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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

Golpe de Estado no Paraguai: Capital terrorista afasta Fernando Lugo

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As promessas de Lugo foram sempre travadas pelas forças burguesas e pelo aparelho Estatal, pejado de servidores do Partido Colorado, que governou por mais de 60 anos. Os processos de mudança, mesmo que tímidos, raramente passaram das intenções e o chefe de Estado estava manietado por uma estrutura de poder refém dos interesses contrários aos que o ex-bispo católico dizia defender e habituada a perpetuar-se por meios violentos.

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Publicado neste blog:

A acumulação capitalista «made in Portugal» - O caso exemplar do Grupo BES

Comecemos por uma «estória». «Encontrei-o em Londres. Só tinha uma camisa e estava cheio de frio. Vivia num apartamentozinho com dois quartos.» Esta pungente «estória», contada pelo primeiro presidente da CIP, refere-se a Manuel Ricardo Espírito Santo que, passado pouco tempo, no seguimento das nacionalizações e da Reforma Agrária, entendeu fixar-se em Londres.

Pobre como Job, despojado dos seus bens, este herdeiro da poderosa e influente família Espírito Santo, associada ao nepotismo fascista (o avô era visita semanal de Salazar), viu-se obrigado, face à sua situação de pobreza, a pedir um empréstimo a Rockefeller, com o qual monta um pequeno negócio na Suíça, justamente conhecida por ser um dos paraísos fiscais, onde proliferam milagres do tipo da Rainha Santa Isabel, não na transformação do pão em rosas, ludibriando D. Dinis, mas na transformação de dinheiro sujo em «dinheiro limpo», ludibriando as receitas fiscais e estimulando, entre outros, o branqueamento de capitais, os circuitos da droga e o comércio ilegal ligado ao armamento.

Na versão do ex-presidente da CIP não sabemos qual o valor do empréstimo da família Rockefeller, empréstimo que é de surpreender bastante, na medida em que não é normal os banqueiros emprestarem dinheiro a pobres, salvo se a pobreza tivesse, em 1975, uma tipologia específica, do género: «a pobreza da família Espírito Santo».

Também não sabemos qual o juro imposto pelo Rockefeller, nem qual a taxa de rentabilidade obtida por Manuel Ricardo Espírito Santo nos seus novos negócios.

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Momento marcante da História do nosso País

     Estamos aqui, hoje, a assinalar o 35º aniversário do início da Reforma Agrária, momento marcante da História do nosso País, em que os assalariados agrícolas do Alentejo e Ribatejo - levando por diante as conclusões da I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, realizada pelo PCP, em Évora, em 9 de Fevereiro de 1975 - avançaram audaciosamente no caminho da construção concreta da Reforma Agrária e substituíram o desemprego e a miséria pela produção, o trabalho e o pão.

Como incisivamente afirmou, na altura, o camarada Álvaro Cunhal, «vivemos um momento histórico nos campos do Sul. Pelas mãos dos trabalhadores, a Reforma Agrária deu os primeiros passos. Do Alentejo das terras incultas, das charnecas, dos pousios, do gado raro e miserável, dos baixos rendimento das culturas; do Alentejo do desemprego, da fome a da miséria, os trabalhadores, com o apoio do Estado democrático, farão um Alentejo com uma agricultura que dará em abundância os produtos de que os trabalhadores e o País necessitam». E assim foi.

                                                   

Sim, é possível, Abril de novo, para uma vida melhor!

     Comemorar Abril é insistir que só no caminho de Abril, só pela via de profundas transformações económicas e sociais que coloquem nas mãos do Estado e ao serviço do povo as alavancas fundamentais da economia, só no caminho do socialismo é possível dar resposta aos desafios que hoje se colocam à sociedade portuguesa e enfrentar com sucesso, em articulação internacionalista com a luta dos outros povos, a crise profunda do capitalismo que está a assolar o mundo.

                                                                                                         

Inocentes…

Texto de Agostinho Lopes

    Tão inocentes que eles são! A amnésia política, que a generalidade dos órgãos de comunicação social exibe, e não por doença congénita dos seus profissionais, permite que os responsáveis políticos e partidários por gritantes e actuais problemas da sociedade portuguesa, «renovem» os seus discursos, lavados de pecados. E pior, que (re)apresentem como solução, opções e políticas que estão na origem dos problemas.

