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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

«Revolução e mulheres», de Maria Velho da Costa

Texto de Maria Velho da Costa lido por Fernanda Lapa, Lucinda Loureiro, Maria João Luís, Cucha Carvalheiro, Marina Albuquerque, Marta Lapa e Luísa Ortigoso

 

1. RECONSTITUIÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça. Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os currais. Elas acendem o lume. Elas migam hortaliça. Elas desencardem o fundo dos tachos. Elas passajam meias e calças e camisas e outra vez meias. Elas areiam o fogão com palha de aço. Elas calcorreiam a cidade a pé e à chuva porque naquele bairro os macacos são caros. Elas correm esbaforidas para não perder o comboio, o barco. Elas pousam o cesto e abrem a porta com a mão vermelha. Elas põem a tranca no palheiro. Elas enterram o dedo mínimo na galinha a ver se tem ovo. Elas acendem o lume. Elas mexem o arroz com um garfo de zinco. Elas lambem a ponta do fio de linha para virar a camisa. Elas enchem os pratos. Elas pousam o alguidar na borda da pia para aguentar. Elas arredam a coberta da cama. Elas abrem-se para um homem cansado. Elas também dormem.

 

2. REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

Elas vão à parteira que lhes diz que já vai adiantado. Elas alargam o cós das saias. Elas choram a vomitar na pia. Elas limpam a pia. Elas talham cueiros. Elas passam fitilhos de seda no melhor babeiro. Elas andam descalças que os pés já não cabem no calçado. Elas urram. Elas untam o mamilo gretado com um dedal de manteiga. Elas cantam baixinho a meio da noite a niná -lo para que o homem não acorde. Elas raspam as fezes das fraldas com uma colher romba. Elas lavam. Elas carregam ao colo. Elas tiram o peito para fora debaixo de um sobreiro. Elas apuram o ouvido no escuro para ver se a gaiata na cama ao lado com os irmãos não dá por aquilo. Elas assoam. Elas lavam joelhos com água morna. Elas cortam calções e bibes de riscado. Elas mordem os beiços e torcem as mãos, a jorna perdida se o febrão não desce. Elas lavam os lençois com urina. Elas abrem a risca do cabelo, elas entrançam. Elas compram a lousa e o lápis e a pasta de cartão. Elas limpam rabos. Elas guardam uma madeixita entre d.ois trapos de gaze. Elas talham um vestido de fioco para uma boneca de papelão escondida debaixo da cama. Elas lavam as cuecas borradas do primeiro sémen, do primeiro salário, da recruta. Elas pedem fiado popeline da melhor para a camisa que hão-de levar para a França, para Lisboa. Elas vão à estação chorosas. Elas vêm trazer uin borrego à primeira barraca e ao primeiro neto. Elas poupam no eléctrico para um carrinho de corda.

 

Maria Velho da Costa.jpg

 

3. PRODUÇÃO

Elas sobem para cima de um caixote, que ainda são pequenas para chegar à bancada de descarnar o peixe. Elas mondam, os dedos tolhidos de frieira e urtiga. Elas fazem descer a lâmina de cortar o coiro. Elas sopram nos dedos a aquecê-los, esfregam os olhos, voltam a pôr as mãos por detrás da lente a acertar os fios da matriz do transistor. Elas espremem as tetas da vaca para o balde apertado entre as pernas. Elas fecham num dia as pregas de papel de mil pacotes de bolacha. Elas acertam em duzentos casacos a postura da manga onde cravar o botão. Elas limpam o suor da testa com a manga e a foice rebrilha ao sol por cima da cabeça e da seara. Elas ouvem a matraca de dez teares enquanto a peça cresce diante, o fio amandado de braço a braço aberto. Elas cortam os dedos nas primeiras vinte cinco latas até calejar bem. Elas fazem a agulha passar para cá e lá em cruz na tela do tapete. Elas vigiam a última fieira de garrafas, caladas, à espera da sirene. Elas carregam o cesto de azeitona à cabeça já sem cantar, até que o sol se ponha.

