Desculpem qualquer coisinha, mas a «coisa» cheira mesmo mal.
Toda, repito, toda a comunicação social dominante noticiava a uma só voz «empate técnico» entre o sim e o não no referendo na Grécia de 5 de Julho passado. Os resultados são os que se conhecem - o “Não” conquistou 61.31% dos votos e o “Sim” 38.69%. Para «empate técnico» não está mal...
Agora, a propósito das eleições de ontem, os cabeçalhos foram os mesmos - «Sondagens apontam para empate técnico nas eleições gregas». E quais foram os resultados REAIS?
Syriza: 35,46%/ 145 deputados.
Nova Democracia: 28,10%/ 75 deputados.
Aurora Dourada: 6,99%/ 18 deputados.
PASOK: 6,28%/ 17 deputados.
Partido Comunista: 5,55%/ 15 deputados.
To Potami: 4,09%/ 11 deputados.
Gregos Independentes: 3,69%/ 10 deputados.
União dos Centristas: 3,43%/ 9 deputados.
6 outros partidos: 5,94%/ 0 deputados.
Lá como cá a realidade é mesmo uma «chata» e a maioria das sondagens uma enorme manipulação...
«(...) Preocupados em garantir a continuidade da política de direita é vê-los a amedrontar o povo com sondagens, com fabricados empates técnicos, com falsas disputas entre putativos primeiros-ministros.
Não há sondagens que salvem PSD e CDS da derrota. Bem pelo contrário, o que mesmo as sondagens revelam é que PSD e CDS sofrerão uma das suas mais pesadas derrotas.(...)
Em 4 de Outubro os deputados confiados à CDU contam sempre para retirar deputados ao PSD/CDS (...)
Mas contam também para impedir que a política de desastre nacional que PS, PSD e CDS prosseguem há décadas seja agora prosseguida pela mão do PS.(...)»
Nova sondagem corrobora o que AQUI afirmámos: a confirmarem-se nas urnas os resultados de sucessivas sondagens PSD e CDS-PP sofreriam uma tremenda derrota.
A coligação PSD/CDS-PP em 4 anos perderia 17,6 pontos percentuais. Ou seja, perderia a maioria absoluta de deputados e não estaria em condições de formar governo.
Importa lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra.
Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
. As problemáticas que são propostas pelas sondagens de opinião são subordinadas a interesses políticos, e isso orienta muito fortemente tanto o significado das respostas como o significado que é dado à publicação dos resultados. A sondagem de opinião é, no momento actual, um instrumento de acção política; a sua função mais importante talvez seja a de impor a ilusão de que existe uma opinião pública como somatório puramente aditivo de opiniões individuais; a de impor a ideia de que existe alguma coisa que seria como que a média das opiniões ou a opinião média. A “opinião pública” que é manifestada nas primeiras páginas dos jornais sob a forma de percentagens (60% dos franceses são favoráveis a…), esta opinião pública é um artefacto puro e simples, cuja função é a de dissimular que o estado da opinião num determinado momento é um sistema de forças, de tensões, e que não há nada de mais inadequado para representar o estado de opinião do que uma percentagem.
. Sabe-se que qualquer exercício de força é acompanhado de um discurso que visa legitimar a força de quem o exerce; pode mesmo dizer-se que o que caracteriza uma relação de força é que não se tem senão a força que se dissimula enquanto tal. Em resumo, para falar com simplicidade, o homem político é aquele que diz: “Deus está connosco”. O equivalente de “Deus está connosco” é, hoje em dia, “a opinião pública está connosco”. Este é o efeito fundamental de uma sondagem de opinião: formar a ideia de que existe uma opinião pública unânime, e assim legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam e a tornam possível.
Extrato de “L’opinion publique n’existe pas” (Quelques remarques critiques sur les sondages d’opinion) par Pierre Bourdieu - 24 octobre 2012
adaptado de um e-mail enviado pelo Cid
Não esquecer: As sondagens são instrumentos de acção política.
