(…) Marx nunca se ocupou da questão das mulheres «enquanto tal» e «em si». Contudo, a sua contribuição é insubstituível, é inteiramente essencial na luta que as mulheres conduzem para conquistar os seus direitos.
Com a concepção materialista da história, Marx não nos forneceu fórmulas acabadas sobre a questão feminina, ele deu-nos uma coisa melhor: um método justo, seguro, para a estudar e compreender. Só a concepção materialista da história nos permitiu situar, com clareza, a luta das mulheres no fluxo do desenvolvimento histórico geral, de aí ver a justificação e os limites históricos à luz das relações sociais gerais, de reconhecer as forças que a animam e a conduzem, os objectivos que persegue, as condições nas quais os problemas levantados podem encontrar solução.
A velha ideia segundo a qual a posição da mulher na família e na sociedade era qualquer coisa de eterno e de imutável, produto de leis morais ou de prescrições divinas, afundou-se para sempre. Tornou-se evidente que, tal como as outras instituições e modos de existência da sociedade, a família estava submetida a um devir contínuo e a uma morte contínua e que, como aquelas, se transformava com as relações económicas e os sistemas de propriedade que lhe estavam na sua base. Ora, é o desenvolvimento das forças económicas produtivas que é o motor desta metamorfose, no sentido que transforma o modo de produção pelo facto de entrar em contradição com a ordem económica e o sistema de propriedade. Sobre este base de relações e de laços económicos assim transformados, realiza-se então uma revolução no pensamento dos homens que suscita o desejo de transformar a super-estrutura social e as suas instituições em conformidade com as modificações de base económica, o desejo de eliminar o que aí existe de fixo nas formas de propriedade e nas relações de dominação. As lutas das classes são um meio pelo qual esta aspiração se realiza.
Extracto do artigo de Clara Zetkin publicado em Die Gleichheit, a 25 de Março de 1903, in Clara Zetkin e a luta das mulheres. Uma atitude inconformada, um percurso coerente, Organização das mulheres comunistas, Lisboa, Edições «Avante!», 2007, pp. 155-156.