Nova sondagem corrobora o que AQUI afirmámos: a confirmarem-se nas urnas os resultados de sucessivas sondagens PSD e CDS-PP sofreriam uma tremenda derrota.
A coligação PSD/CDS-PP em 4 anos perderia 17,6 pontos percentuais. Ou seja, perderia a maioria absoluta de deputados e não estaria em condições de formar governo.
Importa lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra.
Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
Nos dias 19 e 20 de Junho foi publicada uma sondagem realizada pelo CESOP (Centro de Estudos e Sondagens de Opinião - Universidade Católica) para a Antena 1, a RTP, o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias.
No seu tratamento jornalístico TODA (jornais, rádios, revistas, televisões) a comunicação social dominante pós o acento em duas teses fundamentais quanto às previsíveis intenções de voto dos portugueses:
empate técnico entre o PS (37%) e a coligação PSD/CDS-PP (38%)
o facto de em relação à anterior sondagem (Outubro de 2014) o PS ter descido 8 pontos percentuais e a coligação de direita ter subido 6.
No entanto...
Autores, comentadores e analistas parecem não ter percebido o óbvio:
PSD e CDS-PP juntos obtiveram nas eleições legislativas de 2011 50,35% dos votos. De acordo com esta sondagem agora andam pelos 38%.
Logo, a coligação PSD/CDS-PP em 4 anos perderia 12 pontos percentuais. Ou seja, perderia a maioria absoluta de deputados e não estaria em condições de formar governo.
Nenhum destes senhores e destas senhoras, profissionais da informação e da comunicação, deu por este facto? A sério?!...
Eu cá não sou de «teorias da conspiração» (a maioria das quais, sublinhe-se, mais cedo ou mais tarde se vêm a revelar verdadeiras). Mas a verdade é que também não se aperceberam destes factos nas eleições para o Parlamento Europeu em Maio de 2014:
PPD/PSD + CDS/PP = O PIOR RESULTADO de todas as 38 eleições já realizadas em Portugal desde o 25 de Abril.
PS = O 2º mais baixo resultado de sempre em eleições para o Parlamento Europeu.
PS + PPD/PSD + CDS/PP = Cerca de 60% dos votos (o mais baixo resultado de sempre do chamado «arco da governação»)
Acresce que a referida sondagem não cumpre cabalmente com os critérios científicos referidos no meu artigo que segue.
SONDAGENS: PREVISÕES E RESULTADOS
As eleições já se realizaram. Os votos foram contados. Os resultados são conhecidos. É tempo de análise objectiva de algumas questões. A das sondagens é uma delas.
Uma breve observação aos diversos «estudos de opinião» revela uma «realidade» bem diferente da que acabou por acontecer no dia 22 de Janeiro. Mudança repentina das escolhas dos eleitores? Falta de rigor? Incompetência? Manipulação? Ou…?
A Marktest realizou de 14 a 16 de Janeiro uma sondagem para o Diário Económico e TSF para analisar as intenções de voto nas eleições presidenciais do próximo domingo. Os resultados desta sondagem, que dá a Cavaco Silva uma folgada vitória à primeira volta, têm sido amplamente divulgados durante o dia de hoje por toda a comunicação social e foram até objecto de debates e fóruns em estações de rádio e televisão.
Ora vejamos a ficha técnica da pretensa sondagem:
1. O universo é a população com mais de 18 anos e que habita em residências com telefone fixo;
2. A amostra é constituída por um total de 802 inquiridos e foi estratificada por 6 grandes regiões:
2.1. Grande Lisboa 156 inquiridos (19,5% do total);
2.2. Grande Porto 88 inquiridos (11,0% do total);
2.3. Litoral Norte 155 inquiridos (19,3% do total);
2.4. Interior Norte 181 inquiridos (22,6% do total);
2.5. Litoral Centro 129 inquiridos (16,1% do total);
2.6. Sul, mesmo incluindo a Península de Setúbal, 93 inquiridos (11,6% do total).
3. Do total dos inquiridos 802, responderam a este inquérito 22,6%, ou seja 181 inquiridos. Destes 35,6% responderam não sabe/não responde, isto é, só 116 responderam efectivamente a este inquérito e mesmo dentro destes ouve alguns indecisos que foram distribuídos proporcionalmente aos que declaram sentido de voto.
Vejamos agora qual é, de acordo com os últimos dados do INE, a distribuição da população portuguesa pelas 6 grandes regiões, em que este inquérito foi estratificado:
Na Grande Lisboa, reside 20% da população, no Grande Porto 12,7%, no Litoral Norte 20,1%, no Interior Norte 11,9%, no Litoral Centro 15,7% e no Sul 19,6%.
