«A CGD tem um papel fundamental na economia do país. Para concluir isso, basta observar os dados do quadro 1.
Apesar da redução do crédito bancário em Portugal, a CGD continua a ser o principal, e de longe, banco na concessão de crédito à economia, às empresas e às famílias, vital ao seu funcionamento e para a sua vidade tudo, comportamentos para reflexão dos leitores, já que atingiram níveis de despudor chocantes para todos aqueles para quem a dignidade nacional não é só uma palavra.»
Quadro 1 – Credito concedido pelos principais bancos em Portugal – 2015
Gráfico 1- Evolução do crédito total dos principais bancos no período 2007-2015 – Milhões €
Os principais bancos a operar no país prosseguiram a política de redução de postos de trabalho e de agências em 2015.
No total, as diferentes instituições, com excepção do Novo Banco que não apresentou resultados, reduziram 872 trabalhadores.
A Caixa Geral de Depósitos lidera a lista com menos 448 efectivos, encerrando o ano com 8410 trabalhadores em Portugal. Seguiu-se o BCP, que conta agora com 7459 trabalhadores na actividade doméstica, ou seja, menos 336 pessoas.
A redução de trabalhadores foi mais modesta no BPI e Santander Totta (63 e 25 trabalhadores, respectivamente).
Quanto à rede de distribuição, a CGD fechou 22 balcões em 2015, tendo ficado com 764, e o BCP encerrou 24, restando-lhe 671.
O BPI tinha 597 agências no final do ano (menos 52 balcões) e o Santander Totta 560 (menos 19).
PT – lucros em 2010 de 5672,2 milhões de euros. Entretanto paga de impostos em 2010 menos de metade (!) do que pagou em 2009, menos 58,1 por cento.
GALP – lucros em 2010 de 451 milhões de euros.
BES, BCP, Santander Totta e BPI, os quatro principais bancos privados nacionais – lucros em 2010 de 1431 milhões de euros. Mas pagaram menos de metade do imposto de 2009 (!).
Zona Franca da Madeira, «morada fiscal» de conveniência de 2981 empresas (2435 das quais sem qualquer trabalhador…) – lucros em 2009 de 3700 milhões de euros. Pagaram em impostos apenas 6 dos 750 milhões que pagariam em qualquer outra parte do território nacional.
Estes dados são um escândalo nacional. Sobretudo sabendo nós que Governo, PS, PSD e CDS, recusaram em sede de Assembleia da República propostas que gerariam uma receita fiscal pelo menos três vezes superior à que o Governo e o PSD esperam obter. Ou seja, Governo, PS, PSD e CDS, não quiseram tributar a banca e os grandes grupos económicos com a taxa efectiva de IRC de 25% (o que renderia 500 milhões de euros, mínimo). Ou as transacções em Bolsa (mínimo de 135 milhões de euros). Ou as transferências financeiras para os offshore (cerca de 2200 milhões de euros, base 2009)
Mas há mais.
Fortuna de Américo Amorim, homem mais rico de Portugal segundo a revista Forbes, – 3660 milhões de euros.
Fortuna de Alexandre Soares dos Santos (grupo Jerónimo Martins), segundo mais rico – 1650 milhões de euros.
Fortuna de Belmiro de Azevedo – 1070 milhões de euros.
São 6380 milhões de euros (!!!), o equivalente a quase 3,6% do produto interno bruto nacional.
Esta é a soma das fortunas dos três homens mais ricos de Portugal, que cresceram 1,4 mil milhões em 2010, apesar da crise.
Contas feitas a partir dos dados oficiais, a fortuna acumulada de Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, supera o rendimento anual de cerca de três milhões de portugueses (!!!). Em Portugal 3 é mesmo igual a 3000000…
Isto ao mesmo tempo que dos 770 mil desempregados, 60% não recebe subsídio de desemprego. E que há 1,5 milhões de trabalhadores com salários abaixo dos 600 euros. E que a pensão média dos 1, 9 milhões de reformados é de 369,29 euros.
Quem disse que os sacrifícios são para todos?
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
Desde o início deste ano assistimos à continuação da execução de políticas que levam ao caminho da submissão e da abdicação nacional. Políticas essas que PS, PSD e CDS/PP apoiam e aplaudem.
Os executantes diligentes (governo e seus apoiantes) cumprem as ordens dos mandantes (grande capital e grupos económicos). Roubam os salários, os rendimentos e os direitos. Recorrem à exploração mais desbragada de quem trabalha e produz. Mercantilizam todas as esferas da actividade susceptíveis de dar lucro. Querem impor a Portugal um novo rumo de declínio e de retrocesso.
São conhecidas as grandes dificuldades porque passam a grande maioria das famílias e das empresas. Constitui por isso um escândalo nacional a recente divulgação do montante dos lucros obtidos pelos quatro principais bancos privados nacionais. Lucros que quase repetem os obtidos em 2009. Lucros líquidos de 1.431 milhões de euros! Quase 4 milhões de euros por dia!
Mas escândalo ainda maior é a redução do volume de impostos pagos por estes bancos. BES, Santander Totta, BPI e BCP pagaram menos 168,8 milhões de euros. Menos 54 por cento relativamente a 2009. Ou seja, quase com os mesmos lucros pagaram em 2010 metade do que tinham pago em 2009!!! Estamos perante mais uma confirmação da submissão do poder político aos interesses do capital financeiro.
