«Os recentes desenvolvimentos da situação na Síria vêm demonstrar que o imperialismo norte-americano continua apostado na brutal guerra de agressão contra a soberania e integridade territorial da República Árabe Síria e a tentar impor o afastamento do Governo sírio, dirigido pelo presidente Bashar al-Assad. Uma criminosa guerra que enfrenta, há mais de cinco anos, a notável e heróica resistência das forças patrióticas sírias, do povo sírio.
(...)
Por mais intensa que seja a campanha de manipulação mediática, a verdade é que os Estados Unidos e os seus aliados – França, Reino Unido, Turquia, Arabia Saudita, Qatar, Israel, entre outros – continuam a intervir na Síria e a instrumentalizar os diversos grupos armados que criaram e apoiam com o objectivo de dividir e destruir o Estado sírio – aliás como fizeram no Iraque e na Líbia, com as dramáticas consequências que se conhece.»
No entanto, não pode passar em branco o imenso cinismo daqueles que – como a União Europeia, que negoceia a adesão da Turquia – fingem ter descoberto no rescaldo do golpe falhado o carácter repressivo e autoritário da política de Erdogan e do AKP, procurando assim não só influenciar a evolução imediata da situação na Turquia, como encobrir o seu amplo conluio com as autoridades turcas e a sua política, de que é exemplo
a ocupação ilegal de território de Chipre;
a repressão da população curda;
a restrição de liberdades, direitos e garantias fundamentais;
a agressão e saque da Síria e do Iraque, promovendo e protegendo grupos terroristas e apoiando a sua sangrenta acção;
ou a instrumentalização da dramática situação de milhões de refugiados e a negação dos seus mais elementares direitos.
Assinale-se que muitos dos que agora apontam o dedo às autoridades turcas por terem decretado o Estado de emergência e suspendido temporariamente a aplicação da Convenção para a Protecção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, são os mesmos que justificaram as medidas de restrição de liberdades, direitos e garantias impostas pelas autoridades francesas após os atentados em Paris, em Novembro passado, que incluíram, precisamente, estas duas medidas.
Convenientes e elucidativos exercícios de hipócrita «amnésia»…
«É por isso que as reacções do establishment europeu aos acontecimentos na Turquia tresandam a hipocrisia e a mentira.
É que o que ali aconteceu está intimamente relacionado com o papel dado à Turquia – e a Erdogan – no extremamente perigoso jogo imperialista, que cruza o objectivo de domínio e redivisão do Médio Oriente com o crescente e cada vez mais insano rumo de enfrentamento directo com países como a Federação Russa. Um papel que alimentou a deriva reaccionária e ditatorial das elites turcas – sejam elas do AKP ou da «velha» hierarquia militar.»
«O governo turco tem repetido que o golpe falhado, que causou 246 mortos e mais de 2 100 feridos, foi organizado por seguidores de Gulen, de 74 anos. (...) O certo é que, desde que a rebelião militar foi derrotada, há menos de 15 dias, as autoridades turcas detiveram, suspenderam, demitiram ou colocaram sob investigação cerca de 60 mil pessoas – militares, incluindo altas patentes, polícias, juízes e magistrados, professores, estudantes, funcionários públicos. No início desta semana, foi anunciado também o afastamento de um número não especificado de embaixadores e a prisão de pelo menos 42 jornalistas. (...) No quadro da purga em curso, o regime turco instaurou o estado de emergência, suspendeu a adesão à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, estendeu de quatro para 30 dias o período máximo de detenção sem culpa formada e encara a reintrodução da pena de morte. Ordenou o encerramento de 15 universidades e 1043 escolas privadas e residências de estudantes. E ilegalizou 1229 fundações e associações, além de 19 uniões sindicais e de 35 instituições médicas. (...) A Guarda Presidencial será dissolvida. Por suspeita de envolvimento no golpe falhado de 15 de Julho, 283 dos 2500 membros desse corpo do exército foram presos.»
«Todas as grandes operações de desestabilização realizadas pelo imperialismo foram antecipadas e acompanhadas por campanhas de desinformação e manipulação, com as quais procura ocultar os seus reais objectivos e acção, assim como descredibilizar e isolar a sua vítima, de modo a neutralizar a natural expressão de rejeição (e solidariedade) face à inaceitável ingerência externa contra um Estado soberano e o seu povo – a República Bolivariana da Venezuela não é excepção.
