Depois de: alguns dias (!!!), uma motherboard nova, mais um disco rígido, reinstalação de software e recuperação das cópias de segurança (pensavam que eu não as tinha???...), ei-lo de volta - o meu PC.
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Aviso à navegação: aproveitei este facto para reorganizar os Posts desde o dia 6, inclusive...
A informática tem as costas largas. De há uns anos a esta parte sempre que há falhas graves em muitos e muitos serviços, instituições e empresas lá vem o malfadado «erro informático». Basta correr os olhos pelos jornais, ligar a rádio ou ver a televisão. Circula mesmo na Internet uma lista sobre «Os 10 maiores desastres da história causados por erros informáticos».
Salvo «erro informático» meu é a desculpa mais vezes utilizada. Já começa a ser banal de tanto ser repetida. E no entanto, como diz a canção, «é mentira, é mentira, é mentira, sim senhor».
«Os 10 maiores desastres da história causados por erros informáticos», bem esmiuçados resultam de: erros de programação; testes de validação insuficientes; utilização para o mesmo fim de versões de software incompatíveis; confusão entre os sistemas métricos europeu e americano; falta de formação do pessoal que manuseava o sistema; erros na actualização do software; uma placa de rede defeituosa.
O processo da colocação de professores foi um caos? «Erro informático», pois claro! Afinal vai-se a ver e alguém desenhou o programa de forma incorrecta ou pretendeu pô-lo a fazer algo para que não tinha sido parametrizado.
Na ex-DGV há multas que são atribuídas a inocentes? «Erro informático», não podia deixar de ser. A realidade? O sistema informático que geria as contra-ordenações ao que parece não impedia a duplicação dos registos. Ou havia falhas humanas no preenchimento dos autos. Apesar de reconhecidos os erros as medidas para solucionar a questão tardaram, tardaram, tardaram.
A GALP emite facturas de uma garrafa de gás butano sujeita a taxas diferentes de IVA (de 21 e 20% respectivamente), mas apresentando o mesmo valor? Tudo se deve a um «erro informático». A petrolífera escreveu mesmo em comunicado que «(…) o sistema informático não corrigiu automaticamente o preço de venda ao público, tendo dado origem à factura em causa» (???). Mas o sistema informático tem que adivinhar, e ainda por cima «automaticamente», as alterações das taxas dos impostos? Brincamos?
E até nos Casinos a culpa é do «erro informático». Foi motivo de notícia o facto de dois apostadores do Casino de Lisboa terem ganho dois jackpots de quase oito milhões de euros cada. O Casino recusou-se a pagar alegando um «erro do sistema informático das máquinas». Vão-se apurar os factos e verifica-se que já tinham acontecido mais casos semelhantes. Qual a verdadeira causa? Deficiente manutenção das máquinas…
O último caso que deu brado foi o «desaparecimento» de dezenas (ou centenas?) de milhares de desempregados dos ficheiros do IEFP. Num primeiro momento lá veio o «erro informático». Mas dias depois (20/5) Francisco Madelino lá confessou num programa de rádio (disponível no sítio da RTP) que todos os meses o IEFP elimina dezenas de milhares desempregados dos seus ficheiros. Durante o ano de 2008 foram, contas feitas, 535.656. Em 2009, só no período de Janeiro a Abril de 2009 143.648. Afinal é tudo uma questão de critérios.
Entendamo-nos. Não há «erros informáticos». Os programas informáticos (software) fazem aquilo para que foram desenhados. Nem mais, nem menos. Há erros de desenho, de programação, de escrita de código. Há material defeituoso, erros de manuseamento, deficiente formação dos recursos humanos, etc., etc., etc.. Mas há, sobretudo, aproveitamento político da informática. É a desculpa que está ali mais à mão e serve para tudo. Vai-se a ver e a culpa da crise do sistema capitalista também é de um qualquer «erro informático»!
Eu sei que é difícil aos não informáticos (e mesmo a alguns, poucos, informáticos) alterar a linguagem. Mas vá lá, façam um esforço. Sejam mais assertivos nas vossas justificações e deixem lá o «erro informático» em paz e sossego.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 31 de Maio de 2009