Nos dias 19 e 20 de Junho foi publicada uma sondagem realizada pelo CESOP (Centro de Estudos e Sondagens de Opinião - Universidade Católica) para a Antena 1, a RTP, o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias.
No seu tratamento jornalístico TODA (jornais, rádios, revistas, televisões) a comunicação social dominante pós o acento em duas teses fundamentais quanto às previsíveis intenções de voto dos portugueses:
empate técnico entre o PS (37%) e a coligação PSD/CDS-PP (38%)
o facto de em relação à anterior sondagem (Outubro de 2014) o PS ter descido 8 pontos percentuais e a coligação de direita ter subido 6.
No entanto...
Autores, comentadores e analistas parecem não ter percebido o óbvio:
PSD e CDS-PP juntos obtiveram nas eleições legislativas de 2011 50,35% dos votos. De acordo com esta sondagem agora andam pelos 38%.
Logo, a coligação PSD/CDS-PP em 4 anos perderia 12 pontos percentuais. Ou seja, perderia a maioria absoluta de deputados e não estaria em condições de formar governo.
Nenhum destes senhores e destas senhoras, profissionais da informação e da comunicação, deu por este facto? A sério?!...
Eu cá não sou de «teorias da conspiração» (a maioria das quais, sublinhe-se, mais cedo ou mais tarde se vêm a revelar verdadeiras). Mas a verdade é que também não se aperceberam destes factos nas eleições para o Parlamento Europeu em Maio de 2014:
PPD/PSD + CDS/PP = O PIOR RESULTADO de todas as 38 eleições já realizadas em Portugal desde o 25 de Abril.
PS = O 2º mais baixo resultado de sempre em eleições para o Parlamento Europeu.
PS + PPD/PSD + CDS/PP = Cerca de 60% dos votos (o mais baixo resultado de sempre do chamado «arco da governação»)
Acresce que a referida sondagem não cumpre cabalmente com os critérios científicos referidos no meu artigo que segue.
SONDAGENS: PREVISÕES E RESULTADOS
As eleições já se realizaram. Os votos foram contados. Os resultados são conhecidos. É tempo de análise objectiva de algumas questões. A das sondagens é uma delas.
Uma breve observação aos diversos «estudos de opinião» revela uma «realidade» bem diferente da que acabou por acontecer no dia 22 de Janeiro. Mudança repentina das escolhas dos eleitores? Falta de rigor? Incompetência? Manipulação? Ou…?
1. Nunca um Presidente da República (PR) no pós 25 de Abril de 1974 tinha ido tão longe. Em mais de 40 eleições foi a primeira vez que um supremo magistrado da nação apelou descaradamente ao voto numa determinada política. Fê-lo através de uma «mensagem ao País», no chamado «dia de reflexão». Fê-lo com base na insistência da escolha sobre «quem vai governar». Fê-lo promovendo os que se identificam com a direita dos interesses e os interesses da direita.
Mas o PR foi ainda mais longe. Afirmou, categórico, que os cidadãos que não fossem votar «não têm depois autoridade para criticar as políticas públicas». E acrescentou: «Só quem vota poderá legitimamente exigir o melhor do próximo Governo». Lê-se e não se acredita! De uma penada só exorbitou os poderes que a Constituição da República Portuguesa lhe confere. Constituição que, sublinhe-se, ele jurou cumprir e fazer cumprir.
Uma coisa, legítima, é combater a abstenção, apelando aos cidadãos para que exerçam o direito de votar. Outra bem diferente, ilegítima e inadmissível, é ameaçá-los de penalizações por exercerem um direito, que a lei lhes confere, o da abstenção.
