A Venezuela considera «inaceitáveis» e de «natureza e motivação política» as acusações da Audiência Nacional espanhola sobre uma suposta cooperação do executivo de Hugo Chávez com as FARC e a ETA, visando a realização de atentados contra altos funcionários do governo colombiano em território espanhol.
Em comunicado emitido segunda-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o governo bolivariano diz ter tido conhecimento do auto emitido nesse mesmo dia por um juiz espanhol (Eloy Velasco), no qual se tecem «considerações inaceitáveis, de natureza e motivação política sobre o governo venezuelano» e «se toma a liberdade de fazer reiteradas referências desrespeitosas ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez, proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas».
O MNE da Venezuela responde, desta forma, ao texto assinado por um magistrado da mais alta instância judicial de Espanha, no qual se acusa a República Bolivariana de facilitar a cooperação entre os dois grupos armados. Velasco processa seis presumíveis membros da ETA e sete das FARC e sustenta que as organizações tinham como alvos em território espanhol o actual presidente colombiano, Álvaro Uribe, o ex-presidente daquele país, Andrés Pastrana - que reside em Madrid e terá mesmo sido vigiado, diz -, e, entre outras personalidades, acrescenta ainda, o actual vice-presidente da Colômbia e mais que provável candidato da direita colombiana às próximas eleições, Francisco Santos.
Sob o título «Relatório da Interpol sobre os computadores de número 2 das FARC exaspera Hugo Chávez», o «Público» do passado dia 17 de Maio (sábado) publicou uma longa notícia, onde afirma que «A Interpol anunciou quinta-feira o resultado da análise aos computadores de Raul Reyes, o segundo comandante das FARC, morto em Março por tropas colombianas no Equador: ninguém corrompeu, garantiu, os dados guardados». Depois do sub-título «Media manipulados?», continua com uma citação de El País anterior ao Relatório da Interpol: «com base em fontes próximas dos investigadores Chávez (…) teria dado armas e dinheiro à guerrilha colombiana…»! O noticiário da RTP seguiu nesta peugada. Mas o que conclui o relatório, sobre o que verdadeiramente importava?
Conclusões do Relatório [1]
Pese o enorme esforço das conclusões (pag. 8/41 e segs.) em darem margem de manobra ao governo colombiano, o relatório conclui que:
- As autoridades colombianas entregaram como «provas» computadores portáteis (três), discos duros externos (dois), PENs (três), num total 609,6 gigabytes de dados em forma de documentos, imagens e vídeos (conclusão nº 1). No relatório dizem que estes dados correspondem a 39,5 milhões de páginas A4! - Que as autoridades colombianas acederam a todas as provas instrumentais. (conclusão 2) - Que as autoridades colombianas especializadas procederam correctamente, de forma a preservar o conteúdo original das provas (conclusão 2.a). - Que entre as 7:50 horas de dia 1 de Março e as 11:45 do dia 3 de Março, momento em que as provas foram entregues ao Grupo Investigativo de Delitos Informáticos ... (DIJIN) das forças militares colombianas tiveram «acesso aos dados contidos nas citadas provas [e este] não se ajustou aos princípios internacionalmente reconhecidos para o tratamento» destas provas (conclusão 2.b). - Não encontrou indícios que «se tenham criado, modificado ou suprimido arquivos de utilizador em nenhuma das ditas provas»! (conclusão 3).
Na explicitação das conclusões, páginas 31/41 e segs., afirma-se (por razões de espaço somámos os items de cada prova) que no conjunto das provas, foram:
- «criados» 7.868 arquivos de sistema; - «abertos» 27.901 arquivos de sistema e de utilizador; - «modificados» 9.381 arquivos de sistema; - «suprimidos» 2.905 arquivos de sistema; - Que entre 7 de Março de 2009 e 16 de Outubro de 2010 (não é gralha, são estas as datas) foram criados 4.244 (quatro mil duzentos e quarenta e quatro) arquivos, dos quais 699 continham música, vídeos e imagens!
Em que ficamos?
