O capitalismo de Estado é um regime económico em que o Estado intervém como um proprietário privado solidário e comum, como um detentor associado de propriedade privada que exprime o interesse dos proprietários privados.
No nosso país muitos gostam de repetir o pensamento de V.I. Lénine de que o monopólio capitalista é a preparação material completa para o socialismo. Mas não se pode entender isto de uma forma simplista, como se bastasse chegar ao poder, nacionalizar a grande indústria capitalista para se obter logo o socialismo.
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Ora os princípios de formação de rendimento na propriedade socialista e na propriedade burguesa são directamente opostos, antagónicos, mesmo quando a propriedade burguesa se reveste da forma estatal.
Com efeito, a propriedade burguesa pode ser socializada completamente e conservar, no entanto, o seu carácter explorador.»
Tatiana Khabarova, Doutorada em Ciências Filosóficas
Serguei Matvéievitch Chtemenko (1907-1976), membro do PCUS desde 1930, ano em que conclui a Escola Militar de Artilharia de Sebastopol.
Exerce funções no Estado-Maior General desde 1940, tornando-se chefe da Direcção de Operações em 1943.
Em Novembro desse ano acompanha Stáline à conferência de Teerão.
No Verão de 1944 coordena as acções das diferentes frentes.
Após a guerra torna-se chefe do Estado-Maior General, primeiro vice-ministro da Defesa da URSS (1950-1952) e candidato do CC (1952-1957).
Em 1968 é nomeado chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Unificadas dos Estados Signatários do Pacto de Varsóvia.
O texto é um extracto do livro O Estado-Maior General nos Anos da Guerra, em dois volumes, que teve duas edições (1968 e 1975), no qual Chtemenko reúne as suas memórias sobre aquele período.
«Nos anos da Grande Guerra Pátria, quando milhões de pessoas participavam nos combates com armamento e técnicas eficazes, o problema da concentração de forças tornou-se extraordinariamente difícil. Este princípio ganhou um novo conteúdo. O nosso alto comando aplicou-o frequentemente em operações na frente e conseguiu êxitos assinaláveis. Isto foi muito evidente na batalha de Stalingrado, onde o Exército Vermelho, com um número de forças equivalente, cercou os alemães e liquidou-os.
As nossas tropas praticaram, com êxito, a concentração de forças em quase todas as operações posteriores, sem que o alto comando fascista tenha uma única vez conseguido opor-se-lhe de uma maneira eficaz. Com o decorrer do tempo, o nosso alto comando, cada vez mais confiante, procurava enfraquecer algumas secções para concentrar tropas noutros pontos. Embora estivesse sempre presente o perigo de o adversário atacar em primeiro lugar na secção da frente enfraquecida, nunca foi capaz de o fazer, já que na maioria dos casos o nosso alto comando concentrou as tropas sabiamente, fazendo-o só no último momento, depois de ter enganado o adversário com manobras de diversão.
Os generais de Hitler, que sofreram derrota após derrota, não queriam admitir que os seus fracassos tinham origem na crescente arte do nosso comandante e na capacidade militar dos nossos soldados. Para se justificarem, os generais nazis referiam, entre outras razões, a superioridade de forças do Exército Vermelho, que na verdade tinha sido conseguida nas direcções principais através de uma sábia concentração de forças.»
Como já foi referido [Batalha das Ardenas: o papel do Exército Vermelho], tendo em atenção a situação difícil dos aliados ocidentais, a ofensiva foi antecipada cinco dias, sendo diferentes as datas das ofensivas das frentes.
A 1ª Frente Ucraniana iniciou a ofensiva a 12 de Janeiro, a 1ª e 2ª frentes Bielorrussas em 14 de Janeiro.
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A ofensiva de Inverno do exército soviético, numa frente com 1200 quilómetros de comprimento entre o Mar Báltico e os Cárpatos, foi bem sucedida.
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De acordo com os seus cálculos [deIvan Stepanovitch Kóniev, marechal da União Soviética, comandante da 1ª Frente Ucraniana], durante os 23 dias de combate, a 1ª Frente Ucraniana derrotou 21 divisões de infantaria, cinco divisões de blindados, 27 brigadas autónomas de infantaria, nove brigadas de artilharia e brigadas lança-granadas, assim como inúmeras unidades especiais e batalhões autónomos. «Fizemos 43 mil prisioneiros, mais de 150 mil soldados e oficiais morreram. Nos despojos de guerra encontravam-se mais de cinco mil peças de artilharia e lança-granadas, 300 tanques, 200 aviões assim como uma grande quantidade de meios técnicos de combate e outro equipamento.»
