A Central Única dos Trabalhadores da Colômbia (CUT) revela que, desde 1986, mais de 10 mil dirigentes e membros de estruturas sindicais foram alvo de atentados à vida, à liberdade e à integridade. Um a cada três dias foi morto.
No relatório «A morte não é muda», realizado pela Escola Nacional Sindical da CUT com apoio da Comissão Colombiana de Juristas e apresentado no final da semana passada, fica demonstrado que, do primeiro dia de Janeiro de 1986 até ao início de Agosto de 2009, foram assassinados 2704 trabalhadores afectos ao movimento sindical unitário e que outros 190 encontram-se desaparecidos.
Do total de 10 364 dirigentes sindicais e membros daquelas estruturas representativas dos trabalhadores alvo de atentados à vida, à liberdade e à integridade nos últimos 23 anos, 237 foram vítimas de atentados, 4418 receberam ameaças de morte e 1611 viram-se na contingência de abandonar as comunidades onde viviam e trabalhavam, diz a CUT.
A situação durante o mandato do actual presidente Álvaro Uribe revela uma escalada da violência. Desde que assumiu a presidência do país, 503 trabalhadores sindicalizados foram executados (mais de 18,6 por cento do total) e 3912 foram alvo da repressão, isto é, nos últimos sete anos o regime uribista acumula 37,9 por cento das agressões registadas desde meio dos anos 80.
Para quem reclama justiça, a situação também não é animadora. Os números apurados no documento evidenciam que 98,3 por cento dos casos levados a tribunal ficaram por resolver. Nos casos de tortura, invasão de domicílio e rapto e desaparecimento, a impunidade é total.
Recorde-se que no final do mês de Fevereiro, a Unidade de Justiça e Paz do Ministério Público colombiano divulgou que os paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia assumiram a responsabilidade pela morte de quase 30 500 pessoas e pelo desaparecimento de cerca de 2500 opositores durante a sua existência.
Com o assassinato do vendedor de lotaria José Omar Galeano Martínez, presidente nacional da Federação Colombiana de Vendedores de Lotarias (Fecoloc, na sigla em castelhano), ocorrido no passado sábado 22 de Agosto na cidade de Buga, eleva-se a 38 o numero de sindicalistas (34 homens e quatro mulheres - ver AQUI a lista nominal completa) que este ano perderam a vida violentamente na Colômbia, segundo dados da Escola Nacional Sindical (ENS).
No próprio dia, 24 de Agosto, em que este estudo foi divulgado mais dois sindicalistas foram assassinados em simultâneo em Santa Marta e Barranquilla.
Recorde-se que durante todo o ano de 2007 foram mortos 39 sindicalistas.
Para a comunicação social dominante em Portugal (e para uma certa blogosfera) o facto de mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo o serem num só país, a Colômbia, continua a não ser notícia....
O governo de França anunciou no passado dia 5 de Agosto que foram nomeados Cavaleiros da Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais elevada condecoração da República francesa, os colombianos Carlos Lozano e Darío Echeverri. Carlos Lozano além de jornalista, Director do Semanário Voz, é membro do Comité Executivo Central do Partido Comunista Colombiano e da Direcção Nacional do Polo Democrático Alternativo activista da paz nos últimos anos.
O padre Darío Echeverri é o actual Secretário Geral da Comissão de Conciliação Nacional na Colombia. Esta importante distinção será entregue, na capital colombiana numa cerimónia especial, pelo embaixador Jean-Michel Marlaud no decorrer das próximas semanas.
É um reconhecimento do persistente trabalho das duas personalidades em favor do acordo humanitário e da paz.
Como aqui fomos escrevendo em outras «Conversas da treta», a comunicação social nos nossos dias reproduz como nunca a ideologia dominante. Seja na TV, na rádio ou nos jornais. Como negócio rege-se pelas leis do lucro. As audiências, ou as tiragens, com as consequentes receitas da publicidade, determinam, em última análise, os seus conteúdos essenciais. Os traços dominantes do que é difundido, ainda que com diferentes matizes, são comuns a públicos e privados. Mas também o que não se noticia. O que se silencia é, na maior parte das vezes, tão ou mais importante do que o que se publica. Para «alguns» a comunicação social dominante não tem tempo, nem espaço.
A «Festa da Alegria» em Braga foi o maior acontecimento político-partidário do fim-de-semana. Nela participaram muitos milhares de pessoas, que estiveram lá e viram É uma realidade indesmentível. Qualquer que seja o critério jornalístico. Goste-se ou não do PCP. Por mais que isso custe a quem não gosta. O facto de os média dominantes terem ignorado esse acontecimento é bem elucidativo do conceito de informar que neles vigora.
