Afoto da criança síria que alegadamente sobreviveu a um bombardeamento das forças governamentais encheu as primeiras páginas. Explorando os sentimentos que a foto naturalmente suscita, a campanha mediática adubou o terreno para maiores intervenções das potências imperialistas, responsáveis pela guerra na Síria. Mas em quase total silêncio passou a revoltante história doutra criança na Síria, degolada e decapitada por «rebeldes moderados» financiados e armados pelas potências imperialistas. Os carrascos gravaram orgulhosamente tudo em vídeo (versão legendada em inglês AQUI). No vídeo, os «combatentes pela liberdade» imperialista fazem troça da doença da criança, e quando o infeliz pede para ser morto a tiro e não degolado, afirmam em tom de chacota que «somos piores que o ISIL» e procedem à sua decapitação. A BBC referiu-se ao caso (21.7.16), mas titulando: «Conflito sírio: rapaz decapitado por rebeldes 'era combatente'» o que, convenha-se, mais parece uma tentativa de justificar a barbárie. As histórias das duas crianças têm até uma ligação directa. O fotógrafo da foto que fez manchetes tem também alegres selfies com os carrascos do jovem cuja decapitação não mereceu relevo na comunicação social de regime (off-guardian.org, 23.8.16). No início deste ano, o então ministro da Defesa de Israel, Moshe Ya'alon, deu razões para esta convivência com a barbárie: «Se na Síria a escolha é entre o Estado Islâmico [ISIL] ou o Irão, eu escolho o Estado Islâmico» (Times of Israel, 19.1.16). Há poucos dias, um professor universitário em Israel escreveu que «a continuação da existência do IS[IL] serve um objectivo estratégico. Por que se há-de ajudar o brutal regime de Assad a ganhar a guerra civil Síria?» (besacenter.org, 2.8.16). Os «valores ocidentais» convivem bem com a decapitação de crianças.
Apropaganda bélica é feita de mentiras bem publicitadas. Muitos lembrar-se-ão da campanha em 2014 sobre uma alegada violação de águas territoriais suecas por um «submarino russo». Poucos saberão que no início deste Verão, o ministro da Defesa sueco confessou que «o sinal de sonar, que os militares suecos consideraram o indício crucial da presença dum submarino estrangeiro perto de Estocolmo durante as buscas de 2014, era proveniente dum 'objecto sueco'» (RT, 12.6.16). A campanha serviu no entanto para «justificar um aumento de muitos milhões de dólares nas despesas militares» e para promover a adesão da Suécia à NATO. Também o Ministério da Defesa britânico acabou por reconhecer (em resposta à Câmara dos Comuns, HCWS177, 7.9.15) que os danos a uma embarcação de pesca no Mar da Irlanda em Abril de 2015 não tinham sido, como a comunicação social na altura se encarregou de repetir, obra dum submarino russo, mas sim «dum submarino do Reino Unido». Mas, tal como na recente ilibação de Milosevic, a comunicação social de regime não encontra espaço para desmentir as falsas informações das suas manchetes.
Talvez pelas contradições nas negociações do TTIP, a revista alemã Der Spiegel (28.7.16) também se queixa das mentiras de guerra. Acusa «uma rede clandestina de agitadores ocidentais, em torno do dirigente militar da NATO [General Breedlove], de alimentar o conflito na Ucrânia», através de «fontes duvidosas» que «exageram as actividades russas». Como diz o ditado, quando se zangam as comadres, sabem-se (algumas) verdades. No fim, o artigo diz que «a saída do General Breedlove do seu cargo na NATO não acalmou ninguém […] A provável sucessora [de Obama], a democrata Hillary Clinton, é considerada da linha dura face à Rússia. Mais: [Victoria] Nuland, uma diplomata que partilha muitos dos mesmos pontos de vista de Breedlove, poderá vir a ocupar um lugar ainda mais importante após as eleições de Novembro [como] ministro dos Negócios Estrangeiros». A guerra é indissociável do imperialismo. E as mentiras são indissociáveis da propaganda de guerra.
Em apenas uma semana, os EUA levaram a cabo dois testes de lançamento com mísseis balísticos intercontinentais capazes de atacar qualquer parte do globo com uma bomba nuclear 60 vezes mais destrutiva do que a infame «Little Boy» de Hiroxima. Os ensaios, executados no final de Fevereiro a partir de um «bunker» subterrâneo na Califórnia, completam uma lista de outras 15 provocações semelhantes que, desde 2011, procuram arrastar a Rússia e a China para uma tão insensata como imprevisível espiral de loucura belicista.
«Moscovo escolheu ser um adversário e representa, a longo prazo, uma ameaça existencial para os EUA (…). Os EUA e a NATO têm que fazer uma mudança de estratégia e garantir que estamos a usar todos os elementos do poder da nossa nação, incluindo o nuclear». A frase poderia ser do doutor Strangelove, o sinistro cientista que no filme homónimo de 1964 começa, por capricho, o holocausto nuclear. A realidade ultrapassa, contudo, a ficção: as declarações são do general Breedlove, comandante da NATO na Europa e chefe do Comando Europeu dos EUA.
Justificando os exercícios militares perante o Comité dos Serviços Armados do Congresso, Philip Breedlove não poupou no que considera ser o «expansionismo» russo e chinês. «O Comando Europeu está preparado para, em conjunto com os nossos aliados e parceiros, deter a Rússia. Estamos a preparar-nos para, se necessário, lutar e vencer», vincou o general. No mesmo sentido, o vice-secretário de Estado da Defesa, Robert Work, confirmou entretanto os dois últimos exercícios militares como um «sinal de que os EUA estão preparados para usar armas nucleares em defesa da nação».