Agravam-se os défices estruturais e a dívida externa (pública e privada). Sublinhe-se que a dívida privada (empresas e famílias) é em Portugal o DOBRO da dívida pública. Neste contexto ganham particular relevo as consequências a médio e longo prazo das taxas de juro impostas ao Estado Português nas operações de financiamento da nossa dívida externa. Esses encargos em 2011 devem atingir 7.134 milhões de euros. Mais 808 milhões de euros do que o montante previsto no Orçamento do Estado para 2011. Valores que, em si mesmos, desmentem a auto-satisfação do governo.
É cada vez mais evidente que, como dizem os comunistas, não há solução para a crise sem a ruptura com os eixos fundamentais do processo de integração capitalista europeu. E sem a afirmação patriótica dos interesses e da soberania nacionais.
O país precisa de uma política para o desenvolvimento económico que garanta o pleno emprego, salários dignos, o crescimento económico e a defesa e afirmação do aparelho produtivo nacional. Portugal não está condenado ao atraso e à dependência externa.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
No passado dia 6 de Fevereiro o PCP realizou um seminário subordinado ao tema «2000/2010 – Dez anos de política de direita – exigência de ruptura». Nele participaram Jerónimo de Sousa e algumas destacadas personalidades desta área de pensamento e intervenção, como Carlos Carvalhas, Rui Namorado Rosa, Agostinho Lopes, Eugénio Rosa ou Filipe Diniz, para só citar alguns. Na comunicação social dominante, como é seu hábito, foi o silêncio quase total.
Os dados que se seguem foram apresentados nesse seminário e são elucidativos do estado a que «ISTO» chegou.
Em 1987, o PIB per capita em paridade do poder de compra era no nosso país de 76,1 tomando a UE a 27 como 100. Em 2008, o PIB per capita é inferior ao de 1987. Ficou-se em 75,3. Mas isto é apenas uma média. Vejamos a distribuição desta média, ou seja, a distribuição do Rendimento Nacional.
Em 1953 esta distribuição era de 55% para o capital e 45% para o trabalho. Entre 1974 e 1976 a distribuição foi de 59,5 para o trabalho e 40,5% para o capital. Em 2005, segundo os últimos números disponibilizados, a distribuição foi de 59,4% para o capital e de 40,6% para o trabalho. Isto é, inverteu-se a situação verificada com o 25 de Abril.
Se olharmos para os lucros dos principais grupos financeiros (CGD, BCP, Santander TOTTA, BES, BPI) verificamos que o total de lucros acumulados entre 2005 e 2008 ultrapassou os 1 545 milhões de euros. No primeiro semestre do ano passado o total de lucros destes Bancos atingiu os 988 milhões de euros. E tudo isto num quadro de crise e de lengalenga governamental de que todos temos que fazer sacrifícios.
Por sua vez a variação do salário real da Função Pública entre 2000 e 2009 foi sempre negativa. A excepção foi 2009, ano de eleições e ano em que houve uma previsão errada, favorável aos trabalhadores, da evolução da inflação.
Entre 2005 e 2009 tivemos um crescimento médio do PIB metade do da zona euro. O que significa que em vez de nos aproximarmos da média nos afastámos. Se olharmos para a estrutura do PIB verificamos que em 1986 a indústria contribuía para o PIB com 28,3% e a agricultura e pescas com 9,9% enquanto às actividades financeiras e imobiliárias correspondia uns 10,1%. Qual foi a evolução? Em 2008 a indústria contribuía apenas com 14,9% e a agricultura e pescas com 2,5%. Paralelamente as actividades financeiras e imobiliárias subiram para 15,3%.
A financeirização da economia, as privatizações e a liquidação do aparelho produtivo traduziu-se num défice da Balança Corrente e de Capital de 9% do PIB em média entre 2005 e 2008. E num endividamento externo líquido em percentagem do PIB que passou de 10,4% em 1996 para 108,5% em 2009!!!
E a comprometer o presente e o futuro do país temos a evolução do investimento: segundo as contas nacionais do INE e a previsão do Banco de Portugal para 2010, nesta última década a sua evolução foi de menos 2,5% ao ano. Uma regressão clara que vamos pagar caro nos próximos anos.
As consequências sociais são também conhecidas designadamente a evolução do desemprego. A taxa de desemprego que era de 3,9% em 2000 atingiu os 9,4% em 2009 e será de 13,1% para 2010, segundo as previsões oficiais. Paralelamente na última década o endividamento das famílias passou de 60% do PIB em 2000, para 96% em 2009, isto é, um aumento de 50%.
Mas 15 mil milhões de euros foram quanto alguns portugueses investiram em offshores desde 1996. Só em 2009, entre Janeiro e Novembro, esse investimento foi de 2 mil milhões de euros.
Estes números falam por si e são, na sua frieza, a condenação de uma política e das teorias económicas que a suportaram. Há quem diga que Portugal não está condenado à inevitabilidade de prosseguir as mesmas políticas que conduziram o país ao atraso e à crise. Que Portugal tem alternativas. Mas isso é tema para outra conversa.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 19 de Fevereiro de 2010