(...) Acção de ingerência e desestabilização de que são expressão recente:
a derrotada intentona golpista de 2014, que provocou dezenas de mortos e centenas de feridos e cujos responsáveis se encontram justamente detidos;
o decreto de Obama, em 2015, declarando a Venezuela uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos;
a instrumentalização do Parlamento, após as eleições de 2015, para destituir o presidente Nicolás Maduro, paralisar a acção do seu Governo, confrontar a Constituição venezuelana e atacar o processo bolivariano e as suas realizações;
o fomentar da violência por parte de grupos criminosos, face à firme defesa da legalidade constitucional e democrática pelas restantes instituições venezuelanas;
a tentativa dos Estados Unidos de utilizar a OEA como instrumento de pressão e isolamento da Venezuela;
o boicote da economia;
o açambarcamento e a especulação de preços, obstaculizando o acesso regular e adequado a bens essenciais;
a exploração de dificuldades momentaneamente sentidas pela população;
a promoção de um clima artificial de caos, desconfiança, temor e insegurança, de proclamação de uma situação de «crise humanitária»;
o apelo feito nos Estados Unidos pelo ex-presidente da Colômbia, com ligações ao narcotráfico e aos paramilitares, Álvaro Uribe, a uma intervenção militar na Venezuela;
a orquestrada e sistemática campanha de falsificação e manipulação da informação;
entre outros exemplos da guerra económica, mediática, política, diplomática, criminosa movida contra a Venezuela e que se insere na contra-ofensiva levada a cabo pelos EUA contra os processos de afirmação soberana, de sentido progressista e de cooperação na América Latina.»
«Um semanário português publica esta semana um vergonhoso texto que desenha o completo caos naquele país. Mentiras são «sustentadas» com «relatórios» forjados pela direita venezuelana. A tese está feita: o povo da Venezuela vive na absoluta miséria, tem fome e é oprimido pela «ditadura» de Maduro que é incapaz de governar o país.
A imprensa portuguesa papagueia a «orientação» de Washington, Miami ou Madrid. E vale tudo. Transforma-se um boicote económico que em 20 meses significou perdas de 20 mil milhões de dólares numa incapacidade do governo venezuelano. Não se diz que a Venezuela está a importar três vezes mais do que necessita para comer porque 2/3 são perdidos em ataques de paramilitares e acções de boicote das empresas de distribuição. Fala-se de «caos» mas não se fala dos paramilitares colombianos infiltrados no país, não se mostra as imagens de golpistas a atacar polícias desarmados, nem se refere as declarações de Uribe sobre uma possível agressão militar a partir da Colômbia.»
«4.Denunciamos as contínuas acções desestabilizadoras promovidas pelo imperialismo contra o legítimo e democrático Governo do Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolas Maduro Moros. Rejeitamos categoricamente qualquer declaração intervencionista, desrespeitosa e que viole os princípios do direito internacional, tais como o decreto do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, que classifica a Venezuela como "uma ameaça incomum e extraordinária", ou a intromissão europeia através de recorrentes resoluções no Parlamento Europeu, das recentes declarações da Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, ou de as intervenções de ingerência de representantes e porta-vozes europeus, considerando-as inaceitáveis no quadro do Estado de direito e do multilateralismo e do respeito pelos princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional. Denunciamos estas declarações que, aproveitando-se do desconhecimento da institucionalidade venezuelana, incentivam e promovem elementos anti-democráticos da oposição venezuelana para minar a estabilidade e a paz da Venezuela.
Apoiamos a defesa da democracia participativa, que se promove na Venezuela desde 1999 e rejeitamos, particularmente, a chamada "lei de amnistia", que visa dar cobertura e impunidade à violência terrorista e expressamos a nossa solidariedade e apoio para com o presidente Nicolas Maduro na sua luta contra a guerra económica que se abate sobre o povo venezuelano.»
Os debates que realizados no âmbito desta acção nacional, o conjunto de reuniões e contactos promovidos com os mais diversos sectores e forças sociais e personalidades que estão presentes com a sua intervenção e acção na vida do País, permitiu não apenas realizar uma profunda reflexão sobre os problemas do País e sobre os eixos, os objectivos e as prioridades centrais de uma política alternativa à política de direita, mas igualmente constatar a existência de uma forte vontade de contribuir para encontrar na convergência os caminhos da afirmação de uma solução alternativa e romper com décadas de política de direita.
