O New York Times dizia que o encerramento de escolas na cidade seria «um último recurso», pois «há cerca de 750 000 crianças pobres, incluíndo cerca de 114 000 sem abrigo [!]. Para esses, a escola pode ser o único sítio que garante 3 refeições quentes por dia e cuidados médicos, ou mesmo a lavagem da roupa» (09/03/2020). O COVID-19 veio depois.
Em apenas 3 semanas, 17 milhões [!] de trabalhadores ficaram sem emprego nos EUA. As ajudas são escassas.
Mas para o grande capital o dinheiro nunca falta. Já foram oficialmente reservados quase 5.000.000.000.000 de dólares.
Trump (cartoon de Pedro Ribeiro Ferreira)
Como em 2008, o Estado vai pagar e endividar-se, mas o dinheiro público servirá para a banca lucrar e quem trabalha se endividar:
«Embora os governos e bancos centrais forneçam grande parte do dinheiro, está-se a pedir aos prestamistas que funcionem como ‘correia de transmissão’ para assegurar que o apoio chegue às empresas e consumidores que dele mais necessitam» (Financial Times, 01/04/2020).
A Reserva Federal está a comprar tudo, sem limites, para «evitar a derrocada dos mercados» (Financial Times, 24/03/2020).
É a «’nacionalização’ dos mercados de Títulos […] com muitas grandes empresas a aproveitar para vender» (Financial Times, 24/03/2020) e até o «apoio ao mercado das dívidas de alto rendimento das grandes empresas» (Financial Times, 09/04/2020).
O Zé Povinho que pague. As Emergências servem também para isso.
Na sua última sessão de 2014 em Dezembro passado, o Senado dos EUA aprovou o novo orçamento federal, um pacote no valor de 1,1 biliões [milhões de milhões - 1.100.000.000.000] de dólares. Sob a ameaça de uma nova paralisação do governo, o Partido Democrata, em minoria em ambas as câmaras do Congresso, estabeleceu um acordo com o seu congénere Republicano, permitindo prolongar o funcionamento das chamadas «funções não vitais» do Estado federal. Em contrapartida, foram aprovadas duas leis que comprometem as reformas de milhões de pensionistas e abrem caminho à privatização da segurança social.
Por um lado, o governo federal compromete-se legalmente com o resgate de bancos que apresentem prejuízos causados pelos chamados contratos derivativos e outros produtos financeiros altamente incertos. A nova lei, desenhada à medida dos donos do Citigroup, transforma em lei as operações de resgate de 2008, nacionalizando os prejuízos dos capitalistas sempre que os seus negócios falham. Por outro lado, a segunda lei agora aprovada, garante que quando esses negócios correm bem, os prejuízos também são nacionalizados. Passo a explicar.
Há dias, na comissão parlamentar inglesa de inquérito à falsificação do índice Libor, foi perguntado a um vice-governador do Banco de Inglaterra se estava confiante que já não houvesse falcatruas. A resposta foi: «não posso confiar em nada, depois de tomar conhecimento desta fossa de estrume [cesspit]» (Telegraph, 9.7.12). Não é todos os dias que se pode concordar com um vice-governador do Banco de Inglaterra. A fossa de estrume em questão é a grande finança. É a banca que «precisa de ser recapitalizada», objectivo que justificaria a destruição das economias e a ruína dos estados. São os «mercados» que têm de ser «acalmados» e para isso precisam que nos cortem direitos, salários, subsídios e feriados. Já é oficial: trata-se duma estrumeira.