A pia baptismal feita do correr do tempo, da cura de oposição, ou da mudança de líder e restante pessoal político, e às vezes nem isso é preciso, iliba-os, inocenta-os, das suas responsabilidades, mesmo sem qualquer acto de contrição ou sinal de arrependimento, por exemplo, a assumpção do erro! Em tempo de crise então, a desfaçatez de alguns raia a farsa, a pura fraude, com a santa bênção da água mediática do esquecimento. Os exemplos são demasiados, pois correspondem às consequências das políticas de direita que duram há 33 anos.

Faltam médicos no Serviço Nacional de Saúde. As gerações que o continuam a «aguentar» caminham a grande velocidade para a reforma, ou seja a perspectiva de um brutal agravamento do problema. Mas ninguém é responsável pelas políticas que instituíram o numerus clausus impedindo milhares de jovens portugueses de tirarem o curso de medicina que desejavam. Recorde-se que os médicos e médicas que hoje garantem o SNS e a sua qualidade (e muito do sector privado) foram estudantes que concluíram o então curso geral dos liceus com 10, 11, 12 e etc. valores! Não há responsáveis pela não criação atempada de novas escolas de saúde. E há até, alguns dos que tiveram responsabilidades governativas, a falar de desajustamentos entre formações e mercado de trabalho! Não há responsáveis pela inflação dos serviços de saúde privados – hoje presa desejada e lucrativa dos grandes grupos económicos – que crescentemente absorvem profissionais do SNS. E a solução para um “acólito” do Governo e políticas do PS, que aliás começa por subestimar o problema, passa por exigir uma contrapartida financeira aos médicos que optam pelo privado e autorização para o ensino privado de medicina… 

A brutal subida dos preços de bens agro-alimentares, fruto da especulação decorrente da crise financeira internacional (sem qualquer vantagem para os agricultores portugueses ou outros) pôs a nu a brutal fragilidade do País em matéria de soberania alimentar. (Conceito que traduz a maior ou menor suficiência com que um país produz os bens necessários à alimentação dos seu povo). E para lá da redescoberta pela comunicação social dos grandes défices agro-alimentares nacionais, nomeadamente em produções estratégicas, assistimos entre a estupefacção e o risível à proclamação pelo CDS e Paulo Portas da carência de «reservas estratégicas» de cereais! Isto é, os responsáveis, o CDS como o PSD e o PS, pela ruína da agricultura portuguesa, pelos seus elevados défices produtivos, os responsáveis pela liquidação da Reforma Agrária e de milhares e milhares de explorações agrícolas familiares, os apoiantes da PAC e das suas sucessivas reformas, no governo e na oposição, feitos anjinhos papudos, a lamentar a reduzida produção agro-pecuária nacional! Os mesmos, que simultaneamente, continuam a aprovar em Bruxelas e a pôr em prática nos campos portugueses a dissociação das ajudas ao rendimento da obrigação de produzir, medida que manifestamente provoca o abandono da produção. Os mesmos que nas pescas, aplaudem como principal medida política de resposta à subida do preço dos combustíveis, a aceleração do abate de barcos da frota pesqueira!

Falta de escrúpulos e amnésia

    A questão energética, é talvez na actual e difícil conjuntura com que os portugueses e em particular a generalidade das pequenas empresas estão confrontados, o exemplo mais nítido da falta de escrúpulos políticos, de amnésia e mistificação na abordagem de um problema central da vida nacional. Quer no tocante à forte dependência do petróleo, ou aos elevados preços da energia eléctrica, quer na gravíssima ineficiência na utilização da energia ou no aproveitamento dos recursos endógenos do País – de que o caso mais clamoroso foi o dos recursos hídricos – os partidos responsáveis pela governação nas últimas 3 décadas, e com eles comentadores e articulistas, alguns que tiveram mesmo responsabilidades governativas, falam com a inocência dos iniciados, que descobriram agora a pólvora. Mais uma vez, nada têm a ver com a situação em que nos encontramos em matéria de energia. Nada têm a ver com o desastroso desmantelamento do sector público energético, através de umas ditas «reestruturações» (a última das quais da responsabilidade do actual Governo), feitas de privatizações das suas empresas e liberalização dos mercados de energia. Nada a ver com a segmentação da EDP (em produção, transporte (REN) e distribuição – o que não fizeram franceses nem alemães) liquidando a perequação de custos e inventando um «défice tarifário», nada a ver com o atraso de anos nos investimentos da GALP, nada a ver com o atraso de décadas na construção de barragens, nada a ver com malfeitorias semelhantes no gás natural! Nada a ver com a destruição da base científica, tecnológica e industrial, em recursos humanos e instalações, em matérias como por exemplo, o nuclear ou a produção de turbinas. Nada a ver com a falta de um Plano Energético Nacional, ou os preços e políticas da energia se encontrarem totalmente entregues à voracidade do grande capital monopolista nacional e estrangeiro. Choram agora lágrimas de crocodilo pelas renováveis, pela factura energética em combustíveis fosseis, e há mesmo os que lamentam o afunilamento dos transportes na rodovia e no automóvel, depois de anos de desprezo e liquidação da ferrovia e do transporte colectivo. Anjinhos que eles são! E no entanto bastará a leitura do Documento-síntese de um Seminário “Política Energética para Portugal realizado em 1984 (Edições Avante), para se mostrar que a roda já foi inventada há anos e que se o País hoje, com as propostas dos comunistas, não estaria indemne à escalada do preço do petróleo, encontrar-se-ia em muito melhores condições para lhe fazer frente.

