A história do movimento comunista está repleta de derrotas cujo exemplo e ensinamentos se constituíram como sementes de novos combates, vitoriosos.
Nos seus 95 anos de história, cerca de metade dos quais na situação de clandestinidade imposta pelo fascismo, o PCP conta com vários destes casos.
A revolta dos marinheiros de 8 de Setembro de 1936 é um deles: não venceu – e na verdade não podia ter vencido – mas o exemplo de heroísmo e generosidade dos jovens marinheiros cavou fundo na consciência de várias gerações de militantes comunistas e resistentes antifascistas. Ao mesmo tempo, a avaliação dos erros cometidos (que a direcção do PCP previra ainda antes da revolta, cuja eclosão procurou desencorajar por não estar enquadrada num amplo movimento de massas) permitiu ao Partido acumular experiência, factor indispensável ao seu desenvolvimento enquanto força política revolucionária.
Para compreender a origem da revolta e os motivos dos seus protagonistas é preciso compreender o panorama nacional e internacional que então se vivia e ter presente o prestígio de que o Partido gozava entre os marinheiros e os esforços da ditadura para lhe pôr fim: na sequência da reorganização do Partido iniciada em 1929 sob direcção de Bento Gonçalves foi criada três anos depois a Organização Revolucionária da Armada (ORA), que congregava as diferentes células do PCP na Marinha de Guerra e editava O Marinheiro Vermelho, órgão partidário clandestino de grande tiragem cuja influência se estendia a muitas embarcações militares – e muito para além delas. Rapidamente a ORA se tornaria na maior organização do Partido, chegando a ter perto de 20 por cento do total de militantes comunistas.
O processo de transformação revolucionária no Chile iniciado com a eleição do presidente Allende e a formação do governo de Unidade Popular, em Setembro de 1970, alarmaram os EUA.
Aliado às forças fascistas e ao grande capital chileno o imperialismo não olhou a meios para destruir o processo democrático.
Antes da tomada de posse de Allende, a CIA assassina o Comandante-Chefe do Exército.
Sucedem-se actos de violência visando a desestabilização social e a paralisação da economia do país para minar o apoio popular ao governo.
Não o conseguindo, é desencadeado o golpe de Estado chefiado por Pinochet, de uma bestialidade atroz: dezenas de milhares de mortos, incluindo Salvador Allende, centenas de milhares de presos, torturados ou exilados, o Parlamento dissolvido, o Palácio Presidencial destruído a tiros de canhão e bombas da aviação, os partidos políticos proibidos.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC – EP) e o governo colombiano assinaram na quinta-feira, 23, em Havana, um acordo histórico de cessar-fogo e de desarmamento.
O acordo, considerado um passo decisivo para pôr fim a um conflito que dura há mais de meio século, foi assinado pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Londoño "Timochenko". A capital cubana, sede desde Novembro de 2012 das negociações de paz, acolheu a cerimónia em que participaram o anfitrião e presidente cubano, Raúl Castro, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega, Borge Brende, em representação dos países garantes do processo de paz, e os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Chile, Michelle Bachelet, como nações acompanhantes dos diálogos de paz.
O momento histórico foi ainda acompanhado pelos presidentes da República Dominicana, de El Salvador e do México, além do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, na qualidade de convidado especial, que se fez acompanhar pelos presidentes do Conselho de Segurança, Francois Delattre, e da Assembleia geral da ONU, Mogens Lykketoft.
«Miguel Urbano, um dos revolucionários que mais escreveu sobre a heroica luta das FARC-EP e mais divulgou a sua epopeia faz, nesta hora de refluxo, o comentário possível aos acordos recentemente assinados em Havana, entre aquela organização revolucionária e o governo da Colômbia. Termina, confessando a sua dificuldade em «imaginar que tipo de «reconciliação» (…) será possível, num contexto em que a classe dominante não esconde a sua fidelidade ao neoliberalismo ortodoxo e à íntima aliança com os Estados Unidos».»
«A paralisação de camponeses, assalariados rurais e indígenas colombianos dura há mais de uma semana e já obrigou o governo a comprometer-se com a segurança dos manifestantes.»
Nesta entrevista com Pablo Catacumbo, membro do Estado-Maior Central das FARC-EP explica como e por que razão as FARC-EP a negociar com o governo de Juan Manuel Santos: «Sentimos que havia a possibilidade de alcançar uma solução política, que nunca esteve ausente da nossa abordagem estratégica».
«Após discutir durante meses nossa problemática rural e de buscar soluções que, efetivamente, reivindiquem e redimam o camponês, as comunidades indígenas e afrodescendentes, e que favoreçam o bem viver dos colombianos, avançamos na construção de um acordo, com exceções pontuais, que necessariamente terão que ser retomadas, antes da concretização de um acordo final.»
«Nas últimas semanas o governo de Barack Obama alterou profundamente a sua estratégia para a América Latina.
Três acontecimentos quase simultâneos assinalaram o início de uma perigosa ofensiva que visa a desestabilizar os governos progressistas da Região: o recebimento por Juan Manuel Santos de Capriles Radonski - o líder da extrema-direita venezuelana, derrotado nas eleições presidenciais - a visita a Bogotá de Joe Binden, vice dos EUA, e a notícia de que a Colômbia prepara a sua adesão à NATO.»
A delegação de Paz das FARC-EP e a direção do MCB, reunida em Havana, Cuba, território livre da América e avançada da segunda independência latino-caribenha, exorta aos povos deste continente e do mundo a impulsionar com renovado entusiasmo e intensa participaçom, o desenvolvimento exitoso dos diálogos que têm local nesta cidade heróica.
Nada pode ser mais imperioso que conseguir uma saída política justa e digna a este desgarrador conflito social armado para um povo que, como o colombiano, sofreu e sofre os rigores de umha guerra encarniçada, imposta ao longo de meio século por um Estado, por umha classe dominante-governante e uma superpotência imperialista, os Estados Unidos, empenhada em assumir o terror como meio de submetimento e saque.
Urge, portanto, deter essa tendência cruel e destrutiva, acordando quanto antes melhor, um cessamento de fogo bilateral que despeje o clima de confrontaçom violenta que ainda perdura; favorecendo assim o exame cuidadoso, detito, desapaixonado e profundo das causas económicas, sociais, políticas e culturais do estado de guerra a superar.
Concluiu-se a primeira etapa dos diálogos de Havana. Para as forças democráticas e defensoras da paz, o balanço é positivo. Mas o prosseguimento do processo até que seja alcançada uma paz estável e duradoura enfrentará ainda muitas dificuldades e incertezas. À mesa das negociações sentam-se forças de classe antagónicas. E no desenvolvimento do processo pesará de forma determinante a posição do imperialismo, que tem na Colômbia uribista o seu mais fiel aliado na América Latina.