Entre 2000 e 2006, os lucros das empresas e os rendimentos do capital na Alemanha registaram um aumento médio de 42%. Ao mesmo tempo, de acordo com um relatório do Ministério do Trabalho germânico, os salários apenas evoluíram 4,5%, ou seja, nem sequer acompanharam o ritmo da inflação. No passado, dia 28 de Novembro, o poderoso construtor automóvel Porsche anunciou que as remunerações dos administradores do grupo aumentaram para mais do dobro em consequência dos resultados recorde da marca obtidos neste ano. Assim, osseis membros do concelho de administração vão embolsar 112,7 milhões de euros, contra «apenas» 45,2 milhões de euros que receberam em 2006. O aprofundamento das desigualdades na sociedade alemã tem sido tão gritante nos últimos anos que o próprio presidente do país, Hörst Köhler, cristão-democrata e antigo director do Fundo Monetário Internacional, viu-se obrigado a vir a público, quinta-feira, 29, para apelar ao bom-senso dos empresários e ao seu sentido de responsabilidade. Numa entrevista ao diário Handelsblatt, Köhler manifestou-se preocupado com a «crispação entre as empresas e a sociedade» e alertou os altos dirigentes que «devem compreender que a sua atitude tem consequências sobre a coesão social». Neste sentido, o chefe de Estado exortou os conselhos de vigilância e os accionistas a se assegurarem de que «os gestores não percam o sentido de comedimento nas suas pretensões salariais». Isto porque, segundo previne Köhler, há no seio da sociedade «um sentimento compreensível de que algo não está bem quando o rendimento de uns aumenta fortemente, enquanto o dos outros estagna».
Refira-se ainda que a Alemanha não dispõe de um salário mínimo nacional, sendo as tabelas salariais fixadas por negociação em cada sector.