São os mesmos partidos e políticos, que perante a gravíssima crise financeira desencadeada pelo subprime norte-americano, e as arrastadas crises em bens essenciais (face visível do icebergue que afunda a economia real), procuram fugir às reflexões e conclusões que se impõem: a irracionalidade de uma economia determinada pela especulação financeira, submetida à libertina e predatória circulação dos fundos financeiros. Mas percebe-se. Tal significaria questionar, pôr em causa o capitalismo hoje, de que as referidas «manifestações» financeiras, são lógico desenvolvimento e intrínseca parte. E eles não o querem questionar, mas defender!

Os problemas do País, na saúde, na produção alimentar ou na energia, como em todas as vertentes da vida nacional, exigem outras políticas. E começam por exigir a ruptura com as políticas que nos desgovernam há anos. Ruptura com as políticas que se empenharam na recuperação do poder do capital monopolista na direcção do País.

(sublinhados meus)

                                                

In jornal "Avante!" - Edição de 31 de Julho de 2008

                                   

Consolidar o progresso, afirmar o socialismo

Texto de Hugo Janeiro

    De visita a Portugal a convite do PCP, o presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PcdoB), Renato Rabelo, explicou ao Avante! o contexto da participação dos comunistas no governo liderado por Lula da Silva e a importância da consolidação, com contradições decorrentes da realidade brasileira, de políticas progressistas no quadro da luta pelo socialismo. Rabelo abordou ainda o reforço do partido no quadro eleitoral que se avizinha, a influência e afirmação do PCdoB entre as massas populares e junto dos trabalhadores, e o papel do Brasil no contexto da integração latino-americana e da alternativa à hegemonia do imperialismo, passo fundamental no combate pelo derrube do capitalismo e construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados, projecto que, explicou, partilham com os comunistas portugueses e outros partidos comunistas e operários do mundo.

          

Avante!: O secretário-geral do PCP esteve recentemente no Brasil a convite do PCdoB. Agora, é a vez do vosso partido visitar Portugal. Qual o âmbito desta visita?

Renato Rabelo: A visita que nos fez o secretário-geral Jerónimo de Sousa teve para nós grande significado, foi um ponto alto nas relações de cooperação e amizade entre os dois partidos. Estamos a retribuir essa visita na medida em que partilhamos os mesmos objectivos, os mesmos ideais, mesmo considerando a realidade própria de cada um, as diferenças económicas, políticas e sociais entre Portugal e o Brasil.

É também um momento para que possamos aprofundar o intercâmbio de ideais, a troca de opiniões, de conhecimento mútuo, de aprendizagem.

    O Brasil é um país que conserva gritantes discrepâncias sociais, no qual a opulência de uma minoria convive com a miséria de uma imensa maioria. A participação no governo de um partido com um projecto revolucionário de transformação da sociedade coloca, neste aspecto, algumas contradições?

É natural que sim porque a própria realidade política é feita de contradições. O nosso objectivo no governo passa por lutar pela construção de um projecto de desenvolvimento voltado para a democratização do país, a defesa da soberania nacional, o progresso social, e a integração solidária do subcontinente.

Boa parte desses objectivos podem ou não esgotar-se no decurso dos dois governos liderados por Lula. De todo o modo, são passos que abrem possibilidades ao objectivo estratégico do PCdoB, a construção do socialismo.

O governo Lula tem conseguido vitórias que são parciais, mas não desprezáveis. Avançou-se no campo da democratização do país; criaram-se mais de 7,5 milhões de empregos formais, algo muito significativo no caso brasileiro; iniciou-se um programa de redistribuição de rendimentos, sobretudo para os mais deserdados. O programa Bolsa Família chega hoje a 11 milhões de agregados e promove a escolarização das crianças. Para uma realidade tão desigual, estes são triunfos muito positivos.