O que a Interpol não concluiu e tinha obrigação de se pronunciar
Antes de mais, que as «provas» que lhe foram apresentadas e os documentos nelas contidos eram autênticos ou falsos. Não se interroga como, depois de um bombardeamento arrasador que destruiu totalmente o acampamento, os 3 computadores (para que queria Reyes 3 computadores na selva equatorial?) ficaram intactos. Alguém no seu perfeito juízo acredita que no pouco tempo que durou o ataque e a aterragem dos helicópteros para recolher os cadáveres, ainda pudessem encontrar no meio dos destroços, 2 discos duros externos e 3 minúsculas PENs em perfeitas condições de utilização? A INTERPOL tem um longo passado de suspeição e colaboração com regimes ditatoriais (ver AQUI), por isso, entre outros, foram seus presidentes Heydrich, nº 2 das SS nazis, o português Agostinho Lourenço, principal responsável da PIDE, até culminar com Jackie Selebi, obrigado a demitir-se em Fevereiro de 2008, quando se tornou pública a acusação de ter recebido 170 mil dólares para proteger o narcotraficante Glen Aglioti… Ronald K Noble, actual secretário-geral da Interpol, é um fiel funcionário do império. Apesar dos seus 51 anos, já passou pelo Departamento do Tesouro onde criou os seus serviços secretos, foi encarregado da aplicação do bloqueio a Cuba, etc… Ao contrário do que se pretende fazer crer, a Interpol não é uma polícia internacional e nunca foi isenta. É um organismo de troca de informações, hoje dominado pelos EUA. Por isso foi presidida por um director da PIDE e não da Polícia Judiciária. A apelo de Uribe à Interpol é feito com a certeza de que esta organização lhe iria dar alguma margem de manobra para continuar a especular sobre os pretensos documentos de Reyes. O Relatório é um repositório de confusões disfarçadas (entre quem e como acederam às «provas» na Colômbia), de promoção da sua «imparcialidade», numa demonstração de má consciência, e de omissões comprometedoras: poderiam aquelas provas ter pertencido a Raul Reyes?
Os media e a Central Mediática do Imperialismo
A escolha da Interpol não é inocente. Era preciso um Relatório que não concluindo o impossível (o governo não mexeu no computador antes de o entregar ao DIJIN) permitisse alguma margem de manobra a Uribe e à elaboração de notícias pelo central imperial de notícias. Depois, os media periféricos como o Público e El País cumprem o papel de divulgar no mercado o produto da fábrica de notícias. Vivemos um tempo da informação única, onde investigar (ler o Relatório da Interpol) é perder tempo e produtividade. Vivemos um tempo em que «a informação que temos não é a que desejamos. A informação que desejamos não é a que precisamos. A informação que precisamos não está disponível» (John Peers). As «notícias» do Público e a da RTP do dia 17 de Maio, de conteúdo semelhante, são um exemplo mais de que a informação que temos não só não é a que desejamos, como é a elaborada no que podemos chamar a central de elaboração de noticias do Império e depois divulgada, urbi et orbe pelos media periféricos. Tem um pouco de verdade (há um relatório da Interpol) e muito de divulgação do que se quer fazer crer como verdade – «…ninguém corrompeu, garantiu [a Interpol], os dados guardados»! Como disse Luís Fernando Veríssimo, vivemos um tempo em que «às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data».
(sublinhados meus)
Lisboa, 24 de Maio de 2008
[1] O relatório oficial (em castelhano) está disponível AQUI
Os colombianos manifestaram-se massivamente no passado dia 6 de Março, em Bogotá, para prestar homenagem às vítimas dos paramilitares e da forças públicas, numa demonstração da unidade a favor da paz e de uma saída política para o conflito armado interno.
Durante mais de cinco horas centenas de milhares de pessoas, previamente concentradas em 12 pontos, marcharam nesta capital percorrendo a Carrera Séptima, transportando as fotos das dezenas de milhares de vítimas do conflito armado.
E o que têm a dizer oTiago Barbosa Ribeiro ("El Niño colombiano") e todos os que por altura da Festa do «Avante!» de 2007 estiveram a seu lado nas invencionices a isto e a tudo o que sobre a Colômbia se tem sido escrito neste blog?
