Há em Portugal um défice reportado àquilo que somos obrigados a comprar lá fora em virtude de não produzirmos aquilo que consumimos, sob a forma de importações. Trata-se de um défice estrutural com uma dimensão financeira de um número com 11 algarismos, qualquer coisa como 61 174 milhões de euros.
Em 2008 o PIB português foi estimado em cerca de 166 167 milhões de euros. Quantos países no mundo, salvo aqueles onde se desenrolam conflitos armados, têm uma tal desproporção entre aquilo que produzem e aquilo que compram?
Se desagregarmos as importações pelos grandes ramos de actividade verifica-se um dado extremamente importante: cerca de 93% das nossas importações dizem respeito à agricultura, à pesca, à indústria extractiva e às indústrias transformadoras.
Em 1975 Portugal importava, números redondos, 20 a 25% do que se comia. Neste final de 2009 a proporção inverteu-se: importamos mais de 75% do que comemos.
Em 2008 na produção agrícola e produção animal, importámos 2 525 milhões de euros. E estamos a falar somente de produtos agrícolas e do reino animal não sujeitos a processos de transformação. Pescas, importámos 212 milhões. Produtos alimentares, bebidas e tabacos, importámos 7 481 milhões de euros.
Portugal tem de importar os produtos necessários à nossa alimentação, obrigando cada família a despender no estrangeiro cerca de 2 050 euros por ano.
Segundo os dados disponíveis do INE, reportados a 2007, a taxa de rentabilidade dos capitais próprios das empresas, com excepção do sector financeiro, foi de 10,17%. Isto significa que comparativamente ao ano anterior houve uma melhoria dessa taxa em cerca de 6,6%. Valor esse que supera em muito aquilo que foram os aumentos médios salariais do sector privado da economia. Facto que desmonta a hipócrita teoria de que é preciso primeiro criar riqueza para depois a distribuir.
O volume de investimento efectuado no 1º trimestre do ano de 2009 caiu para níveis do primeiro trimestre de há 12 anos atrás.
Se é verdade que a produção industrial teve uma quebra de 10,5%, a produção agrícola uma quebra de 5,8%, a construção uma quebra de 15,2%, o comércio, restaurantes e hotéis, uma quebra de 2,3%, os transportes e comunicações uma quebra de 8,9%, também é verdade que a actividade financeira e imobiliária cresceram 4,2%.
Entre 2005 e 2008 as actividades produtivas definharam, enquanto a especulação imobiliária e a financeirização da economia tiveram um crescimento médio anual de 2,6%.O investimento público neste período de governo do PS regrediu cerca 29% em termos reais.
Entre 2005 e 2009 tivemos um crescimento médio do PIB metade do da zona euro. O que significa que em vez de nos aproximarmos da média nos afastámos.
Se olharmos para a estrutura do PIB verificamos que em 1986 a indústria contribuía para o PIB com 28,3% e a agricultura e pescas com 9,9% enquanto às actividades financeiras e imobiliárias correspondia uns 10,1%. Em 2008 a indústria contribuía apenas com 14,9% e a agricultura e pescas com 2,5%. Paralelamente as actividades financeiras e imobiliárias subiram para 15,3%.
O défice da Balança Corrente e de Capital foi de 9% do PIB em média entre 2005 e 2008.
O endividamento externo líquido em percentagem do PIB passou de 10,4% em 1996 para 108,5% em 2009.
Evolução do investimento: segundo as contas nacionais do INE e a previsão do Banco de Portugal para 2010, nesta última década a sua evolução foi de menos 2,5% ao ano.
Paralelamente na última década o endividamento das famílias passou de 60% do PIB em 2000, para 96% em 2009, isto é, um aumento de 50%.
15 mil milhões de euros foram quanto alguns portugueses investiram em offshores desde 1996. Só em 2009, entre Janeiro e Novembro, esse investimento foi de 2 mil milhões de euros.
O PSI 20 da Bolsa de Lisboa valia mais de 12 mil pontos em Agosto de 2007 (início desta fase da crise do sistema capitalista). Hoje anda pelos 6 mil.
Existem em Portugal 139 grandes grupos económicos.
Dos quais 77,6% criados nos últimos 20 anos em resultado directo do processo de privatização (cerca de 50.000 milhões de euros entraram nos últimos 25 anos para os cofres do Estado, oriundos das privatizações) e consequente restauração dos grandes grupos monopolistas.
