Que nenhum europeu se choque com o populismo de Trump; não temos também nós um Boris Johnson? Que nenhum europeu se escandalize com o discurso racista e xenófobo de Trump; ou esqueceram-se da Hungria, da Dinamarca, da França, da Polónia… Que ninguém se ria da representação nacional de Trump, ou acham que os portugueses têm andado nessas matérias melhor servidos? Estranhamente, o desdém por Trump contrasta, na comunicação social da classe dominante, diga-se novamente, com a simpatia por Hillary Clinton.
A maioria dos sofisticadíssimos capitalistas europeus já votou por Hillary Clinton,
a testa-de-ferro do Walmart que há não muito tempo descrevia os jovens negros como «super-predadores»;
a multi-milionária enterrada até ao pescoço em negócios nebulosos com farmacêuticas e fundos de especulação;
a arquitecta da guerra na Líbia;
o falcão do holocausto na Síria;
a secretária de Estado do governo que mais imigrantes deportou na História dos EUA.
É ela, não Trump, a escolha de Hollande, Barroso, Schulz, Tsipras, Juncker, Dijsselbloem e Draghi. É essa a única explicação para o retrato caricatural de Trump, pela comunicação social europeia, que óbvia a compreensão de um fenómeno com raízes profundas e de cuja compreensão depende o futuro do globo.
Trump não é, ao invés da tese do aglomerados de comentadores de turno, um candidato «anti-sistema». Representa, na verdade, os interesses de sectores específicos da alta burguesia, actualmente minoritários, procurando uma aliança de fachada proto-fascista com a pequena e a média burguesia em torno da indústria, dos serviços e do imobiliário. No discurso, esta oscilação permite o extremar do racismo, do conservadorismo cultural, da religião e do anti-comunismo. A nível externo, corresponde a um modelo neocolonial semelhante à política estado-unidense da primeira metade do século XX.
Clinton, por seu turno, não desdenha nenhum destes propósitos: é simplesmente mais favorável ao «capital fictício», para usar a expressão de Marx, da especulação financeira e da integração económica prevista no âmbito do TTIP e do TTP.»
«Carlos Abreu Amorim tornou-se conhecido como blogguer no Blasfémias, paineleiro na TV, num programa de comentadeiros do regime e por tuitar bacoradas racistas a propósito do futebol. Já foi da extrema-direita e depois foi por aí acima, sempre fiel aos seus princípios: a seguir foi do CDS, depois do partido de Manuel Monteiro (partidinho e figura que, segundo o insuspeito 31 da armada, “corporizam a estupidez e a falta de ideias em política “ e agora é do pêpêdê, essa coisa também esperta. Aí fez-se eleger deputado por Viana do Castelo.»
Ainda nem os EUA nem a Alemanha, potências imperialistas que se arrogam o direito de dar lições ao mundo, existiam como nação e como país, e já a Pérsia era há milénios uma civilização avançada, com uma identidade própria e notáveis realizações no campo da ciência, da arte e da cultura. O mesmo sucedeu com o Iraque no quadro do mundo árabe ou com a China, por exemplo. Trata-se de realidades que mostram como é irregular e acidentado o processo de desenvolvimento de nações e civilizações. O próprio exemplo de Portugal ilustra bem como aquilo que num momento histórico é avançado e progressista («Descobrimentos») se pode tornar factor de atraso e submissão.
«A nova lei de imigração do Arizona entrou hoje em vigor, mas a Justiça dos Estados Unidos da América bloqueou as partes mais polémicas do articulado. Entre as disposições suspensas está a possibilidade de a polícia pedir documentos de imigração a pessoas abordadas por outras infrações e que o agente considere terem aspeto suspeito. Espera-se que o Governo do Arizona recorra da suspensão.»
«A polémica Lei de Imigração do Arizona (SB1070), que criminaliza os imigrantes em situação irregular, pode vir a ser seguida em pelo menos mais 14 estados dos EUA, advertiu há dias o gabinete de Relações Externas do México em nota divulgada pelo diário El Universal. Texas, Carolina do Norte, Georgia, Utah, Mississippi e Ohio são alguns dos estados que estarão a estudar a possibilidade de adoptar a SB1070. Entretanto, um grupo de senadores mexicanos e representantes democratas norte-americanos decidiu «denunciar» a referida legislação junto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por atentar contra as garantias individuais dos migrantes.»
