Outras vezes, uns desatam a pedir desculpas (o que mostra que são bem educados...) e outros exigem pedidos de desculpas por um gesto que não lhes era dirigido:
Desde a aprovação da Constituição da República, em 2 de Abril de 1976, que, ciclicamente, sectores do denominado «bloco central» surgem a defender a recorrente ideia sobre a chamada reforma do sistema político. Esta reforma, no entanto, é sempre concebida na perspectiva de um empobrecimento democrático. Mais. Ela é perspectivada como instrumento ao serviço do branqueamento das responsabilidades das políticas de direita e dos partidos que as aplicam. É por isso que os sucessivos projectos de revisão das leis eleitorais – um elemento central da sua concretização – têm sido no sentido do favorecimento da bipolarização e da diminuição do pluralismo partidário.
São evidentes as crescentes dificuldades que PS e PPD/PSD sentem para manter a base de apoio político necessária ao prosseguimento das suas políticas. O que constitui um factor adicional para procurarem na alteração dos sistemas eleitorais o que mais dificilmente obterão pelo voto.
Vimo-lo, em 2008, nas propostas de mecanismos que, a concretizarem-se, teriam transformado as eleições autárquicas de Outubro deste ano numa tremenda chapelada eleitoral. Pretendia-se a eliminação da eleição directa das Câmaras e a transformação artificial de maiorias relativas em absolutas. O pretexto foi, recorde-se, uma mentira esfarrapada, uma descarada aldrabice. A dita falta de «estabilidade governativa» das autarquias.
No mesmo sentido têm ido os sucessivos projectos de alteração das leis eleitorais para a Assembleia da República. Nomeadamente com a criação dos círculos uninominais e uma eventual redução do número de deputados.
Só num país politicamente muito doente é que os dois maiores partidos (PS e PPD/PSD) podem defender que as maiorias absolutas são um quase insubstituível pilar da democracia. Na verdade, acordos, negociações, coligações e entendimentos entre diversas forças políticas têm, ou deviam ter, igual dignidade e naturalidade democráticas.
PS e PPD/PSD enchem a boca com loas à participação dos cidadãos e à proximidade entre eleitos e eleitores. Não deixa de ser elucidativo que lhes neguem logo à partida o simples e inalienável direito de, com o seu voto, poderem escolher aqueles que melhor os representem.
Alberto João Jardim habituou-nos às suas tiradas ditas de anti-regime. Nas sucessivas revisões constitucionais Jardim assumiu-se sempre como o porta-voz das posições mais «radicais» da direita. Objectivamente, funcionou como a tropa de choque que permitia ao PPD/PSD aparecer com uma posição mais mitigada nas negociações com o PS e daí retirar os devidos dividendos. Daí que seja de estar atento ao significado da sua intervenção na noite das eleições para o Parlamento Europeu.
O somatório da votação do BE e da CDU são um sintoma de «doença democrática», afirmou. É preciso mudar o sistema, diz ele. E com ele, na mesma noite, em perfeita consonância, o candidato do PS, Vital Moreira.
A fazer fé nas suas declarações Jardim e Vital compartilham a concepção anti-democrática (para não lhe chamar outra coisa) de que a esquerda pode existir, desde que não governe nem constitua uma força capaz de influenciar a governação. Ambos lançaram o alarme sobre uma alegada fragmentação do sistema partidário. Ambos defenderam a perigosa teoria de que é preciso «mudar o sistema».
Por outras palavras, ou muito me engano, ou Alberto João Jardim e Vital Moreira já se candidataram para elaborarem a teorização de uma «reforma» do sistema eleitoral. «Reforma» essa que conduza à aprovação de uma lei que assegure, por batota eleitoral, a criação de falsas maiorias (PS e/ou PPD/PSD) e a consequente marginalização dos restantes. A ver vamos.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 12 de Junho de 2009
Não, não se trata de uma sondagem. Vital Moreira teve zero votos na eleição para o Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Contactado pela nossa redacção, Vital Moreira diz que continua à espera de um pedido de desculpas do PCP!...
Como se pode ver na foto, nas vésperas da votação Sócrates e Vital ainda confiavam num bom resultado, ignorando que, na sombra, forças ocultas, incluindo uma associação secreta, manobravam para a sua derrota.
A propósito da célebre tirada de Vital Moreira sobre o imposto europeu (ver, por exemplo, Vital Moreira propõe criação de imposto europeu), a sua colega de lista Ana Gomes na sua disputa com outro candidato resolveu divulgar parte do Relatório Lamassoure em inglês! Na UE existem tradutores e traduções oficiais. Aqui fornecemos, graciosamente, o mesmo texto em português! Pronto, foi difícil, custou, mas lá chegámos após espremermos os miolos. Era clicar num "botão" que diz "pt" no canto superior direito!
Depois de tal árdua operação ainda clicámos em Declarações de voto. E, adivinhem lá, descobrimos esta declaração do Pedro Guerreiro: Pedro Guerreiro (GUE/NGL), por escrito. «O PE pretende abrir o debate em torno dos recursos próprios da UE, antecipando a discussão que se irá realizar em 2008/2009, possibilitado pela cláusula de revisão prevista no Acordo Interinstitucional para as Perspectivas Financeiras 2007/2013.