Reagindo à afronta, o ministro russo da Defesa, Sergey Shoygu, preferiu desdramatizar, recordando a sazonalidade das provocações sempre que, nos EUA, se discute o orçamento federal para a Defesa. «É uma maré que se levanta todos os anos», contextualizou.
A máquina apocalíptica
A ameaça de uma guerra nuclear já passou, pelo menos, das palavras aos dólares. Durante a actual administração, a Casa Branca pôs em marcha um programa de modernização do arsenal nuclear orçamentado na fabulosa quantia de um trilião de dólares, 9,2 mil milhões dos quais deverão ser gastos, já em 2017, na aquisição de bombardeiros, mísseis e submarinos nucleares. Este investimento público ambiciona permitir, a título de exemplo, a substituição dos obsoletos Minuteman por novos mísseis com até três ogivas atómicas e o desenvolvimento de novas tecnologias que possam ultrapassar o poder destrutivo do nuclear. No mesmo sentido, e sob a capa de acusações à Rússia, os EUA somam pressão para que a NATO assuma uma postura mais radical sobre o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, agilizando assim a utilização das cerca de cinco mil ogivas nucleares dos EUA, o maior arsenal do mundo.
Mas para Breedlove isto não basta: o comandante das forças armadas dos EUA estacionadas no Velho Continente reclama um brutal reforço da presença militar norte-americana nos estados do Báltico e do Leste europeu para cercar e desmembrar a Federação Russa. Trata-se, com efeito, admite um estudo recente do exército dos EUA, de uma «dramática mudança de paradigma de segurança (…) que exige uma reavaliação de todo o espectro de medidas necessárias aos EUA para melhor prevenir semelhantes actos de aventureirismo russo».
Com este propósito, o European Reassurance Initiative (Iniciativa de Garantia Europeia, na tradução portuguesa) estabelece, para 2016, uma rotação contínua das unidades de combate que custará mais de 3,4 mil milhões de dólares: o quádruplo do valor gasto em 2015. A «força de reacção rápida» de Breedlove tem já a capacidade de mobilizar 40 mil soldados dos EUA para o combate na fronteira russa, podendo este número ascender a 45 mil até ao final do ano.
Neste quadro, os satélites europeus dos EUA aparecem tratados como verdadeiras rampas de lançamento. Num bizarro documento divulgado na passada sexta-feira e intitulado «Aliança em risco: reforçar a segurança europeia», a NATO encomenda mudanças políticas e deixa conselhos de guerra a cada Estado membro. Se, no capítulo dispensado à Alemanha, a NATO lamenta o «sentimento antimilitarista» daquele povo e convida «líderes e comentadores políticos a convencer e educar a população sobre a importância de uma postura de Defesa mais forte», para estados mais a Leste, como a Polónia, a receita é diferente. Na secção polaca, redigida por Tomasz Szatkowski, subsecretário de Estado no ministério da Defesa daquele país, é proposto que a Polónia se converta num «bloqueio não-nuclear à Rússia». Para tal, deve armar-se com «mísseis e ogivas mais poderosos, mísseis continentais, novos tipos de armamento (tecnologia micro-ondas, por exemplo), capacidade de ofensiva cibernética e Forças de Operações Especiais orientadas para a subversão».
Em Strangelove, Stanley Kubrick troçava da loucura dos generais capazes de equacionar a hipótese de pressionar o infame botão da Máquina Apocalíptica, um dispositivo capaz de aniquilar a vida humana na terra. Breedlove, que faria Strangelove corar de vergonha, carregaria três vezes.
«Não é uma novidade, mas tem interesse esta nova confirmação documental do modo como o imperialismo norte-americano se ingere, manipula, conspira e coloca os seus peões no tabuleiro em relação a Estados que se suporia soberanos e a instituições como a ONU.» José Goulão
A frase assassina de Victoria Nuland, subsecretária de Estado norte-americana para a Europa e a Euroásia, «fuck the EU» é ao minuto 3. Mas este vídeo, colocado no YouTube em Fevereiro de 2014, é todo ele um verdadeiro tratado de política internacional versão Estados Unidos da América.
Convém recordar, como o faz John Pilger, que desde 1945, mais de um terço dos membros das Nações Unidas – 69 países – foram invadidos, os seus governos foram derrubados, os movimentos populares suprimidos, as eleições subvertidas, as populações bombardeadas e as economias despojadas de toda a protecção, as sociedades sujeitas a um cerco debilitante designado por "sanções". Em todas as situações, foi montada uma enorme mentira.
Ucrânia:
A administração Obama gastou cinco mil milhões de dólares num golpe contra o governo eleito.
Os seus líderes incluíam Oleh Tyahnybok, que apelou a um expurgo da "máfia moscovita-judaica" e "outra escumalha", incluindo homossexuais, feministas e os da esquerda política.
O primeiro presidente do parlamento ucraniano, Andriy Parubiy, líder do partido do governo, é cofundador da organização fascista Svoboda.
O comandante da NATO, general PhilipBreedlove anunciou que estavam a "reunir-se" 40 mil soldados russos. Na era de provas forenses por satélite, não apresentou nenhuma...
A 29 de Janeiro, o supremo comandante militar da Ucrânia, o general Viktor Muzhemko, quase destruiu inadvertidamente a base das sanções dos EUA e da UE à Rússia, quando disse enfaticamente numa conferência de imprensa: «O exército ucraniano não está a combater contra unidades regulares do Exército russo».
A nova ministra das Finanças de Kiev, Natalie Jaresko, é uma antiga funcionária sénior do Departamento de Estado dos EUA, encarregada do "investimento" dos EUA no ultramar. Foi-lhe concedida à pressa a cidadania ucraniana.
O filho do vice-presidente Joe Biden faz parte da administração da maior empresa de petróleo, de gás e de refinação da Ucrânia.