Em conclusão: a Marktest tendo por base a resposta de 100 inquiridos, foi este o nº avançado na TSF pelo Sr. Luís Queirós director da Marktest, e uma amostra que atribui aos residentes do Interior Norte um peso correspondente a quase ¼ da população do país, quando efectivamente o seu peso é de pouco mais do que 1/10 e atribuindo aos residentes na região Sul um peso de pouco mais de 1/10, quando o seu peso é de quase 1/5, conseguiu chegar aos brilhantes resultados que esta sondagem apresenta.
Com um pouco mais de esforço e esta sondagem ignorava a vontade dos cerca de 2 milhões de portugueses que residem a sul do País e atribuía aos residentes no Interior Norte, sempre tão esquecidos, um peso determinante no direito de decidir o sentido de voto de todos os portugueses.
Aquilo a que hoje assistimos, pelas suas possíveis implicações no sentido de voto de muitos portugueses, é um verdadeiro caso de polícia, que deveria obrigar as entidades responsáveis pelo acompanhamento destas pretensas sondagens a pura e simplesmente investigar aquilo que sucedeu e actuar, por forma a impedir que este tipo descarado de manipulações possa continuar a ser feito. Como se já não bastasse o silenciamento e deturpação, vêm agora empresas de sondagens que são autênticos burlões, procurar confundir e condicionar o sentido de voto de milhares e milhares de portugueses.
Lisboa, 19 de Janeiro de 2011
Recebido via e-mail
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Adenda em 25/01/2011 às 07h05m:
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Os dados do INE, sobre a distribuição da população portuguesa, apresentados neste texto não estão correctos.
Os dados da Marktest, com pequenas variações de +- 1%, no essencial, estão. Mesmo se considerarmos o recenseamento eleitoral para as autárquicas de 2009 as variações não são significativas.
Não é por aí que a sondagem «falha».
A questão é mais vasta. A sondagem dá os resultados que dá por não cumprir NENHUM dos parâmetros elementares de credibilidade. Nem quanto ao critério das amostras consideradas. Nem quanto à fiabilidade dos métodos de inquirição. Nem quanto aos procedimentos complementares de estimação. Nem finalmente quanto à forma como foram apresentadas por quase todos os meios de comunicação social.
Importa lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra. Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
Acresce que o tratamento jornalístico de sondagens requer conhecimentos específicos e reveste-se de bastante sensibilidade.
Os seus resultados prestam-se a várias interpretações. Uma análise incompleta e pouco rigorosa dos dados de uma sondagem pode ter consequências graves e imprevisíveis, para a imagem das pessoas, ou instituições, submetidas a escrutínio. Além de enganar ou confundir aqueles que não tenham a curiosidade de verificar, em pormenor, esses dados.
Para concluir, alguém nos explica este curioso fenómeno de nas noites das eleições, as empresas de sondagens e os órgãos de comunicação social publicitarem resultados das sondagens à boca das urnas sempre com margem de variação ou incerteza (por exemplo, partido tal entre 38 e 42% ou partido tal entre 6 e 8%). Mas já nunca o fazem durante os outros 364 dias do ano...
Não, não se trata de uma sondagem. Vital Moreira teve zero votos na eleição para o Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Contactado pela nossa redacção, Vital Moreira diz que continua à espera de um pedido de desculpas do PCP!...
Como se pode ver na foto, nas vésperas da votação Sócrates e Vital ainda confiavam num bom resultado, ignorando que, na sombra, forças ocultas, incluindo uma associação secreta, manobravam para a sua derrota.
As eleições já se realizaram. Os votos foram contados. Os resultados são conhecidos. É tempo de análise objectiva de algumas questões. A das sondagens é uma delas.
Uma breve observação aos diversos «estudos de opinião» revela uma «realidade» bem diferente da que acabou por acontecer no dia 22 de Janeiro. Mudança repentina das escolhas dos eleitores? Falta de rigor? Incompetência? Manipulação? Ou…?
História Recorde-se que a importância das sondagens como fonte de informação para os media é um fenómeno relativamente recente. Só a partir dos anos trinta do século XX, G. Gallup e E. Roper iniciaram um novo tipo de sondagens, com amostras estruturadas. O aperfeiçoamento do método de auscultação levou à expansão das sondagens “científicas” a partir de 1936.
