O primeiro, Mário de Aguiar, começou por enviar «as mais patrióticas e sinceras saudações» ao «Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros», «o eminente estadista Sr. Dr. Caeiro da Mata»(1), por ir «em direcção a Washington», «ao serviço da Nação», «assinar, no dia 4 de Abril, o Pacto do Atlântico».
[Seguramente que Fernanda Câncio, se já fosse jornalista em 1949, também enviaria «as mais patrióticas e sinceras saudações» ao «Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros»... Pois se foi ela que, no dia 13 de Agosto, no mesmo DN, nos confidenciou que apoiou a invasão do Iraque («apoiei a invasão americana»(2)) e, mais recentemente, murmurou a estranha confissão: «... estou ainda para ver o resultado das invasões que apoiei (afeganistão e iraque)...»!]
Em seguida, Mário de Aguiar exprimiu o seu «contentamento» pela prisão dos três comunistas. E é então que se sai com a frase «é público e notório que esta seita, que é comandada do exterior, tem dois jornais clandestinos de propaganda, intitulados Avante e Militante.»
Daqui vem a primeira parte da frase do título.
A segunda parte da frase do título foi tirada da intervenção de Pinheiro Torres: «Não menos perigosa, não menos para recear, é a acção deles nos livros que publicam, nas conferências que fazem, no que escrevem nas revistas e jornais, onde destilam subtilmente a peçonha das suas doutrinas!»
Eis, em seguida, excertos dos dois discursos:
1. Na página 420 do nº 184 do Diário da Assembleia Nacional (sessão de 31 de Março de 1949):
O Sr. Mário de Aguiar: - Sr. Presidente: pelas notícias publicadas nos jornais de hoje o País tomou conhecimento de dois factos que devem merecer a atenção da Assembleia. Um deles diz respeito à viagem aérea que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros iniciou na madrugada de hoje em direcção a Washington, onde, ao serviço da Nação, deve assinar, no dia 4 de Abril, o Pacto do Atlântico. (...)
O outro facto a que também se refere a imprensa diária é a descoberta pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado de uma parte da organização comunista e prisão de alguns dos seus principais agitadores.
(...)
É público e notório que esta seita, que é comandada do exterior, tem dois jornais clandestinos de propaganda, intitulados Avante e Militante.
É de esperar que tal imprensa seja apreendida e presos os traidores à Pátria, que a atraiçoam com as mãos já tintas de bom sangue português, perseguindo-os a polícia até ao seu total aniquilamento.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
2. Na página 545 do nº 191 do Diário da Assembleia Nacional (sessão de 22 de Abril de 1949):
O Sr. Presidente: - Tem a palavra, antes da ordem do dia, o Sr. Deputado Pinheiro Torres.
(...)
O Orador: - Haja em vista as últimas descobertas levadas a efeito pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado no campo comunista. Essas descobertas vieram, mais uma vez, pôr em destaque a extensão e importância da actividade dessa organização antinacional e, portanto, o perigo que representa para todos nós.
(...)
Não menos perigosa, não menos para recear, é a acção deles nos livros que publicam, nas conferências que fazem, no que escrevem nas revistas e jornais, onde destilam subtilmente a peçonha das suas doutrinas!
(...)
Aproxima-se outro acto eleitoral. Temos já a certeza de que os comunistas tencionam, de novo, perturbar o País, aproveitando-se desse período. É o que se conclui das notícias publicadas sobre a apreensão da tipografia clandestina, onde o Avante e o Militante eram feitos. No número do Avante que estava a ser composto e impresso havia um artigo já pronto em que se aconselhavam as comissões organizadas a não se dissolverem.
Ora, o País não quer que os comunistas, e seus parceiros, gozem das mesmas liberdades dos bons portugueses.
(...)
Os comunistas, e aqueles que com eles estão ligados, têm de ser perseguidos, estejam onde estiverem!
(...)
(1) José Caeiro da Mata foi o Ministro da Educação Nacional que, a 7 de Outubro de 1946, assinou o despacho ministerial de demissão de Bento de Jesus Caraça e Mário de Azevedo Gomes.
(2) Neste mesmo artigo confessa FC que tem conhecimento da extrema gravidade das suas opções: «Quero acreditar que não morreu tanta gente - iraquianos e ocupantes - para nada»... Comentários para quê?
Post-Scriptum:
«Confesso: apesar de não ter a menor estima por Bush e de não ter comprado a treta óbvia das armas de destruição maciça, apoiei a invasão americana» (Fernanda Câncio)
Para Ver:
«Quero acreditar que não morreu tanta gente - iraquianos e ocupantes - para nada» (Fernanda Câncio)
Para Ler:
adaptado de um e-mail enviado pelo Jorge
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