Pires de Lima, o senhor que ainda está de ministro da Economia, considerou que seria uma «obscenidade política» que o próximo Governo venha a ser liderado pelo PS, através de uma coligação de esquerda, afirmando que «quem perde as eleições não pode governar o país».
«O comandanteAlpoim Calvão, o operacional que comandou a "operação Mar Verde" durante a guerra colonial na Guiné, recebeu ontem "a única medalha que não tinha" das mãos do comandante do Corpo de Fuzileiros.
"Acertámos contas com a justiça", cuja celeridade "levou 41 anos" a ser feita com a imposição da Medalha de Comportamento Exemplar, declarou o contra-almirante Luís Picciochi, nas cerimónias do "Dia do Fuzileiro" que ontem decorreram na Escola de Fuzileiros (Vale de Zebro, Barreiro).
Alpoim Calvão, que na sua brilhante folha de serviços (...)»
Mas quem é este Alpoim Calvão?, perguntarão os mais novinhos. Para responder a esta pergunta deixemos o próprio falar do seu «comportamento exemplar» e da «sua brilhante folha de serviços», em entrevista ao «Público» já lá vão uns anos:
«Havia também contactos com o CDS e com o próprio PS, mas a minha função do MDLP sempre foi essencialmente operacional...
(...)
... deslocava-me dentro do país, organizava as células, o MDLP chegou a ter uma estrutura complicada: um directório presidido pelogeneral Spínola; um Gabinete Político onde estavam oJosé Miguel Júdice, o José Vale Figueiredo, o Luís Sá Cunha, entre outros. E uma organização operacional composta peloGilberto Santos e Castro, pelo tenente coronel Pires de Lima e por mim próprio.
(...)
R-Aliámos o povo do norte, já que a rapaziada do Alentejo andava na euforia da reforma agrária.
P- Quem é o povo do norte?
R-É toda a gente, desde a Igreja a milhares de pessoas...
R-Sim, o cónego Melofoi uma pedra chave em toda esta movimentação.
P- Quem incendiou as sedes do PC no norte?
R-Havias já algumas outras movimentações no terreno. Por exemplo, havia um pirata chamado Paradela de Abreu, mas que era um pirata útil. E a ligação do seu movimento- "Maria da Fonte"- connosco, era feita pelo engenheiroJorge Jardim, por quem eu tinha consideração e admiração. Houve assim alguns movimentos como este que se juntaram a nós e chegou a haver 10, 15, 20 mil pessoas como aconteceu em Braga e noutros sítios. Quando os da Dinamização Cultural chegavam a certas aldeias encontravam 50 burros à espera deles e a aldeia deserta... Incendiaram-se as sedes, reagiu-se... Gerou-se assim uma vaga de fundo em que uns entravam pelo rés-de-chão e os outros, saiam a voar pelo primeiro andar. Mas em muitas sedes os comunistas defenderam-se a tiro de caçadeira... Seja como for, arranjou-se muita gente o que explica que, a dada altura, o MDLP tivesse logrado uma certa expressão e importância.
(...)
Apareceram aí umas bombas que ninguém mandou pôr...
P- Já depois do 25 de Novembro?
R-Sim. Antes disso, podem dizer que fui eu quem as mandou pôr, a todas, que eu não desminto. Depois disso, nem uma! Bem, as coisas foram-se resolvendo pelo tempo e pelo diálogo, embora, dentro daquilo que restava do MDLP, houvesse ainda quem continuasse a pôr bombas quase por profissão... Já não tive nada a ver com isso.»
Se Alpoim Calvão teve ou não teve a ver com isso é outra estória. Vejamos mais alguns dados sobre o seu «comportamento exemplar» e a «sua brilhante folha de serviços»:
«Na noite de 4 de Outubro de 1975 Alpoim Calvão aproveitou as 11 horas que passou escondido no telhado do Seminário de São Tiago, em Braga, para... dormir. Pelo menos é o que conta o principal comandante operacional do movimento inspirado porSpínolano livro De Conakry ao MDLP (Ed. Intervenção), ao descrever o cerco feito por forças do Regimento de Infantaria de Braga, que conseguiram capturar o major Mira Godinho e o major-tenente Benjamim de Abreu, mas não descobriram o vulto mais procurado das redes bombistas de direita.Nos barrotes do sótão, o militar medalhado cujo nome terá sido apontado para chefiar a PIDE/DGS antes do 25 de Abril haveria de se voltar a encontrar com outro dos convivas no denunciado almoço em que o anfitrião era o cónego Melo - Paradela de Abreu, o fundador do movimento Maria da Fonte (espécie de compagnon de route do MDLP), anotou este outro conspirador em Do 25 de Abril ao 25 de Novembro (Ed. Intervenção).»