 

4. SERVIÇOS

Elas carregam no botão da caixa e fazem quinhentos trocos miúdos. Elas metem a cavilha, dizem outro número e passam a vigésima chamada. Elas mexem panelões que lhes chegam à cinta. Elas descem doze caixotes de lixo já noite fechada. Elas fazem todas as camas e despejos de uma família alheia. Elas picam bilhetes metidas numa caixa de vidro. Elas batem à máquina palavras que não entendem. Elas arquivam por ordem alfabética duas mil fichas e vinte e cinco ofícios. Elas vão outra vez buscar a gaveta das luvas para o balcão a ver se há aquele verde. Elas aspiram do pó antes das nove doze assoalhadas, e cento e dez degraus de alcatifa. Elas entram na praça manhã cedo, já vindas do lota ajoujadas com o peixe para as bancadas. Elas acertam as bainhas de joelhos, a boca cheia de alfinetes. Elas põem trinta e duas arrastadeiras e tiram sessenta temperaturas. Elas pintam unhas de homem. Elas guardam sanitas e fazem renda em pequenos cubículos sem janela.

 

Maria Velho da Costa_caricatura.png

 

5. TRANSMISSÃO DE IDEOLOGIA

Coisas que elas dizem:

— Se mexes aí, corto-ta.
— Isso não são coisas de menina.
— O meu homem não quer.
— Estuda, que se tiveres um empregozinho sempre é uma ajuda.
— A mulher quer-se é em casa.
— Isto já vai do destino de cada um.
— Deus não quiz.
— Mas o senhor padre disse-me que assim não.
— Dá um beijinho à senhora que é tão boazinha para a gente.
— Você sabe que eu não sou dessas.
— Estás a dar cabo do teu futuro com uns e com outros.
— Deixa-te disso, o que é preciso é sossego e paz de espírito.
— Comprei uns jeans bestiais, pá.
— Sempre dá para uma televisão daquelas novas.
— Cada um no seu lugar.
— Julgas que ele depois casa contigo?
— Sempre há-de haver pobres e ricos.
— Se tu gostasses de mim não andavas com aquela cabra a gastar o nosso.
— Põe o comer ao teu irmão que está a fazer os trabalhos.
— Sempre é homem.

 

6. PRODUÇÃO DE DESEJO

Elas olham para o espelho muito tempo. Elas choram. Elas suspiram por um rapaz aloirado, por duas travessas para o cabelo cravejadas de pedrinhas, um anel com pérola. Elam limpam com algodão húmido as dobras da vagina da menina pensando, coitadinha. Elas escondem os panos sujos de sangue carregadas de uma grande tristeza sem razão. Elas sonham três noites a fio com um homem que só viram de relance à porta do café. Elas trazem no saco das compras uma pequena caixa de plástico que serve para pintar a borda dos olhos de azul. Elas inventam histórias de comadres como quem aventura. Elas compram às escondidas cadernos de romances em fotografias. Elas namoram muito. Elas namoram pouco. Elas não dormem a pensar em pequenas cortinas com folhos. Elas arrancam os primeiros cabelos brancos com uma pinça comprada na drogaria. Elas gritam a despropósito e agarram-se aos filhos acabados de sovar. Elas andam na vida sem a mãe saber, por mais três vestidos e um par de botas. Elas pagam a letra da moto ao que lhes bate. Elas não falam dessas coisas. Elas chamam de noite nomes que não vêm. Elas ficam absortas com a mola da roupa entre os dentes a olhar o gato sentado no telhado entre as sardinheiras. Elas queriam outra coisa.

 

Cravo.jpg

 

7. REVOLUÇÃO

Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Eles foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram faltar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de ver o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro urna cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.

 
Dezembro 1975
Maria Velho da Costa, Cravo, Lisboa, Moraes Editores, 1975
 

31 de Outubro de 1902 – Nasce Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, o consagrado poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade é justamente considerado como um dos principais representantes da literatura do Brasil do século XX.