Este conjunto de Grupos Económicos – ao mesmo tempo que a nossa economia crescia a um ritmo médio de apenas 1,3% entre 2004 e 2007 –, viu os seus lucros aumentarem de 75%, atingindo os 6,8 mil milhões de euros – 4,2% do PIB. No mesmo período os lucros do sistema bancário cresceram 155,4%, atingindo em 2007 os 4,467 mil milhões de euros.
A análise dos maiores Grupos Económicos Nacionais no final de 2005 mostra-nos que dos doze grupos com lucros mais elevados – com um valor superior a 250 milhões de euros –, apenas dois se encontram ligados predominantemente à actividade produtiva (cimentos – Cimpor e papel – Semapa).
Um terço da estrutura accionista das empresas nacionais é detido por capital estrangeiro, com uma forte presença em empresas e sectores estratégicos (EDP, 48%, PT, 64%, GALP, 50%, CIMPOR, 30%, BCP, 36%).
O investimento directo português no estrangeiro, IDPE, atingiu a soma de 90 mil milhões de euros a preços correntes, entre 1997 e 2005.
As micro, pequenas e médias empresas representam a esmagadora maioria do tecido empresarial português, e nesse universo, um peso absoluto das micro. Em 2008, existiam em Portugal, no quadro da economia legal, 1 121 472 empresas, das quais 1 096 255 (98%) eram empresas não financeiras.
Destas 350 871 (32%) eram sociedades, com 3 005 160 pessoas ao serviço e 745 384 (68%) eram empresas individuais (empresários em nome individual e trabalhadores independentes) e tinham 856 566 pessoas ao serviço.
Se considerarmos a dimensão em função do pessoal ao serviço das empresas não financeiras, 95,47% são micro (até 9 trabalhadores), 3,89% são pequenas (entre 10 e 49 trabalhadores), 0,55% são médias (entre 50 e 249 trabalhadores) e 0,08% são grandes (mais de 250 trabalhadores).
Se considerarmos apenas as sociedades, temos 86,1% micro, 11,9% pequenas, 1,7% médias e 0,3% grandes empresas.
A distribuição por grandes sectores indica nas sociedades 50,8% e nas individuais 49,2% estão na indústria, energia e pescas, 41,9% e 58,1% respectivamente na construção civil, 37,4% e 62,6% respectivamente no comércio e 25,2% e 74,8% nos serviços.
O salário médio real caiu 2,6% (enquanto na OCDE cresceu 1,3%), sendo agora Portugalo quarto país com menor poder de compra.
Cerca de 18% da população portuguesa (cerca de 2 milhões) vive abaixo do limiar da pobreza (o que significa que vivem com menos de 406 euros/mês). Tal como 20% das crianças e jovens até aos 17 anos e 25% dos portugueses com mais de 65 anos.
Quase três milhões de portugueses vivem com menos de 10 euros por dia. Mais de 230 mil com menos de 5 euros.
Um país que detém um valor médio dos salários abaixo de metade da média europeia.
O salário mínimo nacional é o mais baixo da UE a 15.Se o salário mínimo tivesse sido actualizado desde 1974, repondo a inflação de cada ano, o seu valor em 2010 seria de 562 euros e não os 475 euros anunciados pelo Governo. Aquela quantia respeitaria o limiar de 60 por cento da remuneração base média tida internacionalmente como suficiente para um nível de vida decente.
Cerca de 450 mil portugueses trabalham e recebem apenas o Salário Mínimo Nacional. Mais de 40% dos trabalhadores por conta de outrem têm um rendimento inferior a 600 euros.
35% dos portugueses não têm rendimentos suficientes para manter um sistema de aquecimento em casa. 64% não conseguem pagar uma semana de férias fora de casa.
Entre 1973 e 1975 a parte que as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam do PIB aumentou de uma forma contínua e significativa. Passou de 47% para 59% do PIB. Depois assistiu-se a uma diminuição sistemática, alcançando com o governo de Sócrates, em 2008, apenas 34% do PIB.
No nosso país um gestor executivo de uma empresa do PSI 20 ganha, em média, mais de 50 mil euros brutos mensais (1 666 euros por dia). Há quem, com mais sorte, chegue aos 8 500 euros/dia.
Sublinhe-se que a verdadeira dimensão do desemprego no nosso país só pode ser apreendida se ao número de desempregados em sentido restrito, acrescentarmos os inactivos disponíveis para trabalhar e o sub emprego visível. Obtemos assim o valor do desemprego em sentido lato (EFECTIVO).