O Partido Comunista Português condena as acções militares do regime colombiano de Álvaro Uribe que, em violação do direito internacional, da soberania e integridade territorial do Equador, resultaram no massacre de 16 guerrilheiros colombianos e no assassinato de Raúl Reyes, um dos principais comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e um dos principais protagonistas das recentes iniciativas das FARC de libertação unilateral de prisioneiros.
A “Operação Fénix”, preparada e levada a cabo com o apoio da Administração Norte-Americana, foi a forma encontrada por Álvaro Uribe e o imperialismo norte-americano para responder às várias iniciativas políticas e diplomáticas com vista à solução pacífica do conflito colombiano – com destaque para a intervenção do Presidente Hugo Chavez – e às repetidas propostas das FARC de abertura de negociações políticas.
Acossados pela repercussão das iniciativas das FARC na opinião pública mundial e junto de vários dirigentes políticos e Chefes de Estado na América Latina e na Europa, Álvaro Uribe e George W. Bush, optam mais uma vez pelo boicote ao caminho do diálogo e da paz, enveredando pela via do militarismo e da provocação e pela tentativa de introdução na América Latina das práticas de “guerra preventiva”.
O PCP chama a atenção para a ameaça à paz, à democracia e à soberania que esta provocação do regime de Uribe representa para os países vizinhos da Colômbia e alerta para as consequências que uma escalada militarista poderá ter na América Latina.
O PCP expressa a sua solidariedade ao povo, aos comunistas e a todas as forças progressistas da Colômbia que continuam a luta contra o regime fascizante de Uribe pela paz e o progresso social. Solidariza-se e associa-se a todos aqueles que na Colômbia e na América Latina se manifestam nestes dias contra a guerra, pelo respeito do direito internacional e pela solução pacífica dos conflitos. Transmite aos companheiros, aos familiares e aos amigos de Raúl Reyes as condolências dos comunistas portugueses.
«Los objetivos de Uribe. A pesar de que las FARC han hecho público un comunicado por el cual indican que el asesinato de Raúl Reyes no afectará a las negociaciones por el intercambio humanitario, lo cierto es que los objetivos del presidente Uribe son claros: bloquear el proceso de entrega de rehenes de tal manera que quede bloqueada la posibilidad de devolución por parte de las FARC de Ingrid Betancourt.
Si bien la voluntad del ejecutivo colombiano de que Betancourt no regrese viva es una realidad difícilmente cuestionable, lo cierto es que tras las declaraciones de los cuatro ex congresistas liberados el pasado 27 de febrero, donde se indicaba la voluntad de la secuestrada de presentarse a las elecciones presidenciales de Colombia con un programa de paz para este país, ha puesto muy nervioso a Uribe.
Paralelamente a esto, la intervención colombiana en el Ecuador, pretende claramente convertir al país vecino, en una suerte de Camboya, con respecto al conflicto militar colombiano.
La finalización del acuerdo suscrito por 10 años entre los gobiernos de Ecuador y Estados Unidos, para la utilización por parte de las fuerzas armadas norteamericanas de la base de Manta, el cual expirará a finales del presente año, y sobre el cual ya se ha posicionado el presidente Correa, con respecto a su voluntad de no renovarlo, también es un elemento a tener en cuenta en la escalada de la crisis diplomática en el área andina.
La base de Manta es una herramienta fundamental dentro de la estructura y estrategia del Plan Colombia, y aunque el gobierno norteamericano no ha hecho declaraciones en firme sobre su salida de la base a finales del 2008, es evidente que forma parte de su agenda de preocupaciones con respecto a la nueva política desarrollada en el Ecuador a partir de la llegada al poder de la llamada “Revolución Ciudadana”.»
Então Ingrid Betancourt anuncia que uma vez libertada vai concorrer às eleições colombianas com um programa de paz e o principal negociador das FARC, Raúl Reyes, é assassinado?
Então o Presidente da República do Equador, Rafael Correa, anuncia que não vai renovar o acordo sobre a utilização pelas Forças Armadas dos EUA da base militar de Manta e a Colômbia viola a soberania do Equador, invadindo o seu território?