Outra aspecto a considerar é a defesa da soberania. No contexto da América Latina, essa é uma questão fundamental e de grande actualidade, sobretudo numa fase em que a democratização da região choca com o imperialismo norte-americano e o controlo por este de uma área estratégica para os seus interesses.

Falámos de contradições, mas um país imenso como o Brasil tem também grandes potencialidades de transformação progressista. Qual a vossa orientação no que respeita às alianças que permitam consolidar uma alternativa à política de direita?

Nós temos uma relação de apoio e participação no governo, mas mantemos críticas tendo em conta o nosso projecto. A principal é à política macroeconómica, na medida em que considerarmos que uma linha conservadora é contrária ao progresso social.

Se compararmos o primeiro com o segundo mandato de Lula, há avanços também nesse sentido, registando-se actualmente uma política macroeconómica que classificamos de híbrida. Ao mesmo tempo que se mantêm aspectos da antiga política conservadora, consolidam-se aspectos antagónicos a esta, criando, também neste âmbito, várias contradições.

Por exemplo, há uma expansão do crédito bonificado para os que anteriormente não tinham acesso a ele, para aquelas propriedades rurais dedicadas à economia de subsistência. Cresceu o salário mínimo, e o seu aumento progressivo, constante, chega já a 30 por cento em termos reais, facto que tem um forte impacto social.

O impacto da crise financeira e económica mundial no Brasil acirrou o debate em torno da linha macroeconómica, sobretudo com a mudança no Ministério das Finanças. O anterior ministro era uma espécie de intermediário entre a esfera financeira e o governo. O ministro em funções é uma pessoa da confiança de Lula e tem uma postura que podemos considerar progressista.

Há por isso um embate entre o novo responsável do Ministério das Finanças e as forças que continuam às ordens do Banco Central, o qual, apesar de não ter uma independência formal, na prática insiste na mesma política neoliberal.

Por aqui podes ver que o debate sobre estas contradições cresce, e a crise mundial e os efeitos sobre o Brasil vieram estimular a discussão entre os dois caminhos: um que segue o receituário da contenção das despesas públicas, do aumento da taxa de juro; outro que defende que o Brasil tem de dispor de mecanismos de soberania face à instabilidade internacional, tem de fomentar a produção de alimentos, aumentar os investimentos em actividades produtivas ligadas à propriedade familiar, a qual no Brasil é muito ampla.

É nestes aspectos que referi que percebemos as contradições políticas no interior do governo, e as posições defendidas pelo PCdoB que visam conquistar posições de soberania nacional como passos para um objectivo maior, o socialismo. Para isso é também necessário acumular forças revolucionárias consequentes, e nós ainda não dispomos de uma correlação favorável.

    A democratização do acesso à terra é uma das bandeiras dos governos liderados por Lula da Silva, mas a Reforma Agrária enfrenta dificuldades para se impor. Existem relatos de perseguições a activistas do Movimento dos Sem-Terra, de massacres e, por vezes, de complacência da Justiça. Que medidas propõe o PCdoB para debelar esta situação?

A Reforma Agrária é um problema histórico no Brasil, um país com grandes extensões territoriais, grandes propriedades e muita mão-de-obra disponível e desapossada. Se aprofundarmos um pouco, percebemos que o que está em causa hoje é o caminho da Reforma Agrária, por isso nos encontramos num impasse.

Não adianta democratizar propriedade comprando terras. No Brasil, isso é um saco sem fundo. Compra-se a terra, assentam-se as pessoas, mas a prática mostra que não passa de um meio caminho, que estas acabam por se debater com falta de recursos técnicos, de crédito, etc..

A questão candente é a existência de regiões com grandes latifúndios de desenvolvimento capitalista intensivo, e de outras demasiado atrasadas. As áreas subaproveitadas são, por isso, prioritárias. É nelas que tem que se apostar construindo modelos cooperativos e, depois, agro-indústrias bem apetrechadas.

O governo tomou a iniciativa, pouco divulgada, da implementação de Territórios da Cidadania. São planos aplicados a mais de 40 zonas, todas muito atrasadas, nas quais, a par da distribuição da terra, se resolvem logo uma série de problemas tais como a construção de infra-estruturas, de saneamento básico e de vias de comunicação.

