde o País caminha a passos largos, nem impede um maior agravamento da vida da maioria da população.
Assim, no campo económico, o governo dominado pela obsessão do défice (é sintomático que economistas como até o Nobel Paul Krugman critiquem violentamente esta obsessão do défice em tempos de crise), fixa este em 2,2% para 2009, reduzindo assim drasticamente o bom investimento público que era fundamental para dinamizar a economia e criar emprego. Entre 2005 e 2009, o investimento previsto no PIDDAC, o plano de investimento mais importante do Estado, sofre uma quebra de -31% em valores nominais. Neste período os preços aumentaram cerca de 14%, consequentemente a quebra real ronda os 40%. E esta situação ainda se torna mais grave se tiver presente, que a execução no período 2005-2007, de que já se dispõem de dados, foi em média de apenas 71% do previsto. Bastaria aumentar o défice para apenas 3%, que a própria Comissão Europeia admite, para o Estado poder investir mais 1.381 milhões de euros, o que permitiria, para além dos efeitos económicos positivos, criar mais alguns milhares de postos de trabalho. »