Que os órgãos de comunicação social são independentes e plurais é algo que os seus patrões gostam de apregoar. Mas uma análise mais fina dos conteúdos das notícias, reportagens e comentários publicados ou transmitidos não permite tirar outra conclusão senão a de que, regra geral, aquilo que é publicado ou transmitido é o que melhor serve aos grandes grupos económicos e financeiros e à sua sanha de acumulação de lucro.
Um exemplo significativo disto que se acaba de afirmar ocorreu na semana passada. A Associação Portuguesa de Bancos publicou o seu relatório anual onde divulgava este dado tão espantoso quanto escandaloso – os impostos pagos pelo sector financeiro em 2009 foram inferiores em 40 por cento ao registado no ano anterior. Esta notícia, que à luz dos critérios jornalísticos tinha tudo para ser uma verdadeira «bomba» – com sonantes primeiras páginas, aberturas de telejornais e fóruns na televisão e rádio – não teve praticamente expressão nos principais órgãos de comunicação social. À excepção do jornal i, os restantes órgãos de informação censuraram este aspecto do relatório da APB.
Melhor sorte não teve o comunicado do Gabinete de Imprensa do PCP sobre este assunto, emitido no dia 6 (e tratado na página 9 desta edição do Avante!), que pouca visibilidade teve nos media nacionais...
Mas este não foi o único exemplo. No dia anterior, o PCP realizou uma conferência de imprensa sobre uma das questões mais candentes e actuais no País – a saúde, nomeadamente o aumento do preço dos medicamentos ou o encerramento de serviços. Na ocasião, um dirigente do Partido denunciou a política do Governo e os seus resultados desastrosos e apresentou propostas sustentadas para um novo rumo na política de saúde. Para além da Agência Lusa e da Rádio Renascença mais nenhum órgão de informação se referiu ao assunto, que tanto deu – e dá – que falar todos os dias.
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Calar uns, dar voz a outros
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O tratamento jornalístico dado ao Dia Nacional de Protesto e Luta, promovido pela CGTP-IN no dia 8 de Julho, revela também a natureza e opções de classe dos órgãos de comunicação social, pouco interessados em dar visibilidade à luta organizada contra a política de direita e por um novo rumo para o País. Nos dois principais jornais de referência, Diário de Notícias e Público, o assunto é remetido para os suplementos de Economia (significativamente chamado de Bolsas no caso do primeiro), sem qualquer chamada de primeira página.
O Público dá ao assunto poucas linhas de uma coluna dedicada à greve dos ferroviários realizada no mesmo dia 8 – e no âmbito da luta geral. A dimensão de massas do protesto e o seu carácter nacional, com dezenas de acções por todo o País, é algo que dificilmente se depreende ao ler as notícias.
Já o ridículo protesto do partido fascista PNR na praia do Tamariz, no concelho de Cascais, teve honras de primeiras páginas em alguns jornais, para além de uma considerável cobertura televisiva. Particularmente chocante é o facto de a RTP – canal público – ter amplificado o discurso xenófobo e racista deste partido, prestando desta forma um péssimo serviço à democracia. São estas as opções dos media dominantes...
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In Jornal «Avante!» - Edição de 15 de Julho de 2010
EUA: A governadora do Estado do Arizona, Jan Brewer, aprovou a criminalização dos imigrantes indocumentados naquela região fronteiriça com o México. Estima-se que em todo o território residam cerca de 460 mil pessoas nessas condições, a esmagadora maioria provenientes do país vizinho.
A norma que converte em delito a imigração ilegal permite que as autoridades detenham qualquer pessoa por simples «suspeita razoável» de que se encontre nessa condição.
A aprovação da legislação considerada persecutória está a levantar um coro de protestos. No dia em que subscreveu o diploma, Brewer enfrentou uma manifestação frente à sede do governo local.
Arizona has virtually criminalized “being” while brown. Its new racist laws require police to profile and stop anyone who “looks like” an undocumented immigrant. Even police chiefs across the country, who know they cannot police communities that won't talk to them, are denouncing this racist, unjust and downright foolish law.