Partindo da crítica ao actual sistema, que antes sancionou, e questionando a regra de unanimidade no Conselho - necessária para qualquer alteração -, o PE sugere canalizar, a prazo, para o orçamento da UE uma parte ou a totalidade das receitas de impostos já cobrados nos Estados-Membros, não descartando a introdução de novos impostos para esse fim. Isto, porque, de acordo com os parlamentos nacionais, "a curto prazo, é ainda prematuro ter um imposto genuinamente europeu".
Pela nossa parte, rejeitamos qualquer tentativa de introdução, de forma directa ou encapotada, de impostos europeus, seja a curto ou a longo prazo.
Consideramos que um sistema de recursos próprios justo deve ter por base as contribuições nacionais de acordo com a riqueza relativa de cada país (a partir do seu RNB), caminhando para que o esforço na contribuição orçamental seja semelhante para todos os cidadãos dos diferentes Estados-Membros da UE, assegurando-se um adequado papel redistributivo do orçamento comunitário, tendo como prioridade a convergência real e uma efectiva coesão económica e social.»
Mas acontece que as pessoas não percebem isto em português e como não queremos ficar atrás de Ana Gomes aqui vai a mesma frase em alemão, em holandês, em francês e em inglês:
Wir lehnen allerdings jegliche Versuche ab, europäische Steuern direkt oder indirekt, kurz- oder langfristig einzuführen.
Wij verzetten ons tegen elke poging om of op de korte of op de lange termijn directe of indirecte Europese belastingen in te voeren.
Nous rejetons toute tentative d’introduire des taxes européennes, que ce soit directement ou en secret, à court ou à long terme.
We reject any attempt to introduce European taxes, either directly or covertly, either in the short or long term.
Está claro? É que se não estiver claro também existe noutras línguas... Nós, europeus, somos assim.
De resto, caro Chagas, você tem razão. Ninguém ignora que eu sou um camelo. O meu lugar não é aqui no Atlântico: é lá ao longe, na extensa fila da minha caravana, pelo deserto fora, em direitura à costa do Hejaz, levando um fardo entre as duas corcundas, ruminando a ração de cardos, de olho cerrado e lábio pendente, balançando-me em cadência à melopeia de marcha que o guia vai cantando às estrelas. Enquanto que você, a própria sabedoria, com todos os atributos divinos da antiga Minerva, da Palas vencedora, a luminosa padroeira de Atenas, você tem o capacete, a lança, a dupla couraça de ouro sobre os dois seios, e a túnica caindo em pregas dogmáticas: assim se explica o nimbo cor de aurora que o acompanha, e o suave aroma de ambrósia e rosa que de si se exala. Você é Minerva, você é deusa.
Somente, deixe-me lembrar-lhe que Minerva era modesta. Em geral os deuses eram modestos: misturando-se tanto à vida dos homens, temiam-lhes muito o sarcasmo. E os homens mesmo, presentemente, quando têm algum valor também são sempre modestos. Os grandes ares de sabichão, como os ares de ricaço, como os ares de valentão, passaram totalmente de moda.
Há hoje nas sociedades cultas um tom geral de bom gosto, de ironia, de fino senso, que põem bem depressa no seu lugar os fanfarrões da sabedoria, do milhão ou do músculo.
Ao nababo que nos agita diante da face uma bolsa cheia de ouro, dizendo: —Pobretões! eu cá sou rico! responde-se tranquilamente: — Talvez, mas és grosseiro!
Ao mata-sete que nos mostre os seus pulsos de Sansão, e nos grite: — Fracalhões, eu cá sou forte! replica-se friamente: — Talvez, mas és brutal!
E ao sabichão que, com quatro volumes debaixo de cada braço, nos venha dizer, de alto: — Ignorantes! eu cá sou sábio! responde-se serenamente:— Talvez, mas és pedante!
E este tom, meu caro Chagas, é indispensável. Se não, os ricaços, os valentes e os sabichões, coligados entre si, tornariam bem cedo a sociedade inabitável.
Estas coisas passam-se assim, nas relações de homem para homem: mas, evidentemente, outro e bem diverso é o nosso caso. Eu (como você diz) sou um camelo; você (como eu afirmo) é Minerva. Está claro que devem ser reguladas por uma lei diferente, as relações entre uma deusa e uma besta de carga.
(...)
Eça de Queirós, Brasil e Portugal, Notas Contemporâneas.
Imaginemos o que é que terá acontecido então se uma das duas pessoas que FC pretendeu atingir, ou ambas, for vista a tomar à noite um sorvete noÁurea...
Se tomaram sorvete no Áurea, é porque receberam pela manhã um sinistro e-mail do Comité Central que lhes transmitia o que deviam escrever nos blogues (além de os mandar, à noite, tomar sorvete no Áurea, sob pena de).