Este 5º Volume das “Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal”, debruça-se sobre o período que vai de Abril/Maio de 1974 a Dezembro de 1976, contendo documentos únicos para a compreensão do 25 de Abril e do processo contra-revolucionário que se lhe seguiu.
No momento em que escrevemos estas linhas, com risco da própria vida, ouvimos o assobio assassino das balas sobre a cabeça. Vidros estilhaçados saltam por todos os lados, convertidos em milhares de projecteis mortais. E com um bocadinho de imaginação até é possível sentir o trovejar dos canhões não muito longe, ali ao pé da serra. A terra treme. Caracas é um caos. Caracas? Não. A Venezuela! O país arde de Norte a Sul. De Este a Oeste. Estamos à beira da guerra civil!...
Quem se limitar a ver a situação da Venezuela através dos meios de comunicação da burguesia não pode senão acreditar a pés juntos no que acabamos de escrever, que é, diga-se já, uma colossal peta. Uma intrujice que a direita trata de impingir ao mundo – não esqueçamos que 82 jornais da América Latina se confabularam para publicar uma página diária contra o governo bolivariano – para justificar uma intervenção militar que ponha ponto final ao processo revolucionário, na certeza de que ele é a coluna vertebral do grande movimento nacionalista latino-americano que está a pôr termo ao domínio colonial de Washington sobre todo o subcontinente. Washington, enquanto instrumento político e militar ao serviço das grandes multinacionais, está como sempre disposto a tudo, incluindo uma guerra civil, tal como podemos ver hoje, por exemplo na Síria, onde as contas lhe estão a sair furadas mas com uma enorme destruição das infra-estruturas do país.
«Gisella Rubilar Figueroa é uma das mais recentes vítimas provocadas pela extrema-direita que nunca deixou de acariciar a ideia de um golpe desde que Hugo Chávez venceu as eleições de 1998. Dezoito derrotas em dezanove processos eleitoraisnão são suficientes para que as forças negras do fascismo, ao serviço do imperialismo de Washington e da mais rançosa burguesia venezuelana, se convençam de que este não é o seu tempo.»
O que lhes [às forças reacionárias na Venezuela e ao imperialismo] dói (e tudo fazem para silenciar ou escamotear) é que a Revolução venezuelana
mobilize os recursos e a produção do País em prol da satisfação das necessidades do povo;
assegure a prestação de cuidados de saúde;
erradique o analfabetismo e universalize o acesso a todos os níveis de ensino;
promova a informação, o saber, a cultura e as expressões artísticas;
dê resposta progressiva ao acesso a serviços básicos fundamentais, como a electricidade, a água potável ou o saneamento básico, e a uma habitação condigna;
aumente o valor das reformas e o número daqueles que as recebem;
promova e alargue o âmbito da segurança social;
reduza significativamente a pobreza; assegure uma cada vez mais justa redistribuição da riqueza criada;
assegure direitos laborais dos trabalhadores;
diminua de forma expressiva o desemprego;
aumente consecutivamente o salário mínimo;
invista na produção nacional;
nacionalize empresas em sectores estratégicos para a concretização do plano de desenvolvimento económico e social do País;
diminua a dependência externa;
salvaguarde e afirme a sua soberania e independência nacional;
promova e diversifique as suas relações de amizade, de paz e solidariedade com outros países;
ou avance com processos de cooperação de âmbito regional com carácter anti-imperialista, como a ALBA, e processos de afirmação soberana não submetidos ao domínio dos EUA, como a CELAC.
In jornal «Avante!», edição de 17 de Janeiro de 2013
Depois de terem sido obrigados a bater em retirada pelo exército sírio, os grupos armados responsáveis pela violência no país apostam nos atentados terroristas. Paralelamente, emergem novos elementos sobre a ingerência imperialista na Síria e a campanha de intoxicação pública realizada por meios de comunicação árabes e dos EUA com o objectivo de subverter os acontecimentos dos últimos meses no país.
«Face à resistência síria perante a ingerência e a agressão externa e à posição – nomeadamente da Rússia e da China –, de procura de uma solução no respeito da Carta da ONU, os EUA e seus «amigos» tudo fazem para sabotar qualquer iniciativa que procure travar a escalada e as suas consequências para o povo sírio e os povos do Médio Oriente e possibilitar uma solução pacífica e negociada para a situação na Síria.»