Inicia os estudos em Belo Horizonte e aos 16 anos vai estudar com os jesuítas no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

Apesar de bom aluno, é expulso por mau comportamento e «insubordinação mental», por discordar de um professor durante a aula.

Colabora no Diário de Minas, de que chega a ser Chefe de Redacção, e integra o movimento modernista em formação, que mais tarde o leva a conhecer os modernistas paulistas Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Blaise Cendrars.

O ingresso no serviço público como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação – cargo de que se demite em protesto contra a ditadura de Getúlio Vargas – não o afasta da escrita.

Data dessa época a obra «Rosa do Povo» (Uma flor nasceu na rua!/ Passem de longe, bondes, ónibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto...).

Empenhado política e socialmente, Drummond de Andrade afirma-se como o poeta mais influente da literatura brasileira do seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

AQUI

 

Nicolás Guillén / Paco Ibañez: Guitarra en duelo mayor (Soldadito Boliviano)

GUITARRA EN DUELO MAYOR

I

Soldadito de Bolivia,
soldadito boliviano,
armado vas con tu rifle,
que es un rifle americano,
soldadito de Bolivia,
que es un rifle americano.

II

Te lo dio el señor Barrientos,
soldadito boliviano,
regalo de mister Johnson,
para matar a tu hermano,
para matar a tu hermano,
soldadito de Bolivia,
para matar a tu hermano.

III

¿No sabes quien es el muerto,
soldadito boliviano?
El muerto es el Che Guevarra,
y era argentino y cubano,
soldadito de Bolivia,
y era argentino y cubano.

IV

El fue tu mejor amigo,
soldadito boliviano,
el fue tu amigo de a pobre
del Oriente al altiplano,
del Oriente al altiplano,
soldadito de Bolivia,
del Oriente al altiplano.

V

Esta mi guitarra entera,
soldadito boliviano,
de luto, pero no llora,
aunque llorar es humano,
aunque llorar es humano,
soldadito de Bolivia,
aunque llorar es humano.

VI

No llora porque la hora,
soldadito boliviano,
no es de lagrima y pañuelo,
sino de machete en mano,
sino de machete en mano,
soldadito de Bolivia,
sino de machete en mano.

VII

Con el cobre que te paga,
soldadito boliviano,
que te vendes, que te compra,
es lo que piensa el tirano,
es lo que piensa el tirano,
soldadito de Bolivia,
es lo que piensa el tirano.

VIII

Despierta, que ya es de día,
soldadito boliviano,
esta en pie ya todo mundo,
porque el sol salió temprano,
porque el sol salió temprano,
soldadito de Bolivia,
porque el sol salió temprano.

IX

Coge el camino derecho,
soldadito boliviano;
no es siempre camino fácil,
no es fácil siempre ni llano,
no es fácil siempre ni llano,
soldadito de Bolivia,
no es fácil siempre ni llano.

X

Pero aprenderás seguro,
soldadito boliviano,
que a un hermano no se mata,
que no se mata a un hermano,
que no se mata a un hermano,
soldadito de Bolivia,
que no se mata a un hermano.

In Poemas de Nicolás Guillén 

Nicolas Guillen / Paco Ibañez

Para ver e ouvir Paco Ibañez a cantar «Guitarra en duelo mayor (Soldadito Boliviano)» de Nicolas Guillen:

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                     

Nicolás Guillén / Emilio Grenet: Tú no sabe inglé

TÚ NO SABE INGLÉ


guajira, son cubano

 

Con tanto inglé que tú sabía,

Vito Manué,

con tanto inglé no sabe ahora

decir ye;

La americana te busca,

y tú la tienes que huir.

 

Con tanto inglé que tú sabía,

Vito Manué,

con tanto inglé no sabe ahora

decir ye;

La americana te busca,

y tú la tienes que huir.

 

La americana te busca,

y tú la tienes que huir.

Tu inglé era detrai guan,

detrai guan y guan tu tri.

 

Tú no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé.

Tú no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé.