A taxa de desemprego que era de 3,9% em 2000 atingiu os 9,4% em 2009 e será de 13,1% no final de 2010, segundo as previsões oficiais.
A população desempregada somava um total de 270,50 mil indivíduos, em 2002.
O número de desempregados à data da tomada de posse do governo (2005), era de 399 300.
O número de desempregados em 31 de Março de 2010 era de 592,2 mil (10,6%). E o desemprego EFECTIVO atingia os 729,3 mil portugueses (13%). Em 30 de Abril de 2010 subiu para os 10,8%, quase 605 mil desempregados.
Entre 2002-2007, o desemprego aumentou 68,8%, no caso das mulheres, e 62,1%, no caso dos homens
Mais de 1 250 00 trabalhadores têm hoje um vínculo precário, isto é, 1 em cada 4 trabalhadores é precário.
Cerca de 85% dos desempregados procura um novo emprego.
A maior parte da população desempregada procura emprego entre um e seis meses (cerca de 28%) ou há mais de 25 meses (cerca de 30%).
O número dos desempregados que não recebem subsídio de desemprego é superior a 370 mil (50,7% dos desempregados EFECTIVOS).
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(o que significa que vivem com menos de 406 euros/mês).
Aviso à navegação: os números que se seguem são verdadeiros. Obscenos, é um facto, mas verdadeiros. Diria mesmo mais: obscenamente verdadeiros!
Estimava-se, em 2007, que a capitalização bolsista, a dívida titularizada e os activos financeiros em posse dos bancos comerciais, representassem mais de 4,2 vezes o produto mundial.
O valor da dívida internacional titularizada ascendia a quase 22 milhões de milhões (22.000.000.000.000) de dólares em 2007. Ou seja, mais de 40% do produto mundial e quase 2,5 vezes o valor de 2002.
Só o valor nocional dos contratos estabelecidos no mercado de derivados, em Dezembro de 2007, ascendia a cerca de 596 milhões de milhões (596.000.000.000.000) de dólares. Ou seja, 11 vezes o produto mundial, tendo como base contratos cujo valor de mercado não chegava aos 15 milhões de milhões (15.000.000.000.000) de dólares.
Em 2007 a massa monetária em circulação no nosso planeta era quase 10 vezes superior ao PIB Mundial.
Existiam a nível mundial em 2007 cerca de 190 milhões de desempregados e mais de 1,3 mil milhões de «trabalhadores pobres».
Só nas últimas duas décadas estima-se (dados de 2007) que o peso dos salários no rendimento se tenha reduzido 13 pontos percentuais na América Latina, 10 na Ásia e Pacífico e 9 no centro do sistema capitalista.
Os EUA com 5% da população mundial consomem 25% dos recursos ao nível mundial.
Nos EUA, o défice público e o défice da balança de transacções correntes em 2007, duplicaram face a 2000, atingindo os 345 mil milhões (345.000.000.000.000) de dólares e os 739 mil milhões de dólares (739.000.000.000.000) respectivamente.
Só em vinte anos (1988/2008), o valor dos fluxos de investimento directo estrangeiro ao nível mundial aumentou catorze vezes. E o das operações de fusão & aquisição transfronteiriças dezassete vezes. Representam 29% e 3% do produto mundial respectivamente.
Os activos detidos pelas cinquenta maiores empresas multinacionais não financeiras representavam em 2008 14% do produto mundial e era equivalente aos activos detidos pelas cinco maiores empresas multinacionais financeiras.
Em 2009 nos EUA a taxa de desemprego rondava os 16 por cento, o número de pobres era de cerca de 50 milhões e aproximadamente 7,5 milhões de famílias estavam envolvidas em processos judiciais por falta de pagamento das respectivas hipotecas.
Dez milhões de milhões (10.000.000.000.000) de euros em 20 meses (Agosto de 2007 a Abril de 2009). Mais de 50 vezes o PIB de um país como Portugal. Ou 30 apartamentos com 150 metros quadrados de área cheios de notas de 500€ até ao tecto. Tal é a verba injectada pelos bancos centrais e pelos governos, SÓ NO SISTEMA FINANCEIRO.Este dinheiro dava e sobrava para acabar com a fome e a pobreza em todo o mundo. E para erradicar de vez com doenças como a malária, a poliomielite, a varíola, ou a cólera.
Nos EUA nove bancos, que receberam 125 mil milhões de dólares da Casa Branca em 2008, distribuíram em 2009 pelos seus executivos prémios no valor 30 mil milhões.