Evidentemente, continuamos a ter que enfrentar desafios e reacções dos grandes proprietários, do agronegócio, mas esses têm que ser enfrentados noutra fase, quando se colocar o confronto entre a posse privada de explorações desenvolvidas e a colectivização das mesmas.

Quanto à criminalização do MST, o governo federal não tem como prática a repressão. É claro que a justiça no Brasil ainda conserva parte do aparato do antigo Estado dos agrários. Faz parte da realidade transitória em que vivemos. A luta entre os grandes proprietários e os sem-terra vai continuar e faz parte da luta de classes em curso.
    Nos próximos anos realizam-se eleições municipais e estaduais. O PCdoB vai aproveitar a dinâmica das batalhas eleitorais para reforçar o partido e a sua influência junto dos movimentos de massas e dos trabalhadores?

Desde o ano passado que decidimos avançar com uma linha de orientação mais afirmativa da nossa identidade e projecto. Isso reflecte-se obviamente no âmbito eleitoral.

Nos sufrágios para os órgãos de poder local quase sempre apoiávamos o Partidos dos Trabalhadores (PT). Hoje, apresentamos uma quantidade apreciável de candidaturas, algumas em capitais de Estado como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Porto Alegre, os maiores círculos eleitorais.

Os nossos candidatos estão bem posicionados nas intenções de voto. Em Porto Alegre estamos empatados com o PT. No Rio de Janeiro, estamos em segundo lugar e nas projecções para a segunda volta aparecemos com hipótese de ganhar. É sobretudo um investimento firme na afirmação partidária.

Vale a pena ainda considerar que as eleições de 2008 são um ponto de partida para as presidenciais de 2010. Se o PCdoB consegue vencer algumas das oito grandes cidades, isso terá um impressivo significado e um peso na discussão da continuidade, de forma consequente, deste ciclo político aberto com o Lula.

Sem dúvida que esta orientação vai abrir possibilidades enormes de afirmação das nossas propostas concretas para a situação actual. Julgamos que o PCdoB mostra a sua fisionomia a uma parcela maior da população, com evidente reflexo na influência política, na amplificação do apoio ao projecto revolucionário, e na acumulação de forças que exige.

Recentemente o PCdoB apoiou a formação de uma nova central sindical, a Confederação dos Trabalhadores do Brasil. Qual é o objectivo?

Decorre da questão de que falava. Nesse contexto de maior afirmação, é prioritária a influência no seio dos trabalhadores e do movimento sindical, por isso apoiámos a criação de uma central sindical.

Antes operávamos no âmbito da CUT, central sob a influência de uma corrente maioritária do PT. A criação da CTB com as características que nós defendemos - plural, democrática, de classe -, arrastou também outros sectores sindicais democráticos. Tem tido um grande sucesso.

    O Brasil insere-se num subcontinente onde crescem alternativas de cooperação às que são propostas pelo imperialismo, pesem as ameaças que pendem sobre os países e povos que assim decidem. Qual a opinião do PCdoB a respeito dessa integração?

A América Latina vive uma realidade nova e reveladora de uma tendência anti-imperialista crescente. Temos hoje no subcontinente governos eleitos nessa base, com pendor democrático, progressista e de defesa da soberania. Surge entre esses governos a tendência integracionista envolvendo países independentes. Frisei o «independentes» porque, pela primeira vez na história, os EUA estão arredados deste processo, não controlam o mecanismo de cooperação.

Recentemente fundámos a Unasul, cujo projecto político e económico é bastante ambicioso, fazendo frente à presença ostensiva norte-americana na América do Sul. Por proposta brasileira, procuramos também criar um conselho de defesa sul-americano, algo inédito e que rompe com a ideologia conservadora, de séculos, que defendia a conciliação de interesses com os EUA. Só ainda não foi implementado por recusa da Colômbia, que hoje funciona como «cabeça de ponte» dos norte-americanos no subcontinente.

Claro que o imperialismo reage, e um sintoma disso é a reactivação da IV Frota para cobrir o Atlântico Sul, o Pacífico e o Mar do Caribe. É uma forma de intimidar os povos e os governos. É um atentado à soberania e à paz na região.

Nos últimos meses muito se tem falado de crise alimentar e energética. O Brasil defende a aposta nos agrocombustíveis, mas o aumento do preço dos cereais não demonstra que são mais um problema do que uma solução para os povos do mundo?

A chamada crise alimentar decorre em parte do crescimento do consumo de alimentos na China, Índia e Brasil. Acresce, por outro lado, que não podemos subestimar o peso das especulações operadas pelo capital financeiro no aumento dos preços.