 

No te enamore más nunca,

Vito Manué, si no sabe inglé

 

Si no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé,

tú no sabe inglé, Vito Manué,

tú no sabe inglé.

Nicolas Guillen / Emilio Grenet

Para ver e ouvir várias interpretações da «Tú no sabe inglé» de Nicolas Guillen:

  • "Vito Manué". Poema de Nicolás Guillén, Cantado por Ignacio Villa (Bola de Nieve)

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

Nicolás Guillén / Amaury Pérez: Soneto

Soneto


Cerca de ti, ¿por qué tan lejos verte?
¿Por qué noche decir, si es mediodía?
Si arde mi piel, ¿por qué la tuya es fría?
si digo vida yo, ¿por qué tú muerte?
 
Ay, ¿por qué este tenerte sin tenerte?
Este llanto ¿por qué, no la alegría?
¿Por qué de mi camino te desvía
quién me vence tal vez sin ser más fuerte?
 
Silencio. Nadie a mi dolor responde.
Tus labios callan y tu voz se esconde.
¿A quien decir lo que mi pecho siente?
 
A ti, François Villón, poeta triste,
lejana sombra que también supiste
lo que es morir de sed junto a la fuente.

Nicolás Guillén / Amaury Pérez

Para ouvir Amaury PérezAna Belén a interpretar «Soneto» de Nicolas Guillen clicar AQUI e AQUI

Para Ver:

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

Nicolás Guillén / Quilapayún: La muralla

LA MURALLA


Para hacer esta muralla,
tráiganme todas las manos:
Los negros, su manos negras,
los blancos, sus blancas manos.
Ay,
una muralla que vaya
desde la playa hasta el monte,
desde el monte hasta la playa, bien,
allá sobre el horizonte.

—¡Tun, tun!
—¿Quién es?
—Una rosa y un clavel...
—¡Abre la muralla!
—¡Tun, tun!
—¿Quién es?
—El sable del coronel...
—¡Cierra la muralla!
—¡Tun, tun!
—¿Quién es?
—La paloma y el laurel...
—¡Abre la muralla!
—¡Tun, tun!
—¿Quién es?
—El alacrán y el ciempiés...
—¡Cierra la muralla!

Al corazón del amigo,
abre la muralla;
al veneno y al puñal,
cierra la muralla;
al mirto y la yerbabuena,
abre la muralla;
al diente de la serpiente,
cierra la muralla;
al ruiseñor en la flor,
abre la muralla...

Alcemos una muralla
juntando todas las manos;
los negros, sus manos negras,
los blancos, sus blancas manos.
Una muralla que vaya
desde la playa hasta el monte,
desde el monte hasta la playa, bien,
allá sobre el horizonte...
 

Nicolas Guillen / Quilapayun

Para ver e ouvir várias interpretações da «La muralla» de Nicolas Guillen:

  • "La muralla". Poema de Nicolás Guillén, Cantado por Ana Belén

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

ALLÁ LEJOS...

ALLÁ LEJOS...

 

Cuando yo era muchacho

(hace, ponga el lector cincuenta años)

había gentes grandes e ingénuas

que se asustaban con una tángana callejera

o una bulla de tragos

en un bar.  Eran las que exclamaban:

– ¡Dios mío, qué dirán los americanos!

Para algunos,

ser yanqui en aquella época

era como ser casi sagrado:

la enmienda Platt, la intervención

armada, los acorazados.

Entonces no era presumible

lo que es hoy pan cotidiano:

el secuestro de un coronel

gringo al modo venezolano;

o el de cuatro agentes provocadores,

como en Bolivia han hecho nuestros hermanos;

ni los definitivos barbudos de la Sierra, claro.

 

Hace cincuenta años,

nada menos que en la primera plana de los diarios

aparecían las últimas noticias del beísbol

venidas de Nueva York.

¡Qué bueno! ¡El Cincinnati le ganó al Pittsburg,

y el San Luis al Detroit!

(Compre la pelota marca «Reich», que es la mejor).