E quem paga a crise?
Não certamente, os financeiros de Wall Street e das bolsas mundiais (incluindo a portuguesa). Esses, duma forma clara, procuram criar uma nova «bolha» especulativa de lucros. A novidade é que o fazem não com dinheiros privados, mas sim com dinheiros públicos. Milhares de milhões de euros ou dólares provenientes dos impostos pagos por toda a sociedade. Dinheiros que os governos puseram de uma forma compulsiva ao serviço de um novo ciclo de rentabilidade capitalista. Não certamente o grupo restrito de multinacionais e multimilionários que multiplica a uma escala inimaginável os seus activos empresariais e as suas fortunas pessoais.
«Ninguém previu a crise», proclamam aos 4 ventos políticos, economistas, comentadores, analistas, jornalistas e tuti quanti. De facto a capacidade de «previsão» dos arautos do capital e dos seus instrumentos é, nalguns casos, verdadeiramente fascinante. Exemplo paradigmático é o caso das agências de notação, ditas de «rating» (sobre o assunto ler AQUI, AQUI e AQUI).
Vejamos:
Em 2001 a Enron estava cotada como AAA (menção que remete para baixo risco), 4 dias antes de falir da forma como sabemos ter falido;
Atribuíram uma classificação AAA a centenas de milhares de milhões de dólares de activos duvidosos que se viria a perceber mais tarde serem quase todos lixo tóxico. Dos títulos hipotecários subprime classificados com AAA em 2006, 93% – 93 por cento! - foram agora considerados lixo;
Não previram as implicações da crise das subprimes;
Não previram o afundamento do Lehman Brothers e da AIG;
Não previram o afundamento dos fundos de Bernard Madoff;
Em 2008 classificaram a Islândia com a notação mais elevado: AAA+. Dois dias depois o governo islandês anunciava ao mundo a sua falência;
Não previramas implicações da crise do Dubai;
Não previramas implicações da crise na Grécia;
A dívida nacional dos EUA é de aproximadamente 12 milhões de milhões (trillion) de dólares (embora cresça tão rapidamente que é difícil estabelecer um número exacto). Se todo o dinheiro na posse de todos os bancos, negócios e indivíduos dos Estados Unidos fosse reunido hoje e entregue ao governo dos EUA, não seria suficiente para liquidar a dívida nacional deste país. Notação atribuída? AAA+;
E o PCP? Como se costuma dizer «O PCP previu e preveniu»…
Resolução Política do XV Congresso, em Dezembro de 1996: «Pelo seu volume desmedido, pela tendência a empolar-se cada vez mais, pelo risco aleatório do seu movimento, esse capital fictício financeiro-especulativo faz pairar sobre a economia dos países e do mundo a instabilidade monetária e o perigo de colapsos bolsistas devastadores.» E assistimos à crise «asiática» de 1997/98.
Dezembro de 2000, no XVI Congresso, o PCP afirmava: «Os constantes fluxos de capital-dinheiro, especialmente de curto prazo e de alto risco, provocam uma acrescida instabilidade no funcionamento do sistema financeiro e monetário internacional (…). Mercados bolsistas e imobiliários irracionalmente inflacionados são alimentados por uma insustentável expansão do crédito que potencia o perigo e a dimensão de desastres. (…)». E veio a crise económica de 2001/03.
Resolução Política aprovada, em Novembro de 2004, no XVII Congresso do PCP: «No mercado imobiliário, cujos preços têm vindo a subir a níveis demasiado elevados, subsistem riscos de um ajustamento abrupto com consequências de expressão mundial.». E veio a actual crise iniciada em 2007.
Resolução Política do XVIII Congresso, em Dezembro de 2008: «A resposta do capitalismo à crise em que se debate tende para expressões de força cada vez mais violentas. O que não significa que, quando necessário, como na presente crise, o Estado capitalista não procure recorrer a medidas de tipo keynesiano, visando a salvaguarda dos interesses do grande capital, com os quais a social-democracia se encontra estruturalmente comprometida. É uma perigosa ilusão pensar que, mantendo intocável o poder económico e político do grande capital e a hegemonia do capital financeiro, é possível dar resposta aos anseios dos trabalhadores e dos povos e preservar a Humanidade de terríveis convulsões e regressões de civilização. Só profundas transformações de carácter antimonopolista e anticapitalista impostas e defendidas pelas massas o podem conseguir.»