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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

Luís Veiga Leitão: Manhã

Luis Veiga Leitao3

 

Manhã

Bom dia. Diz-me um guarda.

Eu não ouço...apenas olho

das chaves o grande molho

parindo um riso na farda.

 

Vómito insuportável de ironia

Bom dia, porquê bom dia?

 

Olhe, senhor guarda

(no fundo a minha boca rugia)

aqui é noite, ninguém mora,

deite esse bom dia lá fora

porque lá fora é que é dia!

Luís Veiga Leitão

 

José Gomes Ferreira: Todos os punhais

Jose Gomes Ferreira_caricatura

 
Desenho de Fernando Campos (o sítio dos desenhos)

 

Todos os punhais

Todos os punhais que fulgem nos gritos,

Todas as fomes que doem no pão

Todo o suor que luz nas estrelas

Todas as lanças nos dedos da reza,

Todos os soluços para ressuscitar os filhos mortos,

Todos os desejos nos alçapões do frio,

Todas as jóias nos pescoços dos espelhos rachados

Todos os assassinos que andaram aos colo das mães,

Todos os atestados de pobreza com lágrimas de carimbo,

Todos os murmúrios do sol no quarto ao lado à hora da morte…

 

Tudo, tudo, tudo

Se condensou de repente

Numa nuvem negra de milhões de lágrimas

A humilharem-me de ternura

– eu que quero ser alheio, duro, indiferente…

 

…. Enquanto os outros dançam, cantam, bebem,

vivem, amam, riem, suam

neste pobre planeta

magoado das pedras e dos homens

onde cresceu por acaso o meu coração no musgo

aberto para a consciência absurda

deste remorso sem sentido.

José Gomes Ferreira

 

Ay Carmela!

Guerracivilespanhola_Avt

As canções dos revolucionários são a banda sonora da História, desde a Revolução Francesa à Unidade Popular do Chile, da Revolução de Outubro à de Abril, aqui connosco.

Desta Espanha aqui ao lado, houve um tempo em que soprou bom vento (bons casamentos sempre os houve), enchendo de entusiasmo popular a bandeira tricolor da República. E de canções. O golpe foi profundo para uma Europa capitalista em perda dos impérios coloniais e a ver sair às ruas os ideais do socialismo e do comunismo. Então, como agora, o Capital não se deitou a dormir e, como sempre quando se levanta o sopro da tal «terra sem amos», armou-se fascismo e caiu com a máxima violência em cima da República de Espanha e dos republicanos do mundo inteiro. No Alentejo dos nossos dias ainda há quem se lembre daquele tempo de maus ventos mas bons casamentos – os republicanos fugidos aos fascistas de Franco para a protecção das gentes de Ficalho e de outros lugares de consciência colectiva, a PIDE a entregar os que encontrava aos pelotões de fuzilamento.

«Ay Carmela!» permaneceu símbolo desse tempo, memória já de si memória de outro tempo em que a Espanha se defendia dos exércitos de Napoleão e a canção se chamava «El Paso del Ebro» ou «El Ejército del Ebro». O texto original cedia por vezes o lugar ao de «Viva la Quince Brigada», com palavras de homenagem à Brigada de combatentes comunistas da Guerra Civil. Fosse com que letra fosse esta era uma das canções da República Espanhola, por quem deram a vida milhares de espanhóis e de revolucionários de todo o mundo nos anos em que a Espanha era a trincheira antifascista da Europa Ocidental. Eram estas as palavras:

 

Ay Carmela!

 

El Ejército del Ebro/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Una noche el río pasó,/ ¡Ay, Carmela, ay, Carmela!/ Y a las tropas invasoras/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Buena paliza les dio,/ ¡Ay, Carmela, ay, Carmela!/  

El furor de los traidores/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Lo descarga su aviación,/¡Ay, Carmela, ay, Carmela!/ Pero nada pueden bombas/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Donde sobra corazón,/ ¡Ay, Carmela, ay, Carmela!/

Contrataques muy rabiosos/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Deberemos combatir,/ ¡Ay, Carmela, ay, Carmela!/ Pero igual que combatimos/ ¡Rumba la rumba la rum bam bam!/ Prometemos resistir,/ ¡Ay, Carmela, ay, Carmela!//

 

Para ver e ouvir «Ay Carmela!»:

 

 

 

Estranhos frutos nas árvores do Sul

Nesse ano de 1936, em que Meeropol escreveu o poema «Fruta amarga», calcula-se em quase 200 o número de negros assassinados como resultado do sistema racista. Só nos primeiros seis meses de 2016, 125 negros morreram às mãos da polícia, muitos deles em circunstâncias que, de Philando e Alton, diferem apenas no local, na hora ou no número de tiros. O que nos diria hoje o poeta? O mesmo que um dia adoptou os filhos do casal de comunistas Julius e Ethel Rosenberg, executados na cadeira eléctrica?

 

Billie_Holiday5

 

Publicado neste blog:

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

Sonetos

 

adaptado de um e-mail enviado pelo Cid

 

12 de Março de 1572 – Publicação de Os Lusíadas

Luís Camões2

O poema épico de Luís de Camões, escrito numa época em que Portugal e a Espanha dividiam o mundo e em que o latim era a língua dos eruditos, constitui não só a exaltação dos feitos dos portugueses com os Descobrimentos, mas também a elevação da língua pátria – o português – ao nível da epopeia marítima.

Publicada 70 anos depois da descoberta do caminho marítimo por Vasco da Gama, a obra, dedicada a D. Sebastião, imortaliza os momentos marcantes da História de Portugal segundo as regras e convenções da epopeia clássica, que Camões enriquece com a sua imensa criatividade, como quando coloca os heróis portugueses em confronto com os deuses, atribuindo-lhes uma condição divina.

Uma característica fundamental do poema é de resto a existência de um herói colectivo – o povo português – que o poeta canta no «peito ilustre lusitano». Dividida em dez cantos, o maior poema épico da língua portuguesa é internacionalmente reconhecido como uma obra prima e está traduzido em várias línguas, do chinês ao russo.

AQUI

 

Publicado neste blog:

 

Álvaro de Campos: Ora porra!

Fernando Pessoa _caricatura

Fernando Pessoa _caricatura1

Desenho de Fernando Campos (o sítio dos desenhos)
 

Ora porra!


Ora porra!

Então a imprensa portuguesa é

que é a imprensa portuguesa?

Então é esta merda que temos

que beber com os olhos?

Filhos da puta! Não, que nem

há puta que os parisse.

 

Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 22.

adaptado de um e-mail enviado pelo Cid

 

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