 

Johnson, el boxeador,

era nuestro modelo de campeón.

 

Para los niños, la Castoria de Fletcher

constituía el remedio indicado

en los casos (rebeldes)

de enteritis o indigestión.

 

Un periódico

entre sus adelantos incluyó

una página diaria, en inglés, para los yanquis:

«A cuban-american paper

with the news of the world».

 

Nada como los zapatos Walk-Over

y las píldoras del Dr. Ross.

 

El jugo de la pina criolla

no fue más

el de ananás:

la Fruit Juice Company

dijo que era «huelsencamp».

 

Viajábamos por la Munson Line hasta Mobila,

por la Southern Pacific hasta Nueva Orleans,

por la Ward Line hasta Nueva York.

Había Nick Carter y Búfalo Bill.

Había el recuerdo inmediato grasiento esférico de Magoon,

gangster obeso y gobernador,

entre ladrones y ladrones, el Ladrón.

Había el American Club.

Había el compuesto vegetal de Lidia E. Pinkham.

Había el Miramar Garden

(con lo fácil que es jardín en español).

Había la Cuban Company para viajar en tren.

Había la Cuban Telephone.

Había un tremendo embajador.

Y sobre todo, ¡cuidado,

que van a venir los americanos!

(Otras gentes que no eran tan ingenuas

solían decir:

¡Anjá! Conque ¿van a venir,

no están aquí?).

 

De todos modos,

ellos si que eran grandes,

fuertes,

honestos a más no pedir.

La nata y la flor.

Ellos eran nuestro espejo

para que las elecciones fueran rápidas y sin discusión;

para que las casas tuvieran siempre muchos pisos;

para que los presidentes cumplieran con su obligación;

para que fumáramos cigarrillos rubios;

para que mascáramos chuingón;

para que los blancos no se mezclaran con los negros;

para que usáramos pipas en forma de interrogación;

para que los funcionários fueran enérgicos e infalibles;

para que no irrumpiera la revolución;

para que pudiéramos halar la cadena dei water-closer

de un solo enérgico tirón.

 

Pero ocurrió

que un día nos vimos como los niños cuando se hacen hombres

y se enteran de que aquel honorable tío que los sentaba en sus rodillas

estuvo en presidio por falsificador.

Un día supimos lo peor.

Como y por qué

mataron a Lincoln en su palco mortuorio.

Como y por qué

los bandidos allá son luego senadores.

Como y por qué

hay muchos policías que no están en prisión.

Como y por qué

hay siempre lágrimas en la piedra de todos los rascacielos.

Como y por qué

Tejas de un solo hachazo fue desgarrada y conducida.

Como y por qué

no son ya de México la viña ni el pomar de California.

Como y por qué

los infantes de marina mataron a los infantes de Veracruz.

Como y por qué

vio Dessalines arriada su bandera en todos los mástiles de Haiti.

Como y por qué

nuestro gran general Sandino fue traicionado y asesinado.

Como y por qué

nos llenaron el azúcar de estiércol.

Como y por qué

cegaron su propio pueblo y le arrancaron la lengua.

Como y por quê

no es fácil que éste nos vea y divulgue nuestra simple verdad.

Como y por qué.

 

Venimos de allá lejos, de allá lejos.

Un día supimos todo ésto.

Nuestra memoria fija sus recuerdos.

Hemos crecido, simplemente.

Hemos crecido, pero no olvidamos.

 

Nota:

Há um CD de Mário Viegas, que se recomenda, em que ele declama esta poesia, traduzida:

Há muito tempo / Nicolas Guillen; Trad. de Manuel Seabra.

Ver:

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

Nicolás Guillén: Allá lejos...

In Autor/a: Guillén, Nicolás (1902-1989); [Biblioteca de autor]; Título: Tengo (1964)

                                                                   

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

Nicolás Guillén, poeta nacional de Cuba, nasceu há 107 anos

Nicolás Cristóbal Guillén Batista (10 de Julho de 1902 - La Habana 16 de Julho de 1989)

adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge

                                                                   

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