Nas televisões foi o que se viu: nenhum dos canais mostrou uma imagem dos milhares de pessoas que participaram na Festa e assistiram ao comício com o secretário-geral do PCP. Do discurso de Jerónimo de Sousa nada disseram. E no final, fizeram-lhe umas perguntas sobre questões que nada tinham a ver com a sua intervenção.
Nos jornais, foi ainda pior, se é que é possível. No «Jornal de Notícias», no «Público» e no «Correio da Manhã», nem uma linha. No «Diário de Notícias» uma linha.
Como é em vão que na comunicação social dita de referência procuramos notícias sobre o facto do Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, enfrentar uma crise política grave. Com efeito sessenta parlamentares da sua base de apoio estão incriminados num escândalo de corrupção, ligações com o narcotráfico e os paramilitares. Tem um primo e conselheiro político, Mário Uribe, preso pelos mesmos motivos. O Supremo Tribunal contesta a legalidade de sua reeleição em 2006, obtida mediante a compra de votos confirmado pela confissão da ex-parlamentar Ydis Medina.
Ou notícias a informarem que a Colômbia é campeã do mundo em assassinatos de sindicalistas e de jornalistas: mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo. Que mais de 11.200 colombianos foram assassinados desde que Uribe foi «eleito» (não inclui os mortos em combate entre as guerrilhas e as Forças Armadas). Que o número de desaparecidos ronda os 30 mil. São homens e mulheres, novos e velhos, com nome. Mas não são mediáticos. Não podem aparecer nas televisões e nos jornais. Jazem sob sete palmos de terra.
Como Guillermo Rivera Fúquene, marido e pai, comunista e membro do Polo Democrático Alternativo que governa o município de Bogotá. Presidente do Sindicato dos funcionários da autarquia da capital do país. Foi visto pela última vez no dia 22 de Abril, às 6.30 da manhã, numa rua do bairro «El Tunal» onde tinha ido levar a filha à escola. Uma testemunha e câmaras de vídeo instaladas no local atestam que foi abordado por um grupo de agentes policiais e foi forçado a entrar num carro da Polícia Metropolitana. Assassinado a 23 de Abril depois ter sido selvaticamente torturado. A 24 o seu corpo pareceu numa lixeira situada a 100 km da capital. Sepultado a 28 de Abril como «desconhecido». O corpo só foi identificado e entregue à sua esposa, Sónia Betancour, a 15 de Julho. Foi o 24º dirigente sindical colombiano assassinado em 2008. O leitor viu, ouviu, ou leu algo sobre o assunto?
Mais um assassinado entre os vinte e quatro dirigentes sindicais já trucidados na Colômbia este ano. Índios a maior parte, provavelmente. Mas, para estes, a Europa não tem tempo. Afinal foi lá que os europeus fizeram os maiores massacres da HISTÓRIA.
"Hoy, en pleno siglo veinte nos siguen llegando rubios Y les abrimos la casa y les llamamos amigos. Pero si llega cansadoun indiode andar la sierra Lo humillamos y lo vemos como extraño por su tierra.
Tu, hipócrita que te muestras humilde ante el extranjero Pero te vuelves soberbio con tus hermanos del pueblo. Oh, maldición de Malinche, enfermedad del presente Cuándo dejarás mi tierra.. cuándo harás libre a mi gente".
Excerto de Maldición de Malinche (G. Palomares)
Para ver e ouvir Amparo Ochoa e Gabino Palomares a cantarem «Maldicion de Malinche» clicar AQUI, AQUI e AQUI
Foi nesta lixeira, numa zona rural de Ibagué, cerca de 100 kilómetros a oeste de Bogotá, que foi encontrado sem vida o corpo de Guillermo Rivera Fúquene.
Selvaticamemente torturado antes de ser assassinado
«Sonia Betancur relató que, de acuerdo al dictamen de medicina legal, su esposo y padre de dos hijas fue salvajemente torturado antes de morir al parecer por asfixia y estrangulamiento. De acuerdo a la versión de especialistas Rivera debió ser asesinado el 23 de abril, su cuerpo fue encontrado el día 24 tirado en un basurero y escombrera y sepultado en una fosa en el cementerio de Ibagué como “NN” el 28. Presentaba moretones en todo el cuerpo, con raspones y heridas que indican que lo amarraron y arrastraron hasta el basurero a escasos metros del cañón de un río. Allí fue visto por unos indigentes quienes dieron aviso a las autoridades.»
«Os paramilitares, os amigalhaços de Uribe, são os responsáveis pelo desaparecimento de mais de 30 mil pessoas e, segundo uma organização internacional insuspeita, de 80% dos 400 mil delitos cometidos na Colômbia entre 1990 e 2006». Relatório de Amnistia Internacional
O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) afirmou que a sua força política rejeita «qualquer criminalização da resistência» e que não aprova os «métodos» utilizados pelas Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC).