Os avanços técnicos, científicos e tecnológicos vieram tornar mais fácil a auscultação da opinião pública, nomeadamente, através da entrevista telefónica.
As sondagens tornaram-se uma prática corrente durante e entre os períodos eleitorais. E não só.
Os diferentes meios de comunicação noticiosos estabeleceram parcerias entre si. Partilhando os custos e rentabilizando os resultados através de processos combinados de divulgação na TV, na rádio e nos jornais. As sondagens institucionalizaram-se como fonte de informação.
Teoria Pedro Magalhães nas páginas do “Público” e Carlos Gonçalves, Jorge Cordeiro e Vítor Dias no “Avante!”, entre outros, fornecem-nos importantes elementos de reflexão. Importa, desde logo, lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra. Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
Divulgação O tratamento jornalístico de sondagens requer conhecimentos específicos e reveste-se de bastante sensibilidade.
Os seus resultados prestam-se a várias interpretações. Uma análise incompleta e pouco rigorosa dos dados de uma sondagem pode ter consequências graves e imprevisíveis, para a imagem das pessoas, ou instituições, submetidas a escrutínio. Além de enganar ou confundir aqueles que não tenham a curiosidade de verificar, em pormenor, esses dados.
Prática A esmagadora maioria das sondagens relacionadas com as eleições para a Presidência da República, vindas a público entre 28 de Outubro e 22 de Janeiro, não preenchiam estes requisitos.
Não os cumpriam quanto aos parâmetros elementares de credibilidade. Nem quanto ao critério das amostras consideradas. Nem quanto à fiabilidade dos métodos de inquirição. Nem quanto aos procedimentos complementares de estimação. Nem finalmente quanto à forma como foram apresentadas por quase todos os meios de comunicação.
Realidade Foram as sondagens e a comunicação social, que as encomenda, quem manteve acesa a chama da candidatura de Cavaco Silva, durante os quase dez anos que o ex-primeiro-ministro esteve «retirado da vida política». Foram umas e outra quem o catapultou para a posição de, mais que favorito, vencedor antecipado.
Estatística Analisemos duma forma objectiva dois casos. Por um lado, a sequência das 24 sondagens registadas, entre 27 de Outubro e 20 de Janeiro, no âmbito das eleições presidenciais. Por outro, o caso particular representado durante 12 dias pela sondagem da Marktest.
Sobre a primeira, sublinhem-se três constatações:
Em primeiro lugar, o facto de nas 24 sondagens publicadas ter sido sempre atribuído a Cavaco Silva valores bem superiores ao seu resultado. Sendo que em 17 delas as previsões estiveram sempre mais de 5 pontos percentuais acima do que obteve.
Depois, o pormenor de em 15 destas 24 sondagens Francisco Louçã aparecer sempre com valores superiores (alguns bem superiores) àquilo que mostrou valer nas eleições.
Finalmente, a proeza de em 24 das 24 sondagens Jerónimo de Sousa aparecer sempre com valores inferiores ao que os que decidem lhe quiseram dar.
Quanto à da Marktest.
Registe-se o facto de, a exemplo do primeiro caso, Cavaco Silva aparecer desde sempre com valores bem acima do que veio a obter.
Saliente-se a curiosidade científica de em 12 das 12 sondagens publicadas pelo DN/TSF Louçã ter sido sempre bafejado com resultados superiores aos que veio a obter.
E de, inversamente, ter sido possível atribuir a Jerónimo de Sousa em 12 das 12 sondagens valores bem inferiores aos que veio a obter.
Por fim, refira-se a delirante sondagem de 14 de Janeiro em que se atribuía a Louçã quase o dobro das intenções de voto de Jerónimo e um quase empate técnico com Mário Soares.
Notas finais Não se pense que estas questões se restringem ao âmbito político-eleitoral. Também nas audiências televisivas e radiofónicas, por exemplo, se manifesta a imprecisão, a falta de rigor e profissionalismo, a incompetência, a manipulação. De que outra forma se explica que se afirme, sem pudor, que o programa A foi visto por 2 milhões 456 mil 324 portugueses? Ou que a rádio Z tem uma audiência de 7,5%?
Para concluir, alguém nos explica este curioso fenómeno de nas noites das eleições, as empresas de sondagens e os órgãos de comunicação social publicitarem resultados das sondagens à boca das urnas sempre com margem de variação ou incerteza (por exemplo, partido tal entre 38 e 42% ou partido tal entre 6 e 8%). Mas já nunca o fazem durante os outros 364 dias do ano...
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 6 de Fevereiro de 2006