Numa carta para o Quartel-General dos Aliados, Eisenhower escreveu: «A situação tensa podia ser sensivelmente aliviada se os russos iniciassem uma grande ofensiva…»[1]. Esta foi a situação que levou à troca de correspondência entre Churchill e Stáline já citada. A 14 de Janeiro, Eisenhower enviou ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas soviéticas um telegrama: «A notícia importante de que o esplêndido Exército Vermelho avançou num novo campo de batalha foi recebida com entusiasmo por todos os exércitos aliados. Permito-me saudá-lo e desejar-lhe os maiores êxitos a si e a todos os que dirigem e participam nesta esplêndida ofensiva.»[2]
Churchill anotou a 18 de Janeiro na Câmara dos Comuns: «O Marechal Stáline é muito pontual. Prefere adiantar-se do que atrasar-se na colaboração com os aliados.»[3]
A ofensiva soviética obrigou o Quartel-General da Wehrmacht a deslocar, entre 15 e 31 de Janeiro, oito divisões, entre as quais quatro divisões de blindados e uma divisão de infantaria motorizada com 800 blindados para a frente germano-soviética. A frente Oeste teve poucas substituições, em Janeiro 291 blindados, 1328 na frente germano-soviética.[4]
A ofensiva soviética tinha levado o Quartel-General da Wehrmacht a abdicar de novas acções ofensivas.
[1]The Papers of Dwight D. Eisenhower: The War Years, Tomo 4, Baltimore - Londres 1970, p. 2407. Citado de acordo com História da II Guerra Mundial em XII Volumes, 10/288.
[2]The Papers of Dwight D. Eisenhower: The War Years, Tomo 4, Baltimore - Londres 1970, p. 2407. Citado de acordo com História da II Guerra Mundial em XII Volumes, 10/289.
[3] Winston S. Churchill, Discursos 1945, Vitória Final, Charles Eade, Zurique, 1950, p. 47.
[4]História da II Guerra Mundial em XII Volumes, 10/290.
Em 12 de Junho de 1990, dia que hoje está inscrito no calendário como uma data histórica, você era um político activo, estava quase a tornar-se ministro da Imprensa da RSFSR [foi nomeado para este cargo passado um mês (Nota da Redacção – N.R.)]. Mas temos dois 12 de Junho na nossa história recente: um é o dia da aprovação da declaração sobre a independência e o outro, no ano seguinte, o dia da eleição de Éltsine como presidente. São dois elos ligados entre si, dois anéis de serpente, que se cerraram em torno da União Soviética agonizante. Celebra hoje esta data? Este é para si um dia luminoso ou uma data negra do calendário?
Para mim, naturalmente, é um dia negro do calendário. O segundo 12 de Junho decorre do primeiro: a eleição de Borís Éltsine decorre da declaração da independência da RSFSR. Posso afirmar-lhe que a declaração da independência não foi de todo uma decisão política espontânea, mas o resultado de um plano longamente amadurecido, uma vez que o projecto desse documento foi esboçado ainda em 1974 no Instituto IIASA.
Se há cinco ou seis anos visse um tal título pensaria provavelmente que o artigo falaria da liquidação dos empresários, como classe, da sua reeducação na construção do Canal Mar Branco-Mar Báltico, da sua punição nos gulag e de outros pesadelos para o pequeno negócio. E não poderia ser de outro modo, pois Stáline era a construção do socialismo, o fim da NEP, a economia planificada. Que lugar podia haver aqui para a iniciativa privada? Porém, constata-se que podia e que, no tempo do camarada Stáline, este sector da economia nacional se desenvolveu com grande pujança, até ser encerrado e liquidado, em 1956, por Khruchov, juntamente com a eliminação das hortas domésticas (as quais, aliás, durante o tempo de Stáline podiam ter até um hectare de terra).
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E qual foi o legado que o camarada Stáline deixou ao país no que respeita ao sector empresarial cooperativo da economia?
O número de oficinas e empresas nas mais diversas actividades (da indústria alimentar à metalurgia, da joalharia à indústria química) atingiu as 114 mil. Nelas trabalhavam cerca de dois milhões de pessoas, que produziam seis por cento da produção industrial bruta da URSS, sendo que as uniões de artesãos e as cooperativas industriais produziam 40 por cento do mobiliário, 70 por cento dos utensílios de cozinha e de mesa em metal, mais de um terço dos têxteis em malha e quase a totalidade dos jogos e brinquedos para crianças. Para o sector industrial cooperativo trabalhavam cerca de uma centena de gabinetes de projecto, 22 laboratórios experimentais e até dois institutos de investigação. Além disso, o sector tinha um sistema próprio de pensões, não estatal! Podemos ainda acrescentar que as cooperativas concediam aos seus membros empréstimos para a compra de gado, ferramentas e equipamentos e para a construção de habitação.
«– Sabe, Elena, quando terminei de ler o seu livro tive logo o forte desejo de lhe perguntar qual é a parte de verdade e qual é a parte de invenção literária?
– É uma pergunta complicada. Enquanto investigadora, tendo em conta todos critérios, devo dizer que, no essencial, tudo foi inventado. Como poderia eu saber de que falaram e o que disseram Stáline e Béria? Mas como autora de uma obra de ficção, afirmo que o livro está repleto de factos e tem muito a ver com um manual de história. É tudo uma questão de critérios. Se falarmos dos factos em si, então no livro está aquilo que aconteceu realmente e o que não aconteceu, e também se discorre sobre o que terá acontecido com maior probabilidade, mas sobre isso não há provas, apesar de dispormos de memórias abundantes e detalhadas.»