Em declarações aos jornalistas no final de um encontro, em Lisboa, com Renato Rabelo, seu homólogo do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Jerónimo de Sousa sustentou, porém, que, criticar os métodos das FARC não implica a «glorificação do regime proto-fascista» do Presidente colombiano, Alvaro Uribe.
«Em relação às FARC, optámos por um voto muito silenciado na Assembleia da República, mas combatemos toda e qualquer ideia da criminalização da resistência. Já é conhecido que nos demarcamos dos seus métodos e não temos nenhum preconceito em assumir claramente que não os subscrevemos. Rejeitamo-los», afirmou o líder comunista português.
«Mas isto não significa a glorificação de um regime proto-fascista, como é o caso do de Uribe. Não se pode esquecer também que é um regime que assassinou sindicalistas e candidatos a eleições sem que nunca se tenha levantado uma voz a denunciar essa situação», sustentou.
Questionado pela Agência Lusa sobre se ainda há espaço para movimentos revolucionários e se o comunismo está em expansão na América Latina, Jerónimo de Sousa foi evasivo.
«Não esperará, por certo, uma resposta desenvolvida. Em termos de síntese, aquilo que dizemos em relação ao caso particular da Colômbia é que sempre reconhecemos a cada povo o direito de decidir o seu próprio destino, de procurar no processo de justiça social, de justiça e de soberania que sejam eles próprios a construir esse caminho», respondeu.
«Mas propomos aquilo que consideramos justo: que exista paz na Colômbia, através de uma solução negociada e pacífica para o conflito, e que sejam encontradas soluções políticas que tenham no centro uma Colômbia democrática, de progresso e soberana», acrescentou.
Por isso, frisou, o que se passa actualmente em vários países da América Latina não pode ser apenas focalizado no caso da Colômbia.
«Há um processo em desenvolvimento, há realidades que merecem ser observadas e analisadas com rigor. Nota-se a existência de uma grande afirmação de soberania de muitos povos, como no Brasil, Venezuela, Equador, Uruguai e Bolívia», realçou.
Questionado se esses regimes poderão tornar-se, à luz do actual estado do mundo, ditaduras ou democracias musculadas, Jerónimo de Sousa lembrou que todos eles resultaram de eleições livres e democráticas.
"Democracias musculadas são classificações que eu rejeito. São muito superficiais e subjectivas. São processos que, resultante de eleições, levaram à constituição desse poder. Quanto aos seus desenvolvimentos, existem sempre incertezas", defendeu.
"Por isso é que considero que a América Latina é um laboratório social a pulsar, com desenvolvimentos positivos, pois estão a caminhar para um maior justiça, maior desenvolvimento, democracia e soberania", justificou Jerónimo de Sousa.
Sobre o encontro com Renato Rabelo, o líder dos comunistas portugueses sublinhou tratar-se de uma reunião que visa sobretudo reforçar a cooperação bilateral, acentuando a convergência de pontos de vista.
"Num quadro de reforço da cooperação bilateral, comungamos as preocupações e pontos de vista em relação à situação internacional e em relação à América Latina", ressalvou, insistindo na ideia de "laboratório social".
"Vejamos o caso do Brasil. Não é um país, mas sim um continente, com as suas contradições, as suas potencialidades. Queremos que a visita tenha um resultado estimulante", acrescentou.
Nesse sentido, foram debatidas questões como as políticas alternativas, na acção e organização de massas, nos problemas da juventude e das mulheres, "tendo em conta o actual momento de grande dificuldade para os partidos comunistas".
Por seu lado, Renato Rabelo, cujo partido faz parte da coligação do Governo Lula, lembrou aos jornalistas que ambos os partidos "têm os mesmos ideais e princípios", embora cada um deles tenha a sua política própria.
"A importância das relações de amizade e cooperação são muito valorizadas por nós. De concreto desta reunião saiu a diversificação dessa cooperação. Propusemos que devemos fazer isso em todos os terrenos políticos, na organização dos partidos e aos níveis sindical e de trabalho popular", referiu o líder dos comunistas brasileiros.
"São questões como essas que interessam aos dois partidos e aos dois povos. Trabalho sindical, com a juventude, com as mulheres, diversificação. Temos muita experiência a este nível", acentuou.
Bogotá, 15 julio de 2008 - Gabriel Becerra, coordinador del comité por la vida y la libertad de Guillermo Rivera Fúquene informó que el cuerpo sin vida del sindicalista de la Contraloría Distrital fue encontrado en la ciudad de Ibagué, capital del Departamento del Tolima, Colombia.
“Lamentamos informarle al movimiento social y a la opinión pública nacional e internacional que el día de hoy, martes 15 julio, se conoció oficialmente de la aparición en la ciudad de Ibagué, del cuerpo sin vida del compañero Guillermo Rivera Fúquene, dirigente sindical y político, desaparecido el pasado 22 de abril en la ciudad de Bogotá” asegura en un comunicado público.