Em ambos os casos, votem ou abstenham-se, os cidadãos têm o legítimo e pleno direito de ter opinião sobre a política que o futuro governo fará. E quanto a isso, por muito que lhe custe, o actual inquilino do Palácio de Belém nada pode fazer. Felizmente não tem esses poderes. Ninguém lhos conferiu. E, em democracia, ninguém lhos pode conferir.
O cidadão Aníbal Cavaco Silva, recorde-se, é um «homem do aparelho» do PPD/PSD. Dele disse um dos seus mais próximos colaboradores, Miguel Cadilhe, «Cavaco é como um eucalipto: provoca aridez à sua volta». Durante 18 anos dos 37 que leva a democracia em Portugal assumiu responsabilidades políticas. Dois anos como Ministro das Finanças. Dez como Primeiro-ministro (pós 25 de Abril de 1974 aquele com mais tempo em funções). Seis como Presidente da República. Tempo mais do que suficiente para que consideremos as suas afirmações como «infelizes» ou um simples «deslize»…
2. Três sondagens por dia durante a recente campanha eleitoral. Um fartote. Importa recordar o que aqui escrevemos há mais de 5 anos.
As sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra. Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
A esmagadora maioria das sondagens relacionadas com as eleições para a Assembleia da República, mais uma vez, não preenchiam estes requisitos.
O tratamento jornalístico de sondagens requer conhecimentos específicos e reveste-se de bastante sensibilidade. Os seus resultados prestam-se a várias interpretações. Uma análise incompleta e pouco rigorosa dos dados de uma sondagem pode ter consequências graves e imprevisíveis, para a imagem das pessoas, ou instituições, submetidas a escrutínio. Além de enganar ou confundir aqueles que não tenham a curiosidade de verificar, em pormenor, esses dados.
Mais uma vez nada disto foi tido em atenção. E a Entidade Reguladora continua a assobiar para o lado.
3. Dizem os livros que falácia consiste em partir de uma afirmação falsa, intencionalmente, e, a partir dela, pretender retirar conclusões verdadeiras.
Os comunistas defendem a política do «quanto pior melhor», escrevem e dizem uns. Santa ignorância! Já em 1846 (há 165 anos!!!) um jovem chamado Karl Marx, num livro com o título «Miséria da Filosofia», desmistificava esta tese. E desde essa data milhares e milhares de páginas foram escritas a desmontá-la. Será que nunca mais aprendem? Ou fazem de propósito?
Os homens da troika «foram os grandes vencedores da noite: 79,4% dos eleitores votaram nos partidos que assinaram o memorando», dizem e escrevem outros. E eu a pensar que eleitores e votantes eram dois conceitos distintos…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 10 de Junho de 2011
Já houve quem tivesse a sua Marinha Grande. Ou quem, a caminho da Europa, a tenha tentado sem sucesso. Nestas eleições, há quem busque o “caso” que inverta a queda e evite o desastre. Assim de modo organizado, comandado por alguns seniores da cidade, monta-se uma campanha, contra os que as suas próprias sondagens afirmam estarem mais fortes e que são a voz coerente e contrária aos mandadores do FMI. O “caso das escadas monumentais” explica-se assim. Podemos gostar ou não de murais e pinturas. Sabemos que são legais, mas admitamos que se não goste. Admitamos também que se não goste de outros exercícios de liberdade, da liberdade de expressão, de manifestação ou de pensamento, até. Mas democraticamente, respeite-se.
A Constituição da República e a legislação que regula a propaganda política (Lei 97/88, alterada pela Lei 23/2000 de 23 de Agosto) permitem a pintura de murais, estabelecendo taxativamente os locais vedados a estas pinturas. Admitamos, em jeito de exercício, que por questões de gosto ou estética, se é contra a pintura de degraus de escada com tinta de água que sairá depois de duas ou três chuvadas. Admitamos! Mas então se sempre se pintaram as monumentais, o que faz correr meia dúzia de indivíduos que dizendo-se estudantes nunca antes se manifestaram contra as propinas, Bolonha ou a redução e extinção de bolsas que estão a expulsar milhares de estudantes das escolas?