Repara, a crise começou por ter o epicentro na esfera financeira com descidas abruptas das taxas de rentabilidade. Ora, o capital financeiro voltou-se para activos reais apostando na especulação sobre futuros. A produção de biocombustíveis está no início e creio que o seu significado no crescimento dos preços é um fenómeno que tem de ser avaliado com cautela, tendo em conta realidades concretas.

No caso dos EUA, pode-se dizer que usando o milho para produzir etanol, existe uma relação directa, mas ampliar isso pode ser perigoso e até uma forma de impor uma determinada divisão do trabalho a nível internacional.

No Brasil, para além do facto de produzirmos etanol a partir da cana de açúcar, está em estado muito avançado a utilização da celulose. No caso do diesel, a ideia é substituir a soja pela mamona como matéria-prima.

Deixa-me ainda dizer que a questão está na distribuição da terra dedicada a cada cultura e na planificação das necessidades objectivas, quer alimentares, quer de energias alternativas aos combustíveis fósseis. Este ano vamos bater o recorde de produção de cereais e, não obstante, estamos a apostar nos agrocombustíveis sem que isso signifique quebras na produção de alimentos ou mudança da nossa orientação geopolítica.

Nos próximos meses, assumem particular importância as negociações no âmbito da OMC. O Brasil, tal como outros países, tem assumido uma posição de defesa da sua soberania. Como encaram este problema no quadro de uma crise do sistema capitalista?

Existe uma determinada divisão internacional do trabalho, e os países em vias de desenvolvimento pretendem mudar isso.

O Brasil fundou o G20 no quadro das negociações da OMC para forçar o estabelecimento de regras equitativas no comércio mundial. Não falemos de livre comércio que no quadro do capitalismo é uma falácia, uma ilusão.

Esse esforço de independência comercial, de diversificação das trocas é importante. Os EUA chegaram a aglutinar mais de 30 por cento das trocas comerciais com o Brasil. Hoje, mesmo sendo o maior parceiro, não vai além dos 18 por cento.

Reeditar o projecto imperialista da ALCA ou os seus derivados na OMC merecerá sempre a resistência do Brasil.

    Nessa resistência, do ponto de vista do papel dos comunistas, que importância atribuem aos Encontros de Partidos Comunistas e Operários?

Há a dimensão ideológica de estreitamento de cooperação, de fortalecimento dos partidos comunistas, de troca de experiências a vários níveis, inclusive organizativo. Entendemos que partidos com identidade e prestígio junto dos trabalhadores e do povo são hoje parte essencial da construção da alternativa.

Outro aspecto é político. No contexto da agressividade imperialista é necessário um movimento de resistência que vá além dos partidos revolucionários, que leve em conta as forças progressistas e democráticas, os amantes da paz. Fortalecer e ampliar este movimento é uma tarefa na qual os comunistas devem assumir um dinamismo e capacidade de orientação.

O próximo Encontro vai decorrer entre 21 a 23 de Novembro, em São Paulo. O PCdoB valoriza muito este fórum, onde, mesmo a par de divergências existentes, é possível conjugar esforços e avançar.

                                                 

In jornal "Avante!" - Edição de 17 de JuLho de 2008

                                                     

A Crise Alimentar é o Resultado do Livre Mercado e do abandono da política agrária

    Ariovaldo Umbelino analisa nesta entrevista ao jornal brasileiro "Correio da Cidadania" problemas relacionados com a alta do preço dos alimentos e as suas causas

                                       

Em face de mais uma crise mundial que parece explosiva, com a fome e a inflação de alimentos se tornando noticiário nos vários cantos do planeta, conversamos com o professor do departamento de Geografia da USP Ariovaldo Umbelino.
                 
Para Umbelino, a actual situação não deixa a menor margem para diagnósticos ilusionistas: a crise alimentar resultou da total incapacidade do mercado para conduzir à segurança e à soberania alimentar. No Brasil, a ausência de reforma agrária foi também determinante, e a situação é tendencialmente explosiva em função da escalada dos bio-combustíveis.
               
Correio da Cidadania: A que se pode atribuir, pensando globalmente, o actual problema da fome: à formação especulativa de estoques, à queda de safras, à tomada de terras para os cultivos agro-industriais, todos eles comprometendo a produção de alimentos?
Ariovaldo Umbelino: Em primeiro lugar, há de se levar em conta que a falta da produção de alimentos na actual conjuntura tem uma série de motivos, que vou tentar enumerar.

                

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