Jerónimo de Sousa afirmou, em conferência de imprensa, que «o aumento dos preços torna ainda mais evidente a injusta repartição do rendimento nacional que tem sido impiedosamente agravada pelas políticas de direita do Governo» e, a propósito da chamada de atenção do PR para os ordenados chocantes dos administradores das grandes empresas, sublinhou que «é justo o reparo, mas a verdade é que igualmente obscena é a política de efectivo favorecimento dos lucros e da acumulação capitalista que este governo impõe, em detrimento de uma justa valorização dos salários e pensões».
Quem me explica esta sensação de que ando sistematicamente a ser enganado e de que «aqui há gato»?
Quem me explica que desde a introdução da nova moeda o fenómeno tenha alastrado a vários países da chamada “zona euro”?
Quem me explica que em França, Itália e outros, haja um divórcio crescente entre os números oficiais e o real nível de rendimentos da maioria da população?
Quem me explica que também em Portugal se verifique uma contradição insanável entre a taxa oficial de inflação e a real subida do custo de vida sentida por todos nós?
Quem me explica os critérios que estão subjacentes à composição do chamado “cabaz de compras”, a partir do qual se calcula a referida taxa?
Quem me explica (ver aumentos no post seguinte) como se consegue uma taxa de inflação prevista para 2008 de 2,1%?
Quem me explica como é que reformados de um banco podem ser candidatos a administradores executivos desse mesmo banco?
Quem me explica porque é que num dia a CMVM e o Banco de Portugal falam em ilícitos criminais dos administradores do BCP de 1999 a 2007 e no dia a seguir se calam?
Quem me explica como é que o Banco de Portugal num dia fala em inibição de desempenhar cargos no Conselho de Administração de instituições bancárias e financeiras por parte dessas mesmas pessoas e no dia a seguir autoriza?
Quem me explica que não se considere esta situação como reveladora de uma promiscuidade inadmissível (para não dizer outra coisa)?
Quem me explica que ISTO, entre outras coisas, não tem nada a ver com o assunto?
Estou em estado de choque! Por duas razões. Por um lado, porque ando distraído. O que é imperdoável. Por outro, porque há números que falam por si.
Números do “Relatório e Contas” de 2006 do Banco Comercial Português (BCP) (ver aqui)
• Vencimentos dos membros do Conselho de Administração do BCP em 2005 = 31.339.000€ + 9.077.000€ para o Fundo de Pensões
• Vencimentos dos membros do Conselho de Administração do BCP em 2006 = 26.955.000€ + 5.706.000€ para o Fundo de Pensões. De sublinhar que 5.460.000€ corresponderam à parte fixa do vencimento e 21.495000€ à parte variável.
Atendendo a que são 9 administradores (embora como é óbvio os vencimentos sejam diferentes – ver págª 148), dá a linda média de:
• Em 2005: 320.762€ mês, vezes 14 meses, por administrador!!! • Em 2006: 259.214€ mês, vezes 14 meses, por administrador!!!
Trezentos e vinte mil euros por mês de ordenado em 2005? 260 mil euros por mês de ordenado em 2006!!! É obra. Longe de mim pôr em dúvida a excepcional capacidade de gestores dos referidos senhores. Basta ver os seus C.V. (págª 151 e seguintes). Mas 260 mil euros mês??? Mas 650 ordenados mínimos???
Mais grave ainda. Alguns destes senhores têm o supremo atrevimento de vir defender publicamente a necessidade de contenção, ou mesmo a redução, de salários dos trabalhadores portugueses.
Estamos todos esclarecidos sobre a moral de quem manda efectivamente neste país!