As escadas monumentais de Coimbra, com os seus 125 longos degraus, não têm 800 anos como um ignorante escreveu. Quando Salazar vandalizou a alta nos anos 40, a escadaria do liceu foi destruída e iniciou-se a construção destas escadas. Aí viveram-se momentos de resistência durante a crise académica de 69, com a polícia a cavalo a agredir os estudantes. Em 69 e em anos seguintes, os estudantes da academia pintaram vezes sem conta a escada. Provavelmente, também o fez o ministro da justiça, Alberto Martins. Com o 25 de Abril, as monumentais foram pintadas dezenas de vezes, por listas concorrentes à direcção geral da academia, pela própria DG, por listas partidárias ou por cidadãos. Podemos não gostar. Admitamos! Mas como entender agora esta reacção nunca antes vista? Não será uma campanha anticomunista, com recurso a grupelhos, mas com uma direcção que não engana ninguém? Não é bonito, é claramente ilegal, judicialmente punível e de tom salazarista, a acção organizada de perturbação de um comício em plena campanha eleitoral, insultando e vaiando os oradores. Não são estudantes que mobilizam uma provocação com apelos de combate aos “comunas”, aos sovietes, aos energúmenos e à escumalha comunista! Não foi edificante ver alguns jovens trajados de estudantes a fazerem a saudação nazi ao som do hino nacional e a alvejarem os participantes (com apelo à “tomatina anti-PC” no facebook).
Será que já nos arcos poderosos, em desespero, se recorre à provocação, ao estilo de Mussolini? O primado do arrivismo contra a liberdade. Mas a liberdade é e será sempre monumental!
Chegámos ao final da campanha com uma certeza: existe apenas um candidato que não pactua com este "sistema". "Sistema" onde não existe democracia económica, nem social. "Sistema" onde a democracia cultural é limitada. "Sistema" onde a democracia política está amputada.
Francisco Lopes, pois é a ele que nos referimos, começou por ser, para os comentadores e analistas de serviço, o electricista com fracas habilitações literárias. O "homem do aparelho". O "ortodoxo". O "perfeito desconhecido" do País e do eleitorado. Mas a realidade no terreno, como hoje quase todos reconhecem (mesmo que a contragosto), foi outra.
Francisco Lopes é o único candidato que afirma que não é de maneira nenhuma um candidato dos interesses de todos os portugueses. O único que declara, preto no branco, que não assume de maneira nenhuma os interesses da exploração, da especulação, da decadência e da corrupção.
O único que comprova que o declínio nacional, a descaracterização do regime democrático e o ataque à soberania e independência nacionais marcam hoje a realidade do País. E que demonstra que há responsáveis: o PS e o PSD, com ou sem o CDS, que durante mais de três décadas partilharam alternadamente a governação em confronto com os valores de Abril.
O único candidato que pode afiançar que não tem responsabilidades ou quaisquer compromissos com as políticas que estão na base da actual situação. O único que protagoniza uma ruptura com a destruição da produção nacional, a exploração dos trabalhadores, a abdicação nacional, as injustiças sociais. O único que denunciou e combateu um Orçamento do Estado destinado a impor mais sacrifícios, mais dificuldades e mais pobreza.
Francisco Lopes é o único candidato que sublinha que este caminho de retrocesso e desigualdades sociais a que assistimos em Portugal contrasta com a escandalosa protecção e apoio dados ao grande capital e ao aumento dos seus colossais lucros. Que esta situação exprime as contradições do sistema capitalista mundial e o peso cada vez mais negativo do processo de integração europeia. E que este é um caminho inaceitável.
O único candidato que sustenta que existem na sociedade portuguesa dois campos. De um lado, os que erguem os valores da solidariedade e da dignidade humana inseparáveis do direito ao emprego, de uma mais justa distribuição do rendimento, da valorização dos salários e pensões de reforma. Do outro, os que, refugiados em discursos caritativos e encenada comiseração, exploram a pobreza que eles próprios promovem, instrumentalizando os sentimentos de solidariedade, iludindo as razões e responsabilidades pelo aumento sem fim do número de pobres. Francisco Lopes opta de forma inequívoca pelos primeiros.
Francisco Lopes é o único candidato que se dirige a todos os que sentem vontade de desistir. E diz-lhes que não desistam, que vale a pena acreditar, que vale a pena confiar em quem tem palavra e está consigo nas suas lutas e inquietações. E diz-lhes que a melhor resposta que têm para dar é juntarem-se a ele com o seu voto para condenar os que, no Governo e na Presidência, há muito desistiram de Portugal.
Por tudo isto, e muito mais, é que o voto em Francisco Lopes é um voto diferente de todos os outros: porque é o único que conta para a mudança.
Nota final: Aldrabice pura e dura é o único qualificativo que me ocorre. A sondagem da Marktest para a TSF e o Diário Económico sobre presidenciais ontem divulgada é um verdadeiro "caso de estudo". Consegue a proeza de não cumprir NENHUM dos parâmetros elementares de credibilidade. Nem quanto ao critério das amostras consideradas. Nem quanto à fiabilidade dos métodos de inquirição. Nem quanto aos procedimentos complementares de estimação. Nem finalmente quanto à forma como foram apresentadas por quase todos os meios de comunicação social (será que a maioria dos "especialistas" que a comentou leu a ficha técnica?...).
Que credibilidade merece uma sondagem onde, só um exemplo, o Litoral Norte (que, sublinhe-se, não inclui o Grande Porto) teve 155 inquiridos, quase os mesmos que a Grande Lisboa (onde existem 2,5 milhões de eleitores)? E onde o Interior Norte teve 181, ou seja mais 25 (!!!) que a Grande Lisboa?
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 21 de Janeiro de 2011
As eleições já se realizaram. Os votos foram contados. Os resultados são conhecidos. É tempo de análise objectiva de algumas questões. A das sondagens é uma delas.
Uma breve observação aos diversos «estudos de opinião» revela uma «realidade» bem diferente da que acabou por acontecer no dia 22 de Janeiro. Mudança repentina das escolhas dos eleitores? Falta de rigor? Incompetência? Manipulação? Ou…?
História Recorde-se que a importância das sondagens como fonte de informação para os media é um fenómeno relativamente recente. Só a partir dos anos trinta do século XX, G. Gallup e E. Roper iniciaram um novo tipo de sondagens, com amostras estruturadas. O aperfeiçoamento do método de auscultação levou à expansão das sondagens “científicas” a partir de 1936.
Os avanços técnicos, científicos e tecnológicos vieram tornar mais fácil a auscultação da opinião pública, nomeadamente, através da entrevista telefónica.
As sondagens tornaram-se uma prática corrente durante e entre os períodos eleitorais. E não só.
Os diferentes meios de comunicação noticiosos estabeleceram parcerias entre si. Partilhando os custos e rentabilizando os resultados através de processos combinados de divulgação na TV, na rádio e nos jornais. As sondagens institucionalizaram-se como fonte de informação.
Teoria Pedro Magalhães nas páginas do “Público” e Carlos Gonçalves, Jorge Cordeiro e Vítor Dias no “Avante!”, entre outros, fornecem-nos importantes elementos de reflexão. Importa, desde logo, lembrar que as sondagens só permitem uma previsão aproximada da realidade eleitoral, ou outra. Em todos os casos no intervalo de valores determinado pela margem de erro. E isto se for utilizado o método aleatório, amostras estratificadas, criteriosamente seleccionadas e de dimensão adequada. E métodos de inquirição fiáveis. E se os procedimentos de estimação complementares – relativos à abstenção e à distribuição dos não respondentes e indecisos – estiverem conforme à realidade em análise.
Divulgação O tratamento jornalístico de sondagens requer conhecimentos específicos e reveste-se de bastante sensibilidade.
Os seus resultados prestam-se a várias interpretações. Uma análise incompleta e pouco rigorosa dos dados de uma sondagem pode ter consequências graves e imprevisíveis, para a imagem das pessoas, ou instituições, submetidas a escrutínio. Além de enganar ou confundir aqueles que não tenham a curiosidade de verificar, em pormenor, esses dados.
Prática A esmagadora maioria das sondagens relacionadas com as eleições para a Presidência da República, vindas a público entre 28 de Outubro e 22 de Janeiro, não preenchiam estes requisitos.
Não os cumpriam quanto aos parâmetros elementares de credibilidade. Nem quanto ao critério das amostras consideradas. Nem quanto à fiabilidade dos métodos de inquirição. Nem quanto aos procedimentos complementares de estimação. Nem finalmente quanto à forma como foram apresentadas por quase todos os meios de comunicação.
Realidade Foram as sondagens e a comunicação social, que as encomenda, quem manteve acesa a chama da candidatura de Cavaco Silva, durante os quase dez anos que o ex-primeiro-ministro esteve «retirado da vida política». Foram umas e outra quem o catapultou para a posição de, mais que favorito, vencedor antecipado.
Estatística Analisemos duma forma objectiva dois casos. Por um lado, a sequência das 24 sondagens registadas, entre 27 de Outubro e 20 de Janeiro, no âmbito das eleições presidenciais. Por outro, o caso particular representado durante 12 dias pela sondagem da Marktest.
Sobre a primeira, sublinhem-se três constatações:
Em primeiro lugar, o facto de nas 24 sondagens publicadas ter sido sempre atribuído a Cavaco Silva valores bem superiores ao seu resultado. Sendo que em 17 delas as previsões estiveram sempre mais de 5 pontos percentuais acima do que obteve.
Depois, o pormenor de em 15 destas 24 sondagens Francisco Louçã aparecer sempre com valores superiores (alguns bem superiores) àquilo que mostrou valer nas eleições.
Finalmente, a proeza de em 24 das 24 sondagens Jerónimo de Sousa aparecer sempre com valores inferiores ao que os que decidem lhe quiseram dar.
Quanto à da Marktest.
Registe-se o facto de, a exemplo do primeiro caso, Cavaco Silva aparecer desde sempre com valores bem acima do que veio a obter.
Saliente-se a curiosidade científica de em 12 das 12 sondagens publicadas pelo DN/TSF Louçã ter sido sempre bafejado com resultados superiores aos que veio a obter.
E de, inversamente, ter sido possível atribuir a Jerónimo de Sousa em 12 das 12 sondagens valores bem inferiores aos que veio a obter.
Por fim, refira-se a delirante sondagem de 14 de Janeiro em que se atribuía a Louçã quase o dobro das intenções de voto de Jerónimo e um quase empate técnico com Mário Soares.
Notas finais Não se pense que estas questões se restringem ao âmbito político-eleitoral. Também nas audiências televisivas e radiofónicas, por exemplo, se manifesta a imprecisão, a falta de rigor e profissionalismo, a incompetência, a manipulação. De que outra forma se explica que se afirme, sem pudor, que o programa A foi visto por 2 milhões 456 mil 324 portugueses? Ou que a rádio Z tem uma audiência de 7,5%?
Para concluir, alguém nos explica este curioso fenómeno de nas noites das eleições, as empresas de sondagens e os órgãos de comunicação social publicitarem resultados das sondagens à boca das urnas sempre com margem de variação ou incerteza (por exemplo, partido tal entre 38 e 42% ou partido tal entre 6 e 8%). Mas já nunca o fazem durante os outros 364 dias do ano